Por Experiência Própria?

— Extremamente atraente essa agente Starling, não? – cantarolava Frederick Chilton, deitado na cama de Hannibal.

O canibal estava atado a uma espécie de carrinho de ferro enquanto limpavam sua cela, podendo ser levado para onde quer que o diretor quisesse. Num pulo, Chilton ficou em pé e passou a andar em torno de Lecter.

— Extremamente atraente, mas, aposto que você já colocou sua garras para fora, não? – ele era um abutre, rondando-o como se fosse superior ao doutor.

— Igualmente, Frederick – sua boca contorceu-se num sorriso por trás da máscara. – Se eu fosse você, eu cuidaria. Miggs engoliu a língua por apenas alguns murmurinhos meus e, creio eu, que a cabeça dele era mais firme que a sua.

O funcionário auxiliar aumentou o aperto das amarras em torno de Hannibal e Chilton empinou o nariz, ignorando sua provocação. Ele havia descoberto que Clarice tornara-se um ponto fraco para Lecter, apesar de não muito profundo. Um novo caminho para explorar.

— Vejo que alguém quer ficar sem seus livrinhos... – cantarolou novamente. – Ah, pare de enrolar, Hannibal. – inclinou-se para cima do serial killer e sussurrou – Aposto que você já deve ter imaginado-a em diversas situações.

Quando Chilton pronunciou seu nome com um sorriso sacana – como se fosse íntimo o suficiente para isso -, Lecter olhou-o atravessado. Quando novamente falou de Clarice, ele controlou-se. Não daria mais motivos ao idiota para importuná-lo.

— Me diga você, Frederick. Está falando isso por experiência própria?

Suas bochechas queimaram. Por fim, Chilton o olhou nos olhos e sorriu. Fora um ato alfa, para mostrar quem realmente mandava ali. Deu meia volta e anunciou ao funcionário auxiliar:

— Tire todos os desenhos e seu material de estudo. Creio que ele já tem muito no que pensar.

Na visita seguinte de Clarice, quando ela perguntou o que havia acontecido com suas coisas, preferiu apenas referir-se ao diretor como um babaca, pois a realidade não poderia ser dita: ele havia realmente pensado muito na agente Starling.