Acordei com um barulho metálico irritante vindo da porta do meu quarto, quando pulei da cama para descobrir o que era vi minha tia batendo duas frigideiras, uma contra a outra.

–Como posso ajudar?-disse em um tom irritada amarrando meu roupão e calçando minhas pantufas

–Era uma vez uma garota que foi abusada pelo pai... Ela fugiu e ficou na friendzone com um garoto extremamente lindo- ela puxou a cortina e uma claridade entrou bruscamente pela janela do meu quarto

–O-oque?- franzi o cenho e fechei meus olhos, aquela claridade toda parecia queimar minha retina

–Para encurtar a historia, ele morreu e eu sou legalmente responsável por você- ela puxou um papel do bolso- Bom, você ainda é menor de idade e isso significa que eu tenho que te oferecer: teto, comida, cama, escola, rim...- dei risada ao ouvir aquilo- Ontem eu recebi uma carta do juizado e eles exigiram que você voltasse a escola o mais rápido o possível. Me desculpe, mas eu fui obrigada a te colocar em... Sweet Amoris...

–Merda!-exclamei- nem fodendo que eu volto para aquele inferno

–Um dólar no pote do palavrão!- Encontrei dentro de uma calça a nota de um dólar e coloquei a nota dentro de uma xícara que estava ao lado do pote do palavrão (tanto a xícara quanto o pote já estavam transbordando com as notas)- Eu não tive tempo para pesquisar sobre outra escola, tinha que ser a Sweet Amoris e... A Ambre não esta mais lá, vi hoje cedo no jornal. E você não tem mais cancer, não há o que temer...

Droga! Ela sempre fora muito boa com a sua persuasão, ela tinha rasão o bicho papão não esta mais lá, porém acabei de me lembrar que o bicho já havia sido eu.

Revirei meus olhos e ela entendeu como um "Ok"- Te espero lá em baixo em quinze minutos então- ela disse, então saiu do meu quarto.

Subitamente me joguei em cima da cama, inacreditável, era a palavra que resumia tudo.

...

Lá estava eu..
Lá estava eu parada em frente a porta da escola... Calça jeans preta, All Star vermelho com um belo salto Anabela embutido, usando uma blusa cinza e uma touca de mesma cor. Eu não queria chamar atenção, minhas épocas de fazer isso foram embora à muito tempo.

Abri a porta e entrei, novamente recebi olhares curiosos e ouvi alguns sussurros eu odiava aquela sensação... Pessoas te olhando torto e ainda por cima falando mal de você.

Por pura ironia fiquei com meu antigo armário que ficava ao lado de Ambre e respectivamente de Li e Charlotte. Procurei por todos os lados por Charlotte, depois de um tempo eu a avistei fazendo algo improvável: falando com alguém. Ela possuía um sorriso amistoso enquanto conversava com uma garota ruiva acho que Iris era seu nome, notei que Charlotte não usava mais sua tipica roupa verde com marrom, desta vez ela vestia uma saia preta que ia até os joelhos, salto preto, regata branca e uma jaqueta jeans, seu cabelo estava lindamente solto... As coisas mudaram muito desde que Ambre foi presa.

Charlotte se despediu da garota ruiva com um aceno, aquele sorriso ainda não havia saído de seu rosto, assim que ela me viu o sorriso ficou um pouco menor, fiquei indiferente indiferente e continuei (re)organizando meus livros, cadernos e etc.

–Oi, fico feliz que você esteja melhor...- Charlotte pronunciou baixo, mas perecia mais um sussurro

–Ah, vai se fuder Charlotte!-Aparentemente comecei meu dia irritada- Até parece que você não lembra o que me causou!- bati a porta do armário com força o que rapidamente atraiu alguns olhares curiosos

–E-eu sinto muito pela maquiagem de cicatriz- ela olhou profundamente em meus olhos- A Ambre me forçou a fazer aquilo, mas não se preocupe eu já pedi para que Peggy retirasse os cartazes

–Cartazes?

Charlotte abriu a boca para me responder, porém o sinal tocou de forma estridente fazendo com que os corredores ficassem desertos e Charlotte fosse para a sala de aula sem me dar nenhuma resposta. Fiz o mesmo que ela e fui para sala de aula.

...

As aulas foram passando lentamente e meu desinteresse só aumentava e em tudo que eu conseguia pensar era nos beijos de Collin e no próprio Collin, ele possuía um efeito extremamente forte sobre mim, se eu pensasse nele por muito tempo eu até podia sentir seu perfume...

P.O.V Ambre

Sai de uma cela para entrar em outra: minha casa-e que casa- mas tenho que admitir que era melhor do que nada.

Papai saiu apressadamente para ir trabalhar e mamãe disse que ia no Shopping comprar roupas novas, então a casa era apenas minha. Até que ouvi um barulho forte vindo dos quartos, subi as escadas segurando uma panela; o barulho vinha do quarto de Nathaniel, entrei bruscamente e entrei em estado de choque, tapei minha boca com as duas mãos e deixei a panela cair no chão, causando um forte estrondo.

–N-Nathaniel o-oque aconteceu com você?- mesmo que eu não quisesse meus olhos marejaram.

A cena era horrível Nathaniel estava horrível: um olho estava inchado enquanto seu outro olho estava roxo, seu lábio estava cortado e ainda saindo um pouco de sangue, seu nariz parecia ter sido quebrado e realocado no lugar, ele possuía cortes e arranhões por todo o seu rosto, todos cheios de sangue.

–Você aconteceu!- Nathaniel não parava para falar, ele ia pegando algumas roupas do seu guarda-roupas e colocando em uma mochila

–O que eu fiz?- ele ficou de costas para mim e foi pegar algo em sua gaveta, pude ver uma mancha de sangue em suas costas- Nate tem...Tem sangue nas suas costas

–Que ótimo- Nathaniel desabotoou sua camisa e a jogou no chão, suas costas estavam horríveis, marcas roxas e mais arranhões e cortes, ele vestiu outra camisa

–Pelo menos deixe eu limpar esses machucados- eu não conseguia me mexer

–Ambre, foda-se os machucados eu vou embora- ele entrou no banheiro e passou uma água em todos os machucados que estavam em seu rosto

–Por que você vai embora?

–Porque seu pai é um lunático, imbecil e babaca capaz de usar soqueira no seu próprio filho, apenas porque eu não queria que ele burlasse duas ou três leis para que você fosse solta antes da hora- Nathaniel colocou a mochila nas costas, pude ver que ele fez uma cara de dor, contudo ele não tirou a mochila, passou por mim e desceu as escadas.

Fui correndo atras dele tentando impedi-lo, mas ele não parava ele abriu a porta da frente e saiu, continuei tentando impedi-lo, ele não me ouvia, assim que ele pisou na calçada minha tornozeleira começou a apitar. Nathaniel fez algo inesperado, me abraçou, ele disse que nunca voltaria e me empurrou para o gramado, fazendo eu cair e também fazendo com que a tornozeleira voltasse a ficar verde.