Abri os olhos, a luz fraca vinda da janela denunciava que o sol ainda estava por nascer, mas o celular já tocava alto sob o meu travesseiro.

Passei a mão embaixo do travesseiro á procura da origem do som e mesmo já sabendo quem era, olhei para a tela. A luz forte vinda do eletrônico fez com que meus olhos se irritassem, mas a imagem que se materializava na tela fazia todo meu corpo relaxar. Uma garota de pele em um branco quase pálido, com sardas delicadas salpicadas em baixo dos olhos, os olhos verdes que poderiam ler minha alma e descobrir todos os meus pecados, aqueles cabelos flamejantes reconhecíveis em qualquer lugar e aquele sorriso... Ah, aquele sorriso, ele poderia ser a razão da paz mundial, pois acalmava qualquer reboliço dentro de mim, o sorriso que eu daria tudo pra ver de novo. Rose. Como ela estava linda no dia dessa fotografia, na semana do natal, sorrindo em meio de toda aquela neve, causando a alegria que apenas ela sabia causar, antes de tudo acontecer.

Passei o dedo na tela, antes que o som emitido pelo celular acordasse mais alguém. E antes que eu pudesse dizer qualquer coisa na chamada que acabara de começar, eu ouvi sua voz.

— 5 semanas. — Como um disco quebrado a cena se repete todos os sábados, na contagem de infindáveis semanas dês de o acontecido. A voz doce e chorosa de sempre do outro lado da linha denunciava a noite em claro.

— É, eu sei. — disse com calma, mas já ouvindo do outro lado da linha as tentativas de manter as lágrimas nos olhos, sem sucesso.

— Porque dói tanto Scorpius? Porque ainda não passou? — A voz dela gaguejava e suspirava entre um soluço e outro. Juro que se pudesse á traria para perto de mim, á abraçaria forte e á faria esquecer tudo que o idiota do Scamander fez pra ela.

— Vai passar Rose.

— Ele está com outra Scorpius, Lorcan está com outra. — Sim, eu sabia, e sabia que ela jamais superaria o fato de ele á estar superando. Que ela jamais superaria o fato de ele tê-la traído.

— Sim, eu sei, mas ele está infeliz, dá pra ver. Afinal, quem consegue ser feliz sabendo que teve um tesouro em seus braços e deixou-o escapar? — Foi quase visível pra mim. Ela tinha acabado de dar aquele riso frouxo e rido pelo nariz, era bom sentir que eu á tinha feito sorrir. Mesmo que tenha tido que mentir pra isso. Lorcan não está infeliz, está levando a vida da maneira que sempre levou, iludindo. Nem ao menos deve se lembrar de Rose.

— Você é o melhor amigo do mundo, sabia? — Era bom ouvi-la dizer palavras que não parecessem doentes. Mesmo que não fossem o que eu gostaria de ouvir.

— É claro que eu sei, você tem sorte. — Ela sorriu mais uma vez. Era bom que a primeira voz que eu ouvisse de manhã fosse a dela, mas seria maravilhoso se fosse pra falar de nós e não deles.

— Só você Scorp. — Eu era único, e essa unidade me fazia bem e me doía ao mesmo tempo. Era bom ser um, mas preferível ser um amor, não um amigo. — Desculpe te acordar tão cedo, da próxima vez te ligo ás 10h00 — Estávamos andando em círculos, ela sempre diz isso e da próxima vez me acordará ainda mais cedo. Mas se for pra fazê-la se sentir melhor eu nem dormirei. Afinal, eu sou apenas um otário apaixonado por tudo que ela faz.

— Claro que vai. — Disse ironizando, na tentativa de tirar lhe mais um sorriso, que veio. — Tenta ficar bem.

— Vou tentar. Bom dia. — E desligou.

Virei de barriga para cima, e repirei fundo. A tela do meu celular mostrava 6h35, chovia. Joguei os grossos edredons para o lado e me sentei na cama, apoiando os pés no carpete verde. Levantei e caminhei pelo quarto e antes que desse dez passos minha boca secou e senti vontade de gritar. Puxei os edredons para o chão, joguei e rejoguei todas as almofadas da minha cama contra as paredes. Será que ela nunca iria perceber?

Abri as portas que davam para a sacada tempestuosa e quis correr lá pra fora e gritar com todo o ar que há em meus pulmões, que eu estou aqui, que eu sempre estarei aqui para Rose Weasley, e que eu sou o único capaz de curar seu coração partido, mas me contive.

Sentei sem forças no amontoado de cobertas, observando a chuva que caia á todo vapor lá fora.

Estou impaciente, estou cansado de esperar, quero sair daqui agora e dizer que eu á amo mais do que Lorcan jamais será capaz de amar alguém, e que se eu á tiver não precisarei de mais nada, apenas dela e do seu sorriso perfeito. Quero sair daqui agora e abraçá-la forte e dizer que eu posso curar as feridas do seu coração. Mas eu não posso, porque ela ainda não está pronta e talvez eu também não esteja.

Por enquanto eu terei que aguentar a dor que é amar uma garota que não está pronta para ser amada, muito menos para me amar de volta. E suportar todas as ligações ás seis da manhã para ouvir sobre como estar doendo ter perdido seu amado ex-namorado quando na verdade, foi ele quem á perdeu, e quando, eu estou esperando apenas uma chance para á fazer feliz, mas eu não posso dizer isso, afinal, sou apenas o melhor amigo, é minha função dizer apenas aquilo que ela quer ouvir.

Por várias vezes toco o telefone que veio ao chão junto com os edredons, na tentação de ligar e me declarar, mas isso seria jogar pro ar toda a esperança que me resta e é o que eu menos preciso no momento.

Encosto a cabeça na cama e começo á me lembrar de todos os momentos bons que já passamos juntos e de todos os sorrisos sinceros que já te tirei mesmo em momentos ruins, enquanto o monstro que você chama de ex-namorado era capaz de te tirar lágrimas até em momentos bons, eu te faço tão bem, Rose, e ele te faz tão mal. A vida é tão injusta, talvez esse seja meu castigo, te amar em segredo vivendo uma injustiça. Concluímos que fui um menino muito mal em outra vida.

O mundo está desabando lá fora, mas o meu desaba todas as vezes que te vejo chorando. Porém assim como depois da chuva vem o arco-íris assim é quando você sorri depois que eu digo algo que te faz bem.

Somente um amor pode curar outro, me deixe curar as feridas deixadas por esse amor cruel.

Eu te amo tanto, Rose Weasley.

E juro que um dia você saberá disso e vai rir disso. Rir do meu amor bobo e infinito por você e nesse dia você estará nos meus braços, dizendo que me ama também.