Lily se sentia suja. Aquilo era errado e ela sabia disso. Mas não conseguira evitar; depois de tanto tempo, acabou por aceitar a sair com James Potter. Só que foi da pior maneira possível: traindo seu namorado. Ela havia confessado a James o que sentia e ele apenas respondeu:

— Eu não sou ciumento.

E não era mesmo.

Era estranho como ela mudara com James. O beijo que ele lhe dera debaixo do visco, quando Amus Digory havia ido passar o Natal com a família, a deixara tremendo. James adorava provocá-la e, depois daquele dia, Lily passou a amar suas provocações.

Hoje seria o dia em que ela acabaria com o que quer que seja que tinha com James Potter. Beijá-lo (e continuar o beijando depois disso) foi errado. Ela amava Amus... não amava? Balançou a cabeça, decidida. James não era o certo e Amus era a pessoa que ela passaria o resto da vida. Ele era a pessoa que a conhecia bem demais.

Entrou na sala comunal e viu James Potter e seus amigos no sofá em frente a lareira. Antes de beijá-lo, Lily sentia repulsa de suas atitudes, das seus pedidos para sair com ele... e quando ela começou a namorar Amus, Potter parou de importuná-la. E, então, chegou o Natal e, com ele, veio a decisão de James: beijá-la. E ele teve razão. Lily não conseguia dar o passo adiante na relação com Amus, pois, toda vez que estava quase cedendo, ela pensava nas mãos de James. No beijo de James. No corpo de James. Aquilo tinha ido longe demais.

Lily pigarreou e os Marotos a olharam. James sorriu para ela (um sorriso confidente) e Lily não conseguiu não sorrir também. Como ela não tinha percebido que James Potter também sorria com os olhos?

Ela respirou fundo e afastou esse pensamento. Não estava ali para pensar no quanto ter as mãos dele acariciando seu corpo e seus lábios macios beijando-a com precisão era bom.

— Podemos conversar, Potter? — perguntou e James ergueu uma das sobrancelhas.

— Claro — concordou e se levantou do sofá. Lily foi na frente e James a acompanhou até o lado de fora da torre da Grifinória. — Então...?

— Isso... nossas saídas... tem que terminar — Lily foi direta. Mas por que ela sentia que não queria fazer isso? — Eu... eu gosto de Amus. Ele é bom para mim e... quero passar meus dias com ele. E não... e não com você.

James Potter a olhou por um longo tempo e depois sorriu. Lily não entendeu o porquê de ele não fazer nada, apenas sorrir. Então Lily esperou.

— Lily, você o ama?

A pergunta a pegou de surpresa. Ela olhou de olhos arregalados, tentando entender o motivo da pergunta.

— Por que está perguntando isso? — Lily cruzou os braços, mas sentia seu coração quase pular do peito.

— Você mente muito mal, Lily Evans — ele explicou, ainda sorrindo. — Eu sei que você não quer terminar comigo, sei que quer continuar a sair comigo... mas ele sabe disso? Ele sabe que você nunca mais voltará para os braços dele? Ele sabe que sou eu quem sempre quis tanto você? Ele sabe que é em meus beijos e em minhas carícias que você pensa quando está com ele?

Lily estava ofendida. Sua expressão ia ficando cada vez mais incrédula ao ouvir cada palavra pronunciada. Seu peito começou a subir a descer. Ela estava irritada, estava com raiva. Lily deveria saber que James Potter sempre seria um trasgo.

— Ora, como ousa... — Lily disse, mas não seguiu em frente. O sorriso dele a incomodava. — Você é um metido mesmo!

James deu uma risada. Mesmo com raiva, o coração de Lily disparou.

— Lily... ele pode saber coisas sobre você, coisas que eu sempre soube, mas ele nunca... ele nunca vai amá-la como eu amo — era a primeira vez que ele dizia aquilo e Lily não sabia o que fazer. — Como sempre amei.

— Você... você... acabou de se declarar para mim? — Foi a única coisa que ela conseguiu perguntar.

James se aproximou e só de sentir o perfume dele, Lily esqueceu do motivo de estar ali e da raiva que ele sempre a fazia sentir. James pegou o rosto dela nas mãos e a fez olhar para ele.

O coração de Lily batia contra as costelas. Ele ia beijá-la, ela sabia disso. E ela queria isso. Droga.

— Eu sempre me declarei para você— ele sorriu e Lily tentou desviar o olhar. Mas não conseguiu.

Enquanto encarava os olhos de James, ela se lembrou do início de sua traição. Lily já não se importava mais com os apelidos; Lily já não se importava com as implicâncias e nem com os pedidos para sair com ele; toda vez que James passava, ele lançava-lhe sorrisos e olhares significativos. Lily tentava não retribuir, mas um sorriso cúmplice surgia no canto de seus lábios. Ela gostava daquela sensação.

Lily voltou ao presente e viu os olhos castanho esverdeados de James a encarando. Realmente, havia coisas que Amus não sabia sobre ela. James havia crescido com Lily e sabia seus defeitos e seus erros. Mas por que ela não conseguia aceitar?

— Saiba —ele sussurrou, com seu hálito fazendo cócegas nas bochechas dela — que eu sempre estive aqui. Mesmo fazendo besteiras. — James fechou os olhos. — Mas... não sei se você quer isso. Quero dizer, admitir que me ama. — Abriu os olhos e suspirou. — Pense nisso.

Ele afagou o rosto de Lily e se afastou, para entrar novamente na torre.

— Eu não amo você — ela falou enquanto ele entrava. James parou.

— Pensa que eu não vejo? Depois daquele beijo, tudo entre nós mudou, Lily — James suspirou e não a olhou. — Ele não sabe, mas você realmente mente muito mal — e desapareceu pelo retrato da Mulher Gorda.

(...)

Amus beijava os ombros expostos de Lily, abaixando cada vez mais sua blusa da Grifinória. Ela tentava sentir alguma coisa, mas só lembrava do quanto os lábios de James eram mais precisos e mais finos; de como a umidade dos lábios de James era perfeita; de como as carícias eram mais... excitantes.

Era verdade, Lily Evans há muito deixara de sentir alguma emoção quando estava com Amus Digory. Ele não era James. As palavras de James assaltaram sua cabeça, fazendo com que Lily se esquecesse de Amus. Ela olhou para cima, lembrando do que Potter havia dito:

— Você mente muito mal, Lily Evans — ele explicou, ainda sorrindo. — Eu sei que você não quer terminar comigo, sei que quer continuar a sair comigo... mas ele sabe disso? Ele sabe que você nunca mais voltará para os braços dele? Ele sabe que sou eu quem sempre quis tanto você? Ele sabe que é em meus beijos e em minhas carícias que você pensa quando está com ele?

Ela engoliu em seco e voltou à realidade, quando chegou a uma reagião que nem James havia chegado. Pelo menos, James não ultrapassava os limites... ele a conhecia.

Lily empurrou Amus para longe, ofegando não por causa da carícia, mas porque estava nervosa. Ela não queria ele. Ela não queria mais os beijos dele. Que droga, a culpa era de James. Tudo era culpa de James Potter.

— Lil's, vamos lá — reclamou Amus, frustrado. — Estamos namorando há quase um ano! Não aguento isso, toda vez que você me afasta. Diga-me o que eu fiz de errado?

Lily colocou de volta suas roupas e o olhou, sentindo-se culpada. Ela estava tão vermelha e a expressão de Amus a estava matando. O que ela estava fazendo com ele?

Ela olhou para o lado e lembrou-se da raiva que sentira de James mais cedo. E compreendeu por que se sentira daquele jeito: porque James Potter tinha razão. Ela o amava. Talvez sempre o tenha amado. Lily queria chorar e livrar-se daquela culpa que a consumia por dentro. Culpa por traí-lo e culpa por não amá-lo da maneira que ele merecia.

Culpa por ter escolhido James Potter desde o princípio.

— Você não fez nada de errado - ela enxugou os olhos e olhou para Amus, que a fitava, esperando. — Eu fiz.

— Como assim? — Ele deu um passo para trás.

— Eu... eu não amo você, Amus. Eu não posso continuar enganando você — Lily fechou os olhos e suspirou. Quando os abriu novamente, disse: — Eu amo o Potter. Eu... me sinto horrível, mas isso me fez enxergar que eu não posso amá-lo do jeito que merece.

— Por que se sente horrível? — perguntou Amus num sussurro.

— Eu traí... eu traí você com ele. No Natal — ela olhou nos olhos dele, não podia desviar o olhar. Precisava ser corajosa, como a característica de sua Casa. Lily não tinha ido para Grifinória à toa.

Amus ficou tanto tempo calado, que Lily já estava começando a sentir as lágrimas caírem de seus olhos verdes com mais força.

— Nunca gostei da maneira que o Potter tentava conquistá-la. Sempre achei baixa demais, ridículo até — ele disse, por fim. — Mas... nunca esperei isso de você, Lily. — Mais lágrimas desceram pelo o rosto da Lily ao ouvir aquilo. — Só que eu sei que você não é esse tipo de pessoa, que faz isso para magoar... isso que eu aprecio em você: é corajosa e boa. E, se isso a faz feliz, saber que o ama... bem, o que eu posso fazer?

— Sinto muito — a voz dela estava embargada.— Detesto magoar você.

Amus deu uma risadinha.

— Você não gosta de magoar ninguém, Lily. Mas todos erram. E o seu erro fez você enxergar quem você ama. Prefiro que me diga isso, do que me enganar. — Lily assentiu, enxugando as lágrimas. — Espero que seja feliz, Lily Evans.

Amus hesitou, mas foi até ela e lhe deu um beijo na testa. Depois, saiu do quarto dos monitores, deixando Lily sozinha.

Ela ficou ali, recuperando-se. Quando se acalmou, sentiu seu corpo mais leve e pôde permitir-se sorrir. Ela riu, mas não deboche, mas de alívio. Agora ela podia sentir o amor que sentia por James Potter preencher todo o seu ser, fazendo com que sua respiração se acelerasse e o coração se enchesse de alegria.

Então Lily abriu a porta e saiu correndo, em direção ao salão principal. Ela correu por vários corredores, desviou de Pirraça e chegou derrapando em seu destino.

O salão estava cheio. Todos jantavam e conversavam e riam. Lily vasculhou a mesa da Grifinória e viu James sentado ao lado de Sirius, Pedro e Remus, de frente para Lene e Dorcas, suas melhores amigas. Eles não a viram ali, portanto a ruiva correu até o final da mesa de sua casa, onde eles se encontravam.

James estava certo quando dissera que somente ele a conhacia tão bem. Amus nunca a faria sentir-se assim. Ele era bom demais. James tinha defeitos demais. E era isso que o tornava mais humano e mais perfeito para ela. Amus nunca saberia disso, como a faria sentir-se amada.

Lily derrapou atrás dele.

— Lil's! — gritou Dorcas e James olhou para trás. Lily sorria.

Ela o puxou pelo colarinho da blusa. O óculos dele pendeu de seu rosto e tinha expressão confusa. Lily nem reparava que todos a olhavam.

— Potter, você é tão idiota!

— Eu já ouvi isso, Evans — ele ajeitou o óculos.

— Mas, dessa vez, é por me fazer amar você — ela respondeu e o beijou. James demorou apenas dois segundos para corresponder, abraçando-a pela cintura.

Uma chuva de palmas chegou até os ouvidos deles, que não sabiam de onde vinham. Apenas sabiam que tudo tinha valido a pena: cada briga, cada tapa, cada feitiço. Pois só uma pessoa conhecia Lily Evans. E o nome dele era James Potter.