Quem sou eu? Eu acho que vou deixar você descobrir isso por si mesmo... 

Bom, por onde eu deveria começar? Meu nascimento? Não...isso é muito cedo. Quando eu conheci ele? Não...muito tarde. Porque não começar por onde eu ainda era alguém? Sim, isso me parece certo. 

Muito tempo atrás, meus pais sempre esconderam algum segredo de mim. Eu sempre fui alguém que confiasse em sua família, por isso eu respeitei a decisão deles. Aceitei e não tentou descobrir nada do qual eu pudesse me arrepender. Mas a verdade veio a tona mesmo sem a minha interferência. 

Meus pais, especialmente meu pai, estavam envolvidos em algo um pouco comum. Algo um tanto perigoso mas ao mesmo tempo fascinante. Como todos os pais, eles colocaram suas expectativas em minhas costas...e eu achei que pudesse corresponde-las... 

Algum tempo se passou e eu achei que a situação não pudesse estar melhor, tudo estava perfeito. Minha família estava feliz, eu estava feliz e acima de tudo...as expectativas de meus pais não haviam sido traídas... 

Eu acabei ficando um pouco arrogante e decidi tentar conquistar algumas coisas por conta própria. Meu pai aproveitou a oportunidade para tentar aumentar a pressão em minhas costas, mas eu não me importei. Saí para fora do meu pequeno mundo e tentei me envolver com tudo aquilo que era novo. 

Eu fui ingênua. Aquilo que eu buscava, um mundo feliz e colorido, foi esmagado pela cruel realidade. Seres humanos sujos contaminaram meus sonhos e pensei que tudo havia chegado ao seu fim... 

Mas então ele apareceu. Não foi um príncipe em seu cavalo branco, foi outro ser humano sujo, manchado por uma profunda escuridão. Naquele momento eu me perdi, não sabia se sentia medo ou admiração. Minha definição de forte foi mudada. Forte era aquele mais negro que a própria escuridão, não aquele que evita-a... 

Eu tentei persegui-lo e supera-lo, brevemente. Quando eu descobri que ele havia acabado de começar, eu perdi as esperanças de alcança-lo. Eu pensei ama-lo, pensei que poderia ser feliz ao seu lado. Mas descobri que ele nunca se contaria apenas comigo, afinal de contas ele não quer nada... 

O que eu pensava ser amor não passava de inveja. Inveja de sua força, inveja de sua imponência, inveja de sua escuridão... 

E um breve período de felicidade surgiu. Por poucos dias ele não foi capaz de mostrar sua esmagadora presença. Por poucos dias ele foi capaz de agir como um ser humano vulgar. Mas pessoas fracas não possuem direito de receber nada...inclusive felicidade... 

E assim, seu brilho negro voltou a reluzir...ofuscando ainda mais a minha instável presença... 

Tive que me afastar dele, sua mera existência me punia...me feria...me fazia desistir de minha vida... 

Achei outra pessoa que pudesse aceitar meu amor, outra pessoa que fosse como eu, outro derrotado. Felizmente, essa pessoa acabou por me amar também, finalmente pude imaginar um futuro feliz. Eu só precisava ignorar aqueles que eram melhores que eu, e ver aqueles que era piores que eu... 

Ele acabou por conhecer meus pais, pude ver no olhar do meu pai que aquele era o filho que ele desejava...não eu. Mas minha auto estima, quase inexistente, agiu corretamente e ignorou isso. Minha vida havia se tornado uma monotonia agradável, não precisa ser classificada como fraca todos os dias... 

Encontrei outra pessoa. Uma que sabia o significado de dor, uma que havia perdido tudo. Abracei-a imediatamente e lentamente arrastei-a para o meu grupo de perdedores... 

Mas aquele pequeno ser que havia acabado de perder tudo, aquele ser que estava manchado pela sujeira desse mundo mais que qualquer um, era aquele que mais queria lutar. Ele incansavelmente tentava conquistar seu lugar no mundo. Novamente, fui ingênua... 

Deixei essa faísca de esperança impregnar o meu coração...fiz algo que eu havia prometido não fazer. Resolvi olhar para os fortes e desafia-los. No fundo, meu coração esperava a derrota mas eu queria acreditar... 

E aquela faísca de esperança queimou como uma fogueira de felicidade. Meus esforços se mostraram válidos e minha vontade de seguir em frente aumentou mais ainda. Minha vida finalmente havia retornado aos bons tempos, eu conseguia até mesmo conviver com ele. 

Até aquele segundo, num único segundo, tudo se desfez. O vento chamado destino levou minhas esperanças embora e apagou a minha fogueira. Meus olhos apenas puderam observar enquanto tudo o que mais amava era tirado de mim. 

Aquele que havia perdido tudo e mesmo assim quis lutar foi punido por ser ambicioso demais...aquilo foi a vida dizendo que eu deveria aceitar a minha inutilidade como ser humano? 

E aqui estou eu...perdida novamente... 

Sem esperanças...rezando por uma morte indolor...esperando ajuda de alguém...você conseguiria me salvar?