Giant of Science escrita por Bárbara Brizola


Capítulo 2
Capítulo 2: Hulk


Notas iniciais do capítulo

Preciso antes de qualquer coisa. Organizem um bolão e tentem adivinhar.

Dedico este capitulo ao menino Lord Ares e gata S Laufeyson que recomendaram lindamente GOS. Dedico tbm a Grace Reaper que me matou (outra vez) com uma fanart fantástica de GOM. Obrigada de verdade a vocês!

Não seja um fatasminha. Me dê seu feedback, please!!!!

Divirtam-se!



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Ele terminou de ajeitar a gravata em frente ao espelho, passou as mãos pelos cabelos e abriu a porta do banheiro, antes de colocar a pasta de dentes na escova.

– Anong, você já está pronta? – Chamou alto. A menina demorou a responder, mas após alguns minutos surgiu trazendo um pente e uma redinha de cabelo. Banner segurou a escova de dente na boca, enquanto tomava da filha a redinha e ajeitava o cabelo da menina em um coque apertado. Ele tinha muita prática e fez aquilo rapidamente.

– Vou pegar a mochila. – Ela afirmou saindo do banheiro, dando a ele tempo de concluir o que estava fazendo.

Se encontraram na porta de entrada. Banner vestia uma calça jeans escura, uma camisa verde musgo e por cima um casaco de lã batida preta, nos pés usava sapatos sociais. A menina estava vestida com um collant preto, meia-calça rosa e sobrepondo-se a isso uma saia da mesma cor. Um grande casaco rosa a protegia do frio. Nos pés um tênis branco que trocaria por sapatilhas na aula. O pai alisou os cabelos dela com as mãos cheias de gel, antes de abrir a porta e descerem.

Anong foi o caminho todo perguntando sobre Hand e repetindo mil vezes o que a agente tinha conversado com ela na festa na casa da praia. Mesmo com Banner lhe entregando o vídeo game portátil a menina parecia incapaz de ficar de boca fechada. Ele achava graça.

Quando chegaram à escola de dança, o pai beijou o rosto da menina e esperou que subisse as escadarias para a sala, antes de arrancar com o carro. Rodou pelas ruas da cidade cantarolando baixo a música lenta que tocava na rádio. Ele chegou ao prédio da agente Hand e mandou uma mensagem ao celular dela, avisando que estava esperando. Ela morava em um dos bairros mais nobres da cidade, mas quando você é da chefia deve ser normal. Era um prédio branco e bastante largo, com uma arquitetura bonita e a tradicional escada de incêndio do lado de fora. O lugar era bastante arborizado, mas apesar da aparente tranquilidade, Banner não pode deixar de notar o homem de jaqueta preta, parado ao lado de um carro mais a frente conversando com uma mulher loira. Eles mal se mexiam. Tão pouco naturais que poderia ser risível. Hand não era descuidada de sair sozinha com ele.

Banner aguardou por mais dez minutos, até que um carro dobrou a esquina e estacionou logo atrás do dele. A morena saiu apressada, tirando o terninho e o jogando de volta dentro do veículo, se olhou no vidro passando as mãos nos cabelos e abriu um botão da blusa social branca. A maquiagem era suave com exceção do batom vermelho, que ela retocou antes de ir ao carro dele.

– Boa noite. – Cumprimentou entrando no carro.

– Boa noite. – Respondeu a olhando. O casal que estava na rua havia entrado no carro em frente.

– Precisei ficar até mais tarde no Triskelion. – Explicou o atraso sem nenhum constrangimento. Banner arrancou o carro e verificou que o do casal os seguiu pouco depois. Ele reprimiu uma careta.

– Muito trabalho? – Questionou. – Agentes tem mesmo pouco tempo de descanso. Como aqueles dois que estão no carro ali atrás. – Afirmou sem a olhar. Victoria mexia no celular e não pareceu se incomodar. Nem sequer desviou os olhos do parelho.

– Precaução nunca é demais.

– Você não está errada, mas podia ter me feito à cortesia de dizer que eles viriam. – Reclamou num tom neutro.

– Desculpe, foi um descuido. – Afirmou displicente, erguendo os olhos para a estrada. – Mas você também não é muito familiarizado com cortesias. Afinal seria uma grande cortesia ao governo se pudesse nos esclarecer a elaboração do projeto de Jane Foster.

– Foi para isso que me chamou? – Questionou com uma risada baixa.

– Também. – Disse sem rodeios. O telefone na mão dela tocou e Victoria atendeu sem hesitar, silenciando-se por alguns segundos, ouvindo o que a pessoa tinha a dizer. – Certo. Então não deixe que a extração dela aconteça. Ela não deve chegar a Sandbox. Tem certeza de que não era o original? Ele não vai gostar se isso acontecer... Mande para as análises, então. Me mantenha informada. – Concluiu desligando o aparelho. Ele não pôde deixar de prestar atenção no diálogo e de estranhar seu conteúdo, mas ainda assim nada disse. Ela continuou a conversa entre eles como se não tivesse havido interrupção. – Você poderia facilitar essa parte e esclarecer o projeto.

– Eu já disse a S.H.I.E.L.D. que o projeto foi desmontado e pertence à Stark Industries. Peçam aos donos da empresa. – Ele afirmou com a voz trêmula. – Suas missões já parecem te perseguir mesmo fora do horário para querer se preocupar com um projeto desativado há dois anos.

– Eu não posso discutir meu trabalho com civis. E sobre o projeto, você leu os originais. Saberia reproduzi-lo, não?

– Agente Hand talvez seja sensato mudarmos de assunto. – Afirmou seriamente. Os nós dos dedos estavam brancos pela pressão de estarem apertados contra o volante. Ela pareceu notar e assentiu, lentamente.

– Desculpe. – Falou mais por medo do que educação.

– Qual foi o outro motivo que a trouxe aqui? – Questionou enfim, enquanto manobrava o carro em frente à pista de patinação.

– Interesse meu mesmo. – Respondeu sem pudor. Não era dada a meias palavras. – Acho seu caso fascinante. – Comentou respondendo uma mensagem no celular. Banner se virou para olhá-la.

– Agente Hand, desça do carro. – Afirmou, sua voz soando muito mais grave que o normal, atraindo a atenção da mulher. – Agora. – Ela não se atreveu a dizer uma palavra sequer. Apenas pulou para fora do veículo apressadamente enquanto ele arrancava.

A respiração de Banner soava rascante e muito alterada. Um animal de laboratório. Um mero experimento. Sendo perseguido e avaliado. Tentando o manipular abertamente. Jogando com seu raciocínio e com suas emoções. Ele poderia ter arrancado a cabeça dela de sobre o corpo. Queria ter feito isso. Poderia ter se permitido. Não podia. Precisava recobrar a calma, precisava se focar. Precisava desesperadamente de calma. Sabia que a S.H.I.E.L.D. continuaria o atormentando, não era exatamente uma novidade. Mas não conseguia se acalmar. E justamente por estar tão nervoso, não percebeu quando avançou em um sinal vermelho. Um carro acertou o dele em cheio na lateral, o fazendo rodopiar varias vezes na pista, antes de parar.

Ele sentiu a cabeça pesar apoiada contra o airbag que murchava lentamente, ouvia as pessoas gritarem na rua por ambulância e ajuda. Não tinha tempo para aquilo, não quando tremia daquele jeito. Arrancou o cinto de segurança e chutou a porta do carro longe, descendo do veículo. Banner era capaz de sentir o sangue pulsando rápido contra as veias, as dilatando. Se ficasse ali mataria aquela gente ao redor. Tentou se conter. Tentou retroceder, mas tudo que sentiu foi a dor lancinante em sua cabeça que o fez cair de joelhos um grito gutural escapando de sua garganta. Algumas pessoas gritaram. Ele ergueu os olhos para elas. Ele mataria a todos.

Obrigou-se a levantar e correr por um beco qualquer. Algumas pessoas pareceram cogitar o parar, mas sabiamente hesitaram ao perceberem o estado em que ele estava. Tropeçou nas lixeiras e ouviu um gato correr assustado. Precisava parar aquilo. Deu um soco na parede. Não era um animal de laboratório. Um grito de dor lhe escapou enquanto sentia os ossos de alongarem contra a carne, a rasgando. Lutar contra aquilo era sempre uma escolha horrível. Se cedesse se transformaria uniformemente e com tranquilidade, mas ceder não era uma opção naquele momento.

Correu atravessando uma avenida sem sequer olhar para os lados. Um caminhão parou a centímetros dele. O motorista gritou algo, revoltado. Bruce socou o pára-choque sem hesitar soltando um urro. Ele simplesmente destruiu a lataria. Sua mente não trabalhava direito. Precisava parar. Obrigou-se a continuar correndo, entrando por outro beco.

Caiu de joelhos no chão mais uma vez, sentindo os músculos começarem a se distender. Gritou desesperado ao ver a cor das mãos grotescas se alterando. A dor ocupava a mente, lhe mandando desistir do controle, o torturando. Ele não podia. Desesperou-se. Arrastou-se por uma rua lateral até ver a cerca de contenção que separava a rua da beirada de concreto que levava a margem do Rio Hudson. Deixou-se cair pela beirada, despencando de costas no lodo escuro da margem. Era um lugar pouco movimentado àquela hora e ninguém pareceu notar. Não sentiu o impacto. Não sentia nada. Apenas a dor o tomando em cada célula, enquanto ele arfava e grunhia desesperadamente. Devia ter matado Victoria Hand. Devia ter matado todos. Devia morrer. Socou a parede de concreto ao seu lado, no momento em que as costuras da camisa e casaco não suportaram mais a distensão do corpo. No momento em que ele não suportou mais e cedeu ao monstro que era.

Sua mente era uma bagunça. Uma profusão de sentimentos e pensamentos desconexos. Ossos quebrados. Fogo. Gritos. Vergonha. Medo. E ódio. Mas ele ainda estava ali. Impedindo que aquela besta se levantasse e espalhasse o caos por toda a cidade novamente. Ainda existia Bruce Banner em Hulk.

Escorou-se contra a parede, deixando que um grito escapasse para os céus. Odiou-se mais do que nunca. Controle? Ele não sabia o que era isso. Todos sempre estavam errados. Sempre. Ele os odiou por isso. Arrancou uma escada de metal da parede ao seu lado e a arremessou para o fundo do rio. Sentou-se escorado a parede, sentindo o sangue que fluía carregado de tanta raiva que o deixaria louco. Por que aquilo tinha que acontecer a ele? Por que não podia ter uma vida normal como a de qualquer pessoa? Por que não podia se matar como qualquer pessoa?

Grunhiu ao ouvir uma música lenta, vindo do meio do monte de trapos que tinha sido seu casaco e camisa. Remexeu aquilo irritado, rasgando o resto do pano. Os olhos irados pousaram no celular que caiu do meio das roupas, tocando em meio ao lodo. Ergueu os punhos para o quebrar em milhões, mas a foto que piscava na tela o fez hesitar. Mesmo em sua mente conturbada e raivosa, sabia a quem pertencia o rosto. O pai dentro do monstro se agitou nervoso ao reconhecer que a filha ligava. Franziu as sobrancelhas, confuso, grunhindo baixo. Tornou a se sentar, tentando a calma. Encarava o aparelho. Acabou por arremessa-lo no rio.

Fechou os olhos por longo tempo. Uma ou duas horas. Sentindo o sangue fluir e a raiva se abrandar. Sentia-se cansado e de volta a si mesmo. Chorou alto. Odiou-se mais um pouco. Sentiu vergonha. E uma raiva muito mais contida ainda fervia embaixo da pele clara. Passou as mãos no rosto, nervosamente. Não havia matado ninguém. Nem destruído nada, com exceção de uma escada e um buraco numa parede. Além do próprio carro e de um caminhão. Passou as mãos sujas pelos cabelos. Anong tinha ligado. Ela estava no ballet. Precisava a buscar, mas no estado em que estava... Precisava ir.

Achou a própria carteira aberta e com cartões e nota sujos e úmidos. Pegaria um taxi para ir busca-la. Ele não tinha nem noção da hora. Sua menina poderia estar plantada há horas o aguardando. Controlou-se contra o impulso do pânico. Ela sabia que devia aguardar. Andou pela beirada do rio, até achar outra escada por onde subiu. Com a luz da rua pôde notar o estado deplorável em que estava. Nenhum taxista pararia para ele. Caminhou cabisbaixo até o metrô. As pessoas o olhavam de soslaio. Não era comum mendigos em Greenwich Village.

– Por favor, que horas são? – Perguntou a um guarda de casa noturna. Sua voz soava muito rouca. Qualquer um diria que estava bêbado.

– Meia noite. – O homem respondeu o olhando desconfiado. Finalmente o pânico o tomou. Correu em disparada por duas quadras derrapando na entrada do metrô. Comprou uma ficha com uma atendente que nem parecia o ver e desceu as escadarias.

Três estações depois saiu em disparada pela rua. Chegou ao prédio do estúdio de dança e naturalmente a filha não estava mais ali. Tudo estava fechado e as luzes apagadas. Hoje era dia quinze. A aula acabaria mais cedo. Ele havia se esquecido disso. Correu aos tropeços para casa, sentindo os pulmões protestarem. Pediu a Deus que Anong tivesse ligado para o padrinho, que estivesse com ele agora. Precisava apenas de uma roupa limpa e a encontraria. Ela sabia que não podia andar sozinha na rua àquela hora. Se tivesse acontecido algo a ela... não... ela ligaria para Tony.

Entrou pela portaria do prédio e nem sequer notou a expressão do porteiro ao ver o estado em que se encontrava. Subiu aos saltos pela escada. Quando chegou a porta de casa percebeu-se sem chave. Devia estar no carro. Havia musica vindo do interior e a luz estava passando pelo rodapé da porta. Tony devia tê-la trazido. Suspirou aliviado e tocou a campainha.

Ouviu passos e a porta se abriu. Sua pequena tailandesa estava ali, de pijama e banho tomado, o olhando visivelmente chocada. Ele a teria abraçado se não fosse a sujar inteira.

– Pai? – Perguntou alarmada. Então ele viu uma mulher loira, surgir às costas da filha. Franziu as sobrancelhas, confuso. Era a professora de ballet. O homem entrou no apartamento a olhando constrangido.

– Eu bati o carro... – Justificou numa voz muito baixa e constrangida. - ...e fui assaltado. – Completou. A filha pareceu surpresa assim como a professora. O cientista e a menina trocaram um olhar que dizia muitas coisas. Ela segurou a mão da mulher.

– Toma um banho, pai. A gente te espera na sala. – Falou conduzindo a mulher, ainda o olhando daquele jeito cúmplice.

– O senhor está bem? – A mulher perguntou breve. Ele assentiu, antes de ir para o banheiro anexo ao quarto.

Olhou-se longamente no espelho. Fez uma careta de puro desgosto. Entrou num banho apressado, tirando todo o lodo seco e mal cheiroso do corpo. Vestiu-se com uma calça de moletom e uma camisa cinza do mesmo material. Voltou à sala e encontrou a filha e a mulher sentadas no sofá, jogando uno e comendo pizza sobre a mesinha de centro. Uma música lenta tocava baixinho no som. Ele se sentou numa poltrona.

– Desculpe não ter ido te buscar. – Falou para a menina. Anong deu um sorriso apagado e entregou uma fatia de pizza num guardanapo, para o pai. – Era hoje que a aula acabava mais cedo não era?

– Era... – A professora confirmou. – Mas não tem problema. Anong tentou ligar, mas ninguém atendeu. Já deviam ter o assaltado. Fiquei preocupada com a demora e a trouxe para casa.

– Obrigado de verdade. – Agradeceu, antes de dar uma mordida na pizza.

– Desculpe eu ter tomado a liberdade de pedir uma pizza na sua casa, mas ela reclamou de fome e eu não quis mexer na cozinha para preparar algo. – A mulher justificou-se. – Acabei ficando, mas eu já estou indo.

– Eu devo ter atrapalhado. Você devia ter algum compromisso, para encerrar a aula antes. – Desculpava-se muito constrangido. Ele detestava atrapalhar os outros e era o que mais fazia.

– Nada demais, eu ia sair com umas amigas do tempo da faculdade. Marco para outro dia. – Dispensou as desculpas dele, com um sorriso, para em seguida fazer uma careta quando Anong a fez comprar mais quatro cartas. – Trapaceira.

– Eu jogo para ganhar! – Afirmou rindo. Bruce riu baixo, enquanto a mulher, fazia suas jogadas.

– Você é formada em que? – Questionou curioso.

– Educação Física. – Ela disse, colocando uma carta na pilha. Era óbvio. – Mas fiz o curso porque sem ele não poderia dar aula de ballet. – Falou, sua voz sendo abafada por um gritinho de Anong ao perceber que tinha feito uma jogada errada e acabado de perder o jogo. A mulher riu alto da indignação dela. – Eu jogo para ganhar! – Alfinetou com uma risada.

– Mais uma! – A menina gritou animada. – Agora meu pai joga junto!

– Desculpe Anong, mas já é bem tarde e eu realmente preciso ir para casa. – Justificou-se guardando as cartas numa caixinha. – E seu pai deve estar bem cansado depois do dia cheio.

– Não por isso, mas amanhã ela tem aula e já passou da hora de dormir. – Ele advertiu a filha que fez um beicinho.

– Tudo bem... – Reclamou, levantando-se para guardar as coisas e desligar o som.

Banner chamou um taxi para a professora e a acompanhou a porta do prédio quando o motorista chegou.

– Obrigado, de verdade. – Disse abrindo a porta do taxi para ela. - Boa noite senhorita Moore.

– Pode ser só Lana. – A loira disse, ainda sem entrar.

– Como? Liana? – Ele se atrapalhou.

– Não. Lana. – Corrigiu rindo.

– Então obrigado mesmo Lana.

– Não foi nada. Eu imaginei que tivesse acontecido algo. – Explicou entrando no carro. Ele sorriu sem jeito, mas antes que pudesse fechar a porta, ela a segurou com a mão. – Você vai fazer alguma coisa no sábado?

– Ahn... Vou sim. – Respondeu numa mentira. Depois de hoje, não faria mais nenhuma bobagem e era visível que ela o chamaria para sair. A mulher fez um beicinho decepcionado.

– Bom, se seus planos mudarem podíamos ir jogar boliche. Era aonde eu iria hoje com as minhas amigas. – Falou com um sorriso simpático. – E acho que Anong ia gostar. Bom, boa noite. – Encerrou se acomodando no banco. No entanto Banner não fechou a porta.

– Você quer que eu leve a Anong? – Questionou confuso. Ela tornou a o olhar.

– Achei que ela fosse gostar.

– Olha, meu compromisso era levar ela para sair... Quinta-feira eu subo no estúdio e podemos combinar melhor, ok? – Falou depressa, atrapalhando as palavras com medo de que desistisse se não as expusesse logo. A mulher sorriu.

– Combinado então. Até quinta. – Despediu-se finalmente fechando a porta. Bruce aguardou o carro dobrar a esquina antes de entrar novamente no prédio e subir pesadamente para seu apartamento. Idiota impulsivo.

Anong estava sentada na sala com uma expressão tensa, trazendo os pensamentos dele de volta a terra. Ele sorriu sem graça antes de fechar a porta. Ela veio até ele e o abraçou. Bruce retribuiu calado.

– Alguém viu? – Ela questionou preocupada.

– Mais ou menos.

– Alguém se machucou?

– Não que eu saiba. – Respondeu beijando a testa dela.

– Então tudo bem... Acontece... – Comentou com uma maturidade muito além da sua idade. Ele riu. Ela não devia precisar se preocupar com aquilo. Preferiu não discordar dela e a preocupar ainda mais. – E o carro? Bateu mesmo?

– Bati.

– Cadê ele?

– Deixei na rua... – Respondeu com um pouco de dificuldade de lembrar. As últimas horas pareciam um turbilhão de imagens desconexas.

– Ih! Diária de reboque e multinha! – Afirmou rindo. Ele não pôde reprimir uma risada. Ela era muito esperta.

– Amanhã eu resolvo isso. Vai dormir. – Mandou. A garotinha finalmente o soltou e foi para o quarto.

Banner se obrigou a escovar os dentes e guardar as sobras da pizza na geladeira, antes de ir para o próprio quarto. Não conseguiu pregar os olhos a noite toda. Precisaria se entender com o dono do carro batido, com o reboque e ainda pagar a multa e o conserto de dois carros. Talvez conseguisse encontrar o dono do caminhão. No dia seguinte ainda ligaria para Fury e lhe daria alguns avisos bem claros, sobre mandar seus agentes atrás dele. Ele sabia bem o que era, mas parecia caber um lembrete a S.H.I.E.L.D. e seus integrantes. No dia seguinte resolveria tudo isso, por hora se permitiria descansar como se fosse uma pessoa normal como todas as outras.

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Eram dez horas quando ele levantou. Não conseguiu acordar no horário e Anong acabou perdendo a aula e ele o trabalho. Quando chegou a sala, encontrou a filha ainda de pijamas, sentada no sofá, abraçando os joelhos enquanto assistia uma reportagem na CNN.

As pessoas o tinham filmado com os celulares e liberado vídeos na internet. Mesmo que seu rosto não ficasse claro, fosse pelo ângulo ou pela qualidade de imagem, as pessoas já conheciam o Hulk bem o suficiente para saberem que era ele. Um repórter afirmava que o governo devia se responsabilizar por manter aquele monstro longe dos cidadãos de bem e não permitir que circulasse expondo a população.

A menina ergueu os olhos para o pai. Chorava em silêncio. Bruce fechou os olhos por alguns segundos, sentindo algo ruim se enroscar em seu estômago. Sentou ao lado dela, que o abraçou chorando ainda mais alto.

– Odeio eles. Odeio. Odeio. Odeio. – Repetia sem parar. Ele beijou a cabeça dela.

– Eles tem medo. É normal. – Falou num tom baixo. Ela apenas balançou a cabeça negando. Era do pai dela que estavam falando. Era o pai dela que estavam tratando como um monstro. Ela não conseguia entender e muito menos aceitar. Não havia resignação nela como havia nele. – Não vai acontecer nada. Nunca acontece. Vai ficar tudo bem. – Dizia sem realmente acreditar. – Vamos, pare de chorar. Alguém me ligou?

– O tio Tony. – Ela disse com a voz abafada por ainda ter o rosto escondido contra ele. – Disse que o Jarvis está tomando conta de tudo. Que era para você ligar quando acordasse. – Explicou. Bruce respirou agradecido. Pepper devia ter acordado cedo como sempre e visto as notícias, avisado Tony que os tinha isolado da mídia e da S.H.I.E.L.D. garantindo algum tempo para que ele pudesse se organizar. Anong ergue os olhos vermelhos para ele. – O que vai acontecer agora?

– Nada. – Respondeu com um sorriso fraco, limpando os olhos dela. – Vai tomar um banho. Vou ligar para o Tony e talvez a gente vá para lá. Você quer ir? – Perguntou num tom brando. Ela assentiu. – Então vai se arrumar. – Insistiu.

Assim que ela saiu da sala, apoiou a cabeça nas mãos. Desligou a televisão e voltou ao quarto pegar o celular. Assim que deslizou a tela, a imagem do reator arc apareceu como plano de fundo, indicando que Jarvis estava ali.

– Jarvis, preciso ligar diretamente para Nick Fury. E que avise a Tony que vamos para a casa dele. – Disse ao celular. Em pouco menos de um minuto um número de celular surgiu na tela.

– Fury. – Uma voz grave atendeu.

– Mantenha seus agentes longe de mim. – Falou sem rodeios.

– Doutor Banner? – Perguntou em dúvida. Aquele era seu telefone pessoal. – Agentes? Que agentes?

– Você mandou Victoria Hand tentar conseguir informações que eu não tenho. Eu não sei sobre a pesquisa de Jane Foster. A vi completa, mas não sei como funciona. – Discutia exasperado. Não era exatamente verdade. Bruce tinha ajudado a construí-la. Sabia muito bem como funcionava, mas se Fury queria aquilo nada de bom poderia resultar. Nenhum dos asgardianos era oficialmente visto a pouco mais de dois anos, não havia nenhum motivo razoável para quererem remontar um portal para Asgard. E nem para nenhum outro lugar. Era melhor que cada reino, ficasse dentro de seus limites.

– Doutor Banner a agente Victoria Hand é falecida. Foi abatida a mais de um ano, por um agente infiltrado da H.Y.D.R.A. – Ele falou numa voz calculada.

– Mas... Ela estava numa festa de Tony. Veio com agentes. Natasha e Steve estavam lá! – Afirmou chocado.

– Eles não conheceram Victoria Hand. Pouco ouviram falar dela. Eles eram minha jurisdição, não precisavam conhecê-la. – Nick falava numa voz ponderada, deixando claro que sua mente corria em várias direções. – Devia ser uma agente da H.Y.D.R.A. disfarçada. O que disse a ela?

– Antes de quase arrancar a cabeça dela? – Perguntou com certa ironia. – Nada relevante. Eu realmente não tinha nada a contar. Mas eu a busquei em casa. Em Greenwich Village.

– Ela realmente morava lá... Você a viu sair do apartamento? – Questionou.

– Na verdade não... – Deu-se conta. O homem suspirou.

– Tudo isso teria sido evitado se tivesse simplesmente nos dado as informações que queremos. – Fury afirmou. Não tinha tempo a perder.

– Eu não as tenho...

– E mesmo se tivesse não as entregaria. – Completou. Já sabia o discurso completo. - Percebe que a H.Y.D.R.A. ainda nos causa muitos problemas e vai continuar o rondando? Seria mais simples se nos desse as informações. Assim qualquer um que o procurasse, você já saberia ser um inimigo.

– Ou posso continuar calado, pelo simples fato de não saber como executar o projeto. – Afirmou seco. Não falar nada a ninguém era muito mais simples. Muito mais digno.

– Mas sabe onde e em quais depósitos estão as peças e como monta-las. – Afirmou Fury com firmeza. Isso era verdade. Tony tinha destruído todos os arquivos sobre a máquina e encaminhado suas partes, sem nenhum dado preciso para os depósitos da Stark Industries. Assim que a S.H.I.E.L.D. tinha se dado conta da fuga de Liana e Jane, havia tentado conseguir o maquinário, mas os únicos que realmente entendiam aquilo além da cientista se recusavam a falar qualquer coisa. Mesmo os assistentes de Jane entendiam apenas partes do projeto. Sem conhecerem as partes e como as montar não havia como mandar uma ordem de busca para os depósitos. E sendo os envolvidos quem eram, a organização se obrigava a manter a negociação pacifica. Se acontecesse algo a qualquer um deles, a retaliação seria imediata e nada benéfica ao governo. Os Avengers não eram exatamente fantoches. – Se simplesmente nos disser...

– Eu vou te dizer algo simples. – Falou exasperado. – Eu tenho uma filha de dez anos que está no banho certamente chorando, porque chamaram o pai dela de monstro na televisão. Eu podia ter matado gente. Se a H.Y.D.R.A. ou a S.H.I.E.L.D. se aproximarem novamente, certamente eu vou. Façam o que tiverem que fazer, mas mantenham-se longe. – Afirmou lentamente, tentando controlar suas mãos trêmulas. Desligou sem dar tempo de uma resposta e sentou-se na beirada da cama. Deitou-se em seguida, fechando os olhos até realmente acalmar-se. O mundo tinha se tornado um lugar confuso. Sabia que ambas as organizações o perseguiriam atrás de informações, mas jamais o ameaçariam ou a Anong. Não era uma escolha inteligente.

Cerca de quarenta minutos depois, havia ligado para Tony e Pepper e agora seguiam de taxi para a casa dos dois. Ele e os amigos passariam o dia discutido a ação do agente da H.Y.D.R.A., o que tinha acontecido e como abafar tudo para que não afetasse Anong. Passaram o dia resolvendo toda aquela bagunça, inclusive pagando as despesas dos acidentes. Como tudo na vida de Bruce as coisas saiam dos trilhos rapidamente, mas sempre voltavam uma hora outra. Ele não estava sozinho.


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Notas finais do capítulo

Vamos contem para tia o que mais gostaram? O que acharam interessante? Não gostaram de algo? conversem comigo!

Beijinhos!