Bad Love escrita por Jess Gomes


Capítulo 1
Capítulo 1




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Capitulo 1

- Sinto muito, querida, mas eu não posso te ajudar. – Mamãe falou do outro lado da linha, e eu senti vontade de gritar.

- O quê? Mãe, eu vim até o centro só pra entregar os papéis de divórcio no meu pai porque você não quer ver ele. E agora está dizendo que não pode vir me buscar? – Apertei o telefone com mais força. Não estava acreditando que minha mãe me deixaria presa aqui no centro.

- Por que você não pega um ônibus?

- Eu já tentei dona Marta, mas não há ônibus nessa cidade hoje porque os motoristas estão em greve, esqueceu? – Bufei, apoiando-me na vitrine de uma loja. A rua estava lotada de gente, e ninguém parecia se importar com a pobre adolescente que não tinha como voltar pra casa.

- Eu posso tentar, Milena, mas duvido que meu chefe irá permitir que eu saia agora. Tenho uma reunião daqui a meia hora. – Respondeu. – Caso eu não consiga, terá de ir a pé.

- A pé? Mas a nossa casa é do outro lado da cidade! – Exclamei, indignada. – Quer saber, mãe? Esquece, eu me viro. – Desliguei o telefone antes que ela pudesse dizer algo. Peguei minha carteira e contei o dinheiro. Não dava nem pra um táxi, já que minha casa era muito longe. Frustrada, sentei-me no chão e enfiei minha cabeça entre meus joelhos dobrados.

- Ei mocinha. – Alguém chamou, mas eu não levantei a cabeça, afinal, tinham centenas de mocinhas nessa calçada. – Ei você, tá precisando de ajuda? – A voz estava mais perto e eu enfim percebi que era comigo. Levantei o rosto e dei de cara com um homem parado perto de mim.

- É da sua conta? – Retruquei, seca. Sabia que estava sendo ignorante, mas não confiava em estranhos, nem mesmo quando eles eram bonitos, como é o caso do colega aqui.

- Uh, calma, esquentadinha. – Ele colocou as mãos na frente do corpo, e fez um careta que se eu não estivesse ofendida pela “esquentadinha” teria achado fofa. – É que eu ouvi você falando com a sua mãe, e bem, como eu estou indo pro outro lado da cidade, achei que poderia te dar uma carona. Enfim, fiquei com pena de você. Mas esquece.

- Ei, espera. – Chamei, quando o cavalheiro já estava se virando pra ir embora. Ele parou. - Como eu posso saber se você não é um assassino killer que vai me levar pra uma casa no meio da mata e me torturar? Eu nem sei o seu nome.

- Bom, isso você vai ter que pagar pra ver. – Ele riu e em seguida estendeu a mão para mim. – Aliás, meu nome é Daniel.

- Milena. – Respondi, dando a mão pra ele. Mas ao invés de me cumprimentar, como eu esperava, Daniel puxou a minha mão e me levantou.

- Anda logo, não tenho todo o tempo do mundo pra esperar a mocinha decidir se quer carona ou não. – Falou, enquanto me guiava.

- Quanta educação... – Murmurei. Chegamos a uma parte do meio fio aonde só havia motos, e eu o encarei confusa. – Cadê seu carro?

- To de moto. – Respondeu simplesmente. Eu arregalei os olhos.

- O que? Eu não vou subir em uma moto, nunca na minha vida!

- Tem medinho? – Ele arqueou as sobrancelhas, me fazendo bufar.

- Eu não tenho medo, só não confio no motorista. – Rebati, as mãos na cintura. Sabia que estava agindo como uma criança, mas aquele cara me tirava do sério.

- Então fique sem carona. – Deu de ombros, me deixando sozinha na calçada e caminhando em direção à moto vermelha. Batendo o pé, eu fui atrás. – Coloque o capacete. – Daniel ordenou, assim que sentei na moto. Quando não fiz menção de me mover, ele suspirou, levantando de seu lugar e vindo até mim. Eu tentei recuar, afinal capacetes me davam claustrofobia, mas ele me obrigou, colocando as mãos nos dois lados do meu rosto e enfiando o capacete na minha cabeça a força.

- Bruto. – Resmunguei, enquanto ele prendia as cordinhas do capacete no meu pescoço.

- Mimada.

- Mimada é a sua...

- Quantos anos você tem, 10? - Me interrompeu, se acomodando de novo na moto.

- Falou o vovô. – Zombei, irritada. Quem era ele pra me chamar de criança?

- Eu tenho 25 anos. – Respondeu, como se tivesse falando que tinha 78. Rolei os olhos.

- Oh, desculpa ai, mestre dos magos. –Daniel me ignorou completamente e deu partida. Assustada, me segurei fortemente nele, mas sua risada fraca me acordou. Soltando-me, tentei não cair da moto, agarrando as barras de metal que tinha atrás de mim.

Com muito esforço, consegui chegar à minha casa. Daniel parou de implicar comigo, então educadamente guiei-o pelo caminho. Porém quando eu desci da moto, as gracinhas recomeçaram.

- Eu não tenho medo, só não confio no motorista. – Ele me imitou, fazendo uma voz que era pra ser minha. – Isso explica o porquê de você ter tremido o caminho inteiro?

- Bom, como eu disse, não confio no motorista. Estava com medo que você nos matasse. – Expliquei, impaciente. – Muito obrigada pela carona, até nunca mais.

- Quer saber, eu nem devia ter perdido meu tempo dando carona pra uma pirralha mimada como você. – Elevou o tom da voz para que eu o escutasse, já que estava a alguns metros de distância. Indignada, me virei.

- Escuta aqui, camarada, eu não obriguei você a me dar carona. Você que se ofereceu. – Falei, arqueando as sobrancelhas. Qual o problema desse cara?

- Pois é, eu fiquei com pena de você. Parecia tão bonitinha falando no telefone com sua mãe, toda indefesa sem ter como voltar pra casa. Ai eu quis pagar de herói. Mas deveria ter ficado quieto na minha, já que, obviamente, indefesa é a última coisa que você é. – Zombou, encostando-se à moto. Por um momento, perdi o foco. Daniel estava extremamente sexy com aquela cara de irritado, o cabelo loiro escuro bagunçado por causa do capacete, enquanto segurava o mesmo debaixo do braço. Balançando a cabeça, me obriguei a esquecer desses pensamentos.

- Desculpa ter te decepcionado, cara. Foi mau ai se eu não fui a princesa indefesa que fica eternamente grata pelo herói tê-la salvado e lhe dá um beijo de agradecimento. Acontece que isso aqui é o mundo real, e eu to mais pra bruxa do que princesa. – Dando uma piscadela pra ele, me virei, pisando duro até a porta de casa. Ouvi o barulho da moto arrancar, mas não virei pra trás. Respirando fundo, prometi a mim mesma que esqueceria aquele cara.

- Então, como foi o dia de vocês? – Mamãe perguntou horas depois, enquanto jantávamos. Ela nos olhava com aquela cara de “conversem comigo, somos melhores amigas!”. Não.

- Aprendi a contar até mil em francês hoje. – Minha irmã mais nova, Mariana, respondeu. Ela era tipo o gênio da família. Todos a viam como um anjinho, mas eu sabia que aquela criança era o diabo encarnado.

- E você, querida? – Dona Marta se virou pra mim, sorridente.

- Bom. – Falei simplesmente, encarando minha macarronada. Mas era óbvio que mamãe não pararia ali.

- Como voltou pra casa? – Fez a tão temida pergunta. Porém eu nem tive tempo de inventar nada, porque Mari logo se adiantou.

- Ela pegou carona com um motoqueiro.

- Você o quê? – Mamãe gritou.

- Quem te falou isso, sua pirralha? – Me virei pra minha irmã, fuzilando-a com os olhos.

- Ninguém me falou. Eu vi. – Sorriu maldosamente. Eu disse que essa menina era uma diabinha.

- Milena, como assim você pegou carona com um estranho? Você sabe o quanto isso é perigoso, principalmente numa cidade tão violenta quanto São Paulo!

- Ah, mãe, corta essa, foi você mesma que me disse pra vir a pé. Uma garota andando sozinha do centro até aqui é tão perigoso quanto pegar carona. – Rolei os olhos. Mamãe apertou os lábios até formar uma linha fina, e sem desgrudar os olhos de mim, se dirigiu a minha irmã.

- Mariana, vá pro seu quarto. Preciso conversar com a sua irmã. – Ela ordenou. Risonha, Mariana levantou-se da cadeira. Fora da visão da nossa mãe, ela fez um sinal de que eu havia me ferrado. Discretamente, lhe devolvi um dedo do meio.

- O que eu faço com você, Milena? – Mamãe começou, quando estávamos sozinhas. Eu suspirei.

- Calma, tá dona Marta? Ele nem era um desconhecido. – Menti, querendo amenizar a situação.

- Não? – Ela arqueou as sobrancelhas. Eu assenti.

- O nome dele é Daniel. Ele... Ele faz curso de inglês comigo. – Continuei, olhando-a nos olhos pra ela ter certeza que eu estava falando a verdade. Aprendi isso com o passar do tempo.

- Tudo bem, então ele era um conhecido. – Respirou fundo, suavizando a expressão. – Mas e se não fosse? E se fosse um pedófilo, um psicopata, Milena?

- Mãe, eu estou viva, não estou? Então esquece isso. – Levantei-me, pegando meu prato e o colocando na louça. – Papai me fez uma proposta hoje.

- Que proposta?

- Quer que eu trabalhe com ele. – Respondi sem olhá-la, já que estava lavando meus talheres. – Como jovem aprendiz. Ele tá contratando pessoas novas, e disse que adoraria me ter como funcionária. Eu teria um salário. – Sorri com a ideia.

- Eu acho isso ótimo. Quem sabe não coloca algum juízo nessa cabecinha? – Me abraçou por trás, cutucando minha cabeça com o dedo. – Diga a ele que eu concordo.

- Por que você mesma não diz? – Me virei pra ela, de repente.

- Milena, eu...

- Não, mãe, sério. – Interrompi, cansada de toda essa lenga-lenga. – Já está na hora de vocês dois pararem de agir como crianças.

- Filha, você sabe que não é fácil pra mim, depois de tudo que seu pai fez. – Me encarou magoada. Por um momento eu pensei em parar, mas pensar em minha irmã mais nova foi o que me fez continuar.

- Eu não estou pedindo pra vocês conversarem como marido e mulher. Estou pedindo pra vocês conversarem como pais! – Exclamei. – Mãe, eu sei que o que o papai fez com você é imperdoável, e eu até entendo a separação. Mas a Mari só tem 12 anos. Ela não entende porque os pais se separaram, e porque de uma hora pra outra eles começaram a se odiar. Como você espera que ela amadureça, se os próprios pais estão agindo como dois adolescentes?

- Ok, Lena, você está certa. – Se aproximou de mim, sorrindo fraco. – Vou conversar com seu pai a respeito desse emprego.

- Ótimo. Posso ir? – Me afastei pronta pra ir pro meu quarto.

- Espera ai mocinha. – Ela chamou e eu me virei, fazendo cara de anjo. – Você não esperava que eu deixasse essa história de carona em branco, né?

- Mas mãe...

- Não, Milena. – Me interrompeu séria. Eu bufei. - Até você começar a trabalhar, é de casa pra escola e da escola pra casa.

- O quê? Mas e os meus amigos? É aniversário da Laura esse sábado. – Reclamei. Como assim ela ia me deixar de castigo só por causa de uma carona? Eu iria matar a idiota da minha irmã.

- Paciência. – Mamãe suspirou. – Isso é pra você aprender a tomar cuidado. São Paulo é uma cidade perigosa.

- Ok, mãe. – Rolei os olhos, cansada daquela discussão. – Posso ir pro quarto?

-Pode. – Mal fui dispensada, sai correndo escada acima, indo direto pro meu quarto. Quando cheguei, tranquei a porta e me joguei na cama. Dava pra acreditar no dia de hoje? Primeiro recebi uma proposta pra trabalhar com meu pai, depois conheci um homem lindo, mas irritantemente insuportável, e agora minha mãe me colocava de castigo. Mas era óbvio que eu não ia ficar em casa nesse sábado. Era a festa de aniversário de Laura, uma das minhas melhores amigas, e ela garantiu que Antônio, minha paixonite desde o sexto ano, estaria lá. Nunca que eu perderia a chance de ficar com ele de novo. Eu iria dar um jeito de enganar minha mãe, ou não me chamava Milena Vasconcellos.


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Notas finais do capítulo

Oooooi gente! Então, aqui estou eu, postando mais uma história minha. Ela ainda é muito recente e eu estou só no começo, então não sei se vai dar certo. Como eu não tenho muito tempo pra escrever e não estou tão na frente assim do capítulo 1, não sei quando vou postar o segundo capitulo. Mas provavelmente vou falar na nota de Why Cliché?, então, fiquem de olho lá ;) bjs, espero que gostem!