O retorno do menino do espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 4
Meu primeiro amor.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/537573/chapter/4

— Oi Regis! — Cumprimentou-me ela, com um lindo sorriso, no canto esquerdo da boca, brilhando em um batom incolor. — Você realmente continua o mesmo!

— Elizabeth! — Exclamei, reconhecendo-a, nem mesmo sei como.

Levantei-me do sofá e ela me abraçou, beijando meu rosto e deixando que a beijasse também.

— Você está muito bonita! Você sempre foi muito linda! Quantos anos você tem?

— A mesma idade que você deveria ter!

— Dezessete?… Você tem namorado?

— Meu único namorado se chama Regis! — Brincou ela, em belo sorriso. — Mas ele me deixou!

— Voltei agora! — Disse-lhe com o coração palpitando feliz, como se fosse um príncipe. — Você ainda me quer?

— Serei sempre sua namorada! Terei que esperar você se tornar um pouco mais adulto… Mas vou esperar!

Uma sombra de tristeza passou sobre meu rosto.

— O que foi? — Perguntou-me ela.

— Não me tornarei adulto tão logo!

— Não se preocupe! Seremos eternos enamorados e eu esperarei por você!

— O senhor Frene me disse, que mesmo na Terra, não envelhecerei tão logo!

Ela pensou um pouco e disse:

— Esperaremos!

— Pode demorar pelo menos uns vinte anos, para que eu comece a envelhecer e mesmo assim, provavelmente jamais possa ter um filho.

Era certo que sua conversa de namorado, não passava de mera brincadeira; mas para mim era sério: eu que sempre a admirei em sua infância, me apaixonei imediatamente, quando a reencontrei ali na sala de nossa casa. Gostaria de poder realmente me tornar seu eterno príncipe encantado e chamá-la de minha princesa. Meu coração de criança bateu mais forte, parecendo ter desejos de mocinho, mas seria impossível ela me esperar.

— Acho que terei que autorizar você me deixar e conseguir outro namorado!

— Impossível meu gatinho! — Riu ela. — Faz sete anos que espero por você! Vou continuar te esperando!

— Quando você tiver quarenta anos, eu estarei parecendo seu filhinho.

— Ta me chamando de velha?

— Hoje não! Mas quando você tiver quarenta, eu estarei com a mesma aparência de agora.

— Não pode ser Regis! — Negou mamãe. — O clima aqui da Terra é diferente e você vai ficar um moço muito bonito, loguinho, loguinho! Você não acha Beth?

— Quem sabe? — Aleguei. — O senhor Frene prometeu me ajudar!

— Quem? — Assustou-se mamãe (ela se assustava muito fácil).

— Sem que eu precise sair daqui, mamãe!

Beth continuou conosco a tarde toda, inclusive, auxiliando mamãe no trabalho de atender a porta e conversar com as pessoas, que buscavam informações sobre “o menino que retornou do espaço”.

©©©

Na mesma emissora, a qual noticiara minha volta à Terra, no jornal matutino, em âmbito regional, agora no jornal da noite, reprisara a mesma notícia, porém em âmbito nacional.

— Pronto! — Insinuei sério. — Agora vou ficar famoso de verdade!

— É melhor você cobrar cachê! — Brincou Henrique.

— Me dê um autógrafo? — Caçoou Paulinho, pulando sobre mim, no sofá da sala.

Por volta das dez horas daquela noite, papai fôra se deitar e eu o acompanhei, deitando-me a seu lado.

— O que há, Regis? — O estranhou.

— Nada! Posso ficar um pouco aqui?

— Claro! — Me abraçou. — Preciso mesmo recuperar o tempo que ficamos longe.

Cinco segundos depois, como ele continuava abraçado a mim, lhe pedi:

— Não precisa me abraçar papai! Sou homem!

— Pra mim você não é homem! — Me deixou. — Pra mim você é meu filho! E também estou com necessidades de seu carinho.

©©©

Quando acordei, chacoalhado por Paulinho, ainda na cama de meus pais, pouco depois das seis horas da manhã seguinte, fiquei sabendo, que em frente de casa, havia um batalhão de gente. Eram repórteres de diversas emissoras de televisão, rádio, jornal e revista. Papai já havia atendido a todos e prometeu que eu falaria com eles.

Fui ao banheiro, tomei um ótimo banho, escovei os dentes, vesti calça e camisa chique. Mamãe penteou meus cabelos, dizendo, que era para que eu ficasse ainda mais bonito, para aparecer na tevê. Tomei um rápido café, com leite e pão caseiro. Tornei a escovar os dentes; não que fosse costume escovar os dentes duas vezes de manhã (tinha vezes que não escovava nenhuma); mas era uma ocasião especial e não ia querer ser visto na televisão, com fiapo de pão grudado nos dentes. Meus três irmãos mais jovens seguiram para a escola.

Já passava das sete horas, quando, acompanhado por papai, fui ao encontro dos jornalistas, inclusive a mesma Silvia de domingo:

— Regis concorda em falar com vocês. — Afirmou papai. — Desde que seja para todos ao mesmo tempo. Ao contrário, se tornaria muito demorado e cansativo, alem de repetitivo.

Naquele momento, as câmeras já estavam ligadas e foi ali mesmo, na entrada do portão, que iniciamos uma pequena entrevista, em regime coletivo.

— Sinto muito ter feito esperarem por mim! — Aleguei. — Levantei-me agora a pouco e só agora, acabei de tomar café.

— Qual sua idade Regis? — Perguntou-me alguém.

— Embora não pareça, tenho dezessete anos! Nasci em março de mil novecentos e setenta e um.

— Você disse ter sido sequestrado há sete anos, por seres alienígenas. — Insinuou outro repórter. — Confirma isso?

— Não eram monstros, como nossa fértil imaginação cria! — Neguei. — Eram seres humanos, idênticos a nós. Inclusive, foi por isso mesmo que me levaram!

— Por que seres humanos, idênticos a nós, se preocupariam em sequestrar um menino da Terra? — Perguntou-me outro.

— Em seu planeta não existem crianças! São imortais e só existem adultos! A idade média de cada um de seus mais de três bilhões de habitantes é de cinco mil anos! Ou seja, qualquer um deles, nasceu antes mesmo de Jesus ter vindo à Terra. Muitos deles, já nos visitaram, a milhares de anos no passado.

— Como é a vida neste planeta? — Perguntou outro repórter. — Como é sua alimentação?

— A alimentação é idêntica à nossa. Com exceção de que lá não se come carne animal! A alimentação é a base vegetal e muita coisa concentrada, principalmente para longas viagens!

— Como, concentrada?

— Existe uma espécie de alimentação concentrada em minúsculos tubos, como uma cápsula de remédio. Ao se fazer uma viagem muito longa, como vir à Terra por exemplo, seria impossível armazenar alimentação para seus setenta dias de viagem, então eles utilizam pouca alimentação natural e na maioria, concentrada. Esta alimentação não tem gosto, mas por outro lado, a pessoa não precisa ir ao banheiro, não engorda e não sente fome. Eu prefiro muito mais um bife com batata frita! Faz tempo que não como um desses!

— Por que eles queriam uma criança?

— Queriam um filho infantil! Diziam que uma criança traz felicidade! Para eles eu era muito especial! Só retornei porque fugi; caso contrário ainda estaria lá. Jamais concordariam que eu viesse embora.

— Faziam algum mal à você?

— Mal físico não! Eu sofria sim! Mas era com a ausência de casa; de minha família e de meus amigos!

— O que você fazia nesse lugar?

— Brincava sempre sozinho, ou com um robô esperto; jogava videogame, nadava sozinho, ou às vezes acompanhado por uma jovem chamada Leandra. Acho que o nome verdadeiro dela nem era esse! Ia à televisão, ao parque... viajava um pouco e ultimamente estudava bastante.

— Realmente esta seria outra pergunta! — Insinuou a repórter Silvia. — A gente percebe que você fala até muito bem, se compararmos à uma criança de nove a dez anos de idade! Você estudava naquele planeta?

— Quando Sai de lá, estava cursando a sétima série! Estudava pelo menos seis horas diárias!

— Eles falam nosso idioma? Falam Português?

— Não! Não consigo entender patavina de seu idioma! A gente se comunicava, graças a um aparelho tradutor criado por eles. Aliás, estão centenas de anos, avançados em relação à nós. Esses equipamentos de televisão que vocês estão utilizando aqui, não existem lá! Não há necessidade que um cameraman fique com um peso desses nos ombros! Isso lá é em miniatura e controlado por um sistema computadorizado. Não possuem fita magnética. São minúsculos cartões, capazes de armazenar imagens de um dia inteiro de gravação.

— Como funciona a nave espacial?

— Não sei direito! — Neguei. — Quando se vai fazer uma viagem, os engenheiros estudam e traçam toda a rota em um computador de bordo! Embora haja um ou mais astronautas, acompanhando toda a viagem, a nave é pilotada praticamente no automático. É tão simples, que até mesmo eu, já pilotei uma delas. E isto, quando eu tinha realmente nove anos de idade!

— Como é possível uma viagem tão longa ser realizada em pouco tempo? Setenta dias é muito pouco, visto a distância real.

— Concordo e não sei explicar! Só sei que a nave viaja numa velocidade superior a velocidade da luz. Eles me disseram também, que no espaço, o tempo passa mais depressa, o que talvez complicasse ainda mais nosso entendimento.

— Mais depressa? — Questionou-me um dos repórteres. — Não seria o contrário?

— Realmente! — Concordei. — Pra quem está dentro da nave, quanto maior a velocidade, mais os ponteiros do relógio parecem parar! A tal viagem de setenta e um dias, parece ser feita em sete ou dez dias! Sei lá! É apenas impressão!

— Talvez explique o motivo pelo qual você não envelheceu! — Comentou a repórter Silvia.

— Pode até ser um dos motivos também! Mas não o real!

— Como é o planeta onde você esteve? Idêntico à Terra?

— É e não é! — Gesticulei com as mãos. — Tem um clima idêntico ao nosso! Tem água, oxigênio, nitrogênio, vaporização da água, dióxido de carbono, temperatura de trinta e cinco graus… Tem os tais efeitos eletromagnéticos, protegendo o planeta contra os tais ventos solares (estelares). Mas não tem noites! Duas estrelas gigantes se encarregam de iluminá-lo em suas trinta e duas horas diárias. Só em determinado período do ano, que passa um pequeno espaço de tempo diário, sem iluminação em certa parte do planeta[1]. Não onde eu morava! E assim mesmo o período é tão pouco que não chega a escurecê-lo. Pra se ter uma idéia, os carros de lá não possuem faróis.

— Chove?

— Semelhante à Terra. Porém nunca presenciei tempestades muito violentas! Chega a sofrer descargas de raios e trovões e até mesmo, traz certa escuridão ao planeta! Por isso mesmo, o senhor Frene mencionou, que seria útil a instalação de faróis em carros e mais lâmpadas nas residências.

— Deve ser muito calor!

— Trinta e cinco graus! Existe também a camada de ozônio, que assim como na Terra, protege o planeta contra os raios ultravioletas, que é pior do que aqui, devido não haver noites e ser bombardeado constantemente por duas estrelas. Só que a deles é pro...tegida. Os susterianos, por não gerarem mais vidas, prezam muito as que têm, então, ao contrário de nós, não devastam tudo! Eles protegem e conservam sua camada de ozônio. Não existem nada em spray e conservam rigorosamente as matas naturais e todo tipo de natureza.

— Se eles são seres humanos idênticos a nós e saudáveis, inclusive imortais, por que não existem crianças?

Houve risos, imaginando uma pergunta um pouco maliciosa.

— A princípio, eles achavam que era escassez de oxigênio, mas depois de muito estudo, concluíram que a mesma radioatividade que os tornaram praticamente imortais, também os tornaram estéreis. — Respondi, também com leve sorriso.

— Eles não namoram?

— Claro! Namoram, casam e transam normalmente! Só não geram bebês!

— Acho esse assunto desnecessário! — Insinuou papai.

— Tudo bem papai! — Aleguei com sorriso maroto. — Já tenho dezessete anos! Já estudei sobre isso!

Todos riram.

— Você aprendeu muito sobre aquele planeta?

— Estive lá por oito anos! Não tinha muito o que se fazer, a não ser estudar e perguntar. Aprendi muito! Posso ser considerado um susteriano original!

Claro que foi apenas uma metáfora.

— Como é viajar no espaço?

— Belo! Magnífico! Recomendaria a todos! Posso ser considerado privilegiado.

— O que se vê?

— O espaço sideral, muda de cor e forma a todo o momento! Às vezes é azul, ou verde; então muda pra um tom rosado, ao mesmo tempo escurece. Muitas vezes, deparamos com chuva de meteoritos, outras vezes, são meteoros grandes… se a nave fosse pilotada manualmente, com certeza não se chegaria a nenhum lugar, mas, como ela é automática, consegue desviar de todos os meteoros pesados. Os menores se desviam por si mesmo! É como se a nave tivesse um repelente contra esses... digamos... insetos! Como se fosse um objeto imantado de pólo semelhante aos meteoritos! Pólos idênticos se repelem! Não é isso?

— Dá pra assistir aurora boreal?

— Muito difícil! Este fenômeno acontece geralmente nos polos dos planetas!

— Se a nave se desvia dos meteoros, com certeza sai fora da rota traçada pelos engenheiros. E aí?

— O computador de bordo alarma, percebendo o ocorrido e a coloca novamente na rota. O senhor Rud me disse, que se a nave ficar fora de rota apenas um milímetro, ela jamais chegara a seu destino real.

— Como os engenheiros conseguem traçar uma rota tão longa?

— Não sei responder! Só sei que eles usam um mapa estelar! Assim como na Terra, cada estrela pra eles tem um nome! Lógico que não os mesmos nomes dados por nós! Procure em nossos mapas estelares, na Constelação de Ursa Maior e não encontrarás uma estrela por nome Kristall ou Brina! Muito menos, um planeta habitado por nome Suster.

— Elas estão nessa constelação?

— Sim! Mas não são vistas da Terra, a olho nu!

— Como eles descobriram Regis aqui na Terra? Como eles descobriram à Terra?

— Isso foi a cinco mil anos!... Não Regis... Que não existia. — Emendei. — Mas à Terra! O pai do senhor Frene foi um dos descobridores. Quando uma estrela explodiu no espaço, ameaçando Suster, alguns astronautas, imaginando ser o fim de sua espécie, saíram pelo Universo em busca de um planeta ideal. A maioria deles jamais retornaram. Devem ter morrido, ou se perdido no espaço. O pai do senhor Frene, com outros quinze tripulantes chegou à Terra, mas retornou alguns anos depois. Eles tornaram a visitar nossa Terra mais algumas vezes. Depois, devido à longa distância e como as naves não eram tão modernas como as de hoje... Naquela época, se demorava pelo menos um ano pra chegarem até aqui; por isto resolveram nunca mais vir. Só há alguns anos, resolveram ter uma criança em seu meio e como eram estéreis e já com essas naves mais velozes, decidiram buscar uma aqui na Terra. Ser eu foi apenas um acaso. Poderia ser Paulinho…, Henrique…, Kadu… Uma menina...

Para não prolongar muito a conversa, tentava ocultar muita coisa nas respostas e dava uma resposta comprida, pois sabia que se dissesse apenas o mínimo, surgiria outra pergunta complementar.

Também evitei comentar sobre o sequestro de Erick, o acidente de Paulinho e principalmente meu clone, que mesmo eu, só ficara sabendo recentemente.

Todos os repórteres e curiosos presentes, admiravam minha fisionomia infantil, saber tanto sobre qualquer pergunta, mas se esqueciam de que eu teria estudado e aprendido muito na prática. E que, além do mais, não era tão jovem assim.

Terminada aquela pequena entrevista, agradeci a todos e entrei. Papai também pediu licença, alegando precisar trabalhar e se retirou.

A maioria dos repórteres desmontaram seus apetrechos, se retirando também. Outros, porém, preferiram permanecer mais algum tempo no local.

[1] Isto acontece devido a órbita elíptica com que o exoplaneta faz ao centro de suas duas estrelas gigantes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O retorno do menino do espaço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.