Roma XXVI escrita por Hash


Capítulo 2
Apontada


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, desculpe por ter postado o capítulo errado. O segundo capítulo certo é esse. As pastas do meu computador são uma bagunça, mas vou tratar de organizá-las. Não deixem de acompanhar a história, por favor!



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Uma policial, a encarregada de administrar o presídio, da um passo a frente. Ela força um sorriso.

—Bom dia a todas! Este homem, como vocês devem saber, é o nosso Magnífico Imperador Constâncio IV. Uma salva de palmas!

Relutantes, todas nós aplaudimos. Um som fraco ecoa no recinto, carregando um certo desprezo. Uma mulher ruiva atrás de mim se recusa a aplaudir.

— Gostaria de informa-las que quem se absteve de aplaudir nosso Magnífico Imperador, não receberá comida durante todo o dia de hoje.

Ouvem-se murmúrios de desaprovação. Basta a policial levantar a mão, e todas se calam de imediato. O Imperador se pronuncia.

— Como vocês devem saber, está sendo organizado um grande evento. — Ele sorri, e esfrega as mãos maliciosamente. — O Gladius Innovatore! —Exclama, empolgado. — Eu escolhi este presídio como um dos participantes, e ele me cederá cinquenta de suas condenadas para participar da luta. A nossa luta moderna de gladiadores.

“ Hoje, cinquenta de vocês sairá daqui. Nenhuma jamais voltará. Se alguém tiver sorte, uma poderá vencer e as outras irão morrer. Pensem como uma chance de morrer dignamente, podendo lutar pela sua vida. Serão lembradas como heroínas e não como criminosas. Eu mesmo escolherei. Ordeno que todas formem dez filas paralelas.

Obedientes, todas começam a se deslocar, formando filas. Depois de alguns minutos, as dez filas parecem ter cerca de cem mulheres. Obtenho o último lugar da última fila, esperançosa, pensando que as cinquenta já serão escolhidas antes de chegar a mim.

Acompanhado de duas guardas corpulentas de aspecto masculino, o Imperador caminha calmamente entre as duas primeiras filas. Ora escolhendo uma de uma, uma de outra. Todas as escolhidas são jovens, dentro de certos limites. A maioria possui uma beleza considerável. Ele passa direto pelas velhas, gordas e feias. Ele escolhe uma moça ruiva com o cabelo curto e uma mulher de meia idade com a cabeça raspada. Elas se abraçam e começam a chorar, mas as policiais agarram seus braços com pulsos firmes e as arrancam da fila, desvencilhando os braços uma da outra.

Ele começa a minha fila. De acordo com as minhas contas, faltam três mulheres. Ele escolhe uma baixinha de cabelos brancos, a mais velha dentre todas, e uma mulher de aparência infantil, mas alta e musculosa, antes de ser tirada da fila, ela dá um beijo de despedida nos lábios de outra presidiária, que fica aos prantos. Ele continua caminhando com passos rápidos, balançando o dedo só para amedrontar as presas. Ele abre a boca, pronto para escolher uma mulher alguns metros a frente de mim. Sinto um alívio, e é quando seu olhar encontra o meu. Ele anda velozmente em minha direção, com uma expressão satisfeita.

— É esta! — Ele aponta o dedo para mim. — É esta!

— Não, não! — Protesto. — Eu não fui nem ao menos condenada!

— Você seria de qualquer jeito, criança. — Informa a policial loura, secamente.

Ela me joga dentro do palco, de joelhos. Levanto-me, ciente de que não deveria demonstrar fraqueza. Diferente das outras, que choram e se abraçam, eu me mantenho impassível. A mulher que deixou a namorada para trás também está calada, com um olhar raivoso e duro.

As presas que continuam na fila estão felizes por terem escapado, mas algumas exibem um rosto triste. Por mais precário que seja o ambiente, é impossível impedir que amizades e amores floresçam. Acho que assassinas e sequestradoras e ladras tem mais facilidade de se enturmar entre si.

Várias guardas nos empurram pelos corredores. Vou aos tropeços, espremida entre a parede e as outras, machucando meu braço na estrutura áspera. Um odor forte de suor faz meus olhos arderem. Levo minhas mãos a eles, mas só piora a situação. Chega a certo momento que a situação está insuportável, e eu sinto que vou vomitar, mas se abre uma porta e o ar puro invade meus pulmões, me livrando daquela sensação ruim. Respiro com as narinas e com a boca, sedenta por mais ar. É quando uma policial gruda uma pulseira no meu braço.

— O que é isso?

— Uma pulseira. Tente fugir, e você será explodida. — Responde ela, ao colocar o apetrecho em outra mulher.

Saímos do pavilhão e entramos em um ônibus. O lugar mais moderno que já estive.

Atrás de cada banco, há uma TV e um fone de ouvido. Revistas, livros e jornais estão empilhados em prateleiras sobre os bancos. Sento no banco próximo a janela. Uma mulher de cabelos pretos e curtos senta ao meu lado.

— Olá. — Cumprimento.

— Oi. – Ela responde.

Uma mulher do tamanho de uma criança se posiciona no corredor entre os bancos, cambaleando e se segurando no apoio de braços.

— Olá, garotas. — Ela diz, com a voz fina e trêmula. Não parece muito confortável em estar conversando com criminosas. — Meu nome é Ariane. Eu estarei lhes explicando as regras e a essência do torneio. Sendo que logo quando chegarem, começará o treinamento, agora é a hora de saber de tudo. Prestem atenção.

Todas olham-na com particular aversão .

— Bem... — Continua ela. — Vocês serão postas em uma academia e, treinadas juntamente com todos. Espadas, — ela retira um folheto do bolso — lanças, punhais, facas, arco e flecha, machados e bumerangues são algumas das armas que vocês vão aprender a manusear. E também, é claro, o gládio. Eu sugiro que treinem duro, pois metade dos competidores morrerá na primeira fase da Gladius, e vocês, como mulheres, estão em desvantagem.

“ Depois de alguns dias, serão sorteadas duplas dentre os duzentos participantes. Essas duplas irão lutar na arena que nós nomeamos como “Coliseu II”. Na primeira fase, somente uma arma será admitida. Suas famílias ganharão ingressos grátis para assisti-las vencer, ou sucumbir. Lembrem-se sempre que a liberdade é o prêmio pela vitória. Mais um milhão de euros, para que o ganhador possa desfrutar de sua vida na mais plena... felicidade.

“ O objetivo principal é resgatar nossa cultura antiga, portanto serão usadas armaduras, armas medievais... E o entretimento da plateia é o mais importante, lembrem-se. E caso vocês não queiram participar, quero que estejam cientes de que sua família correrá os riscos e vocês também serão abatidos. — Ela nos oferece um sorriso falso. — Na segunda fase, está reservada uma surpresa para vocês. Vai ser demais. Mas , por enquanto, relaxem e aproveitem seus últimos momentos de paz. Estamos a caminho de Roma, do Coliseu II.

Posso dizer que o restante da viagem foi tranquila. Estamos quase chegando, e posso ver uma ponta de uma grande arranha-céu. Mais a frente, percebo a existência do Coliseu, e ao seu lado uma construção ainda maior e mais moderna, parcialmente coberta e com luzes brilhando na escuridão. Fogos de artifício estão a enfeitar o céu.

— Aquele é... — Murmuro

— Só pode ser. —Diz a mulher ao meu lado. Ela resolve falar, enfim. – Qual o seu nome?

— Cassandra.

—Helena. — Fala ela. Apertamos as mãos.

Eu me atrevo a dizer que Helena seria uma concorrente forte. Ela é alta e meio musculosa. Aparentemente, deve conseguir correr muito.

— O que te levou a... Você sabe.

— Hum... Assassinato. — Responde ela. — Digamos que eu matei meu último marido quando o vi aos beijos com uma vadia. — Ela ri. Eu também. — Ela fugiu. E você, garota? Não parece ser muito forte.

— Eu fui presa injustamente.

— Todas dizem isso.

— Realmente, eu fui. Mas também, eu sou uma ladra. Eu posso correr.

— Eu prefiro ficar e lutar, sabe como é. — Diz Helena.

Um zumbido irrompe dos lábios da anã, novamente entre os bancos.

— Garotas, garotas! Silêncio. — Ela dá uma risada fina. — Estamos indo para o centro de treinamento! O nome dele é Ludus, e é interligado ao Coliseu II por túneis subterrâneos. Vocês serão arrumadas para a inauguração. — Arfo. – Mas, não se preocupem. O derramamento de sangue começa semana que vem! semana que vem...

O ônibus entra em um túnel, e chegamos à um estacionamento. Seguimos em fila por uma escadaria que leva aos níveis subterrâneos. Helena vai ao meu lado. De alguma forma, uma amiga oferece certa coragem para continuar. Se bem que amizade é um termo muito precoce para nossa relação.

Chegamos em uma sala muito grande, e cheia de pessoas. Algo me diz que aqueles são os concorrentes. Alguns parecem oferecer um perigo real. A maioria dos homens é grande e forte, salvo alguns. Não há nenhuma dúvida de que a maioria das pessoas ali me mataria com as mãos amarradas. Helena, por exemplo. Estilistas carregam roupas através dos selecionados e entram nos provadores com eles, maquiadores estão tirando cada vestígio de imperfeição. No que posso ver, as roupas são armaduras medievais.

— Achem alguém para arrumá-las. — Instrui Ariane.

Sozinha, caminho errante pela sala até que um homem me para. Ele coloca a mão no meu ombro, por trás. Viro-me. É alto e magro, com o cabelo descolorido e roupas de tons lilás, rosa e azul bebê.

— Que roupas de presidiária mais cafonas! — Exclama ele. — Vamos, vou te arrumar querida!

Ele me puxa pela mão até um conjunto de cabides. Tira algumas peças e me manda segurar. Uma saia de couro, uma máscara de metal, corselet... Botas de cano longo. Ele me arrasta para um dos provadores.

— Tire isso. — Ordena, olhando com nojo para minhas roupas atuais.

— Se importa? — Pergunto, fazendo um gesto para ele se virar.

— Oh... — Ele coloca a mão sobre o peito. — É claro.

Tiro minhas peças de roupa e coloco as outras. Muito desconfortáveis.

— Quem diria! — Exclama ele. — Você é cheia de curvas. Agora, só falta o toque final.

Ele pega a máscara jogada no chão e posiciona-a no meu rosto delicadamente. Olho-me no espelho, o homem faz um rabo de cavalo no topo da cabeça. Pareço uma aberração. A máscara torna meus olhos mais bonitos, mais azuis.

Saio do provador e sou jogada por alguém que eu não percebo, em uma cadeira reclinável. Tusso quando quilos de pó são jogados sobre o meu rosto, e um batom vermelho pinta a minha boca da cor de sangue. Depois, unhas postiças são coladas sobre minhas unhas feias, sujas e desiguais.

— Você está estonteante! — Diz a maquiadora.

Ela pega no meu braço, e me direciona até uma outra sala, de onde sai um túnel que eu imagino que leve ao Coliseu II. As roupas dos outros não estão piores que a minha.

Helena está com um vestido de metal e maquiagens estranhas por todo o rosto. Um homem a minha frente está com um saiote, um colar e o enorme peito nu, cheio de purpurina. Esbarro nele.

— Desculpe...

— O que? — Ele parece indignado. — Você acabou de pisar no meu pé, e ele estava dolorido!

— Não foi... – Ele me interrompe, de uma forma infantil.

— Espero que eu pegue você na primeira fase! — Ele se vira, e em suas costas está estampado um nome que eu imagino que seja seu. Nada mais romano, o nome é Rômulo.

Chego próximo de Helena.

— Você está nervosa? — Pergunta.

— É claro. É que eu aprendi a esconder emoções.

— Eu também.

De mãos dadas, entramos no Coliseu II.


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