O Preço do Poder escrita por Leh


Capítulo 12
O grande rei




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Soluço olhou em direção ao castelo, repetidas vezes enquanto direcionava seu olhar ao chão, ao Banguela e de novo voltava seus olhos verdes em direção ao castelo. Merida simplesmente voara em direção do mesmo junto à senhora, mal tinha lhe dado tempo de pensar, de perguntar se estava tudo bem. Por mais que as atitudes dela fossem reveladoras, ele queria ter o prazer de ajudar, de ser útil àquele povo, mas a cada passo que dava para o futuro parecia que seu retrocesso era evidente.

Soluço levantou o olhar novamente ao castelo, seria um bom momento se aproximar formalmente? Ou será que os outros teriam a mesma reação desesperada que a senhora que acompanhou Merida para longe.

Soluço suspirou derrotado, viu Banguela se aproximar empurrando-o com a cabeça de leve, Soluço colocou a mão carinhosamente no réptil, encarou o castelo mais uma vez, em tanto tempo não estivera tão inseguro com suas atitudes, ele queria se aproximar, mas temia pela sua segurança, logicamente, e a de Banguela, e principalmente a do povo de Dunbroch, se um dragão se sentisse ameaçado ele atacaria sem hesitar e não era essa a intenção do viking, então depois de fitar a grama verdejante no chão pouco a frente de sua perna metálica, ele voltou a Banguela determinado e depois disposto a dar o primeiro passo em direção ao castelo, onde as árvores e folhagens não os camuflavam dos guardas.

–Quem é você? – Soluço ouviu a voz masculina pouco atrás de onde ele se encontrava, virou se rapidamente e pode ver o homem, pouco mais alto que ele e com cabelos negros e bagunçados, a tinta azulada espalhada em seu corpo e a roupa xadrez. Soluço percebeu que o rapaz, que deveria ter mais ou menos a idade dele encarava também com as sobrancelhas contraídas e a postura rígida, era possível até ver o movimento de seu peitoral conforme a respiração, o jovem lorde Macintosh estava tenso.

Soluço já se preparou andando lentamente para frente de Banguela que começava a mudar a postura demonstrando se sentir ameaçado pela presença do desconhecido, mas se acalmou após a atitude de Soluço, Baguela estava tranquilo, confiava no seu humano, porém não se importaria em atacar se considerasse o escocês um inimigo.

–Sou Soluço, este é Banguela. Não somos inimigos. – Ele disse pausadamente a medida de seus passos à frente do dragão, ele apresentou com as mãos enquanto falava. O escocês pareceu confuso a principio e alternava o olhar de um para outro enquanto era lhe apresentado. Ele se lembrou do ataque a Dingwall, não que já não estivesse desconfiado da figura, para ele, desconhecida de Soluço tão próximo ao castelo.

–Você é um viking! Escória! Prepare-se... – Ele disse e foi segurando fortemente a grande espada que carregava consigo e colocava se em posição de luta e preparava para atacar, Soluço vacilante deu um passo para trás, empurrando Banguela que apenas acompanhou a movimentação do mesmo.

–Não...Eu sou amigo da Merida, pode falar com ela. Ela me conhece. – Soluço tentou argumentar e se afastava tentando manter o equilíbrio necessário de Macintosh que apenas dava um passo cruzado após o outro analisou a figura de Soluço sem se importar com o acompanhante mortal que vinha a seu lado. Olhou a falta de sua perna e concluiu se o lado mais fraco. Mas parou perplexo, as palavras do viking tinham sido filtradas pelo seu cérebro.

–A princesa? Como um bárbaro pode conhecer uma dama? – Macintosh apenas defendia a honra da princesa, ele sabia que vindo de Merida não devia duvidar de nada, mas ela estava no castelo, Angus estava lá, e Maudie tinha dito que a princesa tinha apenas feito a sua caminhada matinal pelo reino antes de ir para cozinha e depois de conversar com o rei em seus aposentos. A manhã da princesa parecia ser bem agitada e uma governanta real não mentiria para um lorde.

Soluço estava extasiado, não sabia muito bem o que responder, Merida era uma mulher, de fato, mas até aquele momento ele não tinha parado pra pensar se estava sendo mal educado em chama-la pelo nome, ela tinha sugerido aquilo. E dama? Ele conhecia algumas poucas vikings mulheres que não lutavam, não ajudavam com os dragões, elas pareciam atraentes para casar, tinham mãos delicadas e suaves, diferente das que batalhavam. Mas Merida era uma guerreira. Estavam falando da mesma pessoa? Ele sentiu vontade de rir, mas se segurou em vista de que o homem a sua frente estava com a espada pronta para ataca-lo.

–Pode chamar Merida para ela esclarecer as coisas? – Soluço fez o pedido tentando fezê-lo não parecer uma ordem.

Macintosh tinha uma certeza em sua vida. Uma certeza implantada em sua mente pelos outros membros de seu clã, a partir do momento em que o rei ficou doente, ele era o mais hábil a casar-se com a princesa, os príncipes demorariam anos para alcançar a idade de herdar o trono, ele não se importaria de ficar no lugar deles, mesmo que temporariamente. Sendo rei ele poderia ter um filho e coloca-lo em seu lugar ao invés dos trigêmeos, ninguém iria à contraposição a de um rei, e se ele fosse...

Ele seria casado com Merida e provavelmente ela não poderia mais sair cavalgando por aí, Angus era um ótimo cavalo, e ele podia se imaginar montado no Clydesdale. Mas voltou sua atenção ao viking.

–Ousa novamente pronunciar o nome da princesa?!

Ele não continuou deu um longo passo para direita e mais três para alcançar Soluço que apenas empurrou o dragão para o lado antes de sacar a própria espada e defender o ataque. Soluço olhou de canto para ver se Banguela estava bem e ele estava apenas com os olhos verdes fixados na batalha, mas não tinha a intenção de interferir, a menos seu amigo desejasse.

Soluço se direcionou para frente de novo, os olhos de Macintosh estavam fixos aos dele e não era possível um contato maior. O escocês se afastou enquanto Soluço tentou manter a distancia equilibrada. Quando o jovem lorde se aproximou novamente Soluço conseguiu desviar dos ataques, e preparou a espada que agora estava flamejante. Macintosh pareceu inseguro com o próximo ataque depois de ver o trunfo do viking e recuou alguns passos. Soluço percebendo a desvantagem emocional do jovem foi rápido em seu movimento com a espada ao derrubá-lo no chão. Antes de cair Macintosh sentiu a necessidade de soltar a própria arma em uma alternativa para evitar o tombo, depois viu o erro que cometera.

Soluço segurava a espada pesada do escocês e fez um breve movimento rodando a espada em sua mão, era uma ótima arma, Soluço conhecia as artes da forja e podia admitir isso. Mas protestos vindos da direção de soldados irritados chamaram a atenção tanto de Soluço quanto o derrotado Macintosh no chão.

Soluço viu uma lança passar a centímetros de seu nariz, e suspirou antes de correr em direção a Banguela.

–Hora de ir amigão.

Nem precisava pedir, assim que sentiu que Soluço estava preparado e seguro em suas costas, o dragão alçou o voo.

Banguela parou quando sentiu que as muitas nuvens espalhadas no céu eram suficientes para impedir a visão dos escoceses abaixo de si, pode sentir também o humano montado em suas costas deitar depois de um longo suspiro e apenas grunhiu vendo o efeito de imediato Soluço se levantou novamente e direcionou ao dragão.

–Vamos resolver esse problema.

[...]

Astrid passou um longo tempo analisando todas a situação enquanto esteve próximo a praia e finalmente estava preparada psicologicamente e voltar em sociedade, talvez se estivesse ocupada com os dragões as ideias malucas de Minaz se afastassem da própria mente, ou ao menos, ela não precisava se preocupar em acidentalmente achar um sentido para os planos dele. Tempestade a acompanhava enquanto andava por entre os vikings atarefados que só paravam para cumprimenta-la antes de voltarem nos afazeres pré-guerra.

Astrid defendeu o olhar com a mão do sol, ao passo que podia ver o fúria da noite sobrevoar o céu em cima do acampamento, ela olhou rapidamente para os lados e Berk parecia fazer o mesmo que ela naquele momento.

Poucos segundos depois Banguela pousou e Soluço desceu do Dragão.

Astrid decidiu não se precipitar e não apressar o passo em direção ao líder, na verdade ela estava curiosa em ver como ele iria lidar com aquilo. Ou, como ela desejava, que ele estivesse ali para dizer que finalmente podiam atacar e que o líder estava de volta para lidera-los. Mas conhecendo Soluço como conhecia sabia que não seria fácil.

Soluço sentiu todos os olhos fixados em si, e não foi capaz de assimilar o quão desconfortável se sentiu, não eram como os olhares em si quando estava em uma corrida de dragões ou quando chegava com um mapa novo nas manhas de Berk. O seu povo estava aflito, e ele sabia que precisavam da disposição do líder para guerrear. Mas Soluço teve que admitir estar satisfeito por isso. Minaz era uma ameaça para o seu cargo?

Assim que pensou na figura o homem revolto apareceu caminhando em passos rápidos em direção a Soluço, ele dizia poucas palavras baixo o suficiente para ninguém ouvir, seus punhos estavam fechados enquanto o olhar ameaçador ia de encontro a Soluço enquanto caminhava. Soluço não evitou colocar a mão em sua espada enquanto o viking se aproximava. Mas ele parou.

–O líder voltou? – Ele perguntou com um sorriso de canto. Minaz tinha um plano e era importante que Berk desse o maior apoio para ele e esquecesse o rapaz franzino, na opinião dele, que tinha a metade da idade dele, e provavelmente nunca tinha batalhado como ele batalhou um dia.

–Vim pra ter certeza que você não vai fazer merda.

Soluço rodou o olhar no acampamento estava tudo quase pronto. E as pessoas aos poucos apenas se ocupavam afiando suas espadas e machados. Minaz colocou os braços para trás e riu uma vez enquanto encarava o chão depois afrontou o jovem novamente.

–O que de mais eu poderia fazer? – Ele viu Soluço perder-se em palavras e o olhar se tornou vazio, sentiu a respiração esvaziar do pulmão e olhar para baixo como se procurasse um milagre. Esperando que Odin lhe desse sabedoria para replicar.

–Você sabe do que ele está falando, Minaz. – Era Astrid. Soluço encarou incrédulo e confuso na direção dela, e viu as palavras de Astrid surtir efeito em Minaz que arregalou os olhos e extasiou por minutos ao ouvir a onda de comentários entre os vikings que ficaram desconfiados no momento. A maioria viu a guerreira na reunião particular e todos viram a reação dela depois do término.

Minaz não disfarçou a olhar para a loira a alguns metros de distancia, ela fez pouco caso e apenas fitou o machado em suas mãos entes de olhar de novo para o viking, ameaçadoramente a medida da intensidade do olhar dele. Minaz suspirou.

–Sem guerra? Claro. Você quer o líder? Então você terá o líder.

Ele disse caminhando para as armas e convocando alguns dos guerreiros espalhados no acampamento. A movimentação foi instantânea e os outros seguiam os convocados para dar conselhos. Minaz parou em frente de Astrid que não disfarçou sua confusão momentânea.

–Você é importante Astrid Hofferson, vai se dar a esse valor? – Astrid desviou o olhar mas pode sentir o viking levantando a mão que ela carregava a arma e em seguida ele caminhou em direção aonde o castelo de pedra podia ser visto, ela viu os vikings que Minaz escolhera indo em direção dele, e viu o olhar do comandante direcionado a ela. Ela olhou para Soluço que não estava mais aflito, mas também não estava calmo. Ela fitou a arma em sua mão e pensou como ela desejava correr na direção de Minaz e batalhar. Lembrou-se do dia que a anciã escolheu Soluço na arena anos atrás, suspirou algumas vezes e viu seus pés moverem sozinhos em direção aos outros vikings, sendo acompanhada por Tempestade. Minaz sorriu satisfeito. Mas ela não deu o voto de confiança e apenas o encarou com ódio.

Soluço encostou-se em Banguela, ele já tinha um plano. Eles capturariam Merida. O fúria da noite era o dragão mais agiu de todos. Ele chegaria ao castelo primeiro e quando Merida aparecesse, ele e Banguela salvariam a líder, e o resto, bem, ele poderia improvisar. Ele lançou o olhar a Banguela que fez o mesmo, pareciam conectados, pois os dois pensavam a mesma coisa, de formas diferentes, mas pensavam.

[...]

Merida entrou no quarto do rei. Ele ainda tinha os olhos abertos só que os garantia com dificuldade, ela viu os três irmãos pouco distantes da rainha. Hubert tinha o braço envolto no irmão Harris e Hamish um pouco ao lado tentava parecer inabalado, como um pequeno homem que perdera um amigo em batalha. Ela foi a passos lentos para próximo da mãe. Conseguir sentir que seus olhos se desmoronariam a qualquer momento.

–Merida...

A voz de Fergus foi fraca e falhada, a primogênita colocou a mão na boca desolada sem saber o que fazer e como reagir, se aproximou mais para poder ouvir a voz do rei com precisão. Ele estava pálido sua boca estava roxa e os olhos vermelhos e lacrimejantes fazia-o já parecer como um cadáver.

–N-Não se esforça pai... Vai ficar tudo bem. – Merida sentiu as lágrimas deslizarem pelas suas bochechas desesperadamente, e Elinor apenas se levantou para tentar acalmar a filha depositando uma mão em seu ombro. Fergus negou com a cabeça lentamente.

–Você sabe o que é melhor para o reino. – A voz do pai ecoou na mente de Merida que soube na hora o que ele sugeria, ela sabia que o rei urso jamais fora a favor a casar à primogênita, Merida era uma joia rara, era valente e corajosa, manuseava a espada como um homem e era uma arqueira excepcional. Depois Fergus chamou novamente a rainha e disse coisas o qual Merida simplesmente não conseguiu ouvir, ou para ela não fazia mais diferença. Ela tinha ouvido o suficiente. A princesa pode ver o ultimo suspiro do pai e o desespero de Elinor ao abraçar o corpo que não tinha mais vida. Hamish que tentava parecer um homem mais velho chorava com os irmãos como se tivesse perdido o seu brinquedo mais precioso.

Ela soube que como primogênita precisava proteger sua família, uma guerra estava vindo e ela precisava ser forte para proteger seus irmãos e sua mãe.

A princesa chamou pela mãe repetidamente e quando a rainha conseguiu se desvincular de Fergus a filha a puxou para um abraço correspondido de imediato, em toda a vida Merida nunca tinha visto a mãe naquele estado. Ela tentava conter os soluços repetidos e abraçava a mãe com integridade, ela chamou com uma das mãos os três irmãos, que circularam as duas em um abraço segurando nos vestidos de ambas. Merida pode ouvir em sua mente a voz do pai cantando alegremente a canção de Mor’du. Ela ainda sentia a angustia lhe invadindo ao mesmo tempo em que sentia a aflição do resto da família.

Para alguns homens jazia ali um grande rei, sábio. Que liderou guerras e conseguiu realizar uma grande aliança entre os clãs da Escócia. Para outros o temível rei que perdeu a perna para um urso demônio. Um pai, que não seria mais do que uma lembrança espalhada em peças de tapeçarias, nunca mais seria congratulado pela astúcia, ou admirado pelos novos guerreiros, ele estava ali com o corpo inerte, derrotado por uma doença que os médicos de sua época não tinham conhecimento para deter. O grande rei e também amoroso pai estava morto, e nunca mais seria visto cantando em uma festa animada e nem ferozmente atacando o inimigo com bravura.


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Notas finais do capítulo

D': Então gente, olha quem está postando mais cedo! Sim estou com um tempo extra agora, porém completamente sem dinheiro (Se é que me entendem) Bom, todo fim é um recomeço então nem estou muito preocupada, até pq tem uma serie de vestibulares pra prestar agora. Well, até o próximo o//