Abro os olhos, mas continuo não enxergando nada. Não sei exatamente onde estou

ou como cheguei aqui, o que me dá calafrios. Lembro que meu pai sempre me dizia,

“entrar em pânico nunca ajuda em nada”, então respiro fundo e continuo andando,

com o maior cuidado, na esperança de que eu descubra onde estou e tentando não

cair em um abismo ou algo do tipo. Sinto-me cansada, como se estivesse acabado de

correr numa maratona e meu coração acelera a ponto de meu peito doer. Paro por

um segundo e fecho os olhos. E é nesse momento em que escuto um barulho, que

reconheço como sendo o som do meu despertador. E quando abro os olhos, estou de

volta em meu quarto.

Tenho tido esse tipo de sonho ultimamente. Minha tia acha que tem algo a ver com

a notícia de que daqui a dois dias eu vou mudar de país. Minha melhor amiga, Bonnie,

acha que a escuridão em meu sonho representa meu medo do desconhecido. Ela

acha que entende de coisas místicas, mensagens subliminares, fantasmas e até

mesmo bruxas e eu finjo que acredito junto. A única coisa que me tranquiliza sobre

essa viagem é saber que Bonnie vai comigo. Nós conseguimos bolsas de estudo na

Itália, o que é um máximo, no sentido de que nós vamos viver uma nova experiência,

mas apesar de eu estar animada com a viagem, a Itália não era bem o lugar pra

onde eu queria ir. Sem contar que meu italiano é uma negação, pra não dizer que ele

não existe.

Estou de férias, mas tenho compromissos “pré-viagem”. E quando desço as escadas,

vejo o café da manhã mais perfeito que a minha tia já fez.

-O que é isso? Já estamos comemorando minha partida? - Eu questiono, sorrindo.

-Não seja boba! Daqui a dois dias não vamos mais estar tomando café juntas, então

devemos aproveitar esses últimos momentos - Ela responde, com um olhar meigo.

-Jena, eu vou me mudar por dois anos. Não é para o resto da vida.

-Quando se tem 17 anos isso pode parecer pouco, mas não pra mim, será uma vida!

Faço uma careta e rimos juntas. Desde que meus pais morreram, Jena tem se

esforçado em cuidar de mim e do meu irmão, Jeremy.

-Onde está o Jer? - Pergunto.

-Ainda não saiu do quarto - Disse Jena, com um tom de voz mais baixo e desanimado. Pensei em chamar ele, mas ultimamente parece que a última coisa que ele quer, é contato social. Até com a gente, então não leve pro lado pessoal.

-Não tem problema, eu falo com ele depois. Jena, você tem certeza que é uma boa ideia eu deixar ele quando faz tão pouco tempo que...

-Nem pense nisso! - Sua voz se sobressaiu cortando a minha. Essa é uma grande oportunidade e eu não vou te deixar abrir mão dela. Sem contar que vai te fazer bem sair de Mystic Falls.

Tomamos café juntas enquanto ela me explicava tudo que vou precisar fazer hoje. Eu deveria passar na escola e pegar os papéis necessários pra iniciar os estudos no meu novo colégio, comprar os últimos utensílios que faltavam pra levar, passar no

banco pra depositar meu dinheiro ... Assim que terminei, fui me encontrar com a Bonnie, pra irmos juntas ao colégio.

-“Mademoiselle Elena Gilbert”! - grita Bonnie acenando do outro lado da rua.

-“Mademoiselle” é frânces, Bonnie. - respondo chegando até ela.

-Você sabe que não podemos chegar na Itália sem saber fala nada em italiano, não sabe?

-Você sabe que estamos indo pra uma escola AMERICANA na Itália, não sabe? - retruquei.

-Não vamos morar no colégio! - Bonnie tinha um tom desesperado em sua voz.

-Nossa, você parece mais nervosa que eu agora. Nossa língua é a mais conhecida. Todo mundo fala inglês. - tentei parecer calma, mas também estava preocupada com isso.

-Você imaginava que iriamos conseguir sair de Mystic Falls?

-Claro que imaginava! Eu só não sabia que seria antes de completarmos 18 anos.

-Eu pressinto que essa viagem vai ser a melhor de nossas vidas. - disse ela estampando um lindo sorriso.

-Você “pressentir” algo óbvio não vale, Bonnie.

-Foda-se! - ela dá de ombros e então sai andando.

Quando chegamos na escola, instantaneamente cai a fixa de que nunca mais estudaremos ali, de que não veremos mais nossos amigos de classe, não enfrentaremos os mesmos professores todo dia. Sinto como se esse fosse meu último ano escolar, mas não é. A diferença é que pela primeira vez, vou estudar em outro colégio e todo o nervosismo volta. A escola não parece a mesma, então

vamos até a diretoria e resolvemos o que temos de resolver o mais rápido possível. Passamos o dia fazendo tudo que estava na lista que a Jena me deu, e quando chego em casa, já está de noite e eu me sinto exausta. Subo as escadas e antes de chegar em meu quarto, vejo a porta do quanto do Jer aberta e paro na frente.

-Como foi seu dia? - pergunto no tom mais calmo do mundo.

-Não melhor que o seu. - ele dá de ombros.

-Jer, você acha que vai ficar bem comigo... Longe?

-Claro que eu vou. Não tenho mais 5 anos, Elena.

-Você entendeu o que eu quis dizer.

-Não é como se eu estivesse doente ou algo do tipo. - ele responde colocando fones

nos ouvidos.

Vou pro meu quarto depois de tomar um banho quente e finalmente sinto minha

confortável cama. “Também vou sentir sua falta”, penso eu. Fecho os olhos

desejando ter uma noite tranquila e sem sonhos. Meu desejo é atendido.