“Uma cortina. Urgente.” Pensou a lutadora tentando evitar o sol, que já havia invadido o quarto. Ela então se deu por vencida e levantou, ainda confusa por não se lembrar como havia ido parar na cama. Ela foi para o banheiro, escovou os dentes e foi para a cozinha ver o que faria para comer. Acabou fazendo um misto e quando terminou foi direto para o banho.

Pedro acordou com o barulho de mensagens no seu celular, se o aparelho não estivesse apitando tanto ele teria dormido até a hora do almoço. Ele levantou e foi para o banheiro feito um zumbi, acabou batendo a cara na porta.

― EU TÔ TOMANDO BANHO PEDRO! ― Gritou Karina dentro do banheiro.

― EU NOTEI. FOI MAL. ― Disse o guitarrista indo para a sala a se jogando no sofá.

― Pode ir agora apressadinho. ― Disse Karina saindo do banheiro de toalha.

― Se fosse eu molhando a casa você já estaria gritando comigo. ― Disse Pedro irônico.

― A diferença é que eu seco o chão quando eu molho. ― Disse Karina sorrindo e entrando no quarto. Pedro foi escovar os dentes e quando ela saiu do quarto ele já tinha preparado seu café da manhã.

― Não vai secar o chão esquentadinha? Alguém pode cair aí, sabia? ― Disse Pedro abocanhando o misto.

― Eu já estava indo pra área pegar o pano, volta a dormir pra ver se você acorda com um humor melhor moleque. ― Disse Karina indo pegar o pano. Ela secou e levou o pano para estender.

― Ei, a gente tem que resolver aquele negócio das contas hoje... ― Disse Pedro lavando os poucos pratos sujos na pia.

― Ah, dá pra fazer pelo site. Você vai ficar com a água ou com a luz? ― Perguntou Karina se encostando no balcão que dividia a “sala” da “cozinha”.

― Tanto faz. ― Disse o rapaz secando os pratos.

― Então eu fico com a luz. ― Disse a lutadora colocando seu celular para despertar cedo no dia seguinte.

― Ah, não! Eu fico com a luz. ― Disse Pedro se encostando no balcão e ficando de frente para ela.

― Mas você não tinha dito que “tanto faz”?? ― Disse Karina e Pedro começou a sorrir.

― É, mas eu mudei de ideia. Você demora horrores lavando os pratos e deve demorar mais ainda lavando o cabelo.

― PEDRO! Deixa de ser ridículo! Cê quer tanto ficar com a luz? Então fica! Eu vou deixar tudo aceso! ― Disse Karina sorrindo, dando um tapa no braço do guitarrista e saindo rumo ao sofá.

― Eu vou ligar todas as torneiras de noite! Você vai ver só! ― Disse Pedro sentando ao lado dela.

― Olha só, eu vou desempacotar o resto das coisas... Vai passando as contas pra os nossos nomes. ― Disse Karina indo para o quarto. Pedro pegou seu notebook e entrou no site da companhia de água e depois na de luz.

― Pedro o que a gente vai comer? ― Disse Karina saindo do quarto com um largo sorriso por ter desempacotado tudo.

― Sei lá. O que a chef Karina sugere? ― Disse Pedro desligando o computador.

― Ai eu queria tanto a lasanha da Bete agora... Vamos fazer miojo? ― Perguntou Karina um pouco desanimada.

― Miojo? Não. Você vai esperimentar a lasanha do chef Pedro! ― Disse o guitarrista levantando do sofá e empurrando levemente Karina para a cozinha.

― Desde quando você sabe fazer lasanha? ― Perguntou Karina sorrindo.

― Karina eu mudei bastante depois que você foi embora. ― Disse Pedro um pouco sério.

― Eu também mudei bastante Pedro. Não sou mais aquela garota boba de 16 anos, eu amadureci. ― Disse Karina e Pedro a olhou nos olhos, como se quisesse lhe dizer alguma coisa, mas não falou nada, apenas tirou a carne moída, o presunto e o queijo da geladeira.

― Bom, eu sou o chef aqui, então você será minha ajudante. Pega o molho de tomate pra mim! ― Disse Pedro tentando tirar o clima tenso do ar.

― Está bem chef Pedro, agora se essa lasanha não prestar eu atiro ela na sua cabeça. ― Disse Karina sorrindo e Pedro rezou para ficar gostosa, já que vindo de Karina ele não duvidava nenhum pouco que ela jogasse a lasanha nele.

― Karina abre o forno pra mim, por favor? ― Perguntou Pedro segurando a lasanha.

― Pronto. Quanto tempo vai demorar? ― Perguntou Karina encostada no balcão.

― Acho que uns 40 minutos. ― Disse o músico parando ao lado dela.

― Ah, então vamos ver alguma coisa enquanto não fica pronta. ― Disse Karina puxando Pedro para a sala.

― Olha, tá passando TVZ!― Disse Pedro pegando o controle remoto das mãos de Karina e colocando no programa de músicas.

― Ai eu adoro essa música! ­― Disse a lutadora cantarolando o começo da música sentada no sofá.

― Eu também... ― Disse Pedro cantando com ela.

― When you love someone... ― Karina cantarolava baixinho com os olhos fechados o refrão da música.

― Your heartbeat beats so loud... ― Pedro completou o verso se entregando a melodia e logo subiu no sofá segurando o controle como se fosse um microfone.

― When you love someone... ― Karina entrou na brincadeira e subiu na mesinha de centro segurando o controle da TV a cabo.

― Your feet can't feel the ground... ― Pedro cantava e Karina fazia uma espécie de segunda voz.

― Shining stars all seem... ― Karina começou a dançar sobre a mesinha e Pedro finalmente parou para prestar atenção na letra da música e na criatura dançante na sua frente.

― To congregate around your face... ― O músico cantava olhando nos olhos dela como se estivesse vendo um anjo.

― When you love someone... ― Karina parou em meio a dança e percebeu que Pedro a observava com os olhos brilhando e com um sorriso quase brotando nos lábios.

―When you love someone... ― Eles cantaram como se estivessem dedicando a música um para o outro, mesmo que ninguém se atrevesse a dizer...

“When you love someone

Your heartbeat beats so loud

When you love someone

Your feet can't feel the ground”

“Quando você ama alguém

Seu coração bate tão alto

Quando você ama alguém

Seus pés não conseguem sentir o chão”

“Shining stars all seem

To congregate around your face

When you love someone

When you love someone”

“Estrelas brilhantes parecem

Se reunir ao redor de seu rosto

Quando você ama alguém

Quando você ama alguém”

Quando a música acabou, eles sorriram bobos e desconcertados, até que uma playlist de músicas animadas começou a tocar e eles voltaram a dançar fingindo que nada tinha acontecido.

― Boom, boom, shake, shake the room ― Cantava Karina dançando como se não tivesse niguém ali.

―Boom, boom, baby shaking the room ― Pedro dançava loucamente, tirou a camisa e ficou girando-a no ar. Quando a música acabou eles se jogaram no sofá, cansados.

― Pê você tinha que ver como você tava dançando! Foi hilário! ― Disse Karina gargalhando.

― Você também tava uma gracinha, quase quebrou a mesinha! ― Disse Pedro rindo e Karina virou o rosto na direção dele fingindo ter se ofendido.

― Você quase quebrou o sofá! ― Disse ela rindo da cara de “ofendido” que ele fez.

― Ha ha ha. Eu sou leve como uma pena. ― Disse Pedro ainda jogado no sofá.

― Ah claro. Comendo do jeito que você come... ― Disse Karina cansada de tanto dançar.

― Ei! Tá pensando que é fácil manter esse corpicho? Eu preciso de sustança Karina. ― Disse Pedro e então veio a vinheta de um outro programa. Eles se entreolharam assustados e disseram juntos: ― A LASANHA! ― Eles levantaram do sofá correndo e foram para a cozinha. Pedro pegou o pano e quando abriu o forno ela estava lá com uma aparência maravilhosa e um cheiro melhor ainda.

― Nossa eu achei que tivesse queimado! ― Disse Pedro desligando o forno e tirando a travessa com cuidado.

― Eu também! Olha só... E não é que ela ficou com uma cara boa! Escapou dessa vez Ramos. ― Disse Karina se referindo a “lasanhada na cara”.

― O próximo prato quem vai cozinhar é a senhorita. ― Disse Pedro colocando a lasanha nos pratos enquanto ela tirava o suco da geladeira.

― Vamos ver se o gosto está tão bom quanto o cheiro. ― Disse Karina sentando à mesa com o guitarrista que a olhava apreensivo.

― Eai? Gostou? ― Perguntou Pedro que nem tinha tocado na lasanha ainda.

― É... dá pra comer... ― Disse Karina tentando desdenhar a lasanha. “Pedro assim eu caso! Meu Deus que delícia!” pensou a lutadora tentando comer com calma.

― Ai Karina fala sério! Eu sei que você gostou! ― Disse Pedro começando a comer, ele realmente tinha se superado. Depois do almoço, Pedro lavou os pratos e Karina secou, porque segundo ele, ela gastava muita água.

― Ai tô morta! ― Disse Karina indo para sala.

― Essa lasanha deu um sono... ― Disse Pedro deitando no sofá.

― Chega pra lá ― Disse Karina deitando na deirada do sofá. Pedro não acreditou que ela estava fazendo aquilo com tanta “naturalidade”.

― Esse é o máximo que eu posso, se eu for mais eu entro dentro do alcochoado. ― Disse Pedro afastando para ela deitar.

― Para de se mexer... Eu quero dormir... ― Disse Karina com uma voz sonolenta.

― Tá... ― Disse Pedro fechando os olhos na tentativa de se concentrar em outra coisa que não fosse o cheiro gostoso do perfume dela ou o fato da mesma estar dormindo alí tão perto dele. Karina estava com sono, mas algo nela não queria dormir, pois tinha medo de acordar e ele não estar mais ali. Era uma situação complicada e ao mesmo tempo simples, eles queriam ficar juntos e não tinha ninguém que pudesse atrapalhar isso, mas o medo e a dúvida prendiam os dois longe um do outro.

_*_

― Mãe eu já decidi! ― Tomtom chegou toda animada no restaurante e Delma ficou sem entender nada.

― Decidiu o que? ― Perguntou a mulher e a menina começou a falar.

―Decidi aonde eu quero passar meu aniversário de 15 anos! ― Disse Tomtom com um largo sorriso e Delma estava temendo não poder levar a filha ao lugar escolhido.

―E aonde é ? ― Disse Delma saindo de trás do balcão para dar atenção a filha.

― Chile. ― Disse Tomtom e a mãe começou a se preocupar.

― Em que parte do Chile meu amor? ― Perguntou Delma apreensiva. Todo mês oa pais da menina tiravam em segredo metade do lucro que tinham no restaurante, para poder arcar com pelo menos uma parte das despesas da tal viagem.

― Valle Nevado. Mãe eu vi pela internet e é lindo! Na verdade é um resort e tem um hotel com o mesmo nome, mãe eu tô tão animada! ― Disse Tomtom soltando fogos de artifícios.

― Filha a gente tem que saber quanto custa... Olha se for muito caro não vai dar pra gente pagar... ― Disse Delma sem querer cortar a animação da menina.

― Olha mãe a estadia lá custa R$ 624,00 por pessoa... É caro né? Deixa eu penso em outra coisa... ― Disse Tomtom saindo do restaurante e Delma ficou triste pela filha e resolveu falar com o marido para irem ao banco ver quanto já tinham na poupança, talvez desse para pagar...

― R$ 624,00 por pessoa Delma! É caro... Mas se a gente se apertar nesses 3 meses acho que pode até dar... Fora que tem as passagens... ― Disse Marcelo no restaurante. Eles deixaram Lincon no comando e foram ao banco só para ver quanto já tinham no banco.

― MARCELO DO CÉU! ― Disse Delma aos pulos no meio do banco.

― Delma isso dá com certeza! ― Disse Marcelo sorrindo animado!

― Caramba! R$ 15.000 Marcelo! Sabe o que isso significa? Que se a gente se apertar um pouquinho todos os anos vamos conseguir viajar sempre! Ai eu já posso até imaginar a carinha da Tomtom quando a gente contar pra ela! ― Disse Delma abraçando o marido com força.

― Espera! A gente tem que calcular direitinho, porque tem o Pedro também, ela com certeza vai querer o Pedro lá e realmente não seria a mesma coisa sem ele, fora que tem as passagens... E as roupas... Temos que ver isso tudo com calma. Depois a gente conta pra ela! ― Disse Marcelo e eles saíram do banco felizes.

― Mãe, olha eu sei que a gente tá sem grana, então eu pensei na gente ir pra algum lugar pertinho mesmo, a gente podia ir pra algum lugar aqui no Rio que a gente nunca tenha ido, ou sei lá... Agora se der a senhora pode levar a K? É que eu queria muito passar o meu aniversário com ela... ― Disse Tomtom um pouco desanimada assim que os pais chegaram no restaurante.

― Olha só filha, eu e seu pai vamos ver direitinho essa história de viagem... Depois a gente conversa! ― Disse Delma tentando disfarçar a felicidade.

― Tá, depois a gente conversa então... ― Disse Tomtom entrando em casa.

_*_

Karina acordou e Pedro ainda dormia, ela sentiu uma das pernas dele sobre ela e a sua mão a envolvendo e a puxando para si, sorriu com a sensação de estar sendo abraçada por ele, aquele abraço era com certeza o seu lugar favorito no mundo. Ela logo sentiu algo estranho econstando nela e viu que o controle remoto estava na mesinha de centro.

― Pedro. Acorda. Agora. ― Disse Karina se afastando do guitarrista que acordou afobado.

― QUE FOI! ― Disse Pedro sentando no sofá e vendo Karina com uma expressão assustada na sua frente.

― Você pode me explicar o que significa isso? ― Disse Karina apontando para a bermuda do rapaz, no fundo ela já sabia a resposta, mas aquilo tudo era muito novo pra ela.

― Isso o que? AH! É... Bem... Ah Karina... Isso é culpa sua. ― Disse Pedro com as mãos na frente na bermuda tentando não rir.

― Culpa minha?? ― Disse Karina ainda pasma com toda a situação.

― É sim! Se você não tivesse vindo me amassar nesse sofá minúsculo eu não tinha ficado assim. ― Disse Pedro rindo da cara de espanto dela.

― Para de rir! Eu achei que fosse o controle remoto, ou sei lá o que... ― Disse Karina envergonhada.

― Ô esquentadinha para de drama, até parece que nunca viu... ― Disse Pedro rindo e ela ficou parecendo um tomate.

― Deve ser porque eu NUNCA vi. ― Disse Karina já irritada com toda aquela situação.

― Karina, você ainda é virgem? ― Perguntou Pedro sério.

― Sou Pedro, porque? Vai me zoar agora? ― Disse Karina com um misto de vergonha e raiva.

― Não é só que- ― Disse Pedro sendo interrompido pela lutadora que já não sabia com que cara iria continuar a conversa.

― “É só que” o que? Ah Pedro, me erra! ― Disse Karina indo para o seu quarto e Pedro ficou lá sem entender nada.

― Maluca! ― Disse Pedro quando ela bateu a porta do quarto com força. ― Só estamos aqui a 2 dias e ela já surtou! ― Disse Pedro sentando no sofá.

...

― Fabi, eu tô indo ai na tua casa, preciso conversar contigo! Acho que estraguei toda aquela história de “Projeto Sedução” ... ― Disse Karina pelo telefone.

― Tá, vem eu quero que você me conte tudo direitinho! ― Disse Fabi e Karina desligou o telefone e foi saindo.

― Ei, pra onde você vai? ― Disse Pedro já que já era tarde.

― Pedro, nós dividimos um apartamento, não estamos casados, não estamos namorando, não estamos sequer ficando, então pelos meus cálculos... Não é da sua conta. ― Disse Karina fechando a porta do apartamento enquanto ria da cara de “indignado” que Pedro estava.

― Quero só ver de que horas ela vai chegar, nem chave a maluca levou. ― Disse Pedro que na verdade estava incomodado por ela ter saido de noite, sozinha e com um short daquele tamanho.

_*_

― Fabi me ajuda! ― Disse Karina assim que a amiga abriu a porta.

― Vai desembucha! ― Disse Fabi sentando no sofá e Karina sentou-se numa poltrona de frente para ela.

― Eu estraguei tudo! ― Disse Karina coçando a nuca.

― Como assim? Você não... VOCÊ NÃO RESISTIU SUA SAFADA! ― Disse Fabi com um sorriso enorme.

― Não, é que a gente tava dormindo e ele veio com aquele negócio relando em mim e eu fiquei meio assustada aí- ― Disse Karina sendo interrompida por Fabi.

― Espera, que negócio? ― Disse Fabi com uma cara de safada.

― A “Torneirinha” Fabi. Aquele negócio que ele usa pra mijar e que o horário não me permite dizer. ― Disse Karina e Fabi caiu na gargalhada.

― Espera, vocês estavam dormindo juntos? ― Disse Fabi e Karina não podia estar mais vermelha.

― É... Bem... Sim, ele deitou no sofá depois do almoço e eu não sei o que me deu, mas eu senti uma vontade enorme de deitar junto, aí deitei. ― Disse Karina como se tivesse cometido um crime.

― Karina deixa de ser boba! E porque o pau dele estava relando na senhorita? ― Disse Fabi como se fosse a coisa mais normal a se perguntar.

― Fabi! É que a gente meio que dormiu de “conchinha”, aí quando eu acordei eu senti aquele negócio relando na minha bunda. Eu não sei o que me deu, eu só tomei um susto e acordei ele. ― Disse Karina e a amiga só fez rir.

― KARINA ACORDA! Olha só pra você, você é linda, tem um corpo de dar inveja, é claro que o Pedro te deseja! Eu até já posso imaginar a cara dele equanto você surtava por ele estar excitado. ― Disse Fabi e Karina corou.

― É que eu não sei de nada sobre essas coisas, eu nunca falei sobre isso com ninguém, e eu meio que me assustei, foi quase como se ele estivesse me estuprando. ― Disse Karina que já ria da situação.

― Deixa de ser exagerada e ele tava de bermuda mesmo? Porque não é normal tanto espanto a menos que ele estivesse pelado. ― Disse Fabi e Karina corou forte.

― FABI! É CLARO QUE ELE ESTAVA DE BERMUDA! E outra, como eu vou “seduzir” se eu sou a pessoa mais bocó no assunto sexo? ― Perguntou Karina e Fabi deu um sorrisinho maléfico.

― Karina você eu uma cartada de mestre! O nosso plano era você jogar charme, se exibir, e depois se fazer de boba, fingir que estava agindo normalmente. Essa sua “inocência” só vai facilitar essa história toda de “se fazer de boba”. Você tem essa carinha de bocó, mas no fundo eu sinto que tem uma mente criminosa aí dentro... ― Disse Fabi sorrindo maliciosamente.

― Fabi, eu deveria me irritar por você ter me chamado de bocó ou deveria te parabenizar por você ter essa mente brilhante? ― Disse Karina como se estivesse no meio de um dilema.

― Me agradeça fazendo nosso plano dar certo. ― Disse Fabi que estava ponderando entrar no assunto “porque vocês não voltaram”, mas achou melhor não pesar o clima.

― Olha eu vou lá, já tá tarde... Amanhã eu falo se rolar alguma novidade... E Fabi, vamos marcar pra sair com a Juh e com a Pri, eu tô cheia de saudades de sair com vocês... ― Disse Karina indo na direção da porta.

― Essa paixão pelo Pedro tá te deixando melosinha. ― Disse Fabi fechando a porta rapidamente.

― Eu não tô apaixonada por ele! Não mais... Eu acho. ― Disse Karina para si mesma já que Fabi já tinha fechado a porta. Ela desceu as escadas do apartamento pensando no que faria em relação a Pedro, já que eles agora moravam juntos e para ela não seria nada fácil ver ele trazendo mulheres pra lá... Ela foi andando mergulhada em pensamentos, até que notou um carro vindo numa velocidade baixa, como se estivesse seguindo ela. A lutadora começou a andar mais rápido, ela estava com medo, porque por mais que soubesse lutar, o muay thai não valeria de nada contra armas de fogo ou vários homens... Ela estava quase correndo e de repente o motorista do carro buzinou, ela estremeceu e suas pernas pareciam ter se esquecido como se anda.

― Ô KARINA! PARA DE CORRER SUA MALUCA! ― Gritou Cobra dentro do carro e Karina finalmente olhou para trás, assim que viu o amigo ela se aproximou do carro.

― Cobra seu filho da mãe! Quer me matar de susto?? ― Disse Karina com a mão no peito, respirando ofegante.

― Para de reclamar e entra aí. Eu te levo pra casa. ―Disse Cobra e Karina o fez. Ela entrou no carro e colocou o cinto de segurança, ele riu do quão pálida ela estava.

― Onde é mesmo o seu apartamento? ― Perguntou Cobra e Karina deu as coordenadas, eles foram o caminho todo “colocando o papo em dia”, Cobra estava se acertando com Jade e estavam prestes a contar para a mãe da dançarina sobre o tal romance, mesmo passando tanto tempo longe, ele ainda era o mesmo, ela sentiu que podia confiar nele.

― É aquele prédio ali! ― Disse Karina apontando o local exato.

― Está entregue Loirinha. ― Disse Cobra, ela abriu a porta do carro e desceu.

― Valeu cara, depois eu quero que você me conte aquela história com a mãe da Jade. ― Disse Karina sorrindo entrando no edifício.

― KARINA! Onde você tava sua maluca?? Tem noção de que horas são? Como você voltou pra casa? ― Disse Pedro parando em frente a ela.

― PEDRO! Calma, só são 22:30, eu peguei carona com o Cobra. ― Disse Karina rindo da preocupação dele. “Ah, então quer dizer que ele se preocupa comigo...” Pensou Karina sorrindo internamente.

― Nossa, o Cobra é tão solidário... Que alma bondosa! Vou colocar o nome dele na caixinha de oração da igreja. ― Disse Pedro ironicamente.

― Isso é tudo ciúmes Ramos? ― Perguntou Karina arqueando uma das sobrancelhas.

― De você? Há, Karina olha bem pra minha cara e vê se eu ainda tenho 16. Fala sério, até parece... ― Disse Pedro se jogando no sofá, tentando esconder o ciúme que ele sentiu ao ouvir “Cobra” numa frase dita por Karina.

― Bom, já que você não sente mais nada por mim e eu tembém não sinto mais nada por você, podemos ser amigos. ― Disse Karina se segurando para não dar um soco na cara dele.

― Amigos, nada mais. ― Disse Pedro apertando a mão que Karina lhe oferecia, era estranho ao toca-la sentir os mesmos arrepios de quando começaram o namoro.

― Eu tô cansada, vou tomar um banho... ― Disse Karina indo no quarto e pegando a toalha. Ao sair do banheiro, ela foi para o quarto, se trocou e foi na cozinha preparar alguma coisa para comer.

― Eai “amiga” o que vamos comer? ― Perguntou Pedro se encostando no balcão.

― Não sei “amigo” ainda tô pensando... ― Disse Karina mordendo o lábio inferior, sem olhar diretamente nos olhos dele.

― Quer pedir pizza? ― Perguntou ele e ela assentiu. ― Você quer de que? ― Disse Pedro com o telefone junto ao rosto.

― Frango com catupiry. ― Disse Karina já prevendo a pizza que ele iria escolher.

― Ah, uma pizza grande, metade fango com catupiry metade alho. ― Disse Pedro e Karina já estava prevendo o bafo de alho que ele iria ficar depois da pizza. Ele deu o endereço do apartamento e desligou o telefone.

― Você vai ficar com um bafo horrível. ― Disse Karina sorrindo.

― Amigos não se beijam dona Karina, você não tem porque se incomodar com o meu bafo. ― Disse Pedro arqueando uma das sobrancelhas.

― Eu não preciso te beijar pra sentir o bafo de alho que você vai ficar e outra, eu não quero te beijar seu convencido. ― Disse Karina pegando um copo e enchendo de água.

― Ah claro. Assim como eu também não quero te beijar. ― Disse Pedro e eles ficaram em silêncio até a pizza chegar.

― Tá com uma cara ótima... hmmm ― Disse Karina abrindo a embalagem.

― Tá mesmo. ― Disse Pedro pegando uma fatia da pizza de alho. ― Nossa, o gosto tá ainda melhor! ― Disse Pedro comendo como se não houvesse amanhã.

― Hmm... ―Karina não conseguiu dizer mais nada, só estava concentrada na pizza.

― Olha só pra você! Toda lambuzada! ― Disse Pedro pegando um guardanapo e limpando os cantinhos da boca da lutadora que estavam sujos de queijo. O clima ficou estranho para “dois amigos” e ele se afastou.

― Dava pra limpar o queijo com a língua. ― Disse Karina em meio a outra mordida na pizza.

― Safada... ― Disse Pedro recebendo um tapa em seguida.

― MINHA LÍNGUA, SEU BOCÓ! ― Disse Karina rindo dele e lhe dando leves tapas.

― Calma, somos apenas amigos e eu não saio lambendo as minhas amigas. ― Disse o músico terminando de comer sua metade da pizza. “Se bem que eu iria adorar esse negócio de te lamber...” Pensou o músico afastando os pensamentos em seguida.

― Moleque eu tô com sono, amanhã é quarta e temos que organizar nossa rotina. Tipo uma listinha de tarefas... ― Disse Karina se levantando do sofá e saindo na direção do banheiro, Pedro veio logo atrás.

― Eu vou escovar os dentes também. ― Disse Pedro pegando sua escova. Os dois logo começaram a disputar espaço na pia, até que Karina terminou e foi saindo do banheiro.

― ESPERA! Não vai dar nenhum abraço no seu amigo aqui? Que feio Karina! ― Disse Pedro e a lutadora pensou no que tinha conversado com Fabi, acabou se aproximando do músico.

― Tá bom, mas só porque somos amigos. ― Disse Karina se aproveitando da situação para prensar seu corpo coberto pelo pijama fininho contra o dele, que vestia apenas sua típica calça de moletom. “Que saudade que eu tava desse abraço...” pensaram juntos, Pedro por sua vez mantinha uma mão na região lombar e outra na nuca da lutadora, não queria que aquele abraço tivesse fim, mas o clima começou a esquentar e eles acabaram se afastando, envergonhados.

― Então tá, boa noite. ― Disse Pedro indo na direção do seu quarto.

― Boa noite. ― Disse Karina tentando conter o sorrisinho bobo que se formava em seu rosto. Karina entrou em seu quarto, falou com seu pai, se desculpou por não ter dado notícias, mas logo foi dormir. Pedro estava pensando no que a sua irmã havia dito sobre ele mostrar suas composições, ele ia mostrar, mas agora com esse negócio de “amigos” não ia dar... Ele decidiu tentar procurar o caderno no dia seguinte pra ver se dava pra melhorar alguma coisa e se tivesse algo que não fosse relacionado a ela, ele mostraria a Nando.

_*_

― NÃO É POSSÍVEL! ― Disse Pedro revirando as coisas dentro das caixas a procura do caderninho azul.

― Pedro eu tô tentando organizar a tabela, SERÁ QUE DÁ PRA VOCÊ CALAR A BOCA AMIGO?? ― Perguntou Karina colocando as tarefas e quem as cumpriria numa tabela.

― SE VOCÊ VIESSE AQUI ME AJUDAR EU TERMINARIA LOGO E TE AJUDAVA AMIGA. ― Gritou Pedro de dentro do quarto e Karina largou a tabela no sofá e foi lá.

― O que você quer? ― Perguntou Karina na porta do quarto dele.

― Eu quero achar um caderno. ― Disse Pedro perdido no meio de um monte de coisa que ele ainda não tinha guardado.

― Seja mais específico. Ele é como? Tem o que dentro? ― Perguntou Karina se aproximando dele.

― Ele é azul, pequeno, sem arame, tem minhas músicas e uns textinhos dentro... ― Disse Pedro que sabia que as músicas sobre ela só estavam no final do caderno e que ela não teria interesse em folhear páginas cheias de tanta besteira.

― Suas músicas incríveis? ― Disse Karina tentando conter a gargalhada.

― Vai me ajudar ou vai ficar zoando minhas composições? ― Perguntou Pedro já prestes a arrancar os cabelos.

― Tá, chega pra lá. ― Disse Karina sentando e abrindo outra caixa, ela viu o caderninho de cara, mas a curiosidade foi tão grande que ela jogou ele debaixo da cama do músico e fingiu que não tinha achado. Eles ficaram lá sentados por horas até Pedro desistir.

― Eu devo ter esquecido lá em casa, depois eu procuro... ― Disse Pedro guardando as coisas que eles tinham desempacotado.

― Eu vou pra sala terminar a tabela. E o senhor quando terminar vai lá me ajudar! ― Disse Karina indo para a sala. Pedro terminou de arrumar suas coisas e ajudou a lutadora com os horários da tabela.

― Esquentadinha, o Johny me ligou e me chamou pra ir pro cinema, ele ia com a Jujuba, mas ela teve que ficar em casa... ― Disse Pedro pegando o celular, a carteira e as chaves.

― Tá bom. Tchau. ― Disse Karina fingindo desinteresse.

― Tá bom. Tchau e nada de dar uma festinha! ― Disse Pedro com seu típico bom humor.

― Vai logo seu palhaço. ― Disse Karina jogando uma almofada nele, que fechou a porta rapidamente. ― Beleza! ― Disse Karina correndo na direção do quarto do músico, ela se jogou no chão e foi rolando para debaixo da cama até alcançar o caderno, o pegou e foi para o seu quarto.

Ela começou a ler os textinhos por curiosidade e acabou gargalhando com as porcarias que ele escrevia.

“Minha mina

Minha musa

Com você do meu lado

A vida fica sussa”

Ele escrevia uma tosqueira atrás da outra, até que as coisas começaram a melhorar... Um pouquinho.

“Queria viver um grande amor

Mas um grande amor não posso viver

Pois quem vive um grande amor é feliz

E eu não sou feliz sem você.”

― Mais uma pra sessão “tosqueiras melosas”. ― Disse Karina rindo alto. Depois ela viu que ele havia escrito uma música, ela notou que ele tinha parado na metade e continuado com uma caneta de outra cor, vencida pela curiosidade ela começou a ler.

“Eu não sossego até que eu possa provar

Que esse seu jeito

É só pra não se entregar

Se faz de séria só pra resistir

A minha ideia é te fazer sorrir

Olhinho bem fechado, sorriso assim de lado

Será que é muito cedo para ser seu namorado

Não sei se você sabe desde o primeiro dia

Agora te confesso o quanto eu ja sabia

Olhinho bem fechado, sorriso assim de lado

Será que é muito cedo para ser seu namorado

Não sei se você sabe desde o primeiro dia

Agora te confesso o quanto eu ja sabia

Amar

E com você meu mundo faz sentido

E o seu lugar é bem aqui comigo

Eu já sabia que ia acontecer

Eu e você”

― Não pode ser. Ele, ele escreveu uma música pra mim? ― Karina sabia que aquela música era pra ela, ele até já tinha dito pra ela um verso da letra... Com os olhos marejados ela não pode evitar sorrir. Ela leu, releu, releu novamente e ficou imaginando qual seria a melodia, nem viu o resto das composições. ― Vou falar com as meninas! ― Ela disse para si mesma pegando o seu celular e criando um grupo no whatsapp para conversar com as amigas.

WHATSAPP ON –

K: Eu preciso falar com vocês URGENTE!

Fabi: Que foi K??? Deu algo errado no nosso plano??

Juh: Fala logo K! Já tô nervosa!

Pri: Oii! Pode falar!

K: Bom, gente é que o Pê escreveu uma música... E eu acho que foi pra mim...

Fabi: AAAAAAAAAAAH QUE LINDOOOOOOO! MANDAAAA A LETRAAAA

Pri: NOSSA QUE FOFO! :3

Juh: Annnw, sério?! Nossa e como você viu? ♥

K: Ele tem um caderninho que ele usa pra escrever, aí eu achei e li... ― Karina mandou uma foto da letra da música ―

Pri: É ÓBVIO QUE ELE ESCREVEU PRA VOCÊ!

Juh: Que lindo! A letra é ótima! E ele sabe que você viu?

Fabi: KARINA EU TÔ PIRANDO QUE COISA MAIS LINDA SOCORRO! ♥ ♥ ♥

K: EU AMEEEI ♥ Mas ele não sabe que eu vi e eu não sei como agir. ME AJUDEM!

Juh: Ainda não entendi porque vocês não voltaram a namorar... Vocês ficam lindos juntos ♥

Fabi: AHHH AGORA EU ENTENDI! K, você tem que fingir que não viu ainda... Continua com o plano! Você tá muito paradinha, tem que intensificar as coisas!

Pri: Que plano é esse que vocês duas tanto falam??

Juh: Fomos deixadas de fora Pri. #Xatiada

K: Fabi, explica por favor...

Fabi: A K tá tentando seduzir o Pedro, não sei qual a finalidade disso, mas enfim. E eu tô ajudando, mas aceitamos dicas.

Pri: EU SOU A RAINHA DA SEDUÇÃO E FUI DEIXADA DE LADO, BONITO DONA KARINA.

Juh: Eu não sei NADA sobre sedução, mas acho que o João deve tar conversando bastante com o Pedrinho sobre vocês... Então acho que a gente consegue arrancar o João alguma coisa, sabe? Tipo agente secreto?

K: A Jujuba tá numa vibe 007 kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Pri: A gente precisa se ver o mais rápido possível! K, eu sei de uns truques... A Fabi é maluquinha, mas é boa com as palavras, eu sou boa com gestos. Você vai ser minha aluna! Já engatei no plano, nem adianta me expulsar kkkkkkk

K: Socorro kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Fabi: Isso é tipo a CIA só que numa versão: “PS” = Projeto Sedução.

~ Karina alterou o assunto para “P.S.”

Pri: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk vocês não prestam

Juh: Tô rindo aqui kkkkkk A gente tem 20 anos mas parece que tem 6.

Fabi: Amanhã tem reunião das agentes secretas do P.S. na sorveteria Tutti. Okay?

K: Okay sua maluca.

Pri: Estarei lá para passar meus ensinamentos.

Juh: Espera, vocês vão “ensinar” a K a “seduzir” na sorveteria? Não seria melhor na casa de alguém primeiro?

Fabi: A gente se encontra na sorveteria e vai lá pra casa depois!

K: Melhor assim :P

Pri: Tá certo, meninas eu vou dormir = 1º Ensinamento - Não se seduz com olheiras.

K: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Okay Pri, decorei.

Fabi: Tchau gente!

Juh: Tchau minhas pestes ♥

K: Tchau :P

WHATSAPP OFF -

Karina foi dormir ainda sorrindo das besteiras que as meninas falavam, nem ouviu o barulho que Pedro fez quando chegou do cinema.