Havia uma silhueta. Curvilínea. Pequena. Delicada. Perfeita.
Estava em frente a uma das janelas, usando de seus antebraços pra se apoiar no parapeito, e ficar mais próxima do vidro quanto possível. A noite tornava-se cada vez mais escura, enquanto os segundos tornavam-se passado. Apenas as estrelas iluminavam os terrenos, já que nem mesmo a Lua parecia se achar digna para o presente momento de desespero da garota. Mas nada disso parecia interferir no transe pessoal que ela estava. Os olhos verdes, geralmente tão prestativos e ávidos, estavam mortos. Vazios. Escuros. Tristes. Perdidos no horizonte.

— Faz o que aqui, a essa hora? Sabe que para alguém te encontrar é fácil, e sabe que receberia uma detenção. — Por um instante, o coração da moça gelou. Até reconhecer a voz. Virou-se, piscando várias vezes, e se deparou com outra silhueta. Alta. Musculosa. Segura. Bonita. Tentou engolir o nó que se formava em sua garganta, para respondê-lo. Ou melhor dizendo, questioná-lo.

— Como descobriu? — Passou as mãos pelos braços enquanto observava. O menino mostrou um pedaço de papel grosso e dobrado, com um sorriso torto nos lábios. Sua marca registrada. Ela assentiu, entendendo. Ele sempre teria um olho nela, afinal, não? Enquanto os dois se encaravam, Lily teve um daqueles momentos do passado. Ficou a relembrar. Sete anos haviam se passado, e apenas neste mesmo eles conseguiram ficar juntos.

— Agora pode me dizer o que está havendo? — Ele se pronunciou, aproximando-se dela. E não houve como segurar as lágrimas. Quando os braços fortes e conhecidos envolveram sua cintura, e seu rosto afundou no peito dele, o desespero fluiu para fora. Sempre se sentia segura aninhando nos braços dele. Não conseguia se fazer de inocente, mentir ou dissimular. Ele sempre sabia se algo estava errado. — Vamos, Lily, eu não gosto de vê-la assim. — Insistiu, apertando-a contra si.

— James, James, James. — Ela murmurou baixinho o nome do namorado. Ele parecia tão irreal. — Eu não sei. Esse é o problema. Não sei! — Parecia exasperada. Agora que começara a falar, as palavras vinham, despejadas sem dó. — Eu sinto como... Como se um buraco fosse abrir a qualquer momento no meu peito. Como se um pequeno parafuso estivesse faltando, e sem mais nem menos, meu corpo todo pudesse se desfazer. Sinto que quando eu menos esperar não irei parar de chorar até a última gota de água do meu corpo sair em forma de lágrima. Sinto como se nada mais fizesse sentindo. Como se nada valesse a pena. Sinto que eu estou vivendo em um sonho de outra pessoa, uma marionete sem pensamentos próprios. E quando... Quando eu olho pra frente, não vejo nada. Não vejo um futuro! — Ela se mexia, encolhida contra o menino. Tomando fôlego, continuou. — Você sabe o meu jeito, estou sempre planejando meu próximo passo. Mas agora, quando eu olho pra frente, não consigo planejar nada! É como se... Se... Como se algo muito, muito, muito ruim estivesse prestes a chegar em mim. E eu não poderei fazer nada. Nada. — Parou de falar, seu peito subindo e descendo com força. Ouve um minuto de silêncio, onde James apenas fizera carinho nos cabelos da amada. Até que ele soltou um riso. Ela levantou os olhos, assustada.

— Lily, não importa. — Ele murmurou. — Não importa nada disso. Vocênãoprecisa tentar planejar seu futuro, e sabe porque? — Ela negou, parecendo uma criaturinha assustada e sem dono. — Porque eu vou estar ao seu lado. Seu futuro me pertence. E por enquanto, que tal deixá-lo nas minhas mãos? Eu lhe prometo, com todas minhas forças, que cuidarei muito bem dele. — Sua voz se elevou, e os dois se encararam. — Lily, você é minha. Seu passado sempre me pertenceu. Seu presente? Meu. Seu futuro também é meu. — Ele findou, depositando o mais leve beijo de todos nos lábios rubros da garota. — Te prometo que cuidarei de você até meu último suspiro, minha Lily.