Uma lança de cor azul gelo se choca com o chão espelhado no qual eu
observava meu reflexo tentando compreender o porque estava naquele
salão, não consigo lembrar de nada, minha mente esta vazia e me sinto estranha a cada vez que observo as estranhas criaturas conversando. Por um certo tempo procuro entender que tipo de criaturas seriam aquelas, pareciam ser criaturas místicas ou algo de outro mundo. Asas, orelhas pontudas, chifres, patas de animais em pessoas aparentemente normais, começo a me sentir confusa até que meu olhar se mantém fixado em uma mulher, uma mulher com a aparência semelhante a minha. Sua pele é pálida, seus olhos eram azul escuro, não parecia ser muito alta. Atrás do comprido e largo vestido podiam-se ver asas, não pareciam ser asas de mentira pois também conseguia-se ver que estavam cravadas em suas costas, sua cor e estado estavam desgastados por alguma razão. Ela está sentada em uma das mesas próxima de duas criaturas que conversavam entre si, seu olhar correspondia ao meu e algo me fazia não querer desvia-lo, começo a sentir coisas estranhas daquele olhar, algo como raiva, tristeza e vingança. Até que seu olhar é direcionado para outro lugar e procuro segui-lo. Um grupo de seres com asas e orelhas pontudas está sentado em uma comprida mesa conversando e remexendo uma pilha de papéis, depois de algum tempo todos olham para mim com uma expressão de desapontamento.

–Baseado nas leis de nosso mundo, você desobedeceu a mais grave das leis e agora terá que cumprir com as consequências.

Antes que eu conseguisse entender o que o homem havia falado sinto uma forte aflição percorrer meu corpo por completo, a lança havia quebrado o chão espelhado transformando-o em milhões de cacos dando-me a visão de um portal logo a baixo de mim. Apenas posso ouvir alguém dizer 'ninfas não possuem alma e coração de humanos'. Minha visão permanece escura e nada mais.

Meu corpo e minha cabeça doem e tento abrir meu olhos devagar procurando saber aonde estou pois o lugar que estou tem um cheiro insuportável, ao conseguir abrir meu olhos pareço estar dentro de um tipo de 'caixa grande' cheia de coisas aparentemente estragas, isso deve explicar o cheiro ruim. Tento levantar-me mas meu corpo doí muito então mantenho apenas meus braços e cabeça do lado de fora da grande caixa procurando por algo ou alguém que pudesse me ajudar, alguns minutos se passam e consigo avistar um homem.

–EI! VOCÊ AÍ! Tento gritar o máximo que minha voz aguenta.

–Hum? O homem se vira para o beco aonde estou e caminha com passos lentos até mim.

–Será que você pode me ajudar? Eu não consigo sair daqui e não sei exatamente aonde estou.

–Hum... Não. O homem vira e volta a seguir seu caminho.

–PERAÍ! EI! VOLTA AQUI! É SÉRIO, EU NÃO CONSIGO SAIR DAQUI, SEU... SEU MAL EDUCADO.

–O que disse? Ele vira-se novamente para mim e sua expressão é séria e fria, novamente em passos lentos ele se aproxima de mim oferecendo uma de suas mãos.

–Era só dizer por favor. Diz o homem calmamente.

–E não foi o que eu fiz? Digo com um jeito impaciente.

–Acho que a pessoa mal educada aqui é você, nós nem nos conhecemos e você já fala assim com as pessoas?

–Não... É que... Certo, me desculpa, não fui minha intenção ter falado desse jeito com você. Eu estou muito confusa com tudo. Eu estava em um salão enorme cheio de criaturas estranhas e do nada uns caras falaram algo de quebrar leis e eu ter que cumprir com as consequências e então o chão quebrou e eu caí dentro de um portal e agora a pouco estava dentro dessa caixa enorme cheia de coisas estragas e com o cheiro horrível.

–Ér.. Você quer dizer lixão? Diz ele parecendo estar confuso com a história toda que havia acabado de contar.

–Então essa caixa enorme se chama lixão? Dou alguns tapinhas na grande caixa e olho para ele.

–Sim, você nunca viu um lixão? Diz ele espantado.

–Não.

–Você usou drogas ou bebeu algo?

–Drogas? O que é isso? Olho para ele sem entender oque era aquela palavra esperando que ele explicasse.

–Puta merda... Você tem algum problema mental?

–Primeiro você fala sobre drogas depois de problemas mentais... Eu não estou entendendo mais nada.

–Ahhh! Foda-se. Seu tom de voz muda, e ele parece irritado.

–Foda-se? Que? Eu realmente não estou entendendo oque são essas palavras.

–É... Você deve ser burra ou algo do tipo. Diz ele dando alguns tapinhas em minha cabeça.

–Eu não sou burra, apenas não sei oque são essas palavras.

–Tudo bem tudo bem... Hum.. Vamos recomeçar, primeiramente, qual é o seu nome?

–Meu nome...

Não consigo lembrar meu nome até que sinto algo em volta do meu pescoço, um colar com um nome escrito 'Satsumi Saika'.

–Satsumi Saika, eu acho.

–Acha? Diz ele com tom de deboche.

– Mas e o seu nome?

–Me chame de Kyo.

–Kyo?

–Sim. Olha está ficando escuro e é perigoso por aqui a noite acho melho-

Antes que ele terminasse de falar minha barriga ronca e cubro com as mãos, sinto meu rosto quente de vergonha.

–Porra.. Pelo barulho da sua barriga você não deve comer a uns dois séculos não é? Kyo ri e coloca uma de suas mãos em meu ombro.

–Você me parece legal, vou te pagar algo para comer.

–Comida? Meu olhos brilham de felicidade.

–Vai me dizer que não sabe oque é comida... Diz ele com uma voz desapontada.

–Claro que eu sei oque é, mas oque se come por aqui?

–Vou te mostrar, acho que você vai gostar.

Kyo me leva até uma grande loja aparentemente cheia, ele entra na frente e procura lugares parar sentarmos.

–KYOOOOOOO! SEU LINDO, QUE SURPRESAAA! Uma voz fina o suficiente para me causar um pequeno desconforto no ouvido surge. Uma menina com roupas curtas o bastante para que todos possam ver suas roupas íntimas pula em cima de Kyo abraçando-o, e pela sua expressão ele não parecia gostar daquilo.

–Akemi... Você sabe que eu detesto quando você faz essas coisas... É vergonhoso.

Ela ignora oque Kyo fala e continua abraçada dando beijos em sua bochecha. Kyo a empurra e continua a procurar por uma mesa.

–Por que está de mal humor hoje Kyozinho? Poxa... Eu estava com saudade de você! Hum? Você está com ele? AAAHHH ENTENDI! Ela afina mais ainda a voz e diz de forma maliciosa.

–Você é a namorada dele não é?

Posso ouvir Kyo derrubando uma das mesas e olhando de forma raivosa para Akemi.

–CALA A BOCA SUA PESTE! OU EU VOU JOGAR A CADEIRA EM VOCÊ! Ele levanta uma das cadeiras e se prepara para joga-la.

–Ta bom ta bom, desculpa. Akemi sorri para mim e vai até Kyo ajuda-lo com a mesa e em seguida faz um sinal com a mão para que eu fosse até eles.

–Então.. O que vão querer comer? Ela parecia feliz em ver Kyo, enquanto os dois procuravam algo para comer eu não conseguia ficar sem perceber a quantidade de pessoas que olhavam para ela. Talvez fossem suas roupas que chamavam bastante atenção, sua blusa até abaixo dos seios e a saia curta o bastante para ver suas pernas por completo.

–Já comeu batata frita Saika? Pergunta Kyo olhando para mim e apontando para um caderninho cheio de nomes de comidas.

–O que é isso? Digo folheando o caderno.

–Um cardápio.

–Ah sim.

–Então, de onde você vem Saika? Pergunta Akemi enquanto tomava pequenos goles de um líquido com a cor escura.

–Para falar a verdade... Eu não sei exatamente, eu acordei dentro do lixão e o Kyo me ajudou a sair de lá.

–Você não tem aonde ficar então? Akemi olha para Kyo com um expressão de pena e depois para mim.

–Acho que não.

–Era disso que eu queria falar Akemi, será que poderia deixar ela fica na sua casa por um tempinho? Pelo menos até conseguirmos entender tudo e arrumar algum jeito de leva-la para a a casa dela ou achar alguém da família dela.

Sinto uma pontada em minha cabeça logo depois que ouço ele dizer sobre família, mantenho minha cabeça baixa por alguns instantes.

–Ei! Saika! Você está bem? A sua comida chegou. Diz Kyo sacudindo meu ombro.

–Sim... Eu estou bem. Hum? O que é isso? Pego uma das pequenas tirinhas e olho para Kyo.

–Come, você vai gostar e depois prova isso aqui, ele aproxima um copo com um líquido transparente.

–É gostoso. E o que é isso aí? Coloco o dedo dentro do copo e sinto o líquido gelado.

–Sprite. Ér... Você é realmente estranha.

–Que delícia! Meu olhos brilham e tomo o copo inteiro em poucos segundos.

–Posso tomar mais?

–Claro. Então Akemi, ela pode ficar na sua casa?

–É claro que pode, aposto que vamos nos divertir muuuuito juntas. Ela ri e pisca um dos olhos para mim e para Kyo. E agora, vamos fazer um brinde para comemorar!

–Brinde?

–É, você faz isso quando quer comemorar algo feliz sabe? Você pega seu copo e aproxima com o dos outros e diz coisas legais que você espera que aconteçam com você entendeu? Diz Kyo calmamente enchendo outro copo.

–Ah sim. Entendi. Sorrio para Kyo e ele vira o rosto envergonhado.

Assim que terminamos de comer Kyo se despede de nós duas e Akemi me puxa pela braço.

–Agora é hora de nos divertirmos Saikazinha! Diz Akemi rindo ainda me puxando pelo braço.