Insônia escrita por Hela


Capítulo 1
Linhas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Já teve a impressão de estar sendo observada(o)?
De que alguém conseguirá entrar no seu quarto, mesmo que a porta esteja trancada?
E que este alguém lhe fará mal?

Já ficou com medo de acender as luzes quando vai beber água ou ir ao banheiro na madrugada, porquê alguém do lado de fora da casa pode ver a luz acesa e querer entrar?

Sinto alguém me enforcando.

Já teve pesadelos animados?
Em que seus piores medos se transformam em desenhos, como os da Disney?
Assustador, não acha?

Eu já tive esta impressão.
Já tive medo de acender as luzes (mesmo tendo medo do escuro).
Já tive pesadelos animados.

Neles, os meus piores medos se transformam naquilo que eu odeio.
Desenhos.
Outros são mais simples. São apenas linhas. Mas o que linhas tem de assustador?
Nada. Mas mesmo assim tenho medo delas. E elas não são linhas comuns.

Ainda sinto ele me enforcando.

Geralmente, penso nelas quando minha mente está cheia (o que acontece com frequência) e eu não sei o que sou. As linhas também ficam cheias. Algumas vão até o consultório das linhas cirurgiãs e fazem uma lipoaspiração. Mas... no momento que elas ficam finas o tempo para, volta e continua seguindo e as linhas enchem de novo.

E isso é assustador. Parece que a minha cabeça vai explodir. As linhas se enchem e ficam mais gordas. Mais, mais, mais e mais. Se enchem tanto que preciso abrir os olhos, mas isso não adianta. Continuo pensando em linhas cheias e no quanto elas gastam nas clínicas das linhas cirurgiãs para ficarem finas. E as linhas cirurgiãs também são gordas e também gastam em clínicas de outras linhas cirurgiãs.
Elas não entendem que devem ser cheias.
Elas não se aceitam do jeito que são.
Elas não entendem.

No início da manhã. Cansada de ser forçada a pensar em linhas. Abro a janela do meu quarto e olho para o céu. O sol está nascendo.

Não quero olhar para o sol, mas as linhas não deixam e me obrigam a olhá-lo.

Estou com falta de ar.

Desisto.Olho para o sol. Depois para a lua, que ainda está visível. Em seguida para a minha porta. Alguém ainda pode entrar. Vou até o banheiro e tomo meu remédio. Ele me deixa enjoada. Volto para a cama e desisto.

Já desisti. Virei uma das linhas.

Me caso. Tenho filhos. E nós vamos ficando mais cheios. Mais, mais, mais e mais. Tudo está cheio agora. Não há mais tempo. Nosso mundo agora é pequeno demais para todas as linhas. Tudo irá explodir.

E isso tudo é tão assustador.

Não existe mais linhas agora. Não existe mais mundo agora.

E então... eu durmo.


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