República escrita por Larissa Gomes


Capítulo 50
Jogo perigoso.


Notas iniciais do capítulo

Mocinhas da minha vida... Esse final de semana está me desafiando a vida, mas aqui vai! rs
Não tenho muito a dizer, apenas agradecer por me acompanharem linda e carinhosamente há 50 capítulos. Vocês são MARAVILHOSAS! s2
Obrigada.
Espero de coração que gostem...
Boa leitura!!



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Gina ainda não havia notado que o engenheiro se aproximava logo atrás dela e de Jone, pois permanecia de costas para a porta, em frente ao portão, que agora, já não sabia mais se fechava (bem que gostaria) ou não.

Maia não conseguia desviar seus olhos das circunferências verdes que a fitavam.

A saudade do casal agora ali reunido era tanta quanta a do outro que iria estar na mesma situação em breve.

– Gina, oi... – A morena começou incerta, sabia que com a ruiva as palavras deveriam ser medidas por precaução. Ela bem tinha consciência de que não era uma das pessoas mais amadas por Gina. – Eu vim trazer o carro do Nando, que ficou no prédio outro dia. – Maia esticou o braço, ainda estando do lado de fora do portão e tentou entregar-lhe as chaves.

Gina não se moveu. Apenas corrigiu, sem muito pensar.

– Outra noite, não é?! – Ela foi direta na indireta.

Maia enrubesceu.

O tom de Gina deixava bastante claro que a ruiva ao menos suspeitava do ‘acidental’ beijo. Se é que não soubesse.

– Pode deixar comigo, Maia. – Ferdinando se colocou em meio ao frio diálogo, estendendo a mão e pegando as chaves da amiga.

O leve toque de suas peles fez Gina sentir-se quente. Não no bom sentido. Bem longe disto, aliás.

Outro rapaz que ao lado, agora trocava olhares não muito amigáveis com o engenheiro sentiu-se da mesma maneira.

Jone, sabia da amizade colorida de Maia e Nando, e a muito desaprovava isso. Apesar de saber que a mesma já havia se transformado em uma amizade ‘normal’ ele nunca fez questão de esconder da moça o quanto desaprovava sua tamanha intimidade com o engenheiro.

E saber que o carro dele havia ficado no prédio dela, após uma visita noturna, há provavelmente poucos dias depois do rompimento que tiveram, o fazia criar possibilidades nada agradáveis.

– Não vai me apresentar seu amigo?! – Nando questionou Gina, tentando disfarçar o nervosismo que o invadia ao ver o rapaz tão próximo da amada, o encarando de maneira tão desafiadora.

– Esse é o Jone. – Gina e Maia foram uníssonas.

Na realidade, Maia estava tão perdida com a situação, que nem sabia o por que de ter ela sentido a necessidade de formalizar a apresentação.
As duas se encararam por segundos.

Maia percebeu que Gina sabia.

Gina percebeu que Maia sabia que ela sabia.

Jone sentiu seu coração pular ao ouvir a bela morena proferir seu nome.

– Você o conhece Maia?! – Ferdinando era o que menos compreendia o que acontecia ali.

– Esse é O Jone, Nando. – Ela fez questão de esclarecer.

Ferdinando se surpreendeu.

Era um tolo de ainda não ter compreendido.

Mas, de certa maneira, sentiu-se aliviar. Pois, sabendo da história dos dois, tinha o conhecimento pleno do amor de Jone por Maia, e sendo assim, parte do ciúme referente a Gina se afastava.

Parte.

– Ah, sim... Jone. – O tom de Ferdinando mudou claramente. – Prazer. – Ele estendeu a mão.

Jone não sentia o mesmo. Mas resolveu ser cordial.

– Prazer. – Foi seco. Não sabia forçar simpatia.

Ferdinando notou. Não o culpava.

No mínimo ele sabia o que o engenheiro e Maia já haviam tido, e não tirava a razão de seu desconforto.

Já havia algum tempo que os dias na capital eram chuvosos, este não estava diferente.

Entretanto, ao contrário das longas garoas que eram rotineiras, os quatro jovens foram surpreendidos por uma repentina e torrencial tempestade.

Nem tão de repente assim. Os ventos já anunciavam há algum tempo, mas todos estavam envolvidos demais no ocasional encontro para perceber.

Reuniram-se por instinto na pequenina área coberta do portão.

– Só o que me faltava! - Maia pensou em voz alta.

– Ué, já queria ir embora?!- Gina não pôde deixar de instigar. Afinal, ainda não entendia o motivo de o carro ter que ser levado justo no horário que Ferdinando estaria sozinho.

– Sim Gina, eu só vim mesmo trazer o carro do Nando de volta... – Maia respondeu sem graça. Ela Jone não conseguiam parar de fitar um ao outro. – Mas é uma surpresa você aqui, Jone... – Ela sugeriu como quem simplesmente puxava um assunto.

– Ele é meu amigo de faculdade, não é tão surpresa assim... – Gina realmente não ia com a cara de Maia, e estava disposta a deixá-la um tanto quanto enciumada para elevar a ‘moral’ do amigo que havia sido magoado.

– Nossa, mas tão rápido... – Maia novamente pensou alto demais.
– Rápido mesmo, pelo jeito eles se deram bem... – Ferdinando colocou-se na conversa, ainda um pouco enciumado, mas com outras intenções. – Mas isso é porque o Jone parece mesmo ser uma pessoa bacana...

Gina encarou sem entender o engenheiro. Ela não imagina o motivo, mas Ferdinando tentava claramente conseguir a simpatia do amigo.

Ferdinando sabia bem o porque de desejar isso.

Seria um ‘combo’.

Ele queria deixar claro que queria a amizade do rapaz como prova de que não se interessava mais por Maia, e uma possível chance de ajudá-los a se reaproximar. Além disso, se esta primeira tarefa fosse cumprida com sucesso, pela primeira vez (com a exceção de Zelão) ele poderia se tranquilizar com uma amizade masculina de Gina.

Um gênio.

Até o momento.

[...]

Um pequeno silêncio se instaurou nos dois minutos que seguiram a fala do engenheiro. Acompanhado de claras e fortes trocas de olhares e tocares indevidos de braços no diminuto espaço.

– Meus caros, eu acho melhor a gente entrar de uma vez... – O engenheiro sugestionou. No fundo, estava sendo simplista. Mas é fato que com tal convite já estava tendo ideias de colocar seu plano em ação.

Gina em um primeiro momento, não gostou muito da colocação do amado. Não na parte em que Maia se colocava entre os convidados. Mas teve que admitir que seria uma boa ideia. A chuva ainda demoraria a cessar, isto não só estava claro pelo céu extremamente escurecido em plena tarde, mas também pelos fortes relâmpagos e estrondosos trovões.

– É, eu acho melhor também... Você aceita Jone? – Ela fez questão de frisar quem era seu convidado.

Maia sentiu uma pontada no peito que até então desconhecia.
– Pelo que vejo, não temos escapatória! – O rapaz disse sorrindo à ruiva, ela sorriu de volta.

Maia e Ferdinando se entreolharam.

“Amigos demais.” Era o pensamento que compartilhavam.

– Então vamos, vem Maia... – O engenheiro não deixou por menos.

Gina, o olhou disfarçadamente um tanto quanto enfurecida.

Ele sorriu provocantemente.

Fez questão de demonstrar que mais uma vez percebia a jogada dela. Ainda que desta vez ele se enganasse, pois não era o engenheiro quem ela pretendia atingir. Não diretamente.

Os quatro pareciam um grupo de crianças baderneiras atravessando o extenso jardim, até a varanda coberta, entre risos e gritinhos pelas gélidas gotinhas que os atingiam.

Quando de fato estavam na varanda, se entreolharam risonhos. Por um momento, todos os desafetos haviam sido esquecidos.

“Seria bom assim.” Ferdinando pensou admirando o clima amistoso a sua volta.

Pena que as coisas no mundo adulto nem sempre são tão fáceis.
– Eu vou buscar algumas toalhas... – Gina se entrou rapidamente e se dirigiu até um lavabo que ficava próximo à sala.

Os três permaneceram em silencio durante a ausência da ruiva.
O clima pesado voltava a aparecer.

– Pronto. Vocês dividem essa, que eu divido a minha com o Nando. – Gina disse entregando uma das toalhas à Maia.

A morena e Jone se olharam saudosamente. Quando ela utilizou a toalha e passou para ele, seu perfume havia se impregnado no tecido já úmido.

Jone suspirou claramente ao senti-lo.

Maia se virou. Um breve arrependimento de suas recentes decisões a tomava por completo. Encará-lo era de fato muito estranho. Seu peito sentia-a apertar de uma maneira que ela desconhecia.

E tinha medo de conhecer.

O casal ao lado, ao contrário dos dois, e ao mesmo tempo em situação parecida, sorria disfarçadamente ao passar a toalha de uma mão à outra.
A saudade deles era diferente, e provocações à parte, ambos estavam ainda felizes em lembrarem que tudo aquilo teria fim logo.

No dia seguinte, mais precisamente.

– Podem entrar... – Ferdinando frisou ao abrir a porta.

Gina se sentou de imediato no tapete da sala, ela amava desde sempre sentar-se no chão, convidando com um gesto o amigo a se juntar a ela.
Ferdinando, que ainda fechava a porta enquanto Maia era a última a entrar, não ficou muito feliz com a proximidade que verificou os dois ficarem um do outro.

O ciúme começava a voltar.

Maia gostou menos ainda. Fazia o maior esforço possível para olhar qualquer coisa além da cena.

Jone começava a reparar, mas afastava ele mesmo as possibilidades.
“Maia nunca foi do tipo que gosta a ponto de sentir ciúme.” Ele contra-argumentava as próprias ideias.

Não queria se enganar.

Mal sabia, estava correto.

– Vocês querem beber alguma coisa, um suco?! Pelo jeito nós vamos ficar um bom tempo aqui...

Ferdinando era mais uma vez gentil.

– Eu aceito Nando, te ajudo a pegar! – Maia se prontificou de imediato.
– Eu também aceito... – Jone foi sincero, como sempre.

– Tá certo... – O engenheiro pontuou.

Ferdinando e Maia se encaminharam até a cozinha.

O casal de amigos que permaneceu se entreolhou. O ciúme lhes estava aparente em ver os amigos que se dirigiam sozinhos até a cozinha.

– Gina, eu sei. – Jone disse sorrindo, sentindo-se um tolo.

Gina não pôde deixar de sorrir de volta.
– Ai, que raiva Jone! – Ele era a primeira pessoa para quem ela revelava isso.

– Mas eu acho que nós devemos mostrar que temos os mesmos direitos que eles... Afinal, eu bem vi o Ferdinando cheio de ciúmes a me ver com você...

– E eu bem vi a Maia... Até gostei de ver, sabia?! - Gina dizia um tanto quanto vingativa em sua voz.

– Não Gina, pode esquecer essa possibilidade... Eu bem queria que fosse verdade, mas ciúme não é muito o tipo dela. – O rapaz de cabelos castanhos avisou.

– Nem o meu Jone, mas... Eu vi. – A ruiva era irredutível.
Jone gargalhou com a teimosia dela.

– Ara, eu vou lhe provar! – Ela cochichou enquanto os outros dois voltavam à sala.

– Nando, ainda tem tequila aqui? – A ruiva questionou.
Ferdinando não entendeu a pergunta.

– Pra que você quer isso Gina?! – Ele realmente não entendia.

– Ai Nando, tem ou não?! – Ela disse já se levantando, não gostava de intimações. Ele sabia.

– Tem Gina, mas eu posso saber pra que você quer isso?!

– Um jogo... Pelo jeito nós vamos ficar aqui a tarde toda...

Maia, que era um tanto quanto ‘vida louca’ se surpreendeu com a ideia da ruiva. Até mesmo se animou.

– Olha só... Agora você me surpreendeu Gina! – A morena disse sorrindo, com um claro tom de apoio.

Gina, pela primeira vez gostou de uma atitude da moça.

– Mas vocês duas estão pensando em quê, eu posso saber?! – Jone se levantou, colocando-se no grupo que conversava a sua frente, servindo-se de um copo de suco.

– Eu não sei de nada, só gostei da ideia! – Maia sorriu ao rapaz.

Ele se maravilhou com o primeiro sorriso recebido desde o fatídico dia.
– Pois bem, diga o que essa mente brilhante está pensando Gina. – Jone questionou.

Ferdinando percebeu que era o único a tentar repreendê-la. Não queria fazer o papel de chato.

Não mais.

Na realidade era este um dos assuntos que conversaria com ela no dia seguinte, quando dissesse sua decisão.

– Pois é minha QUERIDA, nos conte o que quer. Eu aceito sem pestanejar. – Ele estava fazendo questão de demonstrar a intimidade que tinham.

“Tolo.” A ruiva percebia, lançando-lhe aquele sorriso tão deles.

Mas um tolo fofo, até mesmo Gina admitia profundamente.

– Bom, eu não sei bem como funciona, acho que a Maia vai saber explicar melhor já que frequenta mais festas, e até você Nando... – Ela não tinha a intenção, mas foi uma bela indireta. – Verdade ou desafio.

Maia sorriu claramente. Já sabia uma coisa que gostaria de perguntar. E ainda de quebra colocar a culpa na tequila.

– Ah, sim! Eu amo esse jogo... A pessoa que corre do desafio ou da pergunta tem que tomar as doses de todos. Mas se ela responde a verdade solicitada, ou cumpre o desafio, somos nós que temos que tomar uma dose cada.

Ferdinando achou a brincadeira um tanto quanto ‘forte’ para o estômago um tanto quanto puro da ruiva.

– É assim que você imaginou menininha?! – Ele fez questão de perguntar. – É tão ‘fraca’ com relação a bebidas...

Gina se sentiu ofendida.

Não pela colocação do engenheiro, mas pela presença na qual ele falava isto.

Era como se a ‘diminuísse’ em maturidade, em comparação à Maia.

Antes que ela respondesse, Jone a defendeu.

– Olha Gina, eu posso não te conhecer a muito tempo, mas não acho que é fraca em nada... – Além de defender, ele queria de fato testar se havia possibilidade da hipótese que ele compartilhava com a ruiva ter fundamentos.

Maia abaixou a cabeça com o ‘desnecessário’ comentário. Aquele incômodo voltava.

Jone observou com o coração em pulos.

“Talvez seja de fato, possível.”

– Pois é Jone, obrigada... Pelo jeito você que me conhece a pouco tempo sabe melhor que outras pessoas.

Ferdinando não podia acreditar na comparação clara.

– Ora essa Gina! – Ele iria começar, quando Maia interrompeu.

– Ora vamos logo buscar essa tequila, sim?! – A última coisa que ela queria era presenciar uma briga de ciúme na qual Jone estivesse envolvido por outra pessoa que não fosse ela.

E outra coisa...

Maia precisava beber. Os sentimentos que a estavam atingindo eram preocupantes e desesperadores.

– Tá certo... – Ferdinando se calou, passando a encarar nada amistoso o rapaz à sua frente, ao lado de Gina.

– Gina, você vem comigo? – Maia deixou claro quem gostaria que a acompanhasse.

Gina não entendeu muito, mas acompanhou a moça até a cozinha.
A ruiva já remexia o armário no qual geralmente eram guardadas as bebidas na república.

Maia a observava com certa cautela.

“Inferno”. Ela constatava que a ruiva era em todos os sentidos, inclusive físicos, uma mulher incrível.

Sentia-se pela primeira vez insegura em relação a alguém.
– Gina... O Jone te contou sobre mim? – Maia questionou direta.

Ao menos isso era uma qualidade que Gina admirou.

Nenhuma delas gostava de rodeios.

Gina permaneceu em silêncio até encontrar a garrafa. Ao encontrar virou-se para a moça, com a bebida em mãos.

– Contou... – A fala de Gina era de pura marra.

Ela era pura em certas coisas, mas em questões de posicionamento, sabia como intimidar.

– Na verdade, Maia... O Nando também me contou sobre você. – A ruiva jogou a verdade e se virou de volta para os armários, procurando agora os pequenos copinhos de doses.

Maia sorriu.

Não que se orgulhasse do ocorrido, longe disso.

Mas havia gostado da franqueza de Gina. Era algo raro de encontrar, e ela finalmente sentia ter encontrado alguém com quem não precisaria ‘pisar em ovos’ ao conversar.

– O que ele te contou? – A morena questionou sucinta.

O clima na cozinha era de uma maturidade impressionante.

– Qual? – Gina queria provocar um pouco. Também era humana, oras.

– Nando.

– Que você bebeu, ele também... Que estava carente, ou algo assim, e sem querer o beijou. – A ruiva se virou novamente. – Mas por incrível que possa parecer, eu não liguei muito. Não gostei, mas entendi que só aconteceu por isso. Sei que não foi um beijo com sentimento. – A maneira como ela encarava Maia ao falar, fazia-a se surpreender consigo mesma.

– Você acha que é possível Gina, beijar sem sentimento? – Maia também a provocou.

– Claro, pode acontecer com qualquer um, ainda mais entre amigos, e quando isso tudo está no meio... – Gina olhou claramente a garrafa em suas mãos.

Maia sorriu cinicamente com a indireta.

– Que bom, nós pensamos igual.

– Ótimo. – Gina sorriu ainda mais fria. – Vamos?

A ruiva começou a caminhar junto à Maia, quando a mesma a segurou de leve pelo braço.

– Você já fez? – O olhar de Maia a penetrava.

– O que?! – Pela primeira vez na conversa Gina se sentia deslocada.

– Isso, de beijar um amigo...

– Não... – A ruiva abaixou o olhar. Apesar de estar se fazendo da mulher mais esclarecida do mundo, sua falta de experiência às vezes atrapalhava.

– Faria?! Afinal, se você for mesmo amiga de alguém, não tem problema... Você e eu acabamos de concordar com isso, e o Nando pelo jeito pensa igual.

– Eu entendo, mas não sei... Essa coisa de beijar por beijar, acho que não é muito comigo... – Gina disse encarando-a novamente.

Maia balançou a cabeça.

Um plano não muito saudável lhe vinha à mente.

Quando chegaram novamente na sala, Jone estava sozinho, mexendo em seu celular.

– Ué, cadê o Nando?! – Gina questionou.

– Eu não entendi direito, ele saiu logo depois de vocês, foi em algum lugar, procurar alguma coisa pra girar.

– Hum...

Maia se sentou do lado de Jone. Fingindo ser ao acaso.

Gina sorriu, estava dando certo.

Ela, bem como o rapaz, percebiam que agora Maia já não conseguia esconder tão bem o ciúme.

Mas o amigo merecia mais. A ajuda que ela lhe dava ainda se faria útil.
Gina sentou- do outro lado dele.

Quando Ferdinando voltou à sala com uma espécie de “roleta” de outro jogo qualquer, percebeu a proximidade dos três. Dois ali até o agradavam estar assim, mas a terceira pessoa não.

– Ora essa meninas, ele não vai fugir. – O engenheiro preferiu brincar com a insinuação.

– Deixa de ser bobo Nando, é que vamos fazer uma roda pequena ué. Sente-se aqui, entre mim e a Gina... – Maia queria provocar, na verdade, Jone... Mas sabia que também atingiria a ruiva.

Era um preço.

Nando se sentou.

Os quatro permaneceram em volta da pequena roleta. Os pequenos copinhos, um para cada um foram completados com tequila e as pontas da seta giratória foram definidas como ‘pergunta’ e ‘responde’.

[...]

Uma boa quantidade de questionamentos já havia sido feita. Bem como igualmente um belo número de copinhos virados.

As perguntas, até então, completamente inocentes, haviam feito o lugar tornar-se descontraído. A bebida ajudou claro.

Mas ainda assim, a maneira como Jone e Gina ria em dupla, de comentários particulares, faziam Maia e Nando sentirem o ciúme, não raras vezes, bater.

Em uma dessas vezes, Ferdinando que já estava como todos um tanto quanto ‘alto’ foi determinado pela seta a questionar Jone.

– Verdade ou desafio meu caro? – A voz dele, pela primeira vez, em questionar tornava-se um tanto quanto provocativa.

Jone não entendeu a mudança de tom. Mas resolveu não se importar.

– Verdade. – Ele encarou os olhos azuis com a mesma intensidade que era observado.

Ferdinando sorriu. Era o que queria escutar.

– Que tipo de sentimento você tem pela Gina?! - Ele foi direto. Todos perceberam o clima da brincadeira mudar.

Gina não gostou muito da pergunta. Mas sabia que não devia nada, assim como Jone, então apenas sorriu, e resolveu não fazer dramas.

– O mesmo que você tem pela Maia, meu caro doutor. – Jone sorriu tão sinicamente quanto Nando.

Ferdinando umedeceu os lábios, serrou os olhos. Percebeu que o rapaz sabia jogar.

Maia havia gostado do questionamento. Só não sabia se gostara da resposta... Mas achava que sim.

Resolveu não enrolar.

– Vamos virar a tequila e você gira Jone. – Ela comandou.

Todos assim fizeram.

Quando a seta parou com Gina e Maia em seus extremos, o clima novamente foi formado de maneira desafiadora pelos olhares trocados.

– Pergunte. – Gina fez questão de mostrar-se pronta.

– Claro... - Maia completou novamente os copinhos de todos enquanto encarava a ruiva. – Verdade ou desafio, menininha?

O ciúme de Maia já estava fazendo ela perdeu um pouco a noção.

Gina não caiu na provocação do apelido.

Apenas sorriu com o queixo erguido.

– Verdade.

– A mesma pergunta Gina... Você sente o que pelo Jone? –O sorriso cínico de Maia desapareceu.

O de Gina desabrochou ainda mais. Assim como o de Jone.

– A mesma resposta. – A ruiva foi clara.

– Como assim, Gina?! – Ferdinando queria entender claramente.

– Ué, eu sinto pelo Jone a mesma coisa que a Maia sente por você. – Gina havia aprendido a jogar claramente.

“Diaba.” Ferdinando pensou e a olhou com o sorriso mais malicioso do mundo.

Não conhecia este lado dela. Jogadora, esperta deste jeito com esse tipo de assunto. Por mais que fosse negar até a morte, estava orgulhoso.

– Gira Gina. – Maia foi clara, após todos beberem. Mais uma vez não sabia se havia gostado da resposta.

O jogo estava ficando perigoso.

A seta apontou para Maia em um extremo, e para Jone em outro.
A moça engoliu seco.

Ele já a havia perguntado, mas em um momento mais ‘light’ do jogo.
Sabia que agora, seria diferente.

– Verdade ou desafio Má? – Jone fez questão de chamá-la de uma maneira que a fizesse recordar em um só instante de todas as intimidades que tiveram.

– Verdade. – Ela praticamente estava sem reação após o ouvir chamá-la assim. Nem se lembrou da segunda opção, mas não escolheria.

Os desafios até então haviam sido coisas do tipo ‘vire duas doses’ ou ‘morda uma pimenta’. Sabe-se lá o que poderia vir agora.

– Quem foi a última pessoa que você beijou?! – A maneira clara que ele a perguntou fez seu coração gelar.

O de Ferdinando, idem.

Quem tem culpa...

Afinal, Jone não havia se esquecido ainda do fato que a trouxera ali. O carro deixado na garagem de seu apartamento após uma visita noturna. Apesar da mente estar turva, a dúvida continuava a consumi-lo. Era a chance que teria de descobrir.

Um silêncio chato da parte dela já deixava a resposta um tanto quanto clara.

– Foi o Nando. – Gina não sabia ainda, mas pelo silêncio havia ficado claro que ela não havia beijado outro depois dele, e sendo assim, resolveu logo colocar em jogo.

Se estivesse sã, provavelmente não o faria, principalmente pela clara dor que causaria ao colega.

Mas ela não estava, então...

Ferdinando encarou a ruiva, estava perplexo.

Ela o observava encara como uma cara de ‘que foi?’ cômica, no mínimo.
Jone mordeu os lábios inferiores. Estava furioso.

Mas não demonstraria. Já suspeitava disso, e agora que constatava ser verdade, seria superior.

– Quero ouvir a resposta dela Gina, não é por nada, mas é que assim, ela vai ter que virar nossos copos...

Maia o conhecia. Ele estava sendo frio. Isso não era bom.

Jone era um bom rapaz, carinhoso, doce e apaixonado quando estava com ela.

Mas, ela bem sabia que quando ele se tornava assim, era praticamente impossível reconquistar seu afeto.

Isto só havia ocorrido entre eles uma vez, quando ainda eram amigos, e ela preferia qualquer coisa a ter de enfrentar tamanha frieza agora.

Ainda mais agora, com a suspeita de sentimento que a tomava mais a cada instante próximo dele.

– O Ferdinando... No dia em que a gente brigou. – Ela respondeu de nariz erguido. Estava destruída em ver o olhar verde e frio dele, mas não se mostraria fraca. Não assim. Não ali.

Gina, de leve, sentia que aquilo tudo era culpa dela.

Nando, de leve que era dele.

Os dois observavam em silêncio a cena.

O clima era, no mínimo, chato.

– É bem a sua cara mesmo... – Jone riu cinicamente
.
Maia se ofendeu de imediato pela colocação dele.

– O que você quer dizer com isso Jone?! – Ela ergueu claramente o tom de voz.

– Você sabe muito bem Maia, sempre foi assim, beija mesmo, faz mesmo... Olha, sinceramente, ainda bem que não deu certo... – Ele continuava a dizer cinicamente, enquanto forçava o riso provocativo. – Maia, se eu não te conhecesse e te respeitasse tanto, te compararia a uma...

– Espera aí Jone, não vai perder o respeito, não aqui, na minha frente, apesar de qualquer coisa a Maia é minha amiga e há muito tempo! Por favor, a respeite... – Ferdinando era o mais consciente de todos ali, embora já estivesse com mente embaralhada também.

– Claro que você defenderia sua amiga, não é Nando?! – Jone colocou-se de pé. – Você pensa igual à ela...

Maia colocou-se de pé também.

– Ora essa Jone, a Gina também pensa! – Maia jogou com toda a razão do mundo.

A ruiva levantou-se, Ferdinando também.

– Vai Gina, eu te desafio! – Maia era de longe a mais alterada. – Beija o Jone e me prova que de fato você pensa o que me disse! Ele vai gostar eu garanto...

– Maia você tá maluca?! – Ferdinando não entendeu.

– Não Nando, ela disse que perdoou nosso beijo, que sabe que pode acontecer de duas pessoas beijarem sem sentimento... Então eu quero ver. Se não tem um sentimento, beijem-se, agora. Eu estou te desafiando Gina. Ou você é menininha demais pra isso?!

– Você disse mesmo isso Gina?! – Ferdinando não sabia muito bem o que pensar. Na realidade o fato de Gina pensar assim lhe trazia uma insegurança terrível.

Ele já havia pensado assim, mas no passado. Antes de conhecê-la, não mais agora. E saber que ela pensava assim o fazia temer. Temer que ela a qualquer momento pudesse justificar com isso, algo.

– Ferdinando, você e a Maia são os que menos podem tentar reclamar de alguma coisa aqui... – O tom autoritário dele já irritava a ruiva naturalmente, ela estando tão exaltada então...

Os quatro estavam completamente confusos. O álcool, as verdades, tudo.
Era uma confusão de sentimentos que só piorou quanto um raio acompanhado de um som absurdo acontecendo, fazendo a energia elétrica da casa falhar.

Um breu fazia companhia ao silêncio que se instaurou.

Era como se agora, sem o calor das coisas, começassem a analisar (o quanto era possível) aquilo que haviam dito.

O escuro havia aparecido na hora certa.

Após longos segundos, Nando resolveu se posicionar, com o mínimo de razão que ainda possuía.

– Eu vou lá em cima buscar uma lanterna... – Ferdinando disse um tanto quanto perdido. Começou a subir as escadas guiando-se pelo tato, entre os móveis.

– Eu vou ao lavabo... – Maia estava se sentindo péssima. Seu estômago, agora refletia sua mente.

Ela foi guiada por uma casta fresta de luz, que entrava pela janela do referido cômodo que buscava.

Quando não se ouvia mais ninguém, Gina sentiu uma mão gélida se posicionar em sua cintura, por baixo da larga camiseta.

Ela se assustou, sabia quem era. Mas jamais esperaria.

– Eu posso Gina?! – Jone perguntou aos sussurros, aproximando seu corpo ao da ruiva.

A razão havia cedido à mágoa que sentia.

E certa curiosidade reprimida também.

Gina respirou fundo, o ar lhe sumia.

Ela sabia que devia negar, mas algo não permitia.

Curiosidade reprimida também, talvez.

Álcool, com certeza.

– Jone... – Ela disse virando levemente o rosto, quando se encontrou com a bochecha quente dele.

Ele sentiu a maciez dela.

Ela a suavidade da pele dele.

Não pensaram mais.

Jone apoiou uma das mãos na nuca pequenina da ruiva, enquanto a outra mão repousava castamente em sua cintura.

Ele permaneceu em silêncio, aguardando um retorno. Um retorno que veio.

– Pode... – Gina não sabia quem falava, ela ou a tequila. Fechou os olhos e esperou o desconhecido.

Após a ruiva consentir, Jone apertou levemente os lábios inferiores dela aos seus.

Gina sentiu-se estranha ao segurar na cintura dele. O toque era diferente. A sensação também.

Mas ela não sabia se pra bom ou mal.

O rapaz verificou o que já imaginava, a boca dela era tão suave ao toque quanto o desenho denunciava.

Ele repetiu o movimento, passando a sugar-lhe o lábio superior, calmamente.

Gina sentiu-se incomodada ao notar a língua dele ir de encontro com a sua.

O toque em seu corpo, tudo aquilo.

Era como se ela conhecesse apenas um beijo que de fato se encaixaria ao seu. E não era o dele.

O nexo teimava em negar-se ao ato.

Jone pensou o mesmo quando aprofundou o beijo.

Não era um beijo.

Apenas um protesto, de seus corações orgulhos e ofendidos, não mais.

Nada além.

O movimento de afastar-se um do outro ocorreu simultaneamente. Os dois haviam percebido. No fundo, agradeceram por isso.

– Gina, acho melhor eu ir embora. – A voz dele mal saía.

Arrependimento.

– Tá chovendo... – Ela nem fez muita questão com o tom da colocação, seria de fato melhor.

– Eu sei. – Jone se virou, e rumou incerto até a porta.

O escuro era um aliado de ambos.

Uma leve fresta de luz invadiu por instantes o breu, enquanto ele saia.
– Quem saiu?! – Gina se assustou com a pergunta repentina de Maia, ela nem havia escutado sua chegada.

– Jone. – A ruiva foi sucinta.

– Acho melhor eu ir também... – A morena transparecia já o arrependimento pelas atitudes que tivera.

– E a chuva?! – Gina questionou sendo sensata.

– Já liguei pra um táxi, no banheiro... – Maia havia chorado. Também agradecia a falta de claridade. – Vou esperar lá fora Gina. Com licença.

A moça se retirou.

Gina deixou o peso de seu corpo confuso cair sobre o tapete.

Ela não sabia muito sobre o que pensar, nem o que fazer.

Sua cabeça doía.

De certa maneira, ao contrário do que ela dissera, Nando a conhecia muito bem. Para ‘assuntos’ destilados ela era fraca.

Mas jamais admitiria.

– Gina? – O engenheiro iluminou com a lanterna a sala, e percebeu que o cômodo estava quase vazio. – Cadê os dois?

A ruiva sentia a culpa praticamente lhe fechar a garganta.

Entretanto precisava agir normalmente, ela bem sabia, para que o engenheiro não notasse.

– Foram embora. O Jone a pé, a Maia de táxi. – A voz dela era um misto de rispidez e moleza.

Ferdinando já se colocava em frente à ela após o término da informação. Não havia se importado, reconhecia que a retirada dos dois era o melhor a ter acontecido.

– Gina... Eu acho melhor a gente conversar sobre o que houve aqui...

Gina respirou fundo. Seu estômago foi invadido por borboletas.

Ela se conhecia, não saberia mentir ou esconder o ocorrido.

Mas queria contar de mente clara. Limpa.

Era melhor depois.

–Nando, amanhã... Amanhã a gente resolve tudo de uma vez, sim? – Ela se levantou um tanto zonza. – Eu vou pro meu quarto.

A ruiva pegou a lanterna que estava na mão do engenheiro e rumou para onde havia anunciado, sem nem se lembrar de tê-lo abandonado na completa escuridão.

Ferdinando nem discutiu, nem reclamou.

De fato, no dia seguinte, tudo ficaria mais claro, literalmente.


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Notas finais do capítulo

Amorinhas, desculpem a extensão! rs Espero que tenham gostado!!
Um mega-hiper-ultra beijo! Amo vocês! s2



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