O dia enfim acabou, fui pra casa e tomei um banho longo. Assim que terminei me enrolei na toalha e voltei para o quarto, no momento exato em que meu celular começou tocar. Olhei no visor e era minha irmã.

Chamada On

– O que você quer, Bianca?

– Saber o que decidiram, daqui a pouco estou saindo para ir na casa do papai. – Suspirei

– Cara você não acha que está se intrometendo demais na minha vida? Esse problema não é seu, é um problema meu e do Pedro, você não tem o direito de ficar se metendo!

– K, estou fazendo isso pelo seu bem, tente entender! – Soltei um riso irônico

– Pelo meu bem? Assim como aquele maldita proposta que fez ao Pedro? Vocês dois me fizeram de idiota sem pudor algum! Sem pensar que eu poderia sair machucada!

– Isso faz 4 anos Karina, já pedimos desculpas

– E você acha que é assim? Que vou esquecer tudo num piscar de olhos?

– Ué, e não foi isso que você fez? Está até grávida dele!

– Isso não tem absolutamente nada a ver

– Ah, não?!

– Não, Bianca! Eu não estava sóbria, não sabia direito o que estava fazendo!

– Ok, mas eu não voltarei atrás. O que decidiram?

– Tudo bem, Bianca. Você ganhou uma chantagem, mas perdeu uma irmã

– Ka... – Joguei o celular contra a cama

Chamada Off

Senti que meus olhos estavam marejados mas não me permiti chorar. Limpei as lágrimas com os dedos, eu estava com tamanha raiva que precisava extravasar. Coloquei uma roupa qualquer e desci de escada até a academia do prédio e comecei a dar alguns golpes naquele saco azul.

[...]

Eram quase 5 da tarde do outro dia e mais uma vez estávamos em meio a uma discussão.

"Karina e Pedro?" Nossa chefe nos interrompeu

– Vem cá, ninguém nunca aprendeu que é falta de educação entrar nos lugares sem bater?

– Eu sabia que o senhor estaria aqui – Ignorou-me e foi logo se dirigindo a ele – Bem, eu vim trazer novidades

– Desculpe, mas agora não é o momento Clarissa, estamos resolvendo um problema – Falei forçando simpatia

– Eu acho que o que eu tenho a dizer vai diminuir a tensão – Tensão? Que tensão? Eu nao tô vendo nada de tensão aqui. Suspirei mantendo a calma

– Seja o que for, diga logo de uma vez – Pedro falou e eu tive de concordar

– Como eu disse, vendi as fotos de vocês para a Vogue do Brasil, e bom, estão querendo os lançar para a próxima edição da revista, ou seja, uma oportunidade de viajarem duas semanas para a Costa Rica com tudo pago por nós. - Meus olhos brilharam, uma chance que caiu do céu, era tudo o que eu precisava para despistar Bianca. Tudo bem que não era o Afeganistão ou um planeta em outra galáxia, mas já iria ajudar bastante. E ainda era uma viagem de graça

– Clarissa eu n... – Pedro foi dizer algo mas eu logo o cortei

– Aceitamos. – Os dois me olharam embasbacados como se aquela simples palavra pudera ser algo que nunca sairia da minha boca. E, convenhamos que, realmente era.

– Mas eu pensei que...

– Cala a merda da boca Pedro

– Me desculpe Karina, mas realmente e... – A interrompi também

– Olha eu sei que foi estranho eu ter aceitado e eu já estou me martirizando por isso mas o que custa uma viagem de graça e ainda ser paga por isso? – Dei uma risadinha falsa

– Sei... – Ela disse de uma maneira desconfiada – Bem, então temos uma reunião marcada para amanhã logo após o almoço. SEM atrasos

– Sim senhora – Pedro disse levando uma das mãos à cabeça fazendo um sinal e a mulher assentiu, logo em seguida desaparecendo no corredor.

– Karina, você tá bem? Tá com febre, sentido alguma coisa? – Ele se aproximou encostando sua mão quente em minha testa

– Aff, sai daqui! – Bati em seu braço fazendo com que se afastasse

– Grossa! – Fiz uma careta – Só queria saber se você está bem porque agora tem um mini eu na sua barriga

– O quê?! Deus me livre um mini mané dentro de mim, tem que ser igual a mim

– Uma mini esquentadinha? Cruzes, nem a pau! Já não aguento uma imagina duas? E ainda uma que não vai parar de chorar – Ele falou torcendo o nariz

– Ok, panaca, ok.

– Que história foi essa de aceitar a proposta?! Pelo que eu saiba você detesta bancar a modelo

– Larga de ser jumento e usa o cérebro! A Clarissa disse duas semanas fora, e a Bianca queria que ficássemos duas semanas vivendo juntos, é a desculpa perfeita! E é o tempo de ela tirar essa ideia maluca da cabeça.

– É uma boa. Mas e depois? Não dá pra esconder pra sempre

– Temos duas semanas pra resolver isso.

– Ok. Você que sabe. – Ele disse simples e abandonou a sala. Peguei o iphone dentro da bolsa e disquei o número do meu pai

Chamada On

– Oi filha

– Oi pai, tudo bem?

– Tudo, e ai?

– Está indo

– Yo, o quê está acontecendo, K?

– Nada demais, só alguns probleminhas, mas eu não liguei pra isso, é uma outra coisa.

– Sou todo ouvidos

– Pai eu vou precisar me afastar da academia por um tempo

– Como assim? Karina o que está havendo? – Bufei

– É que eu vou ter que fazer uma viagem a trabalho por duas semanas, e não vou poder dar aula e nem treinar, só isso.

– Tem certeza que é só isso? – Ele falou de maneira suspeita

– Sim, seu Gael.

– Quando você vai?

– Ainda não sei mas provavelmente até o fim de semana

– Ok, mas eu quero que você venha aqui antes de ir

– Claro né, pai! - Ele riu – Mas agora tenho que ir, tchau

– Tchau, K

Chamada Off

[...]

Os dias passaram rápido até sábado de manhã. Fomos com o carro da agência até o aeroporto onde fizemos o check-in e esperamos quase meia hora pra embarcar. O voo duraria em média de 2 horas e 30 minutos à 2 horas e 40 minutos. Por azar meu assento era com Pedro mas por sorte fiquei do lado da janela.

Eu estava insegura porque, já é de meu próprio organismo não me sentir bem em viagens de avião, agora então, não quero nem ver. Quando este começou a decolar foi de instinto eu agarrar a mão de Pedro. Infelizmente aviões são meu ponto fraco. Pude notar um breve sorrisinho em seu rosto

– Você tem medo de avião Esquentadinha?

– Quieto – Respirei fundo e apertei mais a sua mão, meus olhos estavam fechados.

– Fica tranquila, logo passa – Senti ele apertar minha mão também e fiquei um pouco mais segura. Logo um alívio enorme caiu sobre mim. Já estávamos voando. Só que eu sabia que hora ou outra eu iria passar mal, o que não demorou muito tempo para acontecer.

– Respira Karina, respira – Sussurrei para mim mesma

– Cê tá bem? – Ele perguntou

– Não. É normal eu ficar enjoada quando viajo de avião só que agora tá três vezes pior.

– O que eu posso fazer pra ajudar?

– Só fica quieto

– Ok. – Ele ficou em silencio por uns dois segundos

– Olha eu to me sentindo mal por ver você assim, alguma coisa eu posso fazer

– É, você pode. Pode me dar passagem

– O quê? – Perguntou me encarando com aquela cara de bocó

– Tira a porcaria da perna do meio do caminho antes que eu vomite em cima de você, e já vou avisando que não é nada agradável um vomitão nas alturas. – Ele tirou as pernas do caminho enquanto soltava uma risadinha e eu me apressei até o banheiro botando tudo pra fora. Lavei a boca com água corrente, abri minha necessárie e peguei meus produtos de higiene bucal. Assim que terminei encostei na parede respirando um pouco ofegante. Ouvi baterem na porta

– Esquentadinha, tá tudo bem? – Era ele do outro lado da porta

– Tá... – Respondi assim que abri a mesma

– Tem certeza? você tá meio pálida

– Já falei que acontece sempre, daqui a pouco passa, vamos voltar – Ele assentiu e retornamos em silêncio até nossos assentos.

Recusei toda comida que foi oferecida pra evitar a piora da situação. Foi um voo bem estressante, só me distrai um pouco quando coloquei os fones e fiquei ouvindo minha playlist repetidamente umas quatro vezes.

Meu estômago embrulhou no momento que o avião estava aterrissando mas contrai todos os meus músculos e comprimi os olhos durante esse tempo, geralmente ajuda. Assim que coloquei meus pés em terra firme uma sensação de leveza atingiu meu corpo.

– Melhorou? – Perguntou o aspirante a roqueiro perto do meu ouvido me fazendo dar um pulinho.

– Argh seu... – Fui xingá-lo quando uma voz me interrompera

"Karina e Pedro?" Um caara de cabelos louros e olhos negros nos perguntou. Foi involuntária a mordiscada no meu lábio inferior. De fato ele era lindo.

– E você, quem é? – Perguntou estupidamente o idiota ao meu lado

– Larga de ser grosso, moleque – O repreendi. O mesmo lançou-me um olhar indignado e olhou para o cara a nossa frente com desdém

– Eu sou Caleb

– Nome estrangeiro, legal.

– Meus pais são norte americanos – Pedro revirou os olhos

– De volta a pergunta, quem é você?

– Sou um dos modelos da Vogue mas viajei como fotógrafo. Houve um pequeno problema com o motorista e eu me ofereci

– Hm

Depois de pegarmos nossas malas seguimos até uma Land Rover preta e fomos até o hotel em que iríamos ficar.

"VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO, NÉ?!" Berrei irritada

– Tem alguma coisa errada, nós não somos namorados

– Me desculpem, foi o que passaram a mim. E depois de olhar as fotos eu, eu realmente achei que vocês fossem algo um do outro porque estavam tão em sintonia... – A mulher dizia um pouco perdida

– Chama-se atuar, já ouviu falar?

– Karina, segura esse forninho – Revirei os olhos

– Lamento, mas não há mais quartos disponíveis no hotel

– O QUÊ?! Como assim "não há mais quartos disponíveis no hotel"? Olha o tamanho disso aqui! – Falei fazendo aspas

– Realmente, não tem como isso estar lotado – Pedro concordou

– O que sugerem que eu faça?

– Ah faça-me o favor! Vocês fazem a merda e nós que temos que resolver?! Ai... – Senti uma tontura e coloquei a mão na testa

– Tá vendo, sua maluca?! Senta aqui – Ele me deu uma bronca e me guiou até uma poltrona

– Ela está bem? – A mulher perguntou preocupada

– Ela parece bem pra você? - Ele foi seco e até eu estranhei.