Mais uma noite chega. O crepúsculo arrasta-se sombriamente por entre os bosques e campos. As nuvens se agrupam e o anoitecer concede seu brilho. A sonolência se aconchega em todas as camas macias. Logo, os sonhos beijarão as frontes das crianças.

Porém, uma atormentada alma permanecerá insone, em sua vigília. No fundo dá escuridão, há uma cintilante luz, que mostra uma dama, aguardando por seu cavaleiro.

Do verão para o outono, do inverno para a primavera. Anos já se passaram. O tempo transcorre de uma lerdeza torturante, sem trazer notícia alguma, para o sofrimento de nossa dama. Dói-lhe o coração cada vez que perguntam onde está o seu amado. Nem ela sabe, e limita-se a dizer: “Ele partiu em uma cruzada”.

E em todos os segundos, ela se lembra do soturno dia em que ele solenemente se despediu. Relembra cada momento que tiveram junto: o primeiro olhar, a maneira de que ele a elogiava, o primeiro encostar dos lábios, seus braços a envolvendo.... Ah! O que ela daria para ter seu cavaleiro, seu amor, perto!

Então, noite após noite, ela faz mantém sua vigília por ele, ansiando por ouvir o ecoar dos cascos dos cavalos, até que a lua e as estrelas desapareçam. Muitos já lhe falaram que é uma causa perdida, que devia seguir com sua vida, mas ela os ignora. Mesmo com o silêncio refutando as suas esperanças, a dama sabe que ele vai voltar, ele tem que voltar...

Contudo, suas expectativas se mostram feitas de areia. Em um dia cinza, mais soturno que o dia da despedida dele, um grupo chega com um corpo envolvido em um lençol. Ela não quer acreditar, mas sabe que é ele. Os lamentos da dama podem ser ouvidos a milhas de distância, um som doloroso de se ouvir.

Junto com ele, também estão cartas. Cartas destinadas a ela, que não puderam ser enviadas, falando sobre amor, saudades, casamento e até filhos, que eles nunca poderão ter.

É o tiro de misericórdia para a dama. Ela simplesmente corre, sem ver para aonde está indo. As lágrimas molham seu rosto. Por fim, quando para, já exausta, se vê em frente a um penhasco.

O vento acaricia seu rosto. Fechando os olhos, é quase como se o seu cavaleiro estivesse gentilmente afagando seu rosto. Ela abre, os braços. Ele está ali. Ela sente isso. Ele quer que ele se junte a ela. Ela irá.

Por fim, a dama estende os braços, e se atira do penhasco, em direção aos braços de seu amado.