República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 57
Casório


Notas iniciais do capítulo

Menininhas, amorinhas, preciosidades deste meu mundo! Sem muito enrolar, aqui está! Espero do fundo do coração que gostem e me perdoem qualquer erro! s2
Um mega beijo, obrigada sempre!

Boa leitura! :)



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O quarto de Gina em Santa Fé nunca fora tão repleto de feminices como estava naquela bela manhã de sexta. Dona Tê e Catarina remexiam de maneira até mesmo neurótica nos tecidos que envolviam a ruiva, rodeadas de cestinhos que traziam os mais diversos tipos de linhas, rendas, botões, agulhas...

A madrasta de Ferdinando estava mostrando, junto à habilidosa mãe da noiva, o quanto se lembrava da vida simples que tivera antes de se casar com o influente coronel. Costurando de maneira caprichosa os últimos acertos do vestido.

A moça agradecia pela leve brisa com o perfume da terra que entrava pela janela afagando sua face. Caso contrário, já estaria a muito em desespero pela posição estagnada em qual já se encontrava há mais de hora.

– Ai mãe! – A ruiva resmungava a cada vez que a senhora concentrada em ajustar o vestido a espetava.

– Mas ocê para de resmungar, fia! Tá pensando que é fácil fazer um vestido assim, de repente?! Se eu não tivesse tão feliz, ia é dar umas boas palmadas em vocês três por toda essa correria!

– Três?!

– Claro! Ocê, o Nando e seu pai! Tão maluco quanto ocês, aprovando essa maluquice de casar assim... – Apesar de ser uma represália, Gina bem percebia a maneira animada com que a mãe falava do casamento. Ela não conseguia esconder. Estava radiante.

– Ai, que aquele meu enteado é uma maluco mesmo! E você também Gina, de ir nas ideias dele... – Catarina se colocou na conversa, enquanto pregava alguns botões. –E eu acho que é por isso que esse casamento de vocês vai dar muito certo!

Gina sorriu. Aquilo bem era verdade.

– Você acha mesmo madame Catarina?! - Gina queria ouvi-la confirmar. Era estimulante saber que outras pessoas acreditavam no sucesso da empreitada.

– Eu tenho certeza, minha querida. – Catarina respondeu serena e clara. – E me chame de Catarina apenas Gina, por favor, eu já lhe pedi! – A bela dama sorriu.

– Tá certo... Catarina. – Gina pontuou.

Ambas sorriram.

Dona Tê, que observava a conversa, também.

– Que tal mais alguns detalhes nessa barrinha aqui?! – A madame questionou a noiva, que não tardou em mostrar em sua face um certo desafeto por ‘detalhes’ demais.

– Ah fia, eu bem concordo com a dona Catarina... Essa barra tá simplesinha demais... – A mãe tentou argumentar observando ter uma aliada.

– Ara que vocês já tão até parecendo a Juliana, tentando me encher de coisinhas... – A voz de irritação da moça deixava claro que não era de seu agrado muitos ‘detalhes e fofuras’ no vestido.

– Ai, tá bom jaguatirica, foi só uma ideia! – Dona Tê resolveu não insistir. Sabia que a filha dificilmente permitiria.

Catarina sorriu. “Perfeita pro Nando!” Ela admitia. Via na ruiva a personalidade que uma mulher precisava ter para agradar o referido rapaz.

– Mas e por falar na professorinha Gina... É amanhã cedo que ela e o Zelão chegam? – Dona Tê questionou.

– É sim mãe... – Gina sorriu. A saudade que havia sentido da amiga nos últimos dias era enorme. Ainda mais em momentos como a ida à loja nas Antas para escolher o tecido e modelo do vestido, e afins.

– Mas porque eles não vieram com você e o Nando como da última vez, Gina? – Catarina fingiu curiosidade, apenas para verificar se a ruiva não desconfiava dos planos que enteado mais uma vez lhe havia confiado.

– Então... – A ruiva iniciou com a voz incerta. – Ela me disse que havia pego algumas aulas de uma professora por esses dias lá na capital... Eu não entendi muito bem.

– Ah, sim, mas deve ter sido isso mesmo, minha querida. – Catarina concluiu, a fim de espantar qualquer tipo de dúvida ou suspeitas da ruiva.

[...]

No dia em que chegaram de trem a Santa Fé, Ferdinando e Gina foram recepcionados pelas duas famílias na estação. Ambas já cientes no motivo do retorno antes da data esperada. Ainda que Dona Tê e Epaminondas tivessem relutado um pouco com seus conjugues, ao receberem a notícia do casamento precoce, naquele momento, já estavam convencidos e certos de que seria de fato, melhor aceitar a vontade do jovem casal.

Um agradável jantar foi oferecido na ocasião pela Família Falcão, no qual assuntos como local da festa, convidados e detalhes da mesma foram esclarecidos.

No entanto, desde então, o engenheiro não via a ruiva, tendo cada um ficado, como de costume, hospedado da casa de sua família. Os afazeres corridos para a cerimônia também não davam trégua para visitas.

Naquela manhã de sexta-feira, Ferdinando percebeu que a mansão estava silenciosa. Provavelmente, a madrasta teria ido à casa de sua amada ajudar com os últimos detalhes do vestido, como havia informado. A doce Pituca, ainda estaria dormindo ou correndo pelos arredores da fazenda com o inseparável amigo Serelepe, ele imaginava pela ausência da mesma.

O único som que se escutava era o de um teclado, proveniente do suntuoso escritório próximo à sala de jantar. Ferdinando bem sabia quem estava digitando ali. Era justamente aquele com quem precisava conversar.

– Meu pai? – O rapaz por educação bateu na porta já aberta do escritório.

– Oi Nandinho... – Epaminondas correspondeu o comprimento, sem afastar os olhos da tela do computador ao qual pelo jeito redigia um importante documento.

Ferdinando respirou. Não seria muito fácil a conversa que teriam. Ele já sabia.

– Será que eu posso conversar com o senhor? – Sua voz suave já demonstrava isso.

– Claro... – Epaminondas foi gentil. – Só me deixa terminar de escrever isso aqui Nandinho, é o documento da casa de vocês... - Ainda que continuasse olhando para a tela, o Coronel não conseguia deixar de sorrir orgulhoso ao lembrar-se do belo presente no qual tinha parte.

Ferdinando sentiu seu coração apertar.

Ele se lembrou da euforia com a qual os patriarcas das famílias haviam dado a notícia da casa, no jantar em sua chegada com Gina. Como ele e a ruiva se entreolharam, na ocasião, sem saber como dizer o lugar em que de fato pretendiam morar.

Haviam decidido contar depois. Ou melhor, agora.

– Pois então, é exatamente sobre isso que eu queria lhe falar... – Ferdinando respirou fundo. Era melhor não enrolar. – Eu e a Gina não vamos morar aqui na Vila depois do casamento, meu pai...

Pela primeira vez, desde o início do diálogo, o coronel retirou os olhos da tela à sua frente.

– Mas que conversa é essa Napoleão?! – Havia um claro tom de ira na fala imponente e estrondosa do coronel, que se colocou de pé ao dizer.

– Calma meu pai, eu posso lhe explicar... – Ferdinando gesticulava, a fim de acalmá-lo para dizer os motivos que o tinha levado a tal decisão.

– E isso lá tem explicação Ferdinando?! E vocês dois estão pensando em morar onde eu posso saber?! – Ele sorriu irônico. – Na república por acaso?!

Ferdinando viu a oportunidade perfeita para contar.

– Exatamente. – O modo calmo como ele confirmou o que era para ser uma ironia deixou o coronel ainda mais irritado.

– Como?! Vocês vão recusar uma bela de uma casa que eu e Pedro tivemos o cuidado de construir pra dividirem um sobrado com outras pessoas a 700 km daqui?! - Ele de fato, não via nexo.

– Meu pai, por favor, me deixe explicar. – Ferdinando se colocou de pé. – Eu e a Gina não vamos de maneira alguma recusar a casa... É que ainda temos coisas a resolver lá na capital...

– Nandinho, pelo amor de Deus, mas que coisas?! Que loucura toda é essa?

– Não é loucura, meu pai. Eu vou terminar minha especialização, e a Gina a faculdade dela... – Epaminondas interrompeu.

– Faculdade dela, Nando?! Mas pra que isso?! Pelo que eu saiba ela começou esse ano o mesmo curso que você já tem, de que serve fazer também?! Morar de aluguel tendo uma casa aqui, por uma coisa dessas?!

– Por que é o sonho dela, meu pai! É por isso que ela vai fazer! – Ferdinando, pela primeira vez no diálogo, ergueu o tom. – E o senhor aprovando ou não, saiba que eu vou apoiar a Gina nisso. E já lhe informo que não vamos morar de aluguel... Eu comprei aquela casa!

O engenheiro havia mudado bruscamente de postura. De uma maneira que nunca havia imaginado ser possível. Por amor. Pela amada.

Epaminondas não acreditava muito no que ouvia.

O tom de Ferdinando, a informação que ele havia acabado de lhe dar... A conversa começava a tomar um rumo não muito agradável.

– Você ficou maluco Ferdinando! Como assim, comprou a casa?! – O coronel não conseguia acreditar.

– Comprei! – Ferdinando sorriu descaradamente. – E com muito orgulho, lhe digo que com o dinheiro que juntei desde que comecei a exercer minha profissão!

O sorriso de orgulho no rosto do filho começava a desarmar Epaminondas. Ainda que negasse, ele mesmo estava orgulhoso em saber daquilo.

Um jovem como Ferdinando estava acostumado a ter tudo na mão, dado pelo pai. Ou provindo do dinheiro que a generosa herança que a mãe lhe deixara.

Mas aquilo... Aquilo de fato, havia surpreendido o experiente coronel.

– Mas Nando... – Epaminondas estava sem palavras. O amadurecimento do filho o fazia ter um orgulho imensurável. E ele bem sabia, que grande parte disso era por culpa da ruiva que logo chamaria de nora.

Ferdinando percebeu a postura do pai se alterar.

– Só diga que fica feliz por mim, meu pai. E que confia em mim, a ponto de saber que eu vou conseguir decidir junto com a Gina o melhor pra nossa vida... Pra nossa família. – O engenheiro deu a volta na mesa, colocando-se de frente com ao pai.

“Nossa família.” Uma doce lágrima escorreu na dura face do coronel. Seu menino havia, claramente, agora confirmado ter se tornado um homem. Tão honroso quanto ele sempre desejou.

Epaminondas respirou fundo. Engoliu seco. Procurou assimilar tudo aquilo. Assimilou. Seu filho merecia todo o reconhecimento por seu amadurecimento. E ele não mais relutaria em fazê-lo.

– Só se você me prometer, que meu netos vão crescer aqui nessas terras, seu moleque! – O coronel já havia se rendido.

– Eu lhe prometo. – Ferdinando disse com o sorriso mais doce do mundo, com os olhos úmidos, tão emocionado quanto o pai.

O abraço que deram, foi o mais terno possível. Daqueles que só é possível acontecer entre pai e filho.

[...]

– Pronto! – O tom de animação na voz da professorinha era extremo. – Ai, será que está no jeito que o Nando queria amor?

A professora questionava o namorado, orgulhosa e insegura (por mais contrário que possa parecer) pela criação.

– Eu acho até que ficou melhor do que ele imaginava quando nos pediu minha frô! – O tom de Zelão também era animoso.

– Tomara... – Juliana disse puxando as mãos do amado a sua cintura, para observarem por mais alguns instantes o belo presente de casamento que haviam preparado para o casal de amigos.

– Minha frô, eu acho melhor a gente agora arrumar as coisas e ir pra Santa Fé... Apesar de o Nando ter deixado o carro pra gente, nunca se sabe que imprevisto pode acontecer na estrada... É bom adiantar o máximo que der. – Ele pontuou.

– Tá certo... – Juliana concordou. – Mas antes de irmos, eu preciso muito passar em uma loja, no centro. Meu presente de madrinha para minha amiga será especial.

O sorriso sapeca que a adorável dama lançou fez Zelão logo imaginar a que área o presente se referia. Ele riu, e consentiu a ida à loja apenas com a cabeça. Bem conhecia a mulher criativa que amava.

[...]

Há alguns dias, mais precisamente na chegada dos noivos à Vila, todo o cronograma dos dias que precederiam a festa estava definido.

Isto era um alívio ao coração dos saudosos noivos.

Isto porque, naquela noite de sexta, um último jantar entre as famílias, extremamente informal, havia sido marcado.

Ao pôr-do-sol, Ferdinando, que esperava ansioso sentado na varanda da suntuosa mansão, conseguiu distinguir o carro no sogro, que trazia a família e sua madrasta. O engenheiro colocou-se de pé imediatamente. Só de imaginar que finalmente veria sua menininha outra vez seu coração pulava.

– Olha que esse jardim tá ficando um encanto, pai! – Dona Tê constatou assim que desceu do carro, verificando que parte da decoração da cerimônia já estava sendo organizada.

– Vai ficar uma belezura mesmo, mãe! – Pedro confirmava animado.

Gina já estava descendo, quando borboletas lhe visitaram o estômago ao escutar a voz que a roubava a respiração.

– E vai ficar ainda mais bonito no dia, meus caros, eu garanto! – Ferdinando se animava em ver a aprovação dos futuros sogros.

Ele era mesmo um rapaz especial, Gina não poderia negar, nem se quisesse. Afinal, onde se encontra um noivo que faz questão de participar de cada detalhe da decoração do próprio casamento?

Entretanto, ainda era a ruiva. Ela não pôde evitar escapar.

– Só não me vai encher de ‘frangotisses’ de mais, frangotinho! – Disse provocando, colocando-se por fim para fora do carro.

Ferdinando sorriu em pleno aceite da provocação. Em plena felicidade em ver a moça que o provocava daquela maneira tão dela.

– Eu não mereço nem um beijo de ‘olá’? - Ele fingiu se magoar, vendo que a ruiva se encaminhava lentamente em sua direção.

O beijo viria, se Dona Tê não houvesse interrompido como de costume. Afinal, para ela, noivo ainda não era marido. Eles podiam conter essa saudade mais um dia.

– Merece sim, Nando, mas vocês vão ter muito tempo depois de amanhã pra isso. Agora, a gente precisa resolver o restante dos detalhes, sim? – A senhora se colocou entre os noivos.

Gina riu da afobação da mãe em conter o ato.

Ferdinando esbugalhou os olhos. “Nem um beijinho?” Ele pensava chateado.

– Então vamos, entrando! – Catarina Se posicionou na conversa abrindo a porta convidativamente.

Após algumas conversas, o jantar foi iniciado.

– Mas vocês depois do casamento vão me dar um sobrinho Gina?! – A inocente Pituca questionou na mesa de jantar, fazendo boa parte dos presentes engasgarem.

Crianças.

Catarina havia explicado o motivo de o irmão estar se casando. Dito que ela não precisava ter ciúme de Gina, e que logo teria de presente sobrinhos para ajudar a cuidar e brincar. Mas claro tudo em seu tempo. Tempo esse que a infância da menina não havia permitido-a calcular.

– Nã-não Pituca... Quer dizer, não é assim... – A ruiva se atrapalhava de maneira até graciosa em dizer.

– Mas como não?! A mãe me disse ontem, não foi mãe?! – A menina de olhos castanhos mais acusava do que questionava a madame.

– Maninha... – Ferdinando que sabia bem como lidar com a pequena, colocou-se na conversa. – É claro que nós vamos te dar sobrinhos. – O engenheiro não podia deixar de dar um leve sorriso ao pensar nisto. – Mas isso só daqui certo tempo, quando eu a Gina viermos morar aqui, pra você pode ajudar a gente a cuidar de cada um.

Gina se encantava cada vez que presenteava a maneira doce como a relação de Nando se dava com a irmã.

– Como assim, depois de certo tempo?! – Pedro questionou contrariado.

O engenheiro havia se esquecido que o sogro ainda não havia sido comunicado da informação.

Gina se assustou, constatando e assimilando a clara colocação do noivo. Não sabia que o coronel já estava ciente.

Entretanto, este tanto estava, que logo colocou-se a defender o casal.

– Ora essa, amigo Pedro, sua filha precisa terminar a faculdade lá na capital... Afinal, você sempre quis isso não é Gina?!

A ruiva se assustou em um primeiro momento. Mas logo percebeu pelo sorriso que o engenheiro trocava com o pai. Eles já haviam conversado.

– É pai, eu e o Nando vamos morar lá até eu terminar... O senhor sabe o quanto é importante pra mim... – A ruiva argumentou. Sabia que o pai, como sempre, compreenderia.

Epaminondas percebeu o leve entristecer de Pedro. Na realidade, ele mesmo havia se sentido assim ao receber a notícia. Resolveu tentar reanimá-lo da mesma forma que havia funcionado consigo mesmo.

– Pedro, o Nandinho me garantiu, nossos netos vão crescer é aqui em Santa Fé!

O doce senhor logo esboçou um leve sorriso. “Netos.” Estes ainda nem existiam, e Pedro já sabia que seria o avô mais coruja do mundo.

– Isso eu lhe garanto! – O engenheiro disse completou animado.

É claro que ainda estava distante de tornar-se realidade. Mas a ideia de ser pai em muito mexia com o engenheiro. Ainda mais com aquela que ele não sabia se quer descrever o tamanho de seu amor.

Pedro encarou por alguns instantes o jovem casal sentado à sua frente. Verificou os sorrisos que trocavam.

É, eles mereciam a liberdade de decidirem com a cumplicidade que demonstravam ter o que fazer com suas vidas. Com a vida que teriam logo em conjunto.

– Eu quero essas fazendas pinhadas de netos! – O doce senhor disse, rendendo-se claramente, até mesmo, emocionado.

Todos sorriram. A ideia era de agrado mútuo.

Após o término do amistoso jantar, enquanto os pais como de costume conversavam apreciando um belo café preparado pela Amância, o engenheiro não pôde deixar de ‘arrastar’ a ruiva para um local mais reservado. Estava de fato MUITO saudoso. Ao menos um beijo era de necessidade visceral.

– Nando, mas você tá é maluco! – A voz de Gina era um misto, enquanto se enfiavam em meio aos corredores. Sapeca e receosa.

– Ara que eu tô menininha... – Ele dizia enquanto a puxava pela mão até a dispensa da cozinha. – E eu preciso de pelo menos um beijo seu, se não enlouqueço de vez! – A voz de Nando, por sua vez, demonstrava sua necessidade. – Aqui. – Ele pontuou assim que entraram na pequena área, fechando a porta.

Gina se viu prensada ao corpo saudoso e quente dele, no aperto da dispensa. Era um martírio, ela mesma já estava a ponto de implorar por ele. Tão saudosa quanto.

– Gina, eu preciso... – O engenheiro iniciou com a boca perigosamente colada ao pescoço da ruiva, apertando fortemente a carne macia da cintura dela, com as mãos atrevidas por baixo da blusa.

– Precisa de que? – A ruiva amava ouvi-lo dizer. A voz dela já estava tão suplicante quanto à dele. Ela não conteve as mãos que o apertaram o quadril, trazendo-o ainda mais para si.

– Preciso de você menininha... – Ele suspirou. – Nem que seja em um beijo Gina, daquele molhado que só você sabe me dar...

A ruiva sorriu silenciosamente. Subia as mãos tortuosas até a nuca do engenheiro prestes a lhe dar o que pedia.

Os corpos de ambos já estavam em uma situação de completo êxtase e excitação.

– Achei! – O casal se separou de imediato, tamanho o susto que levaram ao ver a porta da dispensa ser aberta de supetão com a voz ao fundo.

– Pituca! – Ferdinando disse ofegante, pelo susto e outras coisas.

Gina olhava estagnada a menina com medo do que ela poderia ter pensado, ou... Enfim.

– Achei vocês maninho, minha vez de me esconder. – A pequena saiu correndo.

O engenheiro olhou para a amada de olhos esbugalhados. Os dois riram, foi inevitável.

– Meu Deus, Nando... – Ela levou a mão à testa ainda ofegante pelo susto. Por tudo.

– Eu sei... – Ele respondeu em igual situação.

A ruiva colocou-se a sair do local, havia percebido que aquilo tudo seria arriscado demais. O engenheiro não aprovou a retirada e a segurou levemente pelo pulso.

– Mas eu ainda tô com saudade menininha... – Um doce bico. Uma manha.

– Eu também... – Ela confessou. – Mas acho que isso vai ser ótimo pra nossa noite de núpcias. – Ela sorriu maliciosa. Deu uma doce piscadela.

Ele ficou ainda mais necessitado. Ela sabia.

– Ara Gina...

– Eu vou procurar a Pituca! - Ela anunciou saindo correndo casa a fora.

– Mas você é uma porqueira mesmo! – Ele saiu em disparada atrás dela.

[...]

Na manhã seguinte, na verdade, já no final desta, quase início da tão aguardada tarde, o casal que faltava, chegou.

– Você é a noiva mais linda que eu já vi, Gina. – A voz claramente emocionada da moça que adentrava ao quarto fez à ruiva se virar um pouco aliviada em meio ao mar de nervosismo que a envolvia.

Gina estava perfeita. Perfeita em toda sua composição, toda sua autenticidade. O vestido branco, simples, tomara que caia, ganhava um ar único pelos delicados e singelos bordados azuis em sua barra. A ruiva apenas havia permitido a inclusão destes pelo secreto motivo: o azul. Lembrava os olhos tão ‘dele’. Os cachos rubros soltos, com a coroa de flores igualmente azuis sobre eles completava a simples produção. A maquiagem era extremamente básica. O único ponto que se destacava em sua face angelical eram os olhos de longos e marcantes cílios. Incrivelmente bela.

– Juliana! – Gina se lançou aos braços da amiga. – Eu pensei que você não fosse chegar, ara!

A professora sorriu. Como amava aquela uma.

– Eu nunca faltaria a esse dia, minha amiga... – Ela afagou o rosto de expressão ansiosa da ruiva. – Mas sinto em lhe dizer que você vai ter que tirar o vestido.

Gina não entendeu.

– Ara, mas porque?! Você não gostou? Eu disse pra você vir me ajudar a escolher, mas você tinha que ter pego aquelas aulas... – A professora interrompeu.

– Gina, quieta! – Ela sorriu. – Não é nada disso, esse vestido ficou perfeito em você, eu já disse. – Juliana segurou a concha do ornamento que enfeitava o colo nu da ruiva. – Tudo está combinando perfeitamente! – Os olhos azuis dela brilhavam. – Maaaas... O meu presente faço questão que utilize por baixo desse vestido todo.

– Como assim?! – Dona Tê, que estava no quarto da filha, questionou curiosa.

A professora precisava de privacidade com a ruiva para esclarecer.

– Dona Tê, será que a senhora me permite ter uma conversa a sós com sua filha?!

– Mas a sós porque?! - A senhora questionou contrariada.

– Porque ela tá pedindo, mãe. Ara! – Gina logo pontuou.

– Ah, tá certo! – Dona Tê se retirou. Não iria discutir. O dia era especial demais para isso.

As duas aguardaram a senhora se retirar por completa. Bem como fechar a porta após um necessário pedido.

Juliana se sentou na cama, e sugeriu que a amiga a acompanhasse. Gina se sentou ao lado dela.

– Gina, minha amiga, você sabe o quanto eu estou feliz por você e pelo Ferdinando pelo dia de hoje, não sabe?

A ruiva deu um doce sorriso. Ela bem sabia.

– Sei Juliana, e eu muito lhe agradeço por tudo... – A ruiva suspirou.

Lembrou-se dos diversos apoios que havia recebido da professora. Das diversas broncas, conselhos e colos. Sem dúvida, ela era uma das maiores responsáveis pela felicidade que naquele momento invadia seu coração.

– Mas não precisa agradecer... – Ela pegou docemente a mão da ruiva, e depositou a caixa que segurava. – Tudo que eu fiz até hoje e pretendo continuar fazendo por você e pelo Nando é pelo simples fato de amá-los como os irmãos que eu nunca tive minha querida. Eu só quero vê-los felizes. Sempre.

Gina, após a bela declaração de amizade, observou a caixa que a amiga havia lhe depositado nas mãos.

– E o que tem aí, de alguma maneira, vai contribuir pra felicidade de vocês... – Juliana sorriu sorrateiramente.

Gina não entendeu muito. Resolveu verificar.

Ao abrir a caixa enrubesceu por completa.

– Juliana... – Ela nem sabia muito bem o que dizer. – Eu não sei...

– “Eu não sei” coisa nenhuma, Gina! – A professora sorriu pela falta de jeito da ruiva. – Vamos, tire o vestido que eu te ajudo a colocar... Afinal, a lingerie da noiva é tão importante quanto ele, ora! E nós ainda temos tempo, já que o casamento é só ao final da tarde.

Gina suspirou. Ainda que receosa aquilo bem parecia ser verdade.

– Tá certo! – A noiva sorriu para a cúmplice.

[...]

– Dotorzinho? – Zelão adentrou ao quarto do noivo.

– Zelão! – Nando não hesitou em abraçá-lo. – Pensei que meus padrinhos não viriam mais! – Ele brincou com a voz risonha.

– Ara, mas você deixe de bestagem Nando! – Zelão se sentou à frente do noivo. – Eu nunca que perderia esse dia. E minha professorinha também não, você sabe disso!

O sorriso do padrinho poderia competir com o do noivo, tamanha a felicidade que estavam os dois.

– Mas me diga, Zelão... Deu certo?! – O engenheiro questionou curioso.

– Claro! – Zelão confirmou feliz. – E ainda digo que eu e a Juliana modificamos um pouquinho o plano. Considere nosso presente.

– Mas como assim meu caro?! – O engenheiro tornou-se pura curiosidade.

– Ara que é surpresa! – Zelão informou de imediato. – Quando vocês voltarem para casa, vão ver! - Nando sorriu fingindo desconfiança com a fala do amigo. - Mas Nando... Vocês já contaram que vão ficar lá pela capital?

– Fico muito feliz em te dizer que sim, meu amigo. Já está tudo certo, enfim! – O engenheiro esclareceu.

– E é muito bom saber disso doutorzinho! – O rapaz sorriu ainda mais feliz pelo casal.

– Obrigada por tudo meu amigo. – Ferdinando pontuou claro, se sentando ao lado daquele a quem agradecia. Queria deixar claro que reconhecia o quanto o devia.

– Imagina Nando, você sabe que é um irmão pra mim... – Os dois rapazes deram um abraço mútuo.

Logo depois do terno ato, o noivo colocou-se de pé novamente.

Mas me diga, estou bem?! Ele arrumou a gola da veste.

Zelão riu.

Nando estava incrivelmente belo. Seu fraque creme, completamente alinhado, e dreads elegantemente organizados, o deixavam parecendo não menos que um príncipe. Os olhos azuis eram os donos de todo e qualquer destaque em sua figura, juntos a uma flor do mesmo tom, depositada em sua lapela.

Zelão não daria sua opinião assim. Claro.

– Você está ótimo Nando. – Ele pontuou. Mas resolveu brincar, percebendo o nervosismo do amigo. – Só não tão belo quanto o padrinho! – Se colocou de pé risonho.

– Ara, que pretensão toda é essa?! – O engenheiro sorriu.

Os dois amigos, se retiraram do quarto, rumando ao jardim, a fim de verificar os últimos detalhes e receber os convidados que logo começariam a chegar.

[...]

“Uma tarde sublime.”

Era assim que o ansioso noivo descrevia em seus pensamentos aquele momento. A leve luz do sol, já prenunciando seu adormecer deixava tudo ainda mais incrível.

Flores azuis e o verde de suas folhas decoravam os bancos alvos nos quais os convidados aguardavam a chegada da noiva.

– Respira doutorzinho... – O padrinho fazia seu papel, tentando acalmar o amigo.

– E se ela desistir, Zelão?! – Era possível ver os lábios do engenheiro perderem a cor, apenas com tal pensamento em sua mente.

– Mas que bobagem, Nando... Pode parar com isso, você sabe que em minutos ela estará aqui... Sendo feita sua. – Juliana sempre tinha as palavras certas.

Ferdinando sorriu ao ouvi-las.

– Obrigado... – Sussurrou à professora.

Foi então que ele a viu.

Foi então que ela o viu.

Cada um em um extremo do corredor que o leve tecido branco formava sobre a grama do jardim.

A respiração dele parou.

A dela, também.

Ferdinando jurava ser um anjo. Mas não. Ele de fato ia aos céus com a visão, ainda mais estupefato por saber ser sua noiva.

Sua.

A felicidade que o abatia em cada instante de constatação do momento era impossível descrever.

Ele, antes deste momento, julgaria também ser impossível de sentir.

Mas sentia.

Sentia em todo seu coração, em todo seu ser e plenitude.

Do outro lado, a estonteantemente bela noiva, em seu simples e autêntico vestido, buscava retomar a coerência e pensamento que a imagem de Ferdinando, aguardando-a no altar, a fizera perder.

Ele estava ali, para tornar-se seu.

Seu.

A mesma avalanche de sensações e felicidades a tomava. Seria possível uma pessoa sentir-se tão feliz, tão plena?

Sim.

Naquele momento, na verdade, duas se encontravam neste estado.

Os dois, que logo, se tonariam apenas um.

Corpo, alma, mente, coração, nome.

Tudo.

Gina se encaminhou até o singelo, porém encantador altar, onde o belo engenheiro a esperava.

– Cuida bem dela, rapaz! – Sr. Pedro fez questão de frisar, um misto de brincadeira, seriedade, emoção. – Eu tô te entregando a coisa mais preciosa da minha vida.

– Que agora É a minha vida, Sr. Pedro... Prometo cuidar. – Ferdinando respondeu não olhando ao sogro, mas à ruiva, em seus olhos.

Quando a delicada mão de Gina tocou a de Ferdinando, para subir ao altar. Seus corpos se arrepiaram. Eles sentiram.

Estavam, de fato, iniciando o ‘para sempre’.

O Padre Santo, como era conhecido na região, fazia a cerimônia com uma satisfação possível de ser verificada por todos os presentes. Afinal, havia batizado cada um dos noivos, e acompanhado ambos durante toda a vida. Após parte da cerimônia, a doce Pituca havia entregue ao padre as alianças cautelosamente escolhidas pelo noivo. Gina impressionou-se com a beleza das mesmas ao vê-las pela primeira vez.

– Ferdinando, se quiser dizer algo para noiva antes de colocar a aliança em se dedo, fique à vontade. – O padre informou entregando o simbólico ornamento ao engenheiro.

Ferdinando faria.

Na realidade, a muito já sabia as palavras que gostaria de utilizar neste momento tão único.

Eles viraram-se de frente um ao outro.

Ele respirou fundo ao encará-la.

A emoção estava expressa no olhar de cada um.

– Gina... – Apenas a maneira doce como ele iniciou, já a fez suspirar. Ele estava surpreendendo-a novamente, em ter uma declaração. – É com essa aliança que eu quero te tornar minha mulher, perante os olhos da igreja e da sociedade. Mas confesso. Há muito já te sinto minha. Na verdade, desde a infância, como amiga. – Ele sorriu, ela também. – E agora, te digo com toda a certeza e sinceridade desse mundo, você é minha a cada momento do dia. Minha inspiração, razão, paixão, luz... Tudo. É minha representação concreta do que é o amor. Minha outra metade, talvez até mais que a metade. Ás vezes sinto que te pertenço mais que a mim mesmo... – Nando tentou, mas foi inevitável uma lágrima escorrer. –E eu prometo aqui, perante todos, e mais importante, perante seus olhos, cuidar de você a cada dia do resto da minha vida, com todo o amor que é possível se dar a uma pessoa. Você é incrível, forte e delicada, inocente e sábia, menina e mulher... Eu, Ferdinando Napoleão, definitivamente te amo em cada detalhe. – Foi preciso novamente respirar fundo. - E com essa aliança, de maneira extremamente honrada e feliz, eu te desposo menininha... – Ele inseriu o objeto circular no dedo da mão esquerda dela. Aquela, ao lado do coração, onde ele queria para sempre residir.

Gina a muito sorria, mas sorriu ainda mais com o delicado e inestimável ato.

Encarou os olhos azuis marejados, sabendo que os seu estavam iguais. Algumas lágrimas teimosas também lhe haviam escapado.

Na realidade, a todos os presentes.

– Nando... – Gina retirou a aliança oferecida sobre a delicada almofadinha pelo padre. – Eu não sei muito o que dizer... – Ela sorriu com a própria sinceridade, assim como os convidados e o noivo. Não havia pensado nisso. – Mas, quero que você saiba que eu me achava forte antes de te conhecer e é curioso... – Ela mordeu os lábios, não era muito de falar sobre suas fraquezas. – Agora, tendo você do meu lado vejo que me deixa ainda mais forte do que eu pensava ser, e ao mesmo tempo mais frágil. – Ferdinando sorriu com a confissão, sabia o quanto era difícil para ela admitir algo do tipo. – O amor que você me ensinou a sentir me deixa forte a ponto de fazer coisas que eu jamais imaginei, e frágil por saber que você tem uma influência sobre mim que eu nunca achei possível. Você me mudou frangotinho... – Alguns risos, inclusive o dele, seguiram o apelido. - E eu sinto que pra melhor. Obrigada por, apesar do meu jeito meio maluco, me escolher pra ser sua... Eu te amo muito além do que pensava ser possível amar alguém... – Ela retomou o ar em um longo respirar. Ver as lágrimas que Ferdinando havia deixado escorrer durante a declaração a emocionaram tanto quanto ouvi-lo. – E com essa aliança, eu te desposo. – Ela repetiu o gesto, inserindo-lhe o anel.

Até mesmo o padre ficara emocionado, tamanha a ternura e pureza das declarações. Era possível notar em sua voz que encerrou a cerimônia.

– E pelo poder investido a mim, eu os declaro Ferdinando Napoleão e Gina Falcão Napoleão, marido e mulher. – O semblante de ambos era de felicidade explícita, em seus sorrisos. O amor irradiava ao ouvirem tais dizeres. - Você pode beijar a noiva!

Ferdinando não tardou em fazer.

Um beijo nunca fora tão doce.

Tão seu.

Tão deles.


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Notas finais do capítulo

Bom é isso amorinhas, mais uma vez, desculpem qualquer erro! Obrigada sempre! s2



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