911? Mataram a Minha Noiva escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Bonnie e Clyde




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Tive a remota noção de que falavam comigo. Meus ouvidos captavam o leve soar de meu nome repetidas vezes, mas meu corpo não exercia nenhum movimento que comprovasse meu entendimento. Fechei os olhos com força, contendo o lamento que por pouco não escapou de meus lábios. Uma apresentação macabra de slides se repetia em minha mente.

Sangue. Morte. E a ausência do anel.

Tocaram em meu braço com a ponta dos dedos, como se hesitasse antes de me liberar daquele pesadelo. Porém o juiz não teve a mesma consideração ao bater com o martelo contra a mesa e me fazer abrir os olhos, sobressaltado. Os pelos de minha nuca se arrepiaram com tantos olhares acusatórios em minha direção. Eles vinham de toda direção, sempre evidenciando seus pensamentos.

Assassino.

Nunca fui uma pessoa que se intimidava com facilidade. Em meu trabalho, não poderia me dar esse luxo. Só que era exatamente isso que estava acontecendo comigo. Meus ombros encolhidos, mãos fechadas em punho e boca pressionada em uma linha rígida. Tudo isso explicitava o desespero dentro de mim.

“Ashton”

Ergui meus olhos na direção da única pessoa que não estava ali para me acusar. Hanna Cooper sorriu com seus lábios pintados em um rosa claro, tentando me passar parte de sua confiança. Como minha advogada – e ex-namorada da época do colégio – ela estava lutando com unhas e dentes para provar minha inocência.

“Como você se declara diante da acusação de matar Nóelle Campbell, Senhor Ashton James?”, o juiz perguntou impaciente. Apostava que não era a primeira nem a segunda vez que ele repetia essa pergunta.

“Inocente, Meritíssimo”

Minha voz estava trêmula, tanto de dor – por escutar aquele nome novamente –, quanto de raiva pela palavra matar anteceder seu nome. O juiz fez algumas considerações finais e – como eu já imaginava – ficaria preso até pegar a quantia de cem mil dólares. Dinheiro que, obviamente com meu salário de policial, eu não tinha.

“Vou recorrer.”, Hanna prometeu juntando seus papéis. “Não se preocupe, Ashton. Vou fazer tudo dar certo.”

*******************

Ficar um tempo na cadeia me deu bastante tempo para pensar. Isso foi uma coisa positiva e negativa. Positiva, pois não fui perturbado e abordado com perguntas idiotas sobre os motivos e meu álibi. Porém, todas as vezes que fechava minhas pálpebras pesadas por noite insones, o rosto angélico de Noélle invadia meus pensamentos.

“Somos nós dois contra o mundo, Ash.”, Élle gritou para o nada, abrindo os braços enquanto andava na beirada do rio Sena. “Pare de ficar tão apreensivo com essas possibilidades doidas.”

Minha tensão era aparente, mesmo que seu sorriso estivesse me dizendo que era besteira. Noélle era uma bailarina experiente, não cairia. Agarrei minhas calças jeans, retendo a vontade de tirá-la dali.

“Élle.”, murmurei tentando disfarçar meu desespero. “Por favor.”

Ela revirou os olhos castanhos.

“Ok.”, deu um salto elegante e caiu em meus braços – que já estavam prontos para recebê-la – sorrindo. “Sempre querendo me tirar da beira do precipício, hein, Senhor James.”, franziu o cenho fazendo um bico em seguida. “Isso é porque não quer nenhum suicídio nas mãos enquanto estiver de férias?”

Bufei, apertando seu corpo magro contra o meu.

“Só não quero te perder, Noélle.”, confessei, sentindo o sentimento tomando-me de um jeito arrebatador. Meus dedos acariciaram suas costas. “Pessoas normais tem medo do momento em que a morte chegar. Eu tenho medo que a morte me leve depois de você.”

Seus dedos roçaram em minha bochecha.

“Você não vai me perder, Ash.”, sussurrou e forçou um pequeno sorriso. “Somos nós contra o mundo.”, repetiu. “Não importa o que ele planejar.”

Soquei a cama com raiva da dor que fazia meu peito latejar e dificultava o fluxo de ar em meus pulmões. Não tinha mais forças para chorar. Em meu sangue havia apenas o veneno amargo da vingança. Tanto que o destino tinha brincado com minhas emoções, me dando a oportunidade de sentir, apenas para arrancar tudo de meus dedos. E não fui capaz de fazer nada.

“James, você tem visita.”, o carcereiro me informou.

Contrariado, levantei-me da cama e sentei apenas para encarar os olhos tristes de Hanna. Fiquei sério, mantendo minha expressão neutra e espantando aquele mar do meu interior. Tinha que me focar no agora. Para poder provar minha inocência e me vingar de quem tinha matado Noélle.

“Alguma novidade?”, perguntei duro.

Os olhos azuis de Hanna observaram minha cela e as condições prematuras em que eu me encontrava.

“Como você está?”

Balancei a cabeça.

“Alguma novidade?”, repeti rígido e quase em um rosnado. Ela recuou, surpresa pela ferocidade em minhas palavras. “Acho que você não estaria aqui caso não tivesse.”

Hanna retornou á sua posição inicial, assumindo o ar profissional. Seus cabelos loiros presos em um coque ordenado e os olhos azuis tornaram-se frios e especulativos. Como uma verdadeira advogada. Quase não reconheci aquela mulher como sendo a que tinha se declarado para mim na época da escola.

Ela assentiu.

“Estou providenciando sua liberação, para que você possa aguardar o julgamento fora daqui. Você não tem parentes vivos, ou próximos. E nem um emprego bom o suficiente que lhe der dinheiro para uma fuga.”, deu de ombros e o sorriso tímido retornou. “Desculpe, mas essa é a verdade, Ashton.”

Passei a língua pelos lábios, pensativo.

“E pra quando você acha que consegue isso?”

Hanna estalou a língua.

“Um ou dois dias.”, estreitou os olhos. “O que você está aprontando?”

Virei-me, sem realmente prestar atenção ao lugar á minha volta. Escutei Hanna recuperando o fôlego, pronta para me questionar, então ergui minha mão, a interrompendo. Movi meus dedos como um sinal de dispensa. Pensei que ela insistiria, porém fui despertado dos devaneios pelo som de seus saltos se afastando.

Deitei-me novamente, encarando o teto branco e deixando minha mente trabalhar em meus primeiros passos ao sair daquele lugar.

Dois dias, Élle. E eu te vingaria.

*****************

“Hey, Ashton, acho que você não deveria estar aqui.”

Ignorei o comentário óbvio de Connor, indo me sentar na minha mesa de trabalho. Todos me encaravam abismados enquanto eu desarrumava tudo procurando por um documento importante. Um documento que tinha recebido instantes antes de ser preso e não tive a chance de abrir.

“Onde está a necropsia do corpo de Noélle?”, perguntei sem tirar os olhos de minha mesa. O silêncio fez as acusações mentais se tornarem explícitas. Soltei o ar e fechei a gaveta com força. “Estão realmente achando que eu matei minha noiva? A única mulher que consegui amar em todos esses anos?”, questionei em voz baixa. Perifericamente pude ver algumas pessoas negando. “Estamos juntos á anos e nunca dei razão para duvidarem de mim. Agora, onde está a necropsia de Noélle?”

A permanência do silêncio me deixou ainda mais frustrado. Só que antes que pudesse me erguer, bater as mãos na mesa ou me exaltar, Connor pôs uma das mãos em meu ombro e me estendeu uma pasta. Seus olhos escuros demonstravam solidariedade e companheirismo que compartilhávamos nesses anos trabalhando juntos.

“Obrigada.”, peguei a pasta e respirei aliviado. “Você quem está cuidando desse caso?”

Connor assentiu.

“Sim.”, ele olhou discretamente para a sala ao nosso redor e estalou a língua, desaprovando. Abaixou-se ao meu lado, reduzindo sua voz á murmúrios. “E acho que precisamos conversar em particular.”

Me levantei, seguindo-o até sua antiga sala e o vi fechando a porta atrás de si. A elegante sala era toda enfeitada com mobílias de mogno e as paredes pintadas em um vermelho vibrante, como se Connor quisesse dar vida á um lugar que carregava tanta morte. Nos sentamos e ele se inclinou na minha direção, sério.

“Acho que encontrei a prova que te tira da lista de suspeitos.”, declarou, pausando para observar minha reação. Arregalei os olhos e meu peito ficou mais leve. Não só por aquela notícia, mas por saber que alguém acreditava em minha inocência. “Tinham te incriminado por conta de indícios de uma segunda pessoa no apartamento onde apenas vocês dois tinham a chave.”

“E por minha chave estar dentro do apartamento.”, acrescentei. “Só que tinha esquecido as chaves em casa naquele dia. Estava atrasado para o trabalho e...”

Connor ergueu uma mão, me interrompendo.

“Não se preocupe, não precisa se justificar. Pelo menos não comigo.”, ele pegou outra pasta e a abriu na mesa. Quando a foto de Nóelle se tornou visível, tive que engolir a seco. “Essa é uma cópia.”, esclareceu. Apontou para anotações caprichadas nas últimas linhas. “O pessoal da perícia encontrou rastros de batom na segunda taça que estava na mesa de centro. Noélle estava com uma mulher.”, estreitou os olhos. “Você tem certeza que...?”

“Noélle não estava tendo um caso.”, disse com firmeza. “Isso é uma pista contra o verdadeiro assassino.”, virei a pasta na minha direção. “Sete facadas...”, sussurrei para mim mesmo e fechei os olhos, retendo as imagens antes que me atingissem fisicamente. “Quem poderia ser tão cruel com uma mulher tão bondosa?”

Estava virando as páginas da pasta e vendo as fotos do corpo de Nóelle. A mesma mulher que tanto tinha me jurado amor, sendo exibida de um jeito tão evasivo e monstruoso. O sangue manchando o tapete e sua boca sem vida. Os olhos escuros encaravam o nada, frios e vazios, presos no segundo em que tomou seu último fôlego.

Minhas mãos tremiam e minha respiração se tornou ruidosa. Tinham destruído uma peça essencial de minha vida, apenas para torná-la a principal atração de meus pesadelos. Um zunido irritando entrava em meu ouvido, fazendo-me tomar consciência de que Connor falava comigo. Encarei-o.

“Quem fez isso tinha muito ódio de Élle.”, ele suspirou triste. “Tem certeza que não se lembra de ninguém que poderia ter feito isso?”

Neguei ainda atordoado com tudo que tinha visto.

“Vamos encontrar esse filho da mãe, Ashton.”, Connor prometeu me dando dois tapas leves no braço. Não senti-os. “Não se preocupe com isso.”, ele se levantou indo colocar a pasta no arquivo. “Se encontrássemos uma explicação plausível para as suas digitais na arma do crime...”

Algo instalou em minha mente.

“Connor?”, chamei-o. Ele parou seus movimentos e arqueou uma sobrancelha, gesticulando para que eu continuasse. “Deixe-me ver as anotações da perícia novamente.”

**********************

Estava preparado para bater na porta pela terceira vez quando Hanna finalmente a abriu. Seu corpo alto e esbelto coberto por um roupão vermelho e os cabelos loiros presos em um coque frouxo, indicando sua saída apressada do banho. Ela me olhou de cima a baixo e franziu o cenho.

“O que você descobriu?”

Era incrível o quanto ela me conhecia mesmo depois de tantos anos.

“Posso entrar?”, olhei para o corredor, com medo de que os vizinhos escutassem. Ela assentiu e recuou, dando-me espaço para entrar. Passei a mão por meus cabelos, perdido com tudo o que rondava minha mente. “Connor me mostrou as fotos de Noélle e – por Deus – são horríveis. Tantos anos vendo corpos não me preparam mentalmente para isso.”

Hanna suspirou, botando uma das mãos em meu ombro e me dando um olhar terno. Dei um sorriso falso e toquei seu rosto com a ponta dos dedos. Vi os pelos de seu braço se arrepiando levemente.

“Pelo menos ainda tenho você.”, ressaltei vendo sorrir. “No meio de tanta desgraça uma coisa boa aconteceu. Podemos nos reaproximar.”, surpreendo-a, a abracei, apertando seu pequeno corpo contra o meu. Ela ficou tensa por alguns minutos até que soltou o ar e acariciou minhas costas. “Me diz o que me fez desistir de você na época da escola.”

Ela balançou a cabeça, confusa com tudo o que estava acontecendo.

“Não sei, Ashton.”, ela sussurrou pesarosa. “Estávamos bem até aquela sua viagem á França. Depois só desabamos.”, ela hesitou e engoliu a seco. “Só queria que tivéssemos terminado de um jeito mais amigável.”

Segurei em seus ombros para poder olhar em seus olhos azuis.

“Acho que teremos essa chance agora.”

Beijei-a.

********************

“Você não dorme nunca?”, Hanna disse mexendo em meu peito com a ponta das unhas. Tirei os olhos de meu celular por alguns segundos e dei um meio sorriso. “Larga esse celular, James.”

“Tudo bem.”, dei de ombros e digitei mais algumas coisas antes de o por na cômoda do lado da cama. Rodeei o pequeno corpo de Hanna com os meus braços e coloquei meu nariz em seus cabelos. “Você não mudou nada, Hanna.”, murmurei, escutando seu riso. “Quando nos reencontramos, achei que tinha se tornado a mulher mais independente do mundo e veja a facilidade com que caiu em meus braços.”

Ela afastou o rosto para que eu pudesse vê-la revirando os olhos.

“Vou encarar isso como uma coisa boa.”, beijou a ponta do meu nariz e suspirou. “Ainda sou eu, Jay.”, ela evidenciou me chamando como antigamente. “Só queria que você enxergasse isso e pudéssemos seguir em frente. Desde que nos vimos naquele café, eu percebi que nunca te esqueci...”

“Vou pagar a conta.”, Élle disse se levantando.

Antes que eu pudesse reclamar e lhe dar o dinheiro, ela já tinha se misturado em meio ao mar de pessoas que estavam apressados para voltar ao seu trabalho. Suspirei, bebericando o restante do meu café e observando cada um. Limpei as mãos no guardanapo, pronto para me levantar quando reconheci um rosto sorrindo em minha direção.

“Não acredito.”, Hanna Cooper veio em minha direção com os braços abertos em um convite implícito para um abraço. Aceitei-o. “Quem é vivo sempre aparece, não é Ashton James?”, ela riu.

Cocei o cabelo, constrangido.

“Que surpresa, Hanna.”, disse com sinceridade. Apreensivo, olhei para os lados esperando que Noélle demorasse um pouco. “Como tem andado? Faz quantos anos que não nos vemos?”

“Sete, Ash. Sete anos.”, ela balançou a cabeça fazendo com que alguns fios dourados se soltassem de seu coque. “Consegui me formar em Direito.”, mexeu na bolsa e me estendeu um cartão. “Ligue-me caso precise de algo.”

Soltei um riso baixo.

“Acho que isso será difícil de acontecer.”, comentei. Ela levantou uma sobrancelha. Limpei a garganta mais algumas vezes. “Sou policial, Han. A última coisa que vou precisar por um longo tempo será de um advogado. Mas aceitarei seu cartão caso algum amigo precise.”

Ela assentiu consigo mesma.

“Quem diria que aquele garoto que me levava para matar aula quase todos os dias, iria se tornar policial.”, divagou e piscou seus grandes olhos azuis. Suas bochechas assumiram um tom de corado. “E você está sozinho?”

Antes que pudesse respondê-la, senti um braço envolvendo o meu. Um sorriso involuntário cruzou meus lábios e toda a apreensão desapareceu instantaneamente. Élle encarou Hanna com diversão e voltou sua atenção para mim, me estendendo o recibo do cartão.

“Hanna Cooper, essa é minha noiva, Noélle Campbell.”, apresentei as duas.

Han ficou estática por um segundo e estendeu a mão na direção de Élle, envergonhada por sua pergunta anterior. Minha noiva – não sabendo do que acontecia – sorriu e a cumprimentou com mais... intimidade. Minha ex-namorada ficou surpresa ao ser abraçada por Élle e nem deu tempo de retribuí-lo.

“Podemos ir?”, perguntei.

“Claro, meu amor.”, Élle concordou, então parou olhando para Hanna. “Mas vocês não querem ficar mais um tempo conversando? Para por o papo em dia. Posso ir para casa sozinha...”

“Não precisa.”, Hanna interrompeu saindo de seu estado de choque. Limpou a garganta por conta da voz rude. Forçou um sorriso. “Já estava de saída. Meu horário de almoço termina daqui a pouco. Foi bom te rever, Ashton.”

“Foi bom te rever também, Hanna.”

“Foi assim que você pegou as minhas digitais?”, perguntei sem hesitar. Hanna arregalou os olhos, se sobressaltando com a minha acusação. “Com a xícara que eu estava tomando café.”, continuei divagando e a observando minuciosamente. “Você esperou que fôssemos embora e pegou, não é Han?”

Minha advogada começou a balançar a cabeça e me encarar incrédula.

“O que você está fazendo, Jay?”, questionou. No segundo seguinte, balançou a cabeça, desistindo da resposta e se levantou para vestir o seu roupão. “Depois de tudo o que fiz por você, não acredito que tem coragem de me acusar.”

Levantei-me também para vestir minha cueca e minha calça. Continuei falando enquanto isso com o restante de calma que ainda ousava me tocar. Exatamente como eu fazia ao interrogar um suspeito.

“Encontraram batom na taça do acompanhante de Nóelle, Hanna.”, revelei, vendo seu corpo se tencionando. “Exatamente o mesmo batom que você usou no julgamento.”

Ela fechou os olhos com força.

“Isso não é prova suficiente.”, respondeu entredentes. Agarrou as laterais do roupão e respirou ruidosamente pelo nariz, como um animal ameaçado.

“Sete facadas, Han.”, acrescentei. “Sete anos separados.”

Hanna piscou os olhos por alguns instantes antes de me encarar. Dei um passo para trás, reconhecendo aquela expressão. O ódio estampado em seu rosto era um reflexo de sete anos atrás, quando terminamos. Quando ela chorou e disse que eu me arrependeria por aquilo.

“Você não aguentou ver que eu estava feliz, não é? Queria que eu sentisse a mesma dor que você sentiu quando terminei com você e sumi. Que eu perdesse algo importante e não tivesse nenhuma maneira de recuperá-la. Noélle era uma pessoa de bom coração, então obviamente deixaria você entrar no apartamento. Aposto que vocês conversaram sobre o passado e tudo mais. Nunca te contei o que havia acontecido na França, mas Élle deve tê-lo feito.”

Hanna pôs as mãos na cabeça.

“Pare.”, pediu.

“Ela contou do dia em que nos conhecemos no museu. Que eu estava perdido e mal sabia falar direita em francês. Como ela chegou e foi minha tábua de salvação. O jeito que nos aproximamos e me entreguei sem pensar nas consequências.”, pausei, vendo-a se encolher. “Quando não pensei em você, Hanna.”

“Jay, por favor.”

“Tenho que te parabenizar pelos planos. Pegar minhas digitais, observar meus horários e a chave que esqueci... Oh, aquilo foi golpe de sorte, não foi, Han? Você deve ter pensado que Deus estava do seu lado naquele momento. O que você disse para Noélle para poder ir a cozinha pegar a faca? Que iria pegar mais vinho? Que tinha se sujado e pegaria uma toalha? E o primeiro golpe?”, parei ao perceber que estava gritando. Respirei fundo, tentando recuperar a postura. “Deve ter sido na garganta, para que tivesse a certeza que ela não gritaria e nem iria reagir.”

Pulei em cima da cama e parei em frente a ela. Hanna tremia e seu rosto estava pálido, mas não havia nenhum indício de lágrimas ou remorso. O problema principal não era o de ter sido descoberta, e sim de ter sido descoberta por mim. Ela se debateu, tentando se libertar de meu aperto e a sacudi.

“Eu só não sei o que desencadeou isso, Hanna? O que ela te disse para que seu alvo mudasse? Era para me matar, não á Noélle.”

Hanna parou de se debater e me encarou com raiva. Então – para minha surpresa – começou a gargalhar. Seus olhos azuis pareciam gelo, tamanho era a frieza que exalava. Ela deu um passo para trás, se livrando de minhas mãos, mas o sorriso maquiavélico permanecia em seus lábios.

“Esqueci-me o quanto você é esperto, Jay.”, ela levantou uma sobrancelha. “Mas você errou dessa vez. O alvo era Noélle desde o início. Queria ter preparado tudo com mais calma para que ela morresse de um jeito menos... brutal. Talvez até mais teatralmente. No dia do casamento, por exemplo. Só que eu... perdi o controle.”, passou a longas unhas pelos cabelos, tentando ordená-los. “Aquela vadia não tinha o direito de dizer que te amava. Muito menos que achava que estava grávida. Menos ainda de me convidar para ser uma das madrinhas, já que eu era tão próxima de você. Não sabe o prazer que eu tive cada vez que a faca entrava naquela vaca.”

Meus olhos se arregalaram e quase vomitei de nojo.

“Você é louca.”, andei até o outro lado da cama e peguei o celular desligando a gravação. “Minha vontade é de atirar em você, porém isso seria muito fácil. Quero que sofra e veja o quão sozinha vai se tornar.”, disquei o número de Connor. “Pode vir, já tenho todas as provas.”

“Estamos subindo.”, ele respondeu e desligou.

Hanna permaneceu me olhando com adoração e nenhum traço de remorso tocou seus olhos. Ela só ficou parada, esperando enquanto os policiais entravam e a algemavam. Seus olhos não desviaram de mim em nenhum segundo, mesmo quando Connor repetia os seus direitos. Apenas quando estavam a levando para longe de mim, ela reagiu.

“Jay, não se esqueça.”, gritou e tentou se desvencilhar do policial. Tentativa falha. “Fomos feitos um para o outro. Bonnie e Clyde, meu amor.”


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