O Estranho Perdido escrita por Cold Girl


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, eu sinto muito pela demora, mas como alguns sabem a minha outra fic é a principal, portanto dedico mais tempo a ela.
Espero que gostem desse capítulo, o "meio" da historia.
O próximo capítulo termina essa short fic.
Boa leitura.



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Eu queria poder dizer que fiz alguma coisa quando soube que o amor da minha vida, que havia sido dado como morto, estava parado na minha frente, mas fiquei tão estática que ele aproveitou a deixa e fugiu, atravessando a rua e sumindo da minha vista em segundos. Eu continuei a olhar para frente, com a mente há vários anos atrás enquanto voltava para o meu trabalhando, passando pela minha secretária e melhor amiga de faculdade, Madge Undersee.

–Kat, sinto dizer, mas eu devo ter recebido umas doze ligações que precisam da sua atenção urgente.

Eu passei reto pela sua mesa, entrando na minha sala sem nem me dar ao trabalho de fechar a porta. Seus passos soaram no chão de madeira segundos depois.

–Kat? Hey? – Ela se sentou na cadeira a frente da minha, pondo sua agenda eletrônica na mesa e me encarando pela primeira vez. Seus olhos se arregalaram e ela se levantou, parando na minha frente logo depois. – Meu Deus, Katniss. O que foi que aconteceu? Você está branca, garota.

–Mad. – Eu sussurrei, agarrando seus braços. – Mad, eu vi ele. Eu o vi e ele está vivo.

–Ele quem? Gale? Mas é claro que ele está vivo, garota. Passou aqui ontem para vocês irem almoçar. Do que você está falando?

Mad não conhecia a historia de Peeta e muito menos que meu relacionamento com Gale era superficial. Eu devo ter murmurado mais algumas frases desconexas antes de Mad me mandar pra casa de táxi, dizendo que remarcaria qualquer atividade de hoje para o próximo dia.

~

No dia seguinte eu cheguei bem ao trabalho, convencida que a minha mente estava pregando uma peça em mim pela proximidade do aniversario de 11 anos do enterro dele. Cumprimentei Mad com um sorriso e trabalhei como louca até o meio da tarde, quando enfim tive uma folga.

–Aqui está, querida. Coma direitinho antes que eu ligue para a sua mãe.

Ela me serviu uma bandeja com uma massa com molho de queijo, do meu restaurante favorito. Sabia que era um mimo, pois ela realmente havia ficado preocupada ontem. Quando terminei de comer meu almoço tardio não resisti à tentação e liguei o computador da minha mesa, digitando na barra de busca assim que ele terminou de ligar o nome do estranho ao qual eu havia abortado do dia anterior. Sabia que teria que me desculpar com ele. A busca estava sendo concluída quando Mad abriu a porta.

–Tem uma pessoa aqui que deseja vê-la, Kat. Como você está livre, pensei em deixá-lo subir.

Eu concordei enquanto rolava o mouse pelo site de busca, atrás de alguma informação sobre o tal Finnick quando o mesmo passou pela porta. Todo o meu mundo desequilibrou mais uma vez quando seu cheiro me invadiu, depois novamente quando avaliei seu corpo. Era impossível! Ele tinha que ser Peeta. O mesmo modo de andar e o mesmo jeito de se sentar quando se sentou na mesma cadeira a minha frente eram inconfundíveis. Seu sorriso era fraco e ele esperou Mad terminar de oferecer bebidas e comidas antes de encarar meus olhos, aquele verde horroroso me incomodando. Eu queria o azul.

–Sim?

–Acho que você deve ter que confundido com outra pessoa ontem à tarde, mas me pareceu tão transtornada que vim ver como estava.

–Como sabia meu nome?

–Ah... você falou.

–Tenho certeza absoluta que não disse meu nome, em nenhum momento.

–Bom... eu devo ter adivinhado então. Ainda bem que era você. – Ele sorriu. – Então, por que ficou tão atordoada ontem?

–Me desculpe. Você é igual a uma pessoa muito querida para mim. Mas ele está morto e por um momento me trouxe de volta a alegria de vê-lo vivo.

Seus olhos brilharam e me encararam por longos minutos. Só depois notei que estava deixando algumas lagrimas escaparem. Finnick se levantou e veio até mim, me entregando um lenço que ele tinha no bolso do paletó que usava.

–Sinto muito. Ele deve ter sido muito importante.

–Ele era. Ele ainda é.

Seus olhos me encararam novamente com aquela intensidade anterior e num movimento rápido, facilitado pela proximidade com que nos encontrávamos, ele me beijou. Os lábios de Peeta primeiro tocaram os meus, pressionando-os a se abrirem e permitirem a passagem de sua língua quente que dançava com a minha. Eu nunca teria encontrado um parceiro que sabia beijar daquela maneira, a não ser meu antigo namorado. Ele conhecia cada movimento, como meu rosto se movia e como minhas mãos nos aproximavam, assim como as dele. Demorou alguns minutos para notar o que estava fazendo e me afastar dele, mais uma vez convencida.

–Não é possível. Como você sabia isso? Como pode me beijar dessa maneira? Você só pode ser Peeta! – Eu havia começado a gritar.

Ele ainda me olhava, ora sedento de desejo, ora assustado pela própria atitude. Mad abriu a porta em um segundo, em seu rosto a clara determinação em matar qualquer um que ousar me machucar.

–Katniss, eu posso explicar... mas não com gente por perto.

Mad começou a gritar que ela iria chamar os seguranças do prédio e apontar e fazer gestos obsenos na direção dele. Minha cabeça girava e eu não conseguia fazer mais nada a não ser encarar seus olhos, os olhos verdes. Em algum momento, em que meu cérebro bloqueava as palavras de Mad e as suplicas dele, eu vi o leve brilho de azul vindo dos seus olhos.

–Saía.

Mad me encarou assustada, sem entender. Ele sorriu, quase vitorioso.

–Kat, eu...

–Mad, por favor, saía daqui. E tire todo mundo num raio de 50 metros. Eu não quero ninguém por perto.

Ela começou a discutir até que lancei um olhar gélido, o pior desde que nos conhecemos. Ela saiu e eu voltei a encarar ele. Podia ver com o olhar periférico Mad mandando todos embora e a agradeci mentalmente enquanto voltava a me sentar, tentando manter a compostura.

–Explique-se.

–Primeiro, quero que saiba que eu...

–Sh, não quero desculpas. Responda-me sim ou não: você me conhece? Quero dizer, antes de ontem?

–Sim.

–E seu nome é Finnick Odair mesmo?

–Sim.

–Então você não é Peeta Mellark?

–Sim.

–Você é ou não ele?

–Sou.

Ainda bem que eu estava sentada ou eu teria desmaiado. Eu não podia acreditar naquilo que via, mas não havia outra explicação. Nada podia enganar o que meus olhos viam, nem minhas alucinações eram tão reais ou criativas.

–Eu.. eu... – sussurrei.

–Eu posso explicar. Eu amava você, amava nossa vida, mas fui burro o bastante para ir numa festa no começo do semestre na faculdade e aceitar me drogar. Eu não sei onde eu estava com a cabeça, Katniss. Desculpas não são o suficiente. Então eu me tornei viciado, usava drogas para me manter acordado e estudar, depois para curtir com um pessoal e por fim não havia mais desculpas, eu apenas usava. Por isso me tornei tão agressivo com a minha mãe naquele ano: ela descobriu, eu não sei como. Disse que sempre soubesse que não faria mais nada da vida, a não ser incomoda-la. Eu estava em abstinência, pois não queria que você soubesse.

“ Eu enlouqueci quando voltei. Comecei a ir mal na faculdade e a descontar em você, sempre usando mais drogas. Quando notei estava com uma conta maior do que podia pagar com o misero trabalho que havia arranjado, então me ofereceram uma saída: me tornar o distribuidor do campus, já que o que distribuía estava se formando. Eu não queria, de verdade, mas não havia alternativa. Comecei a vender e conseguir mais clientes, odiando cada minuto, mas nessa época eles já sabia sobre você, sobre meus irmãos e meus pais. Eles poderiam facilmente machuca-la. Então eu brigava cada vez mais com você, por ser a culpada por eu não poder largar aquilo. Você não tinha culpa e não merecia isso, mas não via isso na época. Logo depois as coisas começaram a ficar piores.”

“Depois da nossa briga em que eu havia vindo de surpresa e encontrado você naquela festa, a festa que eu havia humilhado você na frente dos outros, eu decidi acabar com tudo. Quando voltei para a faculdade descobri que durante a minha ausência o cara que me entregava às drogas havia dado demais a um calouro que acabara morrendo de overdose. Eu não conseguia andar pelos corredores sem encontrar uma foto do garoto e me sentir culpado pela sua morte. Decidi que entregaria tudo ao diretor, mas não podia correr o risco de ir até alguma autoridade e eles irem atrás de você. Sabia que eles não iriam atrás dos meus pais, todos viram quando meu pai foi até lá e gritou comigo na frente de todos por ter brigado com a minha mãe, pondo um fim no nosso relacionamento pai e filho. Portanto eu tive que terminar com você.”

–Eu não acredito nisso. Você é ridículo. Por que nunca me contou?

–Eu não podia, Katniss! Você era alvo! Quando terminamos forjei uma carta sua e deixei que ela caísse nas mãos deles, para que soubessem. Algumas semanas depois, na noite da sua formatura, eu forjei a minha morte. Eu não queria, mas estava sendo caçado e a policia não estava dando conta de me proteger. Eu temia pela minha vida, por isso fiz aquilo. Sabia que seria um alivio para minha mãe e meus irmãos, mas sentia por você e por meu pai. Dei um jeito de assistir ao funeral e vi quando você a enfrentou. Saiba que foi a primeira vez em muitos anos que chorei como uma criança. O que eu mais queria era abraça-la e dizer que eu estava bem, que tudo podia ser esquecido. Algumas horas depois recebi outra ameaça, dizendo que eles sabiam da minha existência.

“Voltei ao campus e conheci um cara que me refez. Virei Finnick Odair naquele instante. Mudei o tom do cabelo, refiz algumas partes do corpo, pus algumas tatuagens e comecei a usar lentes de contato verdes todos os dias. Mudei-me para outro estado e refiz o ultimo ano, entrando para a faculdade de Columbia e cursando novamente medicina. Eu refiz a minha vida, do zero. Você foi um pensamento constante na minha cabeça, todos esses anos. E continuaria sendo se não tivéssemos nos encontrado ontem. Eu sinto muito, Katniss.

Eu estava tão atônica que não sabia o que dizer. O que se diz numa hora dessas?

–Há alguma coisa a mais que você queria me contar?

–Tem sim. Não quero segredos mais entre nós, mesmo que nunca mais nos vejamos. Eu estou noivo.

–Co... como assim?

–Eu terminei a minha faculdade e comecei a trabalhar como terapeuta. Conheci uma paciente que havia passado por problemas com drogas muito parecidos com os meus, ela alucinava pela perda de alguns neurônios importantes do cérebro. Ajudei-a durante anos e quando notei havia me apaixonado por ela. Seu nome é Annie e quando ela saiu da clinica acabamos ficando juntos. Ela sabe toda a minha historia e sempre me apoiou. Ela entende, sabe?

–Não, eu não sei. Não sei por que fiquei anos sofrendo por sua causa. Não sei por que sempre que eu fecho os olhos é com o seu rosto, sua voz, seus lábios com o que eu sonho. Eu odeio você, Peeta Mellark, Finnick Odair... Qualquer merda que seja o seu nome. Eu o odeio. Você me destruiu e eu quero que você suma da minha frente e nunca mais volte!

Não sei da onde tirei forças para gritar com ele, mas eu fiz. Seus olhos brilharam e ele assentiu enquanto se encaminhava para a saída. O resto do andar estava vazio enquanto ele abria a porta, lentamente, tentando-me a pedir que fique. Quando viu que o ódio era maior, ele destruiu uma ultima vez meu coração.

–Eu amo você, Katniss. Você sempre será o maior amor da minha vida, espero que saiba disso.

As suas costas, agora maiores e mais musculosas, foram a ultima coisa que vi antes de cair sentada na cadeira, fechando os olhos e os mantendo assim até ouvir os saltos de Mad na sala. Ela se aproximou e me abraçou, me deixando chorar pelo loiro como eu havia me recusado a fazer durante muito tempo.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que vocês tenham gostado. Se sim, comentem bastante para mim postar logo o final dessa historia trágica.
Se quiserem acompanhar mais historias, a minha outra fic se chama "Pagina 10".
Até a próxima.