Lunar escrita por maryah cullen


Capítulo 15
Capítulo 15: Sempre Pode Piorar


Notas iniciais do capítulo

ME. DESCULPEM.



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Ah, meu Deus.

Mellyza não podia me ver assim.  O que ela pensaria? Será que ela iria acreditar quando nem eu mesma acreditaria? Era tudo tão confuso!

Eu estava literalmente congelada, sentada na minha cama, com a nuca ardendo. Eu não podia sair novamente, não havia tempo. Eu não podia fazer nada. Eu podia ouvir Mellyza subindo as escadas.

Era estranho, percebi. Eu ouvia mais que o comum. Bem mais. Eu ouvia os passos pesados de minha amiga, o que significava que ela estava carregando bastante peso. Eu podia ouvir Helen se movendo lá embaixo, no hospital. Eu podia ouvir as freiras reclamando com as crianças. E eu podia ouvir os carros na rua. Eu podia ouvir o vento batendo nas folhas da árvore próxima do meu quarto. Eu estava ouvindo demais.

Ouvi quando Mellyza soltou Spike em frente à porta, e ouvi quando ele miou. Ouvi também quando Mellyza girou a maçaneta lentamente. Ouvi quando ela chamou meu nome baixinho.

Mas eu só fiquei ali, parada, olhando para minhas mãos de gelo nos meus joelhos.

Ouvi também quando Mellyza abriu a porta e me viu. E ouvi, claramente, o grito de furar os tímpanos que ela deu.

-Ah, meu Deus!

Ela exclamou em seguida. Virei a cabeça para ela, e vi que estava apavorada.

-Mellyza...

Comecei, mas ela se virou e fugiu correndo.

E eu chorei.

Se é que eu podia chorar. As lágrimas caiam dos meus olhos e congelavam em minhas bochechas, formando pequenos pingentes de gelo.

Depois de um tempo, andei até onde Spike estava jogado junto as minhas coisas que Mellyza havia deixado cair no chão, e o peguei no colo. Estranhamente, ele não congelou. E também não pareceu se importar com a frieza de meus dedos.

Então eu abracei meu gato, e o acariciei, e passei até o fim do dia assim, com ele grudadinho em mim. E quando a noite chegou, eu o aninhei do meu lado na cama, e tranquei a porta, para que Helen não me visse.

Eu me lembrava de Mellyza ter me dito uma vez que não se deve dormir com os gatos na cama, por que eles podem subir na sua cara e você morrer de asfixia. Bom, tanto faz. Eu não morri de hipotermia ao congelar, por que morreria de asfixia?

Chorei mais um pouco ao pensar em minha melhor amiga que saíra correndo, com medo de mim. E talvez esse fosse o pior. Por que eu não tinha feito nada de errado, nada que pudesse fazer Mellyza se assustar. Nada, além de pisar em uma poça d’água maldita.

Além disso, eu perdera tudo e todos. Não poderia passar o resto da vida trancada aqui. Eu nem deveria estar aqui. Como eu fora idiota, pondo a vida de muitas pessoas em perigo! Eu tinha que ir embora. Tinha que ir embora agora. Mas alguma coisa me impediu. Algo que disse que eu deveria dormir ali naquela noite, e ir embora amanhã.

E irracionalmente, eu fiz isso.

Fechei os olhos na minha cama, sem parar de pensar em tudo que eu perdera. Em como eu tinha a vida perfeita, e não percebera. Em tudo que eu teria de deixar para trás. Eu tinha uma mãe, mesmo que não minha mãe biológica, mas uma mãe que cuidava de mim. Helen. Eu tinha uma tia, cuidadosa também, a freira Nilza. Eu tinha amigas maravilhosas como Soraya e Mellyza, e talvez Karla, pois eu não saberia dizer o que a fez dizer todas aquelas coisas horríveis para mim.  Eu tinha Spike, meu gato. E eu tinha Jaike.

E eu perdera tudo.

Eu chorei. Eu chorei bastante. E quando eu já não podia mais chorar, adormeci.

 

 

 

Eu diria que foi tudo um sonho, quando acordei. Eu queria gritar isso. Eu queria ter certeza que tudo não passou de um terrível pesadelo. A única coisa que me impedia disso, era que não era verdade.

Quando eu acordei, tão cedo que não podia passar de cinco da manhã, eu não estava mais congelada. Estava completamente normal. Exceto.

Meu quarto estava bagunçado, e gelado. Havia cristais de gelo na cama e no chão, de onde eu havia chorado. O pelo de Spike estava molhado. As minhas coisas que Mellyza havia vindo deixar aqui ainda estavam no chão. A porta estava trancada. E a janela aberta, mostrando a parte meio congelada do tronco da árvore.

Fora real.

Era impossível.

Minha nuca ainda formigava. Eu precisava saber por quê. Peguei uma piranha na minha cabeceira, amarrei o cabelo no alto, e rumei para banheiro, onde havia um espelho enorme.

A primeira coisa que vi foi meu rosto. Os olhos não estavam mais azuis, e sim castanhos.  Mas estavam castanhos vívidos, fortes, cheios de magia. Sacudi a cabeça com o pensamento. O rosto estava mais pálido, muito branco, sem sardas, com uma pele perfeita. Não havia olheiras, e não havia marcas de choro. O cabelo estava mais sedoso, mais bonito. E em todo, eu mesma estava mais bonita.

Encarei o espelho, sem acreditar, desafiando-o a mudar a imagem. Mas tudo permaneceu daquele jeito. Então, eu me virei, para examinar minha nuca, usando um truque de espelhos.

Peguei um espelho menor e coloquei na minha frente, refletindo o espelho maior. Assim eu poderia ver minha nuca tranquilamente.

Eu quase deixei o espelho cair quando a vi.

Por que havia um círculo azul-vítreo desenhado na minha nuca, no local que ardia. O círculo era da cor que meus olhos havia ficado. E, desfocado, como um fantasma em uma imagem, era possível ver dois olhos felinos dentro do círculo. Eu olhei com mais atenção – até toquei a tatuagem com a ponta dos dedos – e percebi que, na verdade, não era círculo coisa nenhuma. E sim uma lua cheia.

Corri para pegar um calendário lunar. Existe um desses na minha agenda do colégio. E eu peguei-a com força, desejando que por favor eu estivesse errada...

Era lua cheia. A semana inteira, desde domingo até o outro domingo, quando a lua se transformaria em quarto minguante.

Meus dedos se petrificaram, e deixaram a agenda cair. Eu precisava pensar. Ou talvez o que eu precisasse fosse não pensar.

De qualquer maneira, eu precisava fazer alguma coisa. Não tinha se passado muito tempo, então eu tinha algo em torno de três horas para ir pra Sales High School.

Entrei no banheiro, tomei banho, penteei o cabelo. Vesti uma jeans boca-de-sino, uma camiseta vermelha, uma jaqueta para me proteger do frio, um tênis All Star preto e branco, e, além disso, coloquei uma faixa azul no cabelo, afastando a franja da cara.

Arrumei a mochila, e a joguei nos ombros. Então agarrei Spike, desci as escadas correndo, e deixei um bilhete no balcão do hospital.

Helen,” Dizia o bilhete, “saí para pensar. Em seguida vou para a escola. Não há com o que se preocupar.

Peguei uma maçã na geladeira do hospital, e dei comida para meu gato caramelo. Aí, enfim, pude sair. Fui andando até o parque, com Spike no colo, ronronando para mim.

Os balanços estavam vazios, é claro. Então eu sentei em um deles e comecei a me balançar. Eu não sabia o que fazer, não sabia como agir.

Eu não sabia se minhas amigas ainda eram minhas amigas, ou se Mellyza havia se recuperado do choque de me ver gelada. Eu não sabia como reagiria ao ver Jaike. Inconscientemente, eu levei as mãos á lua na minha nuca. Ela ainda estava lá. Era um ponto mais gelado de minha pele.

E eu fiquei ali, me balançando, tentando penar e não pensar ao mesmo tempo.

Era uma tarefa difícil tentar raciocinar com clareza quando tudo aquilo que se acreditava parece falso. Eu tinha cem por cento certeza de que eu não havia imaginado, que havia sido real, e que eu realmente congelara. Só que isso era impossível.

A uma temperatura tão baixa a ponto de o meu corpo congelar, meu sangue deveria estar parado, e meu cérebro morto. Isso não acontecera.

Fechei os olhos e respirei fundo.

O tempo passava. Logo seria a hora de ir para a escola, e ter que enfrentar meus tormentos diários, além dos novos que arrumei.

Mellyza... Mellyza, minha amiga. Como ela reagiria ao me ver normal, sem nenhum ponto congelado, e indo para a aula normalmente? Pensaria que tivera uma ilusão, ou que enlouquecera? Será que ela teria contado para alguém?

Eu sinceramente esperava que não. Se essa informação caísse nas mãos erradas...

Kate e Juliet.

Um arrepio correu minha espinha. Se essas duas ao menos suspeitassem do que Mellyza vira no meu quarto, é claro que iriam investigar. E se eu não pudesse controlar o que acontecia, nas horas mais aterrorizantes da minha vida, elas iriam descobrir. E então eu iria ser levada para um laboratório de pesquisas científicas.

Enterrei as mãos no rosto. Ah meu Deus, eu estava ferrada. Completamente ferrada. Por que minha vida tem que ser tão difícil?

-Bem, hora de ir para a escola.

Sussurrei para mim mesma. Respirei fundo, peguei a bolsa e Spike do outro balanço, e voltei para o hospital.

As coisas estavam se animando por lá, e algumas enfermeiras estavam verificando os internos. Não falei com Helen, nem tomei café da manhã. Simplesmente deixei Spike, peguei meu fusca, e o dirigi até a Sales High School.

Eu parecia tão sozinha de manhã cedo pelas ruas desertas!

Buscando consolo para a solidão que eu sentia, enfiei a mão na mochila e peguei a fita que eu levava para todo canto. A fita que Jaike me deu.

Amarrei no pescoço, formando uma gargantilha trançada e bonita, da cor da pele de Jaike.

Dei uma rápida olhada no espelho, e percebi que minha pele estava quase translúcida, e meus olhos estavam... místicos demais.

Virei o rosto. Mais uma vez, meus dedos tatearam a marca de uma lua na minha nuca. Enfiei o espelho na bolsa, e dirigi mais rápido.

Cheguei ao colégio com bastante antecedência. Isso parecia ser cada vez mais freqüente.

Estacionei, entrei no colégio, sentei numa mesa. Peguei um livro e coloquei fones de ouvido, tocando músicas animadas para contrapor com meu estado de espírito. E me acomodei para esperar as aulas começarem.

Mas o que eu realmente esperava não eram as aulas, e sim Mellyza. Eu precisava vê-la, precisava falar com ela. Descobrir o que se passava. Eu não podia nem pensar direito. Eu estava tão confusa!

Tentei me entreter com o livro. Realmente, não estava funcionando. Aliás, eu duvidava que um dia eu voltasse a pensar corretamente de novo. O que eu estava fazendo ali? Por que eu viera ao meu colégio quando eu não poderia controlar simplesmente congelar e não morrer? Por que eu punha a vida de todos a minha volta – e a minha própria – em risco?

A explicação era simples, embora eu não quisesse perceber. Era por que eu era egoísta. Egoísta demais. Primeiro, eu precisava saber o que Mellyza tinha feito, se ela já não tinha me denunciado a um laboratório qualquer. E qual havia sido a reação dela. E Segundo, eu precisava ver Jaike. Será que Mellyza contara para ele?

Autopreservação. Essa era uma coisa que eu nunca iria entender. Eu queria garantir minha sobrevivência, mas para isso precisava por minha sobrevivência em risco.

Eu ouvi quando o sinal anunciou o início das aulas, apesar dos fones de ouvido. Eu os guardei, e guardei o livro. Não vi Mellyza, nem Soraya, ou Karla, nem mesmo vi Jaike, enquanto caminhava para a aula de Karla Soraya. Talvez elas já estivessem na sala. Mas por que não vieram falar comigo?

Não havia dúvidas que haviam me visto. Mesmo assim, me ignoraram. Aconteceu o mesmo na sala de aula. Karla e Soraya estavam sentadas uma ao lado da outra, e Mellyza estava na frente de Karla, ao lado de Kevin. Eu me sentei no fundo, em uma cadeira vazia.

Jaike não estava na aula.

Elas não fizeram menção de falar comigo. Nenhuma. A não ser, talvez, Soraya. Ela olhou por cima do ombro para mim uma vez, mas se voltou rapidamente para frente. Isso doeu.

A única coisa boa na aula, era que Kate e Juliet pareciam tão abismadas com a atitude das minhas antigas amigas quanto eu. O que significava – eu esperava – que não sabiam sobre a coisa toda de congelar.

A segunda aula foi pior. Educação Física. Mellyza não ficou no time contrário – graças a Deus –, mas também não parecia me notar. Não passou a bola para mim uma única vez, e nem deixou que eu tocasse na bola.

Eu fiquei tão abalada que não tive animação para desviar das boladas furiosas que Juliet – Kate era só uma patricinha metida - jogava em mim. Fui acertada algumas vezes, mas poucas, pois geralmente as boladas eram confundidas com lances e Mellyza as pegava certeiramente antes que me atingissem. Como se eu não existisse. Como se eu não fosse nada.

Eu me troquei tão desanimada e lentamente que quando saí, todo mundo já estava no refeitório. Andei cabisbaixa até lá, mas quando abri as portas – as portas malditas, pelas quais Karla passara berrando no dia anterior – paralisei.

Que droga. Droga. Eu era tão burra, idiota, retardada. Aonde eu ia me sentar?

Jaike não estava à vista. E a mesa em que eu costumava me sentar, estava ocupada e sem espaços, por Karla, Soraya, Mellyza, Kenny e Kevin.

Tentei suportar. Eu matara duas aulas no dia anterior sem desculpa. Meu currículo já estava ficando sujo com tantas faltas inexplicadas. E eu não podia fazer nada. E daí, que Mellyza agora tinha medo de mim, e que minhas amigas me ignoravam, e que Jaike ficara com tanto medo que evitava me ver? E daí? E daí? E daí...

Sentei sem bandeja em uma mesa vazia, no fundo do salão. Ninguém veio se sentar comigo, mas por onde eu passava, eu as cabeças se viravam para me encarar. Ouvi até alguns sibilares, mas eu não podia fazer nada. Eu nem sabia por que os outros me odiavam, se eu não tinha feito nada.

Estava sem fome. Sentei ali, e tentei por tudo não chorar, mesmo quando meus olhos ficaram molhados. Eu mordi meus lábios até que as lágrimas secassem. Meus dedos desenhavam uma rachadura na madeira pintada de verde da mesa. Era velha, feita há muito tempo, mas deixou uma marca ali. Como uma cicatriz. Um rasgão que não quer curar.

Ser abandonada. Saber que não tem ninguém. Isso machuca. Isso dói. Isso marca. Deixa cicatrizes.

Ouvir seu nome, seguido de palavrões. Ser rechaçada. Excluída. Ignorada.

O que eu não entendia, é por que de repente todo mundo me odiava. Talvez eu pudesse entender Karla e Mellyza. E se Mellyza tivesse contado a Soraya e a Jaike, eu também os entendia. Só não entendia como eles acreditaram tão rápido em algo tão absurdo. Mas e os outros? O que eu fizera aos outros?

Foi então que eu percebi.

Eles não começaram a me odiar de repente. Eles já me odiavam.

Não fui um surto de ódio a mim. Todas essas pessoas, elas já me odiavam. Mas por quê? O que eu fiz?

Bulling. Eu já ouvira essa palavra antes. É quando um grupo de pessoas começa a rejeitar outra pessoa por inveja, raiva, etc. Só que geralmente, o rejeitado tem alguma coisa de diferente. Beleza, inteligência, qualquer coisa assim. Só que eu não era a mais bonita da escola, e também não era a mais inteligente. Então, o que eu tinha?

Na verdade, eram eles que tinham mais do que eu. Eles tinham uma casa. Eles tinham pais. Eles tinham o conhecimento de saber de onde vieram.

Eu não sabia. Não sabia se meus pais estavam mortos, eu se simplesmente não me quiseram. Não sabia se meu pai era um trabalhador honesto ou corrupto, ou mesmo um ladrão ou assassino. Não sabia se minha mãe fora feliz, ou triste, ou se a gravidez dela fora planejada. Eu não sabia se eu parecia mais com minha mãe ou com meu pai. Eu não sabia se eu tinha irmãos. Eu não sabia de nada.

Eles tinham a segurança do dinheiro, de ter a escola paga todos os meses, não importando o que fizessem. Se eu faltasse mais algumas vezes, se me metesse em brigas novamente, eu perderia a bolsa. Seria expulsa.

E eram assim que as coisas eram.

E sabe de uma coisa? Sempre foi assim, e sempre será assim. E quem se importa? Eu já me acostumara. A vida segue em frente. Não importa o que você faça, não importa o quanto você se esforce, sempre vai acontecer uma coisa horrível pra te fazer chorar. Nunca é o suficiente.

E é por isso que nessas horas, a pessoa precisa ser forte. Forte, muito forte. Para não desabar. Para não desistir.

Eu estava tão presa no meu mundinho excluído que nem percebia algo acontecendo a minha volta. Se tivesse percebido, eu estaria mais preparada. Fui pega totalmente de surpresa. E aí estava meu ponto fraco.

Na verdade, talvez eu tivesse percebido. Eu me lembrava de pensar que todos me achavam esquisita. Só não sabia que tinham ódio da esquisita. Ou talvez eu soubesse, e simplesmente não me importava. Não em quanto minhas amigas estavam comigo. Aí eu não me importava.

O ser humano sempre tem medo do que é diferente, estranho. Desconhecido. Nós sempre temos medo do desconhecido. É por isso que tantas pessoas temem a morte. Por que é uma passagem para o desconhecido.

Eu não tinha medo. Ali, eu era o desconhecido. Se bem que eu não parecia tão esquisita... Ao menos não para mim.

Era estranho. Eu ali, sozinha, descobrindo-me uma vítima de preconceito na escola. Era estranho, e ridículo. Tão ridículo que dava raiva. Eu era normal, tão normal quanto qualquer um ali. Eu era uma humana, como todos eles. Qual era o problema com eles? Por que me rejeitavam?

Se eu tivesse visto anos antes, seria o suficiente para que eu crescesse com uma mente perturbada. Agora eu simplesmente queria sair dali, para pensar. Mas não podia. Odiava ter obrigações.

Ainda passei mais algum tempo acariciando a rachadura, até o intervalo terminar. Não saí apressada como antes eu faria. Esperei todo mundo sair – até mesmo minhas amigas – para que eu finalmente fosse embora, sozinha.

Sozinha. Essa palavra ressoava em meus ouvidos. Nunca tinha me sentido tão sozinha como hoje.

Caminhei cabisbaixa para minha sala. Queria que as aulas passassem depressa, mais parecia que quanto mais depressa eu queria que o tempo passasse, mais arrastado ele andaria.

O professor não me ajudou hoje. Passou a aula fazendo perguntas, que respondi corretamente, sem emoção alguma. Até que ele percebeu meu estado de espírito e me poupou de mais um pouco daquela chatice.

Era uma droga. Realmente uma droga. Eu queria voltar pra casa e passar o dia com a cara enfiada no travesseiro, e definitivamente eu tinha mais para me preocupar do que com rejeição na escola.

Eu tinha que me preocupar com o gelo.

O que diabos eu era agora? E o porquê. E como – e se eu era capaz – de controlar isso. E por que justo comigo? Havia milhões de pessoas no mundo inteiro. Por que justo eu?

As aulas finalmente estavam no fim. Graças ao senhor. Eu não agüentava mais ficar aqui, minha cabeça estava a mil.

Eu estava tentando ir embora assim que o sinal anunciou o término das aulas. Fugi pelos corredores, não me importando em receber alguns empurrões a mais. Valeria a pena.

Ah, o estacionamento! Eu parara bem debaixo da árvore.  Não ia precisar de muito mais tempo aqui. Aleluia.

Infelizmente, nunca consegui esconder muito bem minhas emoções. Nunca consegui me controlar. E eu realmente corri de alívio, direto pro meu fusca. Estava livre pra respirar.

Entrei nele e tranquei a porta. Oh, meu Deus. Nunca pensei que fosse passar por isso. Era uma sensação ruim, apertando o peito, deixando um gosto amargo na boca do estômago. Tentei não chorar, juro que tentei. Mas não consegui. Mesmo com meus maiores esforços, as lágrimas romperam em meus olhos e jorravam sem parar.

Os soluços me sacudiram um pouco antes que eu pudesse controlá-los. Eu não estava a fim de um acesso de choro agora.

Subitamente, ouvi um barulho estridente no vidro, e me saltei no banco, assustada.

Nero Worse estava do lado da minha janela, sorrindo em um esgar. Pensei em dar ré e fugir dali, mas sinceramente, eu não tinha motivo nenhum pra fazer isso.

Baixei o vidro e forcei um sorriso.

-Oi Nero.

Eu sabia que ele podia ver meus olhos perturbados, mas ele não fez comentários. Na verdade, ele sorriu e falou em tom ameno.

-Oi Mary. Posso entrar?

-Claro.

Dei ombros enquanto ele já dava a volta no carro e abria a porta.

-Achei que estivesse me evitando.

Ele disse ao se sentar. Minha rosto, que estava voltado para baixo, secando as lágrimas, se voltou para ele no mesmo instante.

-Não! – Eu respondi rápido demais. – Claro que não. Quer dizer, por que eu estaria?

-Não sei. – Nero admitiu dando um sorriso torto. – Tive a impressão que você saiu meio... assustada do restaurante.

É difícil acreditar como isso um dia me pareceu tão importante. Agora me parecia tão distante!

-Talvez um pouco. Mas está tudo bem agora, sério.

Eu o assegurei, e seu sorriso se abriu um pouco mais. Eu queria ir pra casa. Estava colocando muitas vidas em risco. Afinal, eu agora era – apesar de não querer admitir – uma aberração genética. Uma aberração fora de controle.

-Isso é bom. Eu não queria assustar você.

Nero falou, e eu dei ombros. Não importava.

-Bem, eu estou bem agora.

Falei. O que ele estava fazendo ali? Por que não me deixava ir embora – fugir?

-Olha, eu realmente queria que ficasse tudo bem entre a gente. Sem nenhum mal entendido, certo? Isso é... muito importante pra mim.

Ele falou. Soou esquisito aos meus ouvidos, e tentei analisar seu rosto, descobrir o que aquilo importava para ele, mas eu não conseguia me concentrar. O que faria aquela conversa com aquele garoto meio abusado quando eu podia de repente congelar, e então não só Nero, mas todos os outros fugiriam correndo de mim.

-Ah... Está tudo bem Nero. De verdade.

Seu sorriso estranho, meio torto, se alargou. Seus olhos se tornaram espertos, atrevidos. Ele se aproximou de mim, e eu fiquei imóvel onde estava, assustada demais para desviar o rosto.

Uma de suas mãos envolveu meu rosto, com força, segurando meu queixo em sua direção, e a outra correu por minha perna, minha coxa...

-Nero. Me larga. Agora!

Rosnei. Ele gargalhou, aproximando-se mais de mim, suas mãos me machucavam. Empurrei seu corpo pesado para longe, com as mãos rígidas. Ele não se moveu muito, e eu tentei dar um belo tapa em seu rosto. Eu estava apavorada, não falava nada, concentrada em empurrá-lo. Ele meio que estava rindo.

Sua mão agarrou a minha enquanto eu tentei agredi-lo, e imediatamente me lembrei do restaurante. E entendi por que ele soltara minha mão naquela ocasião. Eu congelara meu pulso... Será que conseguiria fazer de novo?

Concentrei toda minha força naquela área, pensando no frio, querendo que acontecesse... Mas não aconteceu nada, a não ser, talvez, ele apertar meu pulso mais forte. Eu liberei minha perna e o chutei com força no abdômen. Ele gemeu e afrouxou meu pulso. Não muito; mas o suficiente.

O acertei com o giro do pulso, e finalmente, finalmente, consegui. Meu punho congelou, e eu acertei seu rosto, gelando, fazendo gritar com dor. Com os dedos meio insensíveis, destranquei a porta, e chutei a porta dele, mantendo-a aberta.

-Saia.

Minha voz era baixa, fria e letal. Ele não estava rindo agora – sua boca sangrava. Ele saiu, me ameaçando.

-Você vai ver, Mary Lane. Vai pagar por isso!

Ele berrou pra mim fora do meu quarto, enquanto eu acelerava com uma expressão homicida e fugia dali.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

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Aii gente, eu SINTO MUITO. Vcs devem estar querendo a minha cabeça!!!
Desculpem. Ah, mas vcs n vao acreditar.
EU FUI PRA DISNEYYYYY!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!1
Caaaaaaaaaaraaaa, lá é absolutamente perfeito!! Tipo, tinha uma loja de M&M e tudo, e eu visitei a agencia dos "Homens de Preto", e cara, foi mto show!!!
Eu fui pela Lafuente, claro, eu era do branco, qm ja foi sabe do q eu to falando, foi liindo, MUITO perfeito!!!
Ah, mas agora eu voltei e to logo colocando o cap akie. Aproveitando q eu fui pros EUA, eu tive umas ideias legais q eu vo colocar na fic, certo?
Brigada pela compreensão!