Corria entre o jardim do palácio, o vento batendo no meu rosto. Com certeza eu estaria atrasada, mas eu nem ligo mais. Hoje eu deveria estar pronta para uma aula de etiqueta as três, mas preferi fazer alguma coisa mais legal. Já tinha planejado tudo e só precisava checar mais uma vez para que meu plano estivesse totalmente pronto. Passei pela fonte e comecei a entrar na floresta. Nem dei dois passos e parei, virando para o muro.

- Está perfeito. – disse pra mim mesma, vendo o atalho que levava a uma falha no muro, que dava acesso às ruas de Angeles.

A Festa da Gratidão era amanhã e esse ano meus pais tinham resolvido fazer um grande festival de três dias. Eu pensava nisso há meses, até estudei os turnos dos guardas do jardim para que quando eu estivesse tentando sair ninguém me pegasse. Tinha que dar certo! Eu só teria uma chance.

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Gwen me encarava enquanto mastigava seu café da manhã e eu tentava entender o quê de tão interessante ela tinha visto em mim naquele momento. Olhei para os lados, para baixo e ela continuava a me olhar.

- O que foi? – perguntei.

- Só estou olhando para esse machucado em seu pescoço. – ela disse e apontou com o garfo.

- Gwen! – disse baixinho, com receio que meu pai desse uma crise de superproteção assim que ouvisse aquilo.

- Algum problema em nossos pais saberem disso?

- Claro que não, mas você sabe como é no-.

- Meninas, – minha mãe disse, me interrompendo sem perceber. – quero avisá-las que hoje, como vocês já sabem, acontecerá o festival da Festa da Gratidão e vocês duas devem estar presente conosco.

- Mas mãe, hoje eu preciso organizar umas coisas! – disse, inventando uma desculpa.

- Fleur, é uma ocasião muito importante, nós precisamos de toda a família reunida.

- Mas...

- Não contrarie sua mãe, querida. – papai disse.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, um mordomo entrou na sala, chegou perto de meu pai e disse algo a ele.

- Bom, meninas, eu e a mãe de vocês temos um último compromisso agora. – os dois se levantaram e Gwen também. Ela e mamãe foram na frente, conversando sobre um vestido que seria usado hoje. Já eu ainda estava sentada, quando papai voltou para falar comigo. - Fleur, o festival começa ao meio dia, porém só iremos fazer um pronunciamento às cinco horas, você pode fazer o que você quiser antes e só chegar quando precisarmos saudar o povo.

Pensei por alguns segundos.

- Tá bom, papai. Muito obrigada.

- De nada, filha. – ele beijou minha testa e saiu.

Corri para o quarto no mesmo momento, dando de cara com minhas criadas. As empurrei para fora do quarto na hora, mesmo com elas insistindo para que ficassem. Peguei uma calça jeans que tinha achado no armário do antigo quarto da minha mãe e guardei na mochila, coloquei uma blusa, um casaco, uma bolsinha com um kit de primeiros socorros pequeno, algum dinheiro e minha garrafa d’água. Peguei a peruca da minha fantasia do Halloween do ano passado e entrei na passagem secreta. Desci vários degraus até chegar a uma porta de outra entrada que dava para um pequeno salão no primeiro andar.

“Droga, os guardas da porta principal!”, pensei.

Tinha me esquecido de uma das coisas mais importantes. Ainda pensando no que eu iria fazer, puxei a maçaneta, colocando só a cabeça pra fora do quarto e percebi que só um moço estava de guarda. Pensei, pensei até que tinha uma ideia.

- Olá – disse ao me aproximar.

- Bom dia, princesa. – ele fez uma reverência.

- Para você também. Eu só vim aqui te avisar que o meu pai pediu para falar com você no escritório dele. Mas se ele não estiver lá, é para voltar para o seu posto.

- Está bem, princesa. Irei imediatamente. – ele me disse, ainda me olhando desconfiado.

Me virei e parei em frente a um espelho, tentando disfarçar que eu estava esperando que ele fosse embora. O guarda saiu no mesmo momento e quando ele já tinha chegado ao segundo andar, abri a porta principal e saí apressada. Assim que me afastei um pouco da entrada do palácio, comecei a correr. Chegando ao meu atalho, tirei o vestido. Peguei a calça jeans na mochila e vesti. Coloquei a blusa e o casaco. Prendi o cabelo e ajeitei a peruca média e preta, olhando no espelhinho que eu tinha trazido se a franjinha que ela tinha estava certa. Dobrei o vestido e coloquei debaixo das folhas, no canto da falha no muro.

Respirei fundo.

Era agora.

Pela primeira vez, sozinha através dos muros do palácio.

Seria o melhor momento da minha vida.

Comecei a correr.