A estação de King Cross não tinha mudado nada. Os mesmos trouxas apresados, os mesmo vendedores ambulantes, os mesmos guardas chatos e mal educados. O bom de toda essa correria era que os trouxas ficavam tão afobados que não reparavam na multidão de pessoas estranhas passando dentro de uma parede todo dia 1 de setembro.

_ Você não acha que está produzida demais para a viagem de trem? – minha irmã pergunta enquanto travessamos a multidão de pessoas até a plataforma. Eu apenas reviro os olhos e mentalmente concordo com ela. Sim, eu estava muito produzida, mas isso aqui na França era a vestimenta básica. Um vestido roxo florido, sandálias plataforma nude, um casaco bege por cima e os cabelos presos em um tradicional rabo de cavalo. Depois de uma semana descansando eu voltei a caprichar na maquiagem, coisa que eu demorei a pegar o jeito.

_ Não fale assim Vicky. – meu irmão diz puxando o carrinho com os malões. – É melhor ela se vestir como uma patricinha do que como um moleque como quando éramos pequenos.

_ O amor de vocês por mim é comovente. – exclamo os fazendo rir. – Porque você está aqui mesmo Vicky? – pergunto só para implicar.

_ Porque eu amo vocês ué! – ela diz como se fosse algo obvio. Na verdade nossos pais estavam presos em uma emergência na Gringotes e sobrou para a Vicky ser o adulto responsável por mim e Louis.

Entramos na passagem discretamente, por mais que os trouxas nem sequer reparavam em nós, e logo entrei na tumultuada e caótica plataforma 9 3/4. Era estranho pensar que na última vez que estive aqui eu tinha 11 anos, e agora eu tenho 17. E céus, como eu mudei.

_ Acorda Domi! – Vicky diz ao meu lado e percebo que viajei em pensamentos. – Agora escutem os dois, eu preciso ir logo então... Juízo, se cuidem, estudem bastante, nada de arrumar confusão...

_ Sério Vicky? – meu irmão a interrompe revirando os olhos. – Eu já tenho 14 anos, Domi tem 17... Sabemos nos cuidar.

_ Ok Senhor. – Vicky diz rindo e puxando Louis para um abraço. – Bom ano!

_ Obrigado, a gente se vê. – ele diz sumindo da minha vista em um piscar de olhos.

_ Para onde ele foi? – indago confusa e Vicky ri ainda mais.

_ Nosso irmão sabe ser escorregadio... Mas seja esperta Domi, eu quero saber tudo sobre a vida amorosa dele para deixa-lo envergonhado no Natal. Me mantenha informada. – ela diz dando uma piscadela.

_ Você é impossível. – exclamo rindo. – E como ainda não percebeu quem é o amor do nosso irmão? É tão obvio!

_ Então você já sabe? – ela indaga com os olhos brilhando.

_ Sei, mas agora eu tenho que correr e colocar meu malão no bagageiro porque nosso lindo irmão levou só o dele. Que cavalheiro... – digo olhando desgostosa para o enorme malão. – Tchau Vicky.

_ Tch... NÃO! Espera! Você não disse quem é a paixão do Louis! – ela grita nervosa.

_ Uma dica, ela é nossa prima e passa muito tempo com ele. – respondo e ela abre uma expressão de triunfo.

_ Claro... - Vicky sussurra animada. - Mas agora, sério, Domi... - ela abre um sorriso meigo e segura meus ombros. - Se divirta e aproveite! E tente fazer alguns amigos e...

_ Não será como antes, prometo. - digo lhe tranquilizando e lhe dou um abraço. - Tchau.

_ Tchau. - ela diz se afastando e logo sumindo também.

Desvio até o trem passando as rodinhas do malão por uma centena de pés deixando os donos deles furiosos. Já estava ofegante quando cheguei no meu destino.

O único problema é que eu tinha que levantar o malão para dentro do trem... E isso não era muito fácil.

Coloquei toda minha forma na alça mas o malão nem sequer desgrudou do chão. Ok, plano B. Me agachei pegando o fundo do malão e forcei para ele subir, consegui uns cinco centímetros de altura até minhas mãos escorregarem e eu prever meus pés sendo esmagados. Meus olhos já até se fecharam prevendo o desastre quando o malão se torna incrivelmente leve sobre meus braços. Pensei que tinha adquirido super poderes do nada mas ao abri meus olhos eu só vi que na verdade alguém mas forte pegou meu malão e colocou com facilidade no bagageiro e fazendo parecer uma fracote.

É claro que tinha que ser ele. O que ele estava fazendo aqui? Não queria "manter distancia", e não ser meu amigo e blá, blá, blá eu sou um idiota?

_ Hãm... Obrigada... – digo meio incerta e James apenas me encara por um instante.

_ O trem já vai partir. – ele diz limpando as mãos na calça. – Não sei como é lá na França, mas aqui se você não tiver dentro, fica para trás. Ninguém te espera princesinha.

_ Nossa, sua boa educação durou incríveis quinze segundos! – exclamo arregalando os olhos exageradamente. – Isso é um recorde James, parabéns!

_ Eu te salvei aqui, então cala a boca. – James rebate passando por mim e indo para a entrada do trem, mas ao perceber que não o segui ele se vira. – Não vai vir?

_ Se importa? – indago cruzando os braços.

_ Não, se quiser fica aí. – ele responde dando de ombros e indo embora. Bufo frustrada e saio pisando forte. Entro no trem segundos antes dele dar a partida e agradeço pelo minha sorte.

*

_ Onde você estava? – Rose pergunta assim que eu os acho em uma cabine e me jogo ao seu lado. Na cabide estavam Molly, Fred, Lucy, Louis, Hugo, Alvo, Lily, Roxanne, James e Rose. Como cabiam todos ali? Não faço ideia.

_ Procurando por vocês. – respondo me ajeitando. – Essa cabine é quase no fim do trem e para chegar aqui eu passei por um monte de gente que me olhava torto, um grupo de meninas que estavam claramente invejando meu vestido e inúmeros garotos que me passaram cantadas idiotas.

_ Digo quem eram esses idiotas que eu vou lá tirar satisfação. –Fred diz se fingindo irritado. Só fingindo mesmo. – Ninguém mexe com minha priminha!

_ Aposto que os idiotas são amigos seus Fred. – Molly comenta desviando os olhos da janela. – Parecem fazer o mesmo tipo.

_ Ha há, nossa Molly, como você é legal e hilária... só que não. – Fred rebate emburrado e nós todos começamos a rir.

_ Vem cá, vocês costumam viajar sempre assim juntos? – pergunto para Rox que estava na minha frente.

_ Ah não, essa imagem de família unida e feliz acaba em poucos minutos. – ela responde dando de ombros.

_ Bom, eu vou indo. – James diz se levantando e Rox me olha como se dissesse “Não te disse?”. – Tenho que encontrar uns amigos meus.

_ Mas é claro que tem.- murmuro meio que para mim mesma mas logo reparo que todos me escutaram, inclusive James que me olhava confuso. – Que foi? Perdeu algo na minha cara?

_ Você é maluca. – ele diz balançando a cabeça e abre a porta da cabine ao mesmo tempo que alguém força a porta por fora. James grita e recua de susto pisando no meu pé, infelizmente.

_ Cara, você grita igual uma garota. – Aaron diz no lugar do comprimento enquanto James se recupera.

_ Eu não gritei, Dominique que gritou. – James resmunga.

_ Eu não gritei! – exclamo. – Você esmagou meu pé, mas eu não gritei. E sim, você grita igual uma garota.

_ Ui, toma James! – Aaron diz rindo e sendo empurrado por James em seguida. – Ai!

_ Vamos logo.... Fred? – James chama e o moreno se levanta espreguiçando.

_ Sento muito querida família, mas o Fredinho aqui tem assuntos para tratar. – Fred diz dando uma piscadela e indo embora com James e Aaron.

Com um pouco mais de espaço Alvo e Roxanne se ajeitaram no banco. Rose abriu um livro que parecia ser chato e Molly não parecia aberta a conversa pois também lia uma revista. Louis e Lucy conversavam dentro da sua bolha particular, então me restou atrapalhar o casalzinho feliz dali.

_ Então, Lily e Hugo... – começo chamando a atenção deles. – A quanto tempo estão juntos?

_ Quase um ano. – Lily responde sorrindo. – Ele me pediu depois de ter tido uma crise de ciúmes enorme só porque eu estava conversando com um menino.

_ E vão realmente manter isso em segredo? – indago apoiando meu queixo nas mãos.

_ Por um tempo... – Hugo diz meio nervoso. – Talvez mais um ano...

_ Mais um ano? – Lily repete soltando o pescoço do ruivo e colocando as mãos na cintura.

_ É, você sabe Lily....

_ Não, não sei...

_ Ótimo, eles não vão parar tão cedo. – Alvo diz girando uma carta de sapo de chocolate nos dedos. A carta mostrava a foto do Tio Harry, e se isso era estranho para mim, devo imaginar que Alvo ache sinistro. Alvo também não tinha seguido a tradição e ido para a Grifinória. Ele era da Corvinal, assim como Lucy. Ninguém da Sonserina, eu na Lufa-Lufa... Nossa família finalmente estava começando a se misturar.

O chapéu seletor não teve duvidas em me por na Lufa-Lufa de novo quando eu experimentei dois dias atrás, depois dos meus NOM’S. Os testes foram ótimos, até porque a educação na França é bem mais avançada... Nada contra a Inglaterra mas, é a verdade.

_Eu vou indo. – Molly diz suspirando. – Obrigações de Monitora chefe. – ela passa por nós com a pior das animações e vai embora.

_ Ela parece tão animada com o título não é? - Alvo ironiza.

_ Não sei porque ri, ser monitor é desgastante. - Rose diz atras do livro. Ela era monitora da Grifinória também. Na nossa familía apenas Vicky, Molly e Rose foram monitoras. Lucy e Louis tinham potencial para tal também. Eu, com certeza, não queria isso e graças a Merlin não tinha como ser monitora.

_ Weasleys, Potters! – alguém diz abrindo novamente a porta da cabine e chamando nossa atenção. Considerando os cabelos loiros e o porte de galã combinados com a careta de Rose aquele na minha frente era Scorpius Malfoy.

_ Scorpius, onde estava que só surgiu agora? – Alvo indaga mexendo as sobrancelhas sugestivamente.

_ Ah, Alvo... Você nem imagina... – Scorpius diz suspirando e bagunçando os cabelos lisos que voltavam pro lugar sem esforço. Os Potters deviam ter inveja desse cabelo tão arrumado. – E quem é essa deusa loira?

_ Dominique Weasley. – digo demorando uns segundos para entender que ele falava comigo. Vi o rosto de Rose se avermelhar levemente e sorri pensando em como me divertir com a situação. – E você é o tão famoso Scorpius Malfoy...

_ Famoso? – ele pergunta meio confuso mas ainda ostentando a pose de conquistador.

_ Sim, muito famoso... Ouvi muito sobre você. Rose fala muito de você na verdade... – respondo trocando um olhar com Rox que quase explodia segurando o riso. Rose quase explodia também... Quase explodia minha cabeça.

_ Olha, mas que revelação. – Scorpius diz abrindo mais o sorriso e encarando Rose. – Não sabia que gostava tanto de mim Rosie.

_ Já disse que pra você é Weasley. – Rose silva visivelmente irritada. – E Dominique está exagerando.

_ Claro, claro... Cuidado Rosie, não é saudável reprimir um sentimento como o amor. – a loira profetisa.

_ E você sabe tudo sobre amor reprimido não é? – Alvo solta encarando Scorpius que de repente se mexe desconfortável.

_ Vamos embora logo daqui. – ele murmura e se vira, não sem antes pegar minha mão e beijá-la. – Foi um prazer conhecê-la Dominique... Logo que vê que o gene da beleza nas Weasleys se manifesta mais em umas no que em outras. – ele dá uma olhadela em Rose e vai embora com Alvo.

Lily, Hugo, Louis, Lucy estavam de fora de toda a conversa, e Rox não é uma pessoa muito observadora então acredito que fui a única a ver os olhos marejados de Rose.

_ Rose, quer ir comprar uns doces comigo? - pergunto parecendo despreocupada e ela assente com a cabeça se levantando.

_ Ei, trás uns sapos de chocolate para mim. – Rox diz.

_ E feijõezinhos. – Hugo continua.

_ E alcaçuz. – Lily diz junto com Lucy.

_ Se tiver diabinhos de chocolate pode trazer pra mim. – meu irmão pede, vulgo manda.

_ Só isso? Não desejam mais senhores e senhoritas? – pergunto carregando no sarcasmo e puxo Rose para fora.

Os corredores não estavam tão cheios, mas decidi andar um pouco por eles até achar um lugar mais calmo.

_ A mulher deve estar no inicio no trem. – Rose murmura atras de mim e decido que ali está bom.

_ Rose, eu não quero comprar doces, olhe para mim. – ela obedece meio confusa e hesitante. – Eu percebi que você ficou chateada com o que o Scorpius disse agora a pouco...

_ Eu não ligo para o que Malfoy acha ou deixa de achar. – ela explode com a voz tremula. – Ele é só um idiota, imbecil, babaca, galinha...

_ Eu não acho que ele disse aquilo por mau... Sabe, sobre a genética das Weasleys e tudo o mais.

_ Ele está certo não é? – Rose diz dando de ombros. – Olhe para você e olhe para mim... Você é linda, parece uma modelo. E eu sou uma nerd ruiva e sem graça...

_ O que? Rose, pelo Amor de Merlin! – exclamo segurando seus ombros. – Tem noção do quanto já invejei você? Ou seus cabelos? Eles são lindos e Você é linda!

_ Só diz isso porque se sentiu culpada, mas não precisa...

_ Eu juro, você é uma linda, super inteligente, divertida e... gostosa garota. – digo fazendo ela rir. – É sério, se eu fosse homem eu seria louco por você!

_ Ok, para... Já ficou estranho. – ela diz entre risos e funga me encarando. – Você está sendo sincera? Mesmo?

_ Mesmo. – digo a abraçando. – Agora, sinceramente, pare de se diminuir ou dar ouvidos a qualquer um que diga que você não é bonita. Não é bom ficar acreditando nessa besteiras. E saiba que eu sempre vou estar aqui para te ajudar ok? - ela afirma com a cabeça sorrindo. - E quanto ao Malfoy...

_ Não quero falar nele. – ela diz rápido mas eu me afasto com um largo sorriso.

_ Ele gosta de você! – afirmo sorridente e vejo seus olhos me olharem descrente.

_ Ele me chamou de feia na cara dura, brigamos direto, nunca conseguimos conversar... Você nunca leu minhas cartas? Nós não nos suportamos! Ele me odeia!

_ A uma linha tênue entre ódio e amor. – digo a frase clique e o nariz de Rose franze. – Ok, esquece... Mas ele gosta de você.

_ Você é doida. – ela afirma por fim rindo da minha animação.

_ Não, eu só fiquei animada. Ele é um idiota, mas gosta de você. Um romance assim tão confuso. Vocês se odeiam, se amam... Podemos fazer um nome para os dois... Roscorpius! Não... Scose.. não... JÁ SEI! Scorose! É gostei! – digo seguindo ela pelo corredor e capto um pequeno sorriso dela o que já me deixa contente.

Mas é claro que não ia durar. Meu sorriso diminui drasticamente com a cena que eu vejo a seguir, no meio do corredor.