Before That escrita por Miyuki Yagami


Capítulo 1
Palavras não ditas




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A aglomeração de estudantes era insuportável para Kirasagi Shintaro. Tanto alvoroço para nada. Estava claro que ele estava em primeiro lugar, de novo. O moreno deu passos largos para conseguir desviar do tumulto. Era sempre assim.

Na sala, apenas uma pessoa estava lá. Provavelmente tinha bom senso por não participar da zona. As bolsas colocadas indicavam a Shintaro apenas um lugar vago. Bufou. Se Momo não fosse tão enrolada, talvez conseguisse um lugar melhor. Pensando bem, não faria a menor diferença.

Ele sentou na cadeira ao lado da menina de cabelos castanhos. Ela olhava para fora como se algo de interessante acontecesse o tempo todo do outro lado. Shintaro queria ser ridículo assim por um dia. Nada seria tão monótono.

Subitamente a garota se virou e encontrou Shintaro a olhando. Ela sorriu, enquanto ele desviava o olhar.

- Oi! – falou.

“Se eu fingir que não escutei, ela vai parar de falar?” pensou ele.

- Eu estava tão ansiosa para estudar nessa escola que não quis ver minha classificação, nem ver a cerimônia. Achei que seria a única. Apesar de eu ter certeza que tirei uma colocação baixa, mas não tem problema, vou me esforçar mais. – continuou.

“Por que não está funcionando?”, Shintaro queria se esconder. Quão assustadora ela conseguiria ser?

- Ei – cutucou a garota. “Droga” pensou virando levemente o rosto. Ela estava apoiada em sua mesa e sorria. O moreno notou um cachecol vermelho em seu pescoço. – você não é de falar muito, não é?

- Não há necessidade. – respondeu, e voltou a olhar para os lugares vazios. Pouco a pouco, eles foram se enchendo. A menina deu a volta.

- Meu nome é Ayano. – Ela estendeu a mão. – Espero que possamos conviver bem.

- Que seja. – murmurou, ignorando-a completamente.

- Que cruel! – Ayano sorriu. – Tome. – Ela entregou a ele um origami. Shintaro encarou o papel em dúvida. O que ela queria? O professor entrou. – Ah, até depois.

Shintaro resolveu ignorá-la depois. E nos dias que se seguiram. Imaginava que, se fosse grosso, ou não lhe desse atenção, Ayano iria embora.

Ela não foi. Continuava a segui-lo e conversava todos os dias com ele. Por que ela insistia em sorrir? Por que continuava indo atrás dele? Por que era sua amiga?

Shintaro odiava não ter respostas.

Olhando para o resultado do primeiro teste, Shintaro deu de ombros. Nada além do que o esperado.

- Como foi? – Ayano perguntou.

- Hum... – murmurou.

- Ah! Shintaro, como consegue? – riu, tentando esconder sua nota baixa.

- Não fico perdendo tempo com coisas fúteis como olhar pela janela. – respondeu. Quis brigar consigo. Ele não conseguia mais ignorá-la. Droga, ela estava conquistando espaço.

- Todos os dias são bonitos, não tenho culpa. – retrucou, encolhendo os ombros.

Shintaro olhou para Ayano, que por sua vez voltava à atenção para o lado de fora. Depois que a morena entrou em sua vida, os dias deixaram de ser sufocantes. Queria dizer isso a ela. Abriu a boca, mas fechou em seguida. O que raios estava pensando?

Esperou para dizer no final da aula. Ela sempre pedia para ir junto com ele. Falaria e em seguida iria embora.

Ayano chegou atrasada. Shintaro olhava para o terraço do prédio.

- Mudou de opinião sobre como vê o mundo? – perguntou ela, acariciando um gato.

Ele deu de ombros.

- Não. É tudo tão igual. – respirou fundo. – Qual a graça dele, se no final morreremos?

- Ei, se eu morrer, alguém vem me substituir. – disse Ayano, puxando-o com seu cachecol vermelho. Shintaro ficou um tempo sem reagir, enquanto a via sorrir. Depois se esquivou, irritado. Perdera completamente a vontade de falar com ela.

- Você é uma idiota. – murmurou, indo embora. “Como pode dizer isso de uma maneira tão fácil?” completou em silêncio. É assim? Ela entra em sua vida, faz com que tudo mude, e acha que não foi nada? Que pode desaparecer sem mais nem menos? Qual o problema dela, afinal de contas? – Então pare de se importar comigo. Deixe-me sozinho. – Se ela achava que tudo funcionava da sua maneira, então era melhor que ela parasse de ser tão Ayano. Aliás, que parasse de ir atrás dele.

- Não vou. – Ayano segurou sua mão. Shintaro a encarou. Droga, por que não desistia logo dele?

- Você é irritante! – Soltou sua mão e andou sem olhar para trás.

Ayano não se deixou abater pelas duras palavras de Shintaro. Lá estava, no dia seguinte, logo após outro teste pedindo para sentar com ele.

- Por que se você esqueceu o livro, eu é que tenho de te aturar? – murmurou, com o rosto apoiado sobre a mão.

- Porque sim. – ela empurrou a mesa. – Não se preocupe, prometo ficar quietinha durante a aula.

Sentou-se. Curiosa, olhou para o caderno de Shintaro.

- Está tudo em branco! – piscou os enormes olhos. Depois, lançou um olhar questionador para ele.

- O seu também deve estar. – retrucou.

Ayano corou levemente.

- Por que somos tão diferentes então?

- Eu sou inteligente, e você é uma tonta. – respondeu em voz baixa.

A garota ajeitou o cachecol que usava mesmo nos dias mais quentes, e riu.

- Faz sentido. Mas eu me esforcei nesse teste. – Shintaro ergueu as sobrancelhas. – Ei! Os resultados saem amanhã. Você vai ver. Vou te alcançar.

- Humpf. – Shintaro deu um meio sorriso.

Ela olhou para fora pela última vez.

- Se eu pudesse querer alguma coisa, iria querer que esses dias não acabassem. – pensou alto.

Shintaro pensava a mesma coisa. Enquanto Ayano estivesse lá, tudo ficaria bem.


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