O Preço do Poder escrita por Leh


Capítulo 10
Desejos


Notas iniciais do capítulo

Olá todo mundo, obrigada Lualinda002 pela recomendação, vc disse que recomendaria e eu nem achei que tava falando sério.



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Estava tudo escuro, mas Soluço conseguiu identificar as altas árvores dos arredores de Dunbroch, Banguela não estavam com ele, e por alguma razão o viking sabia que não precisava se preocupar com o dragão naquele momento, mas ele estava sozinho e o silencio era quase absoluto. Ele deu um pequeno passo para frente tentando enxergar além de um palmo de distancia, pegou sua espada cautelosamente, e fez com que conseguisse iluminar o caminho com a chama produzida pela “lâmina”.

A partir dali, ele pode andar com mais segurança, mesmo não sabendo o rumo que deveria tomar. Soluço decidiu apressar seu passo no momento em que pode ver o grande castelo de pedra, mas algo o fez parar.

O castelo estava em chamas e ele podia ouvir gritos vindo daquela direção. Soluço caminhou rápido, na entrada do reino não havia mais guardas, apenas a marca de seus corpos carbonizados no chão, e a sua volta o estrago de seu povo era ainda maior, eles atacavam crianças e algumas mulheres que tentavam proteger os próprios filhos sem clemencia, e Soluço não podia fazer nada para impedi-los pois, ali ele não tinha voz. Ele falava, gritava enquanto tentava entrar na frente de seus amigos, mas era como se ele fosse o vento. Ele estava presente, podia ser sentido, porém sua existência não era lembrada, ele estava invisível.

Ele caminhou de costas, tentando se afastar aterrorizado com a cena da decapitação das mulheres. Mas algo o distraiu, o jovem viking viu Minaz correndo em direção do castelo, e imediatamente ele soube que Merida corria perigo, ele só sabia que ela não podia ser morta, ninguém deveria estar morrendo ali, em passos largos ele começou a seguir o grande homem, tentando ignorar a batalha sanguinária que acontecia ao seu redor.

Na porta do castelo lá estava ela, com seu arco tentando proteger seus irmãos, seu cavalo estava a poucos metros, caído no chão, Soluço apontou que já não tinha vida na carcaça do pobre animal. Foi quando ele percebeu que invés de lagrimas, Merida expressava ódio em seu rosto, ela estava à espera de sua vingança, embora soubesse que não estava no mesmo nível de batalha de Minaz.

Os trigêmeos choramingavam, mas tentavam não atrapalhar a concentração da irmã, que já era abalada pela morte de sua montaria e pela imagem violenta da guerra que acontecia em seu reino.

–Eu vou ser rápido. – Soluço ouviu a voz de Minaz, ele era sarcástico como sempre e observava a poucos metros Merida tremula pela adrenalina, tentando manter a distância equilibrada enquanto seus irmãos a acompanhava.

–Não! – Soluço comentou para os dois e se colocou na frente de Minaz, estando entre ele e Merida, ele franziu o cenho.

Diferentes dos de mais em sua visão, Minaz conseguia vê-lo. E Soluço permaneceu imóvel durante todo o tempo que pode observar os olhos escuros que eram quase cobertos pelo elmo. Minaz preservou-se com sua pose de superioridade olhando o jovem, bem mais baixo que ele, com o nariz levemente erguido, ele estufava o peitoral para frente, tentando parecer maior, não que ele precisasse, mas aquele objetivo era alcançado decerto.

Era possível ver a respiração compassada do viking arrogante, mas Soluço não deu menção a se intimidar, mesmo com a aproximação do mesmo. Ele pareceu ainda maior de perto e com um movimento rápido derrubou Soluço ao chão com uma mão que caiu pouco ao lado.

–Então tudo bem... – fraseou Merida respirando fundo, antes de mirar seu arco na direção do horrendo homem. Novamente Minaz encarava a moça, tentando intimidá-la, sem sucesso. E com o gesto de seus pés Merida previu a aproximação para valer.

–Venha, monstro! – Ela gritou atirando sua primeira flecha, Minaz a defendeu com o machado e quando estava próximo o suficiente impediu Merida de correr segurando a pelos cabelos, ela empurrou os irmãos para frente conseguindo fazer com que só ela fosse pega, ela gritou para que os mesmos corressem, e hesitantes, obedeceram. Ela tentou empunhar a espada em sua cintura, mas Minaz conseguiu impedi-la no momento que suspendeu a moça no ar com uma mão eu seu pescoço, Merida contorcia os pés e tentava tirar as mãos ásperas de si, mas fechou os olhos ao ver o machado sendo erguido e o impacto foi rápido, sem consideração alguma, Minaz jogou o corpo, quase sem vida, no chão. Passou por cima dela e foi em direção aos pequenos príncipes fugitivos.

Soluço estava paralisado, e pode ouvir uma voz dentro de sua cabeça.

“O que você fez Soluço?”

Ele não sabia mais se saiam lagrimas de seus olhos, só sabia que não conseguia sentir um único musculo mexer em si, estava boquiaberto e sua respiração estava alterada. Depois de muito se esforçar ele conseguiu levanta-se e caminhou até onde o corpo de Merida estava estendido, ele viu os cabelos ruivos balançando ao vento, seu rosto estava manchado de sangue assim como o cabelo. Soluço tinha a intenção de tocar o corpo, na tentativa de prestar os socorros necessários, mesmo sabendo que em breve ela daria o ultimo suspiro.

Mas ele se assustou ao ver que suas mãos estavam sujas de sangue, e, alarmado ele deu um passo para trás.

“Você não era o líder?”

Ele ouviu de novo, e moveu-se inquieto em todas as direções a procura de onde vinha à voz, e por ultimo olhou para trás, e pode ver seu pai Stoico, o imenso. Soluço se moveu para trás confuso com a figura a ponto de se esquecer do corpo estendido na grama e tropeçar no mesmo indo, mais uma vez, em contato com o chão. Os olhos de Stoico estavam opacos e sua pele era pálida e podia se ver espalhados varias manchas de queimaduras.

–Você não é o líder, meu filho? É tudo sua responsabilidade... – A voz de Stoico ecoou na mente de Soluço.

Ele acordou em um sobressalto, e primeiramente analisou onde estava. O céu estava nublado e a bruma era densa em toda a paisagem abaixo do penhasco, sentia a grama um pouco úmida em sua mão por causa da condensação da noite passada, viu de seu lado duas pedrinhas jogadas, e, pois a mão na cabeça sentindo uma pontada em sua testa, provavelmente era o local onde a pedra atingira, não sangrava, o impacto foi de leve, apenas para despertá-lo. Ele olhou para trás e lá estava Banguela se lambendo tranquilamente levantando o olhar rapidamente para cumprimentá-lo, ele acenou com a cabeça, e por ultimo viu Merida sentada de frente para ele, as bochechas dela estavam mais avermelhadas por causa do clima e sua boca semiaberta e sua respiração condensava também, os olhos azuis curiosos miravam Soluço e ela balançava uma das pernas periodicamente.

–Você já acordou? – Merida não evitou a pergunta obvia. Soluço fitou a moça para ver se ela estava gozando dele, mas o tom dela fora simplório.

–Não... – Ele respondeu irônico, vendo mais uma pequena pedra na mão da princesa. Ela riu divertida e jogou a pedra que tinha em mãos nele, mas ele defendeu com o braço.

Merida se levantou rapidamente, ela já estava acordada fazia tempo, mas ao ver que Soluço ainda dormia, ela decidira tentar montar em banguela sozinha, a princesa só aumentava seu facinio a cada dia que encontrava a grande besta negra que tinha seus olhos curiosos e amigáveis, claro que Banguela não deixou que a ruiva montasse nele, mas se divertiu um pouco no momento em que a ruiva corria atrás de si de um lado para o outro, só era incrível que mesmo com toda a movimentação pela manha Soluço continuou dormindo como se estivesse o mais relaxante silencio da historia.

De pé, Merida estendeu a mão para o rapaz que ainda estava sentado, ele a pegou e se levantou. Soluço não deixou de reparar o como a noite de sono tinha feito bem para a princesa que agora não expressava mais as sobrancelhas contraídas e nem tinha a postura rígida, agora, Merida estava despojada e bem mais a vontade que dos outros encontros, mesmo lembrando que no voo, ela fora totalmente simples, mas o viking não considerava aquela vez. O primeiro voo era algo único, todo mundo teria uma reação semelhante.

–Você quer tomar café da manha? – Ela perguntou colocando os braços para trás do corpo e sorria de canto, fitou Soluço profundamente tentando intimidá-lo a não dizer não. Ele coçou a cabeça e olhou para um canto qualquer fazendo suspense. Uma guerra estava por vir, Merida tinha esquecido daquilo? Ele pensava, mas ao ver os orbes azuis o mirando, ele decidiu não negar, seria rápido afinal. Ele balançou a cabeça em consentimento.

Merida comemorou brevemente e correu na direção de Banguela, que estava distraído ainda se lambendo, ele virou a cabeça na direção dela ligeiramente desconfiado. Ela estendeu a mão enquanto parava a alguns metros de distancia, ele esticou a cabeça na direção da mão dela, depois de encara-la por segundos se aproximou mais, empurrando Merida com a cabeça, que quase não conseguiu conter o empurro. Ela olhou de canto e viu que Soluço ria, ela apenas voltou a atenção para o dragão e começou a caminhar com ele para dentro das folhagens.

–Você não vem? – Ela começou a caminhar, Banguela lançou o olhar em Soluço e fez um movimento com a cabeça, mencionando para que o amigo, assim como o próprio já fazia, começasse a seguir a nova amizade que tinham feito. Soluço encarou as atitudes do dragão com curiosidade. Começou a caminhar em passos lentos.

–Que interessante... – Foi tudo o que conseguiu dizer.

Soluço ia pouco atrás, Merida se movia por entre as árvores como se soubesse exatamente pra onde ia. E por algum motivo Soluço sabia que aquele pensamento era certo. Ele começou a ouvir o barulho de água e em poucas árvores pode se ver o córrego, Merida parou apontando em direção das aguas transparentes, era possível ver os peixes nadando contra a correnteza.

Banguela estava eufórico e olhava cada um dos peixes faminto, o réptil encarou o cavaleiro como se sua vida dependesse daquela resposta. Ele apenas sorriu e apontou com a mão. Após o consentimento, o dragão pulou nas águas violentamente respingando em Merida que estava na borda, ela riu, mas se arrepiou sentindo a agua gélida em contato com sua pele.

–Você quer quantos? – Soluço perguntou simplesmente enquanto tirava uma pequena adaga de um compartimento de sua roupa, Merida o encarou por um instante, mas negou com a cabeça.

–Eu posso pegar. Sério. Na verdade o certo é que eu pesque, por cortesia. – Soluço negou com a cabeça tentando não parecer rude.

–Você está sem arco. – Tentou argumentar.

–Eu não preciso de um. – Ela mostrou as próprias mãos, tomando o mesmo tom de voz que ele usara.

–São só uns peixes. Eu pego. – Ele disse pacientemente.

–Já que são só uns peixes então me deixa pegar. – Merida se alterou um pouco e colocou as mãos na cintura, demonstrando o pavio curto. Soluço inspirou e respirou demoradamente, mas antes de contra argumentar. Viu que Banguela estava jogando alguns peixes na direção deles, um dragão sempre dividia a comida.

Merida olhou curiosa a reação da grande fera, era incrível, a cada segundo ela se surpreendia mais com Banguela. Ele era mortal, assustador, carnívoro, cuspia fogo, era rápido, agiu, voava, e ainda assim, era uma das criaturas mais dóceis que Merida já teve o privilégio de conhecer.

Ela viu Soluço se mover, ele pegou alguns pedaços de madeira no chão e com sua espada ele fez a fogueira. Merida sabia que o viking não chegaria a dizer o que ele pretendia fazer, afinal, tudo o que não precisava era vê-la contestar nas atitudes dele. Ela caminhou hesitante se sentando em uma pedra. Soluço fora silencioso e apenas agradeceu Banguela depois de pegar os peixes.

A refeição estava sendo silenciosa.

Soluço levantou o olhar em direção de Merida discretamente, ela estava pensativa e olhava na direção do rio, a brisa soprava algumas mexas ruivas rebeldes caídas em seu rosto redondo, Soluço por um instante pensou em passar a mão naqueles fios encaracolados da cor do fogo e arruma-las, mas ele sabia que alarmaria a moça que tornava cada vez mais seu olhar baixo preocupado, Soluço sabia que era só uma questão de tempo para ela se levantar e dizer que precisava ir para casa. Ele se lembrou do sonho que tivera aquela noite, e da visão do mesmo cabelo cor de fogo manchado de sangue. Ele apertou o graveto fincado no peixe e sentiu seu coração acelerar com a lembrança.

–Como foi mesmo que você o achou? – Ela quebrou o silencio encarando-o simplesmente, mas voltando a atenção ao peixe. Soluço ainda a encarava, mas Merida parecia não sentir a intensidade os olhos verdes dele.

–Eu...Esqueci...

–O que? – Merida se preparava para dar outra grande mordida no peixe em suas mãos, mas parou subitamente, e encarou o rapaz para ver se tinha alguma coisa errada com ele. Ele desviou o olhar e poucos segundo ele voltou a encará-la.

–Não, é que...

–Silencio! – Interrompeu Merida, olhando desconfiada a sua volta, ela largou o peixe e em passos largos foi até uma arvore, Soluço esticou o pescoço tentando ver o que ela via, mas não conseguiu.

–Ouviu isso? – Ela perguntou, mas ele realmente não parecia ter ouvido nada, Soluço pensaria na possibilidade de Merida ter enlouquecido, mas as reações de Banguela também eram reveladores, o réptil estava inquieto, e olhava fixamente na mesma direção que Merida.

Soluço se levantou e começou a caminhar lentamente na direção da ruiva, Banguela silenciosamente começou a fazer o mesmo, mas antes que Soluço estivesse próximo o suficiente para se comunicar com a escocesa, ela começou a correr, Soluço a acompanhou tentando não perdê-la de vista no meio da densa neblina, misturado com a intensidade da floresta. Ela parou e observava atenta. Soluço ouviu vozes e o som do mar. Quando se aproximou do esconderijo de Merida, viu o que não queria, eram os vikings e se lembrou de mais uma vez do sonho que tivera.


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Notas finais do capítulo

Esse não teve muita ação, mas era um capítulo necessário. Eu não tenho certeza, mas acho que a fanfic já está próxima do fim, obrigada quem está acompanhando, e estou feliz por todas as amizades que fiz por causa da fic