The Seventh Zone escrita por Isa Chaan


Capítulo 23
A Sétima Zona


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores! Alguém aí ainda se lembra dessa fanfic? Haha

Não sei nem por onde começar, mas vamos lá!

Primeiramente, gostaria de fazer um agradecimento a vocês, leitores.

— AGRADECIMENTO.

Mais de dois anos se passaram desde a minha última atualização e muitos devem imaginar que esta história já está no cemitério das fanfics esquecidas do Nyah e bem, estas pessoas estão, em parte, corretas. The Seventh Zone foi uma fanfic que teve início em 2014, o que hoje parecem eras atrás, não é mesmo? Muitos dos meus leitores desta época já não estão mais aqui - o que é mais do que compreensível -, mas ainda assim, apesar destas minhas palavras, muito provavelmente, não chegarem a estas pessoas, gostaria de deixar marcado que sempre me recordarei e serei grata por cada favorito que TSZ alcançou, assim como guardarei com carinho cada comentário maravilhoso que recebi destes leitores. E se você, leitor, é um deles, e está lendo este recado neste momento, não sabe o quão contente fico ao saber que ainda está por aqui. Muito obrigada, pessoal!

Dito isso, prossigo para o segundo motivo no qual resolvi publicar este aviso.

— MINHA MOTIVAÇÃO.

Alguns de vocês talvez gostem da ideia, outros talvez achem inconveniente, de qualquer forma, se você chegou até aqui, acredito que TSZ tenha te conquistado de alguma forma e lhe proporcionado um bom entretenimento, então posso dizer com tranquilidade que, independente do que venha a seguir, TSZ cumpriu seu papel.

Além de buscar trazer diversão para meus leitores, esta fanfic é a marca do meu desenvolvimento quanto leitora e escritora. Ela é movida principalmente pelo meu desejo de um dia publicar um livro original, assim como imagino que muitos escritores deste site esperam conseguir no futuro. Escrevo-a com o objetivo de treinar minha escrita e melhorar minha estrutura narrativa. Sei que estou bem longe da perfeição, e nem me atrevo a sonhar tão alto. O que é perfeição para uns, pode não ser para outros. A perfeição talvez não exista realmente, mas sim, algo próximo a isto, algo como uma boa história que possa entreter e surpreender o seu leitor até o fim, e algo que torne seu autor verdadeiramente satisfeito com o resultado. Esta é a minha meta e por isso que a ideia de reescrever esta fanfic surgiu. Sim, é isto mesmo que você leu, caro leitor. O tempo passou e a autora aqui, mudou bastante, assim como você, certamente. Reli há um tempo meus próprios capítulos e encontrei falhas, inúmeras. Falhas que me desagradam hoje e que me impedem de dar uma boa continuidade para o enredo desta história. E por ansiar chegar a um final para ela, que decidi dar-lhe uma segunda chance e recomeçar do zero.

Como sabem, não sou uma autora que traz seus capítulos com muita frequência, e isto complicou depois que iniciei a faculdade. Então imagino que depois de conseguir finalmente meu diploma, poderei me dedicar um pouco mais a ela. Espero que compreendam e que saibam que não pretendo abandoná-la enquanto meu amor por livros e por escrever perdurar - o que acredito que tardará muuuuito para acontecer em minha vida, SE acontecer Haha

Então você, leitor, que está disposto a embarcar nesta looonga jornada comigo e ver aonde está esta história vai acabar, lembre-se de sempre dar uma espiadinha no Nyah, porque com certeza ainda me encontrará por aqui Haha

Enfim, chega de discursos e bora pra parte que realmente importa vocês saberem!

— HISTÓRIA REESCRITA. COMO VAI SER?

Começarei a publicar uma nova história chamada A Sétima Zona (O nome agora está em português, pois não pretendo excluir The Seventh Zone). O intuito desta nova fanfic não é apenas uma melhora de escrita, mas da narrativa como um todo. Melhores diálogos, melhor desenvolvimento de enredo e personagens mais críveis e maduros. Para isto, foram necessárias algumas mudanças. Apesar disto, a história segue praticamente as mesmas variáveis da original. Tudo o que vocês viram até aqui em TSZ, permanecerá em grande parte o mesmo. Os acontecimentos, quando não idênticos, serão abordados de forma similares, assim como fatos equivalentes poderão ser abordados de formas diferentes. Os leitores antigos reconhecerão as mudanças por si só e através delas perceberão detalhes que talvez os ajudem a vislumbrar o que ainda está por vir. Além disso, a personalidade de alguns personagens, como Natsu e Gray, receberá algumas modificações, não tão drásticas, mas consideráveis - tudo para melhor, caros leitores. Buscarei otimizar a história também, compactando e juntando cenas, bem como excluindo algumas que considero desnecessárias à trama e adicionando outras novas. Em resumo, teremos a mesma história, só que melhor apresentada. Estão curiosos? Espero que sim! Se você gostou da fanfic até agora, tenho certeza que continuará curtindo a nova. ;D

De The Seventh Zone, eu me despeço, não voltarei a postar novos capítulos por aqui. Agora, uma nova jornada os aguarda em A Sétima Zona, e a Lucy estará esperando por vocês para ajudá-la a se safar de todos os problemas, nos quais ela, descuidadamente, se meteu.

ATÉ MAIS, QUERIDOS LEITORES!

(Ps: Abaixo segue o primeiro capítulo de A Sétima Zona, que será postada em breve.)



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LEIAM AS NOTAS INICIAIS

Primeiro Ato

Por entre enormes cordilheiras, desfiladeiros e montanhas que arranham o céu, localiza-se a principal base militar de Fiore. 

Apesar dos longos anos sem guerras, o silêncio velante dos reinos lindeiros provoca uma tensão entremeada nos ossos de homens e mulheres que treinam arduamente em seus postos, conscientes da ameaça sombria de batalhas sanguinolentas prestes a estourar. Embora sua extensão territorial fosse de pequenas proporções, o reino é cobiçado por vários reis vizinhos gananciosos – e por vezes, desesperados –, principalmente desde que seus territórios foram acometidos por períodos de seca atípicos nos últimos anos.

Por se tratar de uma pequena península montanhosa, Fiore desenvolvera uma forte atividade portuária e pesqueira, em detrimento da agrária, para prover sua riqueza. Este fator fora essencial para que sua economia não fosse comprometida. Ainda assim, sua formação geográfica caracterizada por cadeias de montanhas e fronteiras beira-mar permite que habituais chuvas orográficas¹ ocorram regularmente, impossibilitando os períodos longos de seca.

Dentre as várias cidades portuárias ao longo da costa, Hargeon conta com um dos maiores e mais ricos portos do continente, de onde partem diversas rotas marítimas comerciais pela Baía da Medusa Real, intensificando o comércio com os reinos de Ministrel e Caellum. As mercadorias são então distribuídas para as cidades mais interioranas pelo transporte ferroviário, que se estende até a capital Crocus – cidade da morada oficial da rainha Hisui E. Fiore e da família real.

Os reinos que decidissem atacar pela Baía, encontrariam uma defesa implacável no forte de Hargeon e nos navios de guerra ancorados nas margens. Pelo mar aberto, encontrariam as ondas revoltosas da costa oeste – lar de sinistras criaturas marinhas. Mas caso optassem por vias terrestres, descobririam uma parede de montanhas cortando o istmo da península de norte a sul –  a cordilheira de Enova.

Como um rastro negro de morte delineado nos mapas, a cordilheira demarca a fronteira de Fiore com os reinos vizinhos de Seven e Bosco, e por toda a sua extensão alocam-se estrategicamente incontáveis bases militares ocultas e com panorama privilegiado para distinguir os exércitos inimigos que ousassem vir por terra. Mas é um local traiçoeiro, de relevo íngreme e reentrâncias encobertas, que fazem os soldados do reino temerem mais as emboscadas do que as próprias tropas.

É em meio às gigantescas rochas esculpidas pela natureza que muitos magos e guerreiros prestam seus serviços ao reino mais próspero do continente de Ishgar, supervisionando a fronteira de suas terras. 

E é neste rastro negro, que está localizada a base militar Phoenix.

Localizada no intermédio de uma montanha, fora construída próxima a uma vila antiga de mesmo nome, acomodada ao sopé da montanha. Sua construção, por sua vez, é recente, datando de alguns pares de anos, e tem seus compartimentos ora embrenhando-se para dentro da rocha maciça, ora contornando-a através de cabines modulares, formando longos e estreitos corredores metálicos.

— Tenente, o comandante a chama para novas estratégias. – informa-me o 3º sargento do quinto grupo de combate, o famoso galanteador de cabelos alaranjados, ao esbarrar comigo na esquina de um dos corredores.

— Entendido. Por coincidência eu ia justamente a seu encontro. – dirijo-me através da passagem carregando algumas papeladas e mapas. Minhas botas ecoando pelo piso frio.

— Loke, avise à 2ª tenente para me acompanhar.

No momento a base está um tanto agitada. Um de nossos batedores relatara mais cedo ter avistado um grupo de boscovitas – soldados de Bosco – instalados nas proximidades da base, mas constantes terremotos se iniciaram nas últimas horas, retardando nossos planos de ataque, que envolveriam uma tocaia com alguns homens do quinto esquadrão.

— Como quiser, tenente Lucy. – responde Loke, seguindo pelo caminho oposto ao meu, até parar por um momento e exclamar já de longe. – E avise-me quando os boscovitas poderão ser finalmente em-boscados!

Solto uma gargalhada com o trocadilho ruim. Loke sabe exatamente como aliviar a tensão quando é preciso.

Chegando a sala de comando, passo meu cartão de identificação e em alguns poucos segundos a porta de ferro se abre, revelando um homem jovem e apreensivo, debruçado sobre pilhas de papéis. A exaustão é visível em seu rosto ao levantar o olhar para receber o recém-chegado.

— Ah, finalmente chegou! – exclama, aliviado, já se levantando da poltrona. – Vamos, entre, entre.

Teria rido de seus cabelos azulados em completo desalinho, não fosse as notícias urgentes que trazia.

— Com licença, comandante Jellal. – aproximo-me, depositando novos papéis ao monte preexistente sobre sua mesa.

— Quais são as novidades? Alguma previsão de quando os abalos sísmicos devem acabar? – pergunta, ansioso, apoiando as mãos sobre a mesa.

— Bem, senhor, os magos especializados no elemento terra realizaram os testes sísmicos ainda esta manhã – entrego-lhe o relatório. – De acordo com o que disseram, as placas tectônicas estão apresentando uma movimentação muito peculiar.

— O que quer dizer com isto? – indaga enquanto passa os olhos pelo documento em uma leitura breve.

— O argumento deles é que a locomoção atual das placas não é decorrente da movimentação do magma abaixo, como é natural. – explico brevemente. – Mas sim de outra coisa.

O comandante espera que eu prossiga, mas como não o faço, questiona com um pouco de impaciência.

— E o que seria? 

— Eles ainda estão estudando sobre isto, mas… me ocorreu uma hipótese. – respondo com uma sutileza de hesitação ao final da frase.

Jellal suspira.

— Vamos, Lucy. Sabe que não temos o luxo para hesitação. O mundo não espera, muito menos os inimigos.

Já prevejo como vai reagir. 

— Acredito que se trata de algum tipo de… anomalia mágica.

O comandante me encara. Vejo em seus olhos o momento em que assimila a minha linha de pensamento.

— Lucy. – diz, o tom de advertência na voz.

— Por favor, comandante, deixe-me explicar, tenho evidências! – tento convencê-lo. – Hoje mesmo um vigia veio…

Jellal me interrompe, massageando a têmpora direita. O semblante visivelmente estressado.

— A pressão está subindo a sua cabeça e já está levando-a a acreditar em fantasias.É uma lenda, tenente Lucy! Quantas vezes mais preciso lhe dizer? Entendo que seja fascinada pelas histórias ancestrais da vila, mas há limites! Limites que alguém que carrega a patente de Tenente deve conhecer! – ele ralha.

Não era a primeira vez que ele me repreendia daquela maneira. Jellal sempre fora como um irmão mais velho para mim e ouvi-lo falar daquela maneira fazia-me sentir inevitavelmente como uma menininha prestes a chorar. Mas engulo em seco, pronta para revidá-lo.

É quando o som da porta de ferro soa e no batente surge a silhueta familiar de uma pequena garota de cabelos azulados presos com uma faixa laranja. A salvadora da pátria!

— Chamou-me, Tenente Lucy? – ela adentra o aposento, logo percebendo a tensão entre nós. – Comandante Jellal. – faz um ligeiro cumprimento.

— Bem na hora, 2ª tenente! – respiro, aliviada, acenando para que se aproxime. – Venha aqui, ajude-me a convencer este incrédulo! Diga-lhe o que aconteceu depois que os testes sísmicos terminaram.

O comandante Jellal torna a se sentar na poltrona, parecendo subitamente mais exausto do que há poucos instantes e entrelaça as mãos a frente do corpo, conformado a ouvir o que fosse. Fez um gesto para que Levy McGarden começasse o relato.

— Bom, nesta manhã, após o término dos testes,– começa Levy, um tanto ansiosa. – a tenente Lucy e eu estávamos voltando para a área principal no intuito de assimilar os resultados, quando fomos abordadas por um dos vigias. Ele dizia ter avistado emissões de fumaça vindos de não muito longe. Nosso primeiro palpite foi que o grupo boscovita poderia estar se comunicando a distância com mais aliados, ou sendo tolos o bastante para denunciar a própria localização com uma fogueira. De qualquer forma, subimos até o posto de vigia para melhor visibilidade e constatamos que os gases só poderiam ser provenientes de uma fenda vulcânica, e vinham justamente da mesma direção do vulcão Phoenix.

— Percebe, comandante? – falo com energia. – Independente de qual seja o fator em questão, é inegável que o vulcão não tardará a eclodir. Não estamos lidando apenas com terremotos. Seu vulcanismo explosivo, como registrado, expelirá grandes quantidades de gases tóxicos e material piroclástico. Devemos estudar o que está causando os súbitos abalos sísmicos e evacuar a todos o quanto antes!

Em vez de se direcionar a mim, Jellal apoia o queixo nas mãos cruzadas, fitando Levy intensamente.

— Vice-tenente, sei que é uma pessoa extremamente racional. E confiável, mas, ao mesmo tempo, sei, que é muito amiga de Lucy. Isto me leva a pensar, e espero estar enganado, que seja um fator que influencie em seu discernimento e leve-a a concordar inquestionavelmente a tudo que Lucy diga. – diz o azulado, jogando o documento que estava há pouco em mãos, sobre a mesa, em sua direção. – Neste relatório não há nenhuma menção a atividades vulcânicas recentes.

Não dou a Levy a chance de responder.

— Está dizendo que o que estamos afirmando que vimos é mentira? – tento soar firme, mas minha voz denota mágoa. Não consigo lidar com as emoções que fluem sob a pele, elas ameaçam romper a máscara de profissionalismo em meu rosto.

— Não. – suspira Jellal, os dedos pressionando a ponte do nariz, ciente de que estou prestes a chorar de frustração. – Estou dizendo que talvez vocês estejam equivocadas quanto a origem da fumaça e tudo se explique naturalmente pelo primeiro palpite que levantaram. Estou dizendo que, talvez, neste exato momento, enquanto estamos discutindo sobre vulcões entrando em atividade e anomalias mágicas, os boscovitas estejam se preparando para o ataque.

Mordo o lábio inferior. Meus pensamentos estão a mil, mas nada respondo. Em vez disso, procuro cravar os olhos em qualquer objeto presente na sala, buscando desesperadamente por apoio. Encontro um: o retrato de Erza na estante. Era o dia de sua graduação, ela estava radiante de felicidade. Fixo o olhar nele. Levy está a meu lado e também parece sem palavras.

— Lucy. – ouço-o suspirar novamente. Ele está usando aquele tom de voz que odeio. O tom de voz do pai que tenta persuadir a filha chorosa a compreender.

Estou absorta demais em meus próprios pensamentos e emoções e tudo que vejo é o retrato cair no chão, o vidro se espatifar em milhares de caquinhos. Minha mente não demora a assimilar: o chão estava se mexendo de novo, e ainda mais violentamente do que antes. 

Os objetos começam todos a cair das prateleiras, as pilhas de papéis desmoronam. Ouço um grito de advertência ao meu lado e Levy me puxa para longe quando uma das estantes atrás de mim desaba no local onde eu estava a segundos atrás. Nós duas nos agachamos perto da porta, tentando inutilmente nos firmar – a parede metálica é insuportavelmente lisa e os objetos ao redor são tão estáveis quanto uma boia em alto-mar.

Procuro Jellal com o olhar, ele parece fazer o mesmo já que nossos olhares se cruzam ao mesmo tempo. Há uma terrível ruga de preocupação em seu semblante. Ele está no chão atrás da mesa e chama meu nome, mas sua voz sai abafada pois há gritos lá fora. A lâmpada fluorescente no teto balança de forma alarmante, enquanto vários segundos se transcorrem sem que nada ocorra, além da espera agoniante.

Até que alguém irrompe na sala, apoiando-se debilmente no batente da porta. É o pequeno filho do capitão Macao Conbolt, líder do terceiro esquadrão, com o rosto mortalmente pálido.

— O que está acontecendo lá fora, Romeo? – pergunta Jellal nervoso, a voz elevada contra o barulho. – São os boscovitas?!

— O v-vulcão… – gagueja, não conseguindo dar continuidade à sentença. Mas é o bastante.

Todos nós nos entreolhamos. 

Não poderia ser, não agora. Soava absurdo. 

Mas aos poucos a incredulidade dá espaço para uma emoção ainda mais intrínseca e primitiva – o medo. Sinto a mão de Levy procurar a minha – suas palmas estão tão suadas quanto – e nos encolhemos ainda mais quando um dos suportes da lâmpada finalmente cede, rompendo os fios e vertendo uma torrente de chuviscos brilhantes em nossa direção.

Quero fechar os olhos e fingir que tudo não passa de um sonho. 

Se estivesse mesmo acontecendo, não haveria tempo, nem esperança. Não existia plano emergencial de fuga. A erupção do vulcão nunca fora uma hipótese – os magos da terra nos garantem isso há anos através dos testes anuais. E para piorar, estávamos impossibilitados de acionar a central em Magnólia, graças à interferência mágica dos grupos inimigos. 

Mesmo com a dificuldade em se manter de pé, Jellal é o primeiro a se recompor. Ele se agarra à mesa com esforço e está prestes a sair andando até o exterior para gritar ordens. Implacável, ele segue até nós, transpondo livros e objetos quebrados, pisando sobre papéis e abaixando-se sob o vão da estante caída – seus joelhos levemente dobrados procurando estabilidade.

Parece que um século se passa até que ele chegue ao local onde estamos agachadas. Quando ele se apoia em um dos joelhos ao nosso lado, o chão finalmente se estabiliza. Um segundo de estupor transcorre até nos darmos conta. Minhas pernas ainda tremem, sem equilíbrio, mas o comandante já está de pé e nos ajuda a levantar.

Apesar de Jellal não ter nem chegado aos trinta anos, o peso da responsabilidade o faz parecer muito mais velho do que verdadeiramente é. O dever que carrega o impede de sucumbir, independentemente da situação que deva enfrentar. Ele parece se agigantar ao meu lado – a postura austera de um comandante, sólida como rocha. Indestrutível, inderrubável. Este perfil o fizera exercer o cargo que hoje ocupa. 

Assim, procuro seus olhos verdes em busca de um alicerce, uma esperança, como sempre encontrara em meus momentos mais difíceis. Descubro então o semblante rígido e determinado, como já esperava encontrar. Mas eu o conheço desde menina e posso desdobrar suas expressões como uma carta envelopada – por trás da fachada inabalável, eu vejo: há apenas desolação. 

Meu estômago se contorce com a constatação e sinto que a qualquer momento posso vomitar.

Corremos em disparada pelos corredores, virando esquinas, abrindo portas, derrapando pelo chão liso, esbarrando uns nos outros. Estamos subindo e subindo até o posto de vigia mais próximo.

O verdadeiro caos governa o exterior.

— Senhor comandante! – grita um oficial quando nos vê, batendo continência. – O vulcão Phoenix! Está reagindo, não aguentará muito mais tempo! Quais são as ordens?

— Reúna todos os esquadrões no pátio principal e diga para aguardarem lá pelas próximas ordens! – exclama Jellal.

O oficial assente e sai correndo. O azulado se vira para o adolescente que vinha nos acompanhando. 

— Romeo, desça até a vila, e peça a todos que se dirijam ao abrigo anti-invasão no templo negro imediatamente!

— Senhor comandante, não há espaço suficiente para todos! – diz o menino com algo muito próximo do pavor no tom das palavras.

— Conduza primeiro os não-magos, principalmente os idosos e as crianças. Qualquer mulher ou homem que tenha aptidão à magia deve se encontrar no pátio junto aos meus oficiais e esperar pelas minhas ordens. – sua voz é firme e transmite segurança, em contraste.

O menino bate continência e se apressa, descendo os degraus. Jellal então se vira para Levy.

— Vice-tenente, você também, desça até a vila e reúna três grupos de não-magos, homens e mulheres saudáveis, na entrada da vila. Selecionarei alguns oficiais para que liderem esses grupos numa incursão pela floresta Dhara. Avise também aos guardas para controlarem o pânico e não deixarem ninguém fugir imprudentemente sozinho, é uma floresta muito perigosa. – Levy assente, prestando continência. – E por último, deve se encontrar com Lucy nos portões da vila em exatamente 15 minutos.

— Entendido! – exclama, seguindo seu caminho.

Quando todos já haviam saído, incumbidos em suas tarefas, restara apenas eu e Jellal na plataforma ao ar livre, o vento agitando fortemente nossos cabelos. Percebo que temia pela chegada deste momento.

— Lucy. – diz em um tom brando e resignado. Evito seus olhos, certa de que não gostarei do que está prestes a dizer. – Olhe para mim.

Com receio, elevo o olhar. 

O que reflete em seus olhos me despedaça.

— Escute bem o que vou lhe dizer, Lucy. O que lhe direi é uma ordem, e você deve cumpri-la a qualquer custo, independentemente de qualquer coisa. Deve me prometer.

Já estou balançando a cabeça em um gesto de descrença. Sinto meus olhos turvos, a garganta se fechando. Não consigo falar, em vez disso, mordo meu lábio inferior – a única coisa que me impede a não me desdobrar em soluços agora mesmo. Ele sabe o que estou sentindo, e seu olhar não mente – está levemente mais brilhante do que deveria. Ele me segura pelos ombros, apertando firme porém, gentilmente. Quero que ele pare, quero desesperadamente que pare.

— Me perdoe, Lucy. Duvidei de você até o fim. Nunca fui tão compreensível quanto gostaria, ou presente, como prometi a seu pai.

— Você não precisa dizer isso. Eu não vou te abandonar.

— Gostaria que tivesse ido com Erza, ficado na cidade, um lugar cheio de oportunidades. Você é uma menina brilhante, Lucy. Desde pequena, sempre sonhou em estudar arqueologia, astronomia, escrever livros… Seus pais também gostariam que assim fosse. Mas há tempo para isso, você terá toda uma vida pela frente.

— Eu quero ficar aqui. Com você. Sempre cuidou de mim.

Seus olhos transbordam orgulho – e tristeza. Ele respira fundo antes de continuar.

— Quero que você saia correndo daqui, com Levy, se tudo der certo. Atravessar a floresta Dhara não será difícil para vocês, se estiverem juntas. Mas se por algum motivo Levy não a encontrar em 15 minutos no portão de entrada da vila, deve seguir caminho sozinha, e não tenho dúvidas que também conseguirá por si só. Quando chegar em Magnólia, depois do desfiladeiro, deve falar diretamente com Erza. Traga reforços, a área ficará totalmente desprotegida e vulnerável quando a lava solidificar, os boscovitas não perderão tempo, esperam por uma oportunidade há anos.

— Venha conosco.

— Devo ficar aqui e comandar meus homens. Nós criaremos uma esfera mágica de proteção pelo máximo de tempo que pudermos até que todos os habitantes da vila tenham a chance de se abrigar no templo ou escapar. Agora, é por isso que esta missão é de extrema importância, Lucy. Aquelas pessoas, quando a lava tomar conta, ficarão presas… até que você traga o resgaste.

Meu olhar relanceia para a paisagem montanhosa logo atrás de seu rosto – o vulcão a alguns quilômetros de distância, ameaçando tomar tudo que prezo. Uma parte muito egoísta de mim sussurra que eu não preciso ser heroína alguma.

— Prometa a mim que fará isso. – continua.

— Pode me prometer que sobreviverá? – pergunto, incisiva. Ferida. E de repente uma torrente de adagas cortantes escapa de minha boca, ininterruptas. – Ou pretende nos abandonar? O que você espera que eu diga pra Erza? Vocês estavam planejando ter um filho em breve, não estavam? É assim que planeja cuidar de nós?!

Ele abaixa os olhos e larga meus ombros, deixando os braços penderem frouxamente ao lado do corpo.

Meu Deus, o que estou dizendo? Estou o machucando.

— P-perdoe-me. – meus beiços tremem e não há nada que segure minhas lágrimas agora. – Ah, por favor, me perdoe. Eu não queria…

— Está tudo bem… Tudo bem. – diz, baixinho. – Eu sinto muito, Lucy. Sinto tanto. Você e Erza são tudo o que eu tenho de mais valioso nesse mundo, são a razão da minha alegria. Eu estarei sempre olhando por vocês, sempre.

Quero convencê-lo a me deixar ficar, mas finalmente percebo que, em minha impotência, não há nada que eu possa fazer estando aqui – nasci sem aptidão mágica.

Nada o fará mudar de ideia. Eu o perdi.

Estou olhando para baixo, quando sinto que realiza algum movimento. No entanto, não estou prestando atenção. Instantes depois, ele segura minhas mãos, depositando seu broche de comandante em minha palma direita e fecha meus dedos sobre o pequeno objeto. Eu observo suas mãos sobre as minhas – meu rosto se contorcendo como o de uma criança. Não quero acreditar que isto esteja mesmo acontecendo.

Não espero que diga mais nada, eu o abraço, a face contra seu peito, tão forte como se pudesse eternizar aquele momento. Seus braços me rodeiam com carinho. Não quero nunca esquecer a segurança dos seus abraços, as mãos firmes e protetoras que me seguraram em todas as minhas quedas, a presença reconfortante, a paciência com que me ditou valorosos conselhos e ensinamentos, nos quais me tornaram parte do que sou hoje, as brincadeiras…

Por fim, nunca esquecerei quando, no dia em que meu pai jazia inerte sobre uma caixa dourada de madeira e minha mãe já brilhava no céu, afagara meus cabelos e em vez de oferecer suas condolências como todos os outros, dissera “Eu cuidarei de você agora” com extrema brandura. E assim o fez.

— Obrigada por tudo, Jellal. Amo você. Estará sempre em meu coração.

Quando me afasto o suficiente para encará-lo nos olhos uma última vez, vejo que em seu rosto também há lágrimas. Ele sorri com ternura.

— Agora vá. E não olhe para trás.

Ando três passos para trás, ainda o encarando com intensidade – o vento forte secando meu rosto manchado de lágrimas. Em seu semblante terno, vejo apenas um orgulho genuíno.

Levanto a mão, os dedos em riste sobre a testa. Ele faz o mesmo.

— Prometo que realizarei sua última ordem a mim designada, comandante! A qualquer custo! – bato continência, antes de me virar.

E nunca mais vê-lo.


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Notas finais do capítulo

1- Chuvas orográficas ou chuvas de relevo são chuvas ocasionadas devido às condições do relevo. A massa de ar úmido provinda do mar, ao encontrar um relevo elevado como uma montanha, condensa, devido a queda de temperatura, o que gera as chuvas.
2- Istmo é a faixa estreita de terra que liga duas partes maiores, unindo a península ao continente.
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Bianca: Chorei. Cabou meu expediente. (T_T)
Isa-Chaan: Acontece, né? Hora de procurar emprego novo~ (ノ*・ω・)ノ
Bianca: ... ME CHAMEM QUE EU VOU PRA LÁ
Isa-Chaan: MAS NEM EM SONHOS!



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