—Ele realmente está demorando... -Reclamou Lizzy terminando de limpar a cozinha. 

Sasesu aproximou-se com um abraço sútil: 

—Isso significa que nós temos mais tempo para ficarmos a sós... 

Lizzy não soube como reagir: 

—Ei, Sasesu? O q-q-que você está fazendo? -Gaguejou ela corando. 

O tom em sua voz tornou-se muito mais sério: 

—Desculpe... -Disse ele apoiando seu rosto nas costas de Lizzy. 

Ela sorriu gentilmente e acariciou sua cabeça: 

—Porque você está se desculpando? 

—Eu falhei tantas vezes em ser forte...eu falhei tantas em te proteger... -Falou Sasesu com vergonha de suas ações. 

—Isso não foi sua culpa... 

—E não só, eu deixei os seus sentimentos totalmente de lado enquanto apenas considerei o que eu achava melhor...eu fui infantil... 

Ele abraçou-a com mais força num ato instintivo: 

—Eu deixei você se ferir e se não fosse por ele...se não fosse por Kurokawa... -Ele deixou escorrer uma lágrima. -Eu não sei como a situação estaria nesse momento... 

Ela respondeu com convicção: 

—Mas não é ele que eu amo... 

Ela virou-se bruscamente e seus lábios encontraram-se: 

—É você... 

Ele simplesmente emitiu o sorriso mais genuíno e inocente que um ser humano poderia. Ao perceber o sorriso estúpido em seu rosto, ele rapidamente tentou escondê-lo. Lizzy abraçou-o com força e deixou sua cabeça descansar em seu peito: 

—É tão difícil viver perto de vocês dois...Kurokawa está sempre liderando a jornada e você está sempre tentando alcançá-lo... -Desabafou ela. -Mas eu sinto que estou sempre tão distante de vocês dois... 

Ela escondeu seu rosto com vergonha quando os seus olhos se encontraram com os deles: 

—Eu não consigo ser tão forte como Marwolaeth é...eu sempre sinto que sou um peso para vocês... 

Sasesu não conseguia buscar palavras para consolá-la e mentir naquele momento seria trair sua confiança: 

—E ontem foi o ápice disso tudo...Vocês dois quase morreram por minha culpa... 

Ela se afastou de Sasesu para prevenir mais drama de ser criado e limpou aquelas lágrimas que tentaram manchar seu rosto: 

—Mas eu me recuso a aceitar isso! E eu já como vou mudar essa situação! -Disse ela tentando sorrir. 

Sasesu queria abraçá-la, queria dizer que iria protegê-la, queria poder afastar todo o mal de seu pequeno e frágil corpo mas ele sabia que isso era errado. Ela não era seu pertence, ela não queria ser protegida para sempre e acima de tudo, ela não queria ser tratada como frágil. Ele apenas controlou seus impulsos e sorriu não por si mesmo mas sim por ela: 

—Eu estarei sempre aqui para te apoiar...não se esqueça disso. 

O clima sentimental foi interrompido quando alguém bateu na porta daquela casa: 

—Alguém bateu na porta? -Perguntou Sasesu confuso. -Que estranho, supostamente o Kurokawa tinha levado uma chave com ele. 

Sasesu dirigiu-se para a porta e ao abri-la apenas sentiu o vento balançar seus cabelos: 

—Ninguém? Estranho... 

Ele olhou a sua volta e não conseguiu identificar ninguém mas subitamente uma voz ecoou em sua mente: 

—Sasesu...venha aqui... 

Ele tremeu, aquela voz era mais do que conhecida: 

—Impossível... 

Ele seguiu aquela voz como se estivesse hipnotizado e Lizzy apenas pôde vê-lo se afastar sem dizer nada: 

—Sasesu? -Perguntou ela. -Onde você está indo? Ei! 

Ele seguiu aquela voz intensamente envolto em medo, ansiedade e felicidade. Ele havia caminhado até partes densas da floresta e tudo a sua volta resumia-se a árvores. Ele olhou para frente e seus olhos lagrimejaram ao ver aquela figura em pé, como se nada tivesse acontecido: 

—Lyonel... 

Seu rosto desmanchou-se em lágrimas e ele correu na direção daquele homem: 

—Então você... 

Suas palavras imersas em felicidades foram interrompidas por um ataque brutal de aquele que ele chamou de amigo. Ele sorriu enquanto sangue escorria por sua boca: 

—Eu sabia...que era bom demais... 

Lyonel atravessou o estomago de Sasesu com seu punho sem sequer mudar a expressão em seu rosto. Uma risada profanou as redondezas: 

—Eles sempre caem nos mesmos truques... -Sorriu aquela garotinha se aproximando. -Eu pensei que pudesse encontrar Kurokawa mas parece que ele não está em casa...Que infortúnio, você não teria morrido caso eu tivesse encontrado ele... 

Sasesu foi lentamente retirando o punho de Lyonel de suas entranhas. Ele observou-a e não pode descobrir nada demais já que um capuz negro escondia a maioria de seu corpo. 

—Necromancia, é? Repugnante... 

A pequena necromante sorriu: 

—Vejo que você é bem forte...Mas seu inimigo é um dos Intocáveis, você acha que tem alguma chance? 

Sasesu sorriu: 

—É verdade, eu nunca seria capaz de derrotar Lyonel num duelo independente das táticas que eu usasse...Mas o que está na minha frente não passam dos restos de um grande homem... 

Ele avançou numa velocidade absurda para cima da necromante e penetrou a parte mais profunda de sua alma com seus olhos: 

—Crianças e mulheres são pessoas contra quem eu evito usar violência... -Disse ele aproximando suas pesadas mãos de sua indefesa cabeça. -Mas você cruzou algumas linhas...Eu vou te fazer algumas perguntas e depois você vai desaparecer... 

Ela apenas balançou sua cabeça para mostrar que concordava: 

—Quais outras almas você pegou em sua jornada? 

—Apenas a de um homem chamado Ike... -Respondeu ela incapaz de sequer tremer. 

—Só? E a alma de Takeda? -Perguntou Sasesu fazendo mais força. -Você não está mentindo para mim, está? 

—Eu juro!!! Eu não sei nada sobre esse homem chamado Takeda! -Respondeu ela contorcendo-se em dor. 

Sasesu respirou fundo e ignorou seus instintos: 

—Tudo bem então...você vai libertar todas essas almas. 

—Mas...eu demorei tanto tempo para... 

Sasesu imediatamente interrompeu seu discurso: 

—A próxima vez que você me desobedecer, eu vou espalhar pedaços do seu crânio por toda essa redondeza.... -Disse ele pressionando sua cabeça com uma mão. -Não será uma coisa bonita de se ver... 

Ela levantou uma de suas mãos e dezenas de almas começaram a se afastarem do chão e seguirem em direção ao sol. 

—Pronto... -Concluiu ela imediatamente. 

Ele levantou-a por seu capuz e olhou em seus olhos com desprezo, aquele era um olhar que era incapaz de perdoar. Ela tremeu quando sua mente viu seu fim aproximar-se: 

—Ele vai me matar... 

Sasesu ficou preso em um conflito interno por longos segundos, ele não podia aceitar alguém brincando com a vida de seus preciosos amigos mas aquilo não parecia certo também. A irá tomou conta de seu corpo e ele estava prestes a tomar uma decisão quando uma voz conhecida ecoou em seus ouvidos: 

—Sasesu? Onde você está? -Perguntou Lizzy. 

Ele não sabia o que era certo mas ao ouvir a voz de seu anjo, ele sabia exatamente o que era errado. Sasesu arremessou violentamente aquela criança contra as árvores que estavam por perto: 

—Agradeça por sua vida àquela mulher que esta se aproximando...e nunca mais apareça na minha frente... 

A pequena necromante apenas se escondeu nas sombras e fugiu: 

—Sasesu? -Perguntou Lizzy se aproximando. -O que aconteceu para você simplesmente correr nessa direção? 

Ele sorriu e tentou esconder seu ferimento: 

—Eu pensei que tinha visto o Kurokawa... 

—Isso é sangue? -Perguntou ela preocupada. -Como você se machucou? 

—Eu tropecei e caí em cima de um galho...Não é nada grave... 

Ela deixou de lado sua preocupação e riu inocentemente: 

—Você às vezes faz coisas mais idiotas do que o costume. 

Ele sorriu de uma forma desajeitada: 

—Eu vou levar isso como um elogio... 

—Vamos para casa? 

Ele abraçou-a e pegou-a em seu colo: 

—Ei, o que você está fazendo? -Corou ela. -Sasesu! Você está sujando minhas roupas de sangue!!! 

Ele sorriu e começou a correr para casa: 

—Você realmente é meu anjo! 

Não muito longe dali, Kurokawa voltava para casa enquanto saboreava seus caramelos: 

—Essas pequenas delicias me trazem tantas lembranças... -Sorriu ele. 

Sua mente enchia-se de memórias de Takeda e vários outros. Memórias de quando ele era feliz mas não sabia. Mas sua linha de pensamento foi bruscamente interrompida quando um homem caiu ao seu lado. Kurokawa assustou-se com aquele homem aparecendo tão repentinamente: 

—Que droga foi essa? -Pensou ele se afastando. -Mesmo eu estando distraído, aquilo foi rápido demais, num instante ele já estava do meu lado...magia de teletransporte? 

O homem tinha um cabelo verde, longo e liso. Seus olhos tinham um brilho purpúreo, enquanto trajava um terno que seria muito requintado se não estivesse tingido das cores vermelho e verde. Uma figura certamente peculiar mas que mesmo assim passou despercebida de Kurokawa. Ele conferiu o relógio em seu pulso direito e com um olhar insatisfeito conferiu o relógio em seu pulso esquerdo: 

—Parece que me perdi de novo...Isso está uma bagunça... 

Kurokawa sabia que o homem parado em sua frente era um adversário digno e com base nisso rapidamente sacou sua Eclipse: 

—Quem é você? -Perguntou ele apontando Eclipse em sua direção. 

Ele sorriu ao perceber quem estava em sua frente: 

—Kurokawa!!!! Te encontrar facilita tantos as coisas!!!  

Ele começou a aproximar: 

—Não se aproxime! -Afirmou Kurokawa com sua espada apontada em sua direção. 

Ele sorriu: 

—Vamos lá, Kurokawa! Deixe essas coisas de lado! 

Ele simplesmente atravessou a espada de Kurokawa como se seu corpo fosse intangível. Kurokawa não soube como lidar com a situação e apenas permaneceu parado enquanto aquele homem se aproximava. Ele abraçou-o como se fosse um companheiro de longa viagem: 

—Como...como você fez isso? -Perguntou Kurokawa confuso. -Você é uma alucinação minha? 

—Que rude de sua parte, Kurokawa! Eu sou um genuíno ser! 

Kurokawa afastou-se ainda mais confuso: 

—Existem tantas coisas estranhas acontecendo que eu nem sei por onde começar... 

—Não temos tempo para explicações!! -Disse ele com uma cara exageradamente preocupada. -Por causa de Metheos, isso está tudo uma bagunça e várias coisas estranhas aconteceram!!! 

Kurokawa sentou-se com um ponto de interrogação em seu rosto: 

—Eu sinceramente não faço a mínima do que você está falando... 

—Eu sou o grandioso Toki! A pessoa responsável por fazer tudo dar certo! Mas eu falhei...porque achei que pudesse descansar um pouco antes de começar o meu trabalho...e quando percebi...tudo já estava fora de controle... -Disse Toki chorando. -O mestre vai me matar!!! Maldito seja você, Metheos!!! Tudo porque você queria se divertir... 

Kurokawa simplesmente levantou-se e começou a ir embora: 

—Eu desisto de tentar entender... -Disse ele se afastando. -Eu sabia que desde o começo isso não era uma boa ideia... 

—Kurokawa, não vá embora, por favor!!! -Exclamou Toki escandalosamente segurando as pernas de Kurokawa. -Eu preciso de sua ajuda!!! 

—Eu nem sequer te conheço!!! -Gritou Kurokawa se arrastando para frente. 

—Mas eu sei tudo sobre você! -Exclamou Toki. -Eu sei que você ama caramelos, eu sei sobre seus amigos Sasesu e Lizzy, eu sei sobre meus amigos que morreram Lyonel, Takeda e Ike. Eu sei sobre você ter ficado preso naquele ciclo temporal, eu sobre a morte de seus pais, eu sei sobre a Eclipse e as criações divinas, eu sei tudo!!! 

Kurokawa simplesmente parou: 

—O que você quer de mim? 

—Eu quero saber onde exatamente nós estamos agora em termos de tempo! -Exclamou Toki. -Eu quero saber o que exatamente aconteceu até agora na sua vida! Porque eu me perdi nisso tudo e as coisas não estão nem próximas do planejado! 

Kurokawa olhou para com decepção: 

—Mas você disse que sabia de tudo... 

Ele sorriu: 

—Eu meio que menti para você me ajudar...Eu sei bem pouco sobre você nessa linha do tempo. Mas eu posso me explicar! Eu não tive tempo para assistir tudo que aconteceu porque eu estava tentando vir para o presente o mais rápido possível! E mesmo assim eu fiquei muito tempo perdido naqueles ciclos malditos!! 

Kurokawa desistiu e sentou-se: 

—Eu vou te contar o que aconteceu... 

Uma longa história teve início e Kurokawa lentamente explicou sua aventura para Toki. Após algumas horas, ele finalmente terminou: 

—Entendo... -Pensou Toki. -Mas isso é estranho, não há nenhuma linha do tempo em que houve uma alteração no começo então eu só posso presumir que você tenha perdido suas memórias... 

—Perdido memórias? -Perguntou Kurokawa. -Do que você está falando? 

Toki estendeu sua mão e atravessou a cabeça de Kurokawa: 

—Me deixe ver... 

Ele tocou alguma coisa e tudo fez sentido: 

—Ah...você não perdeu suas memórias...você guardou elas em outro lugar... 

Ele fez um movimento com sua mão e retirou-a da cabeça de Kurokawa. Ele começou a urrar de dor como se seu corpo estivesse sendo estraçalhado em bilhões de pedaços. Milhões de imagens começaram a penetrar seu cérebro e ficou óbvio que isso era muito mais do que o suportado. Kurokawa começou a convulsionar no chão enquanto sua mente era impiedosamente profanada: 

—Não se preocupe...a dor é temporária! -Sorriu Toki demonstrando apenas apatia.  

Após alguns minutos de tortura, Kurokawa finalmente conseguiu levantar-se e falar: 

—O que...você fez comigo? -Perguntou ele mentalmente exausto. 

—Eu te dei as lembranças que você estava tentando esconder. -Sorriu Toki. -Eu agradeço a sua colaboração e só tenho mais uma pergunta: Quão forte você está agora? 

Kurokawa levantou-se empunhando sua espada com um sorriso um pouco distorcido: 

—Eu te mostrarei isso como um presente pelo essa pequena agonia que você me deu! 

Toki sorriu novamente: 

—Esse é o espírito! 

Toki disparou na direção e aproximou seu dedo indicar do rosto de Kurokawa. Ele sequer percebeu sua presença, ele apenas se manteve parado com um tolo sorriso enquanto algo mais assustador que a morte se aproximava. Toki simplesmente tocou a testa de Kurokawa com seu dedo indicador e o resultado foi surreal. 

Kurokawa foi arremessado na direção oposta com tanta força que seu corpo tornou-se nada além de um projétil. Ele destruiu incontáveis objetos até chocar-se contra alguma coisa que pudesse parar a força colocada em seu corpo. E lá ele ficou, com dezenas de ossos quebradas, feridas por todo o seu corpo, membros praticamente destruídos e inconsciente. Toki mostrou-se extremamente espantado: 

—Meu deus...você está fraco demais... 

E ao perceber seu erro, ele gritou histericamente: 

—MEU DEUS!!! SE ELE ESTIVER MORTO MEU MESTRE VAI ME MATAR!!!!!! 

Ele instantaneamente moveu-se para o lado de Kurokawa e começou a chorar: 

—KUROKAWA!!!!! POR FAVOR, NÃO MORRA!!!! 

Ele sentiu a fraca respiração de Kurokawa e sentiu-se aliviado: 

—Ufa...Melhor eu ir embora agora...ele vai ficar bem irritado quando acordar... 

Toki desapareceu como apareceu, de um segundo para o outro. Num lugar muito longe dali, Toki apareceu atrás de um homem sentado em uma cadeira luxuosa em frente a uma televisão. Movido por sua raiva, ele socou o homem sentado na cadeira com toda a sua força mas aquele homem apenas moveu seu rosto e cuspiu um pouco de sangue: 

—Essa foi por ter feito alterado essa linha do tempo.  

Toki balançou seu braço e desferiu um soco forte o suficiente para derrubar aquele homem de sua cadeira. Ele então gentilmente limpou aquela cadeira: 

—E essa foi por ter sentado na cadeira do mestre. 

Aquele homem levantou-se e riu: 

—Toki...eu não senti nenhum pouco sua falta... 

Toki apenas olhou-o com um olhar sério enquanto limpava o sangue de sua mão, que estava totalmente destruída. Os socos de Toki foram capazes de causar pouco dano naquele homem enquanto sua própria mão foi muito mais ferida: 

—Metheos...você continua irritante como sempre... -Provocou Toki. 

Metheos aproximou-se de Toki com um olhar assassino: 

—Eu estou apenas tentando me divertir...seguir um plano é realmente chato então por isso eu resolvi apimentar as coisas! 

—Mudar as coisas assim é irresponsável! -Advertiu Toki. -Nós devemos seguir as instruções do mestre!! 

Metheos aproximou-se mais ainda e tocou o rosto de Toki: 

—Um dia eu...vou destruir seu querido rostinho...e eu vou me divertir muito com isso. -Sorriu Metheos deixando aquela sala. 

Toki virou-se para ele e fez uma afirmação ousada: 

—Se você acha que eu e os outros GM vamos só ficar assistindo enquanto você faz o que bem entende, você está muito errado!!! -Gritou Toki com ira em seus olhos. -Você vai pagar por isso!