A Personagem escrita por Nands


Capítulo 1
Jamie


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira história, espero que gostem e que comentem o que acharam, isso é muito importante pra mim. (Aceito até :) como comentário, sério gente, deem suas opiniões).
A história ainda não tem capa, então, se você conhece alguém que possa me ajudar com isso, por favor, me avise.



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JAMIE

Se você, alguma vez na sua vida, já parou para pensar em todas as loucuras que você já fez, então, você sabe como é se sentir em pânico. Quando você revisa tudo de ruim, insano e doido que você fez, você acaba com um desejo incontrolável de querer se consertar. E isso não é uma coisa fácil, daquelas que você consegue fazer em um fim de semana. Isso, meu amigo, é algo totalmente enlouquecedor. O que, na verdade, é muito contraditório.

Quando eu era mais nova, costumava ver filmes com a minha mãe. Ela sempre odiou filmes em que as pessoas morriam no final, eu não. Eu me concentrava mais em como toda a história tinha levado o personagem à morte do que a morte em si. Eu me concentrava em descobrir o porquê o autor achou que o correto seria matar seu personagem.

Eu já criei vários personagens, e vejo que, realmente, alguns merecem a morte. Não por serem maus, mas por já terem vivido demais, por já terem problemas demais, por não terem mais sentido em continuarem existindo. Um personagem sem propósito não deve continuar a existir. A morte é o fim de tudo, o único momento em que realmente estaremos em paz.

Não há um dia em que eu não pense quando meu autor achará correto me matar.

Essa não é uma história para você se perguntar se realmente existe, essa é uma história sobre mim, uma garota criada por um escritor de romance barato que resolveu mudar o seu final feliz.

Então, vamos do começo...

Meu nome é Jamie Kanoah, tenho 16 anos, cabelo comprido, ruivo e cacheado, sou baixa, tenho olhos castanhos. Minha mãe se chama Clarisse e meu pai, George e nós moramos numa pequena cidade da Califórnia chamada Littlewings.

Todo dia pela manhã, escuto a voz do meu escritor. Ele literalmente descreve o jeito como eu acordo, isso é irritante.

"Jamie acordou cansada, sentou-se na cama e esfregou os olhos. Seus cabelos ruivos estavam bagunçados, parecendo um leão após uma..."

–Da pra calar a boca? – falei para o teto.

"Você não manda aqui, Jamie."

– Isso é o que vamos ver.

"Ela se espreguiçou e sentou na cama..."

– Já te falaram que você é muito chato?

"Ninguém mandou você fugir do roteiro e descobrir a verdade, Jamie. Se você não tivesse descoberto, não me ouviria falando o tempo todo."

Revirei os olhos.

– Bom, ainda bem que eu aprendi a ignorar você.

O escritor continuou narrando meu dia e me mandando fazer certas coisas, ignorei-o e me arrumei para ir pra escola, onde, novamente quando cheguei, encontraria inúmeras garotas dando em cima do meu ex-namorado, Eduardo. O mais interessante nisso tudo é que ele praticamente ignorava todas elas.

Antes de nós namorarmos éramos melhores amigos, nós conhecíamos melhor do que ninguém. Começamos a namorar e foram os meses mais felizes da minha vida. Até que numa noite, eu encontrei o Eduardo beijando outra garota. Meu mundo caiu, não acreditava no que via, fui para casa e chorei demais, ele era meu melhor amigo, não podia me trair daquele jeito. No outro dia terminei com ele, mas não disse o verdadeiro motivo. Então, desde o dia em que terminamos (mais especificamente há três semanas) estamos afastados e isso realmente me enlouquece.

“Foi você quem provocou isso. Você sabe que os meus planos não eram para vocês ficarem juntos, você que insistiu nisso e agora está se lamentando, pois, o seu destino não é ficar com ele.”

– Ah, é mesmo? Você adora mesmo me desafiar, não é?

“Só falo a verdade a você, Jamie.”

Naquele momento eu olhei para o Eduardo. Ele retribuiu o olhar, sem graça, e então subiu as escadas para o segundo andar com um bando de garotas atrás dele.

– Por que você coloca esse bando de meninas correndo atrás dele como se fossem idiotas? – perguntei para o nada e não obtive resposta.

Nesse momento, senti alguém mexendo no meu...

“Jamie sentiu alguém enrolando com a ponta do dedo um dos seus cachos ruivos, já sabendo que era sua melhor amiga, Samantha...”

Cara, você precisa parar com isso, você me assusta, idiota.

Virei-me e vi, como meu escritor já havia falado, Samantha Coldheart, uma garota morena, um pouco mais alta que eu, olhos verdes, cabelo bagunçado, pouquíssima maquiagem e sardas marrons espalhadas pelo pequeno nariz até as bochechas que a deixavam com uma aparência fofa.

– Olá, Samantha Coldheart. – cumprimentei minha amiga.

– Olá, Jamie Kanoah. – respondeu a garota, sorrindo e já indo em direção ao elevador – Tenho novidades.

– O Jim te chamou pra sair? – tentei adivinhar.

– Não.

– O Charlie te chamou pra sair?

– Não.

– O Frank?

– Jamie! – ela riu.

– O que foi? – ela me encarou tentando se comunicar com o olhar. De repente, entendi sua expressão. – Eu não acredito!

– Pode acreditar! É hoje! Meus pais saíram ontem de noite, a casa é toda nossa!

– Já comprou os chocolates?

– Sim! E as bebidas e o sorvete que o Eduardo gosta. – parei de súbito.

– Sam, o Eduardo...você não pretende chamar ele, né?

–Jam... qual é, ele é nosso amigo há tanto tempo...

– Ele tem outras “amigas” agora.

“Isso é ciúmes, Jamie?”

Você não tem alguma narração mais importante pra fazer em algum outro lugar, não? – pensei.

– Jamie...você gosta muito dele, devia ter falado com ele sobre o que você viu, talvez não tenha sido o que você achou... – argumentou Sam.

– Eu sei o que eu vi.

– Só estou dizendo que estava escuro e você poderia ter confundido, ou sei lá...

– Eu sei o que eu vi. – repeti com mais firmeza. Sam ficou em silêncio por um momento.

– Tudo bem, mas acho que mesmo assim vocês deveriam conversar. Eu vou convidar ele. Assim como vou convidar o resto da galera. Você não pode evitá-lo, Jamie, ele está na mesma classe que nós em quase todas as matérias.

Era verdade. Eduardo, apesar de ser mais velho, estava atrasado nas matérias por ter parado de estudar por quase um ano, pois estava em uma depressão terrível. Lembro-me de ir à casa dele toda semana visitá-lo. Ele dizia que somente eu conseguia fazê-lo sorrir. Foi um ano ruim e, nem por isso, nos afastamos.

“Agora ele está sozinho. Você deixou-o sozinho. Depois de tanto tentar...” – ignorei o que o narrador dizia e voltei à conversa com a Sam.

– Ok. – falei olhando para o chão do elevador que estava subindo para o segundo andar. – Mas acho que ele nem vai aceitar ir.

A porta do elevador se abriu e eu dou de cara com o Eduardo.

– Jamie. – ele disse, assustado.

– Oi. – disse olhando diretamente para os olhos azuis dele.

– Eu, eu...han, eu... desculpa, eu só... – ele começou a ficar vermelho.

– Ah, Edu! – disse a Sam, animada – meus pais viajaram, vai ter festa hoje à noite na minha casa, tá a fim de ir?

– Eu... – ele ainda me olhava sem saber o que fazer, desviou o olhar para Sam: – Claro, vou sim. Que horas?

– Às nove horas. – consegui dizer.

– E vai ter sorvete de pistache! – completou a Sam, animada.

– Ótimo! – ele voltou a me olhar e falou mais baixo: – será que a gente poderia conversar mais tarde, Jamie?

Olhei para o chão e concordei com a cabeça – você sabe onde me encontrar – falei e fui em direção à porta da sala de aula.

Sam sentou na cadeira atrás da minha e o Edu na frente. Eu podia sentir o cheiro do perfume dele e por isso não consegui prestar muita atenção na aula. Sam, de vez em quando, dava alguns chutes na minha cadeira quando eu precisava prestar atenção em algo que o professor dizia. Mas nem isso me fazia parar de pensar nos momentos que eu passei com o Edu... Alguns ruins, outros bons... Imaginei se ele também pensava em nós...

– Jamie! – gritou o professor interrompendo meus pensamentos – Jamie!

– Sim, sr. West?

– Poderia me dizer o que Shakespeare queria expressar com esta frase?

Olhei para a frase escrita no quadro: “Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.” Pensei um pouco a respeito.

– Se você faz alguma coisa que não deveria ter feito e se sente mal por isso, não tem por que lamentar o passado. O que você tem que fazer, simplesmente, é consertar o erro que você fez. Mesmo que não envolva somente você, mesmo que não seja somente sua culpa. Se você quer alguma coisa... sentir-se mal por não tê-la não é um bom jeito de consegui-la.

A turma inteira me encarou como se eu fosse um ser de outro planeta. Até o professor, que sempre estava com cara de desaprovação, pareceu se surpreender.

– Sim, certo, vejo que alguém vem aprofundando o conteúdo, han? – disse o professor ajustando os óculos redondos – Vamos prosseguir.

Eu não estava “aprofundando o conteúdo”, estava simplesmente deixando minha mente falar livremente o que estava pensando. Algo que já estava na minha cabeça há algum tempo: se lamentar do que passou não é uma opção.

No final da aula, ele veio até mim.

– Jamie.

–Eduardo.

–Jam...

–Edu...

Encaramo-nos por alguns instantes.

– Adoro quando você me chama de Edu. – ele sorriu.

– Adoro quando você me chama de Jam. – sorri também. Ele desviou o olhar.

– Pode me dizer exatamente por que você terminou comigo? – perguntou ele olhando para os meus pés.

– Você tem certeza que não sabe? – perguntei. Ele levantou os olhos.

– Você estava na casa da Sam aquela noite.

– É, eu estava.

– Você viu... ? – ele perguntou, confirmei com a cabeça.

– Quantas vezes isso aconteceu, Eduardo? – gritei com os olhos marejados – Uma? Duas? Há quanto tempo você vinha saído escondido?

– Foi só aquela vez, foi só... Eu... Eu não tinha intenção...

– O pior nisso tudo, Edu, é que você mentiu pra mim. Você sabia que se estivesse gostando de outra pessoa eu não iria te segurar, você sabia que poderia ser sincero comigo com qualquer coisa. Nós éramos amigos desde sempre, e você simplesmente ignorou isso...

Ele estava com os olhos cheios de lágrimas. Quando falou sua voz saiu fraca e cheia de agonia.

–Eu sinto muito. – disse por fim – Não queria magoar você. Não queria ter ficado com aquela garota, não queria ter terminado com você e não aguento mais estar afastado da minha melhor amiga. Eu te amo, amo desde dia em que eu derrubei o seu sorvete no chão há sete anos.

Aquilo era demais pra mim, tentava não encarar o rosto dele, olhava para cima e apertava os lábios tentando não cair em um choro desesperado. Respirei fundo e contei até seis.

– Por que você beijou ela? – pedi, um pouco mais calma.

“E você ainda pergunta... Eu fiz ele beijá-la”

Claro, agora tudo fazia sentido...

“Eu falei pra você que vocês não iriam ficar juntos”

Isso é o que você vai ver, pensei, isso vai ter troco, não vou deixar você ganhar... Nunca.

– Eu não sei bem, – ouvi Edu dizer e voltei minha atenção para ele – estava chateado com você por você ter saído com o James...

O James! É claro... James é um amigo do meu primo que o Eduardo sempre teve ciúmes. Eu tinha saído com ele para achar um presente de aniversário para o meu primo, mas o Eduardo não gostou muito da história.

De repente, as coisas ficaram mais claras. Tudo não passava de um plano do escritor... Ele não queria que eu e o Edu ficássemos juntos, ele tinha outros planos para ele... Percebia agora como eu tinha sido estúpida. Um sorriso começou a surgir no meu rosto. Pulei nos braços do Edu, abraçando ele com força.

– Ah, seu bobo. Como você pode ter pensado numa coisa dessas? Eu e o James?

– Eu... han, você está me perdoando? Tipo, me perdoando por tudo? – perguntou ele confuso.

– Estou. – respondi, feliz.

– Assim? Sem eu me ajoelhar? Sem eu pedir desculpas 237 vezes? – ele estava sorrindo.

– Olha – falei como se estivesse filosofando sobre o assunto – eu até que aceitava algumas flores, talvez uns chocolates...

–Idiota! – ele me beijou. Nossa, o beijo dele era melhor do que eu me lembrava, quente e cuidadoso, como sempre... Mas tinha algo a mais, era como se eu estivesse o beijando pela primeira vez. Era como se eu tivesse apagado uma regra que eu havia quebrando há muito tempo. Era como se... era como se eu tivesse acabado de mudar a história.

“Você acabou de declarar guerra, mocinha.”

Bom, pensei, pelo menos é por algo que vale a pena lutar. Que a guerra comece.

Mas eu sabia que não seria assim tão fácil, sabia que se eu pretendia mudar meu “final feliz” iria precisar bem mais do que a minha determinação. Eu precisava fazer Eduardo Collins ouvir o autor, descobrir a verdade. Precisaria fazê-lo duvidar sobre si mesmo.


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Notas finais do capítulo

Comentem :)



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