Névoa de Guerra escrita por Kuma


Capítulo 12
Em família


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto pré-hiato e_e
as coisas aqui andam se complicando, não sei quando vou poder postar novamente D:



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A noite em Noxus era o total oposto do dia. O calor abafado da cidade se transformava rapidamente em um sereno doentio, e a luz da lua iluminava bem a poeira no velho salão da mansão Du Couteau. Os edifícios noxianos tinham, em sua maioria, o terceiro ou quarto andar em forma de cúpula. Um toque extravagante na cidade mais cruel do continente.

Katarina observava a cidade pela janela embaçada quando o assassino entrou. A velha porta de mogno tinha alguns metros de altura e fazia um ruído inconveniente, e Talon tentou abri-la muito pouco para evitar sons. Um esforço inútil, ambos os assassinos pensaram ao ouvirem a porta ranger. O som dos passos do rapaz permitiram à ruiva deduzir que seus sapatos escorregavam naquele piso antigo.

"Você chegou tarde.", Kat disse, virando-se de braços cruzados para o homem. Talon suspirou pesadamente e abaixou o capuz que usava. A luz pálida da lua iluminava apenas um lado de sua face, e seus olhos normalmente castanhos tinham um tom sobrenaturalmente amarelo naquela noite. "Já é noite, é bem capaz de os espiões terem batido em retirada."

"Me infiltrei em todos os cantos do Conselho durante o julgamento, e não vi ninguém suspeito." Talon confessou, um tanto ofegante. Katarina deduziu que ele se apressou para encontrá-la a tempo. "Confesso que vi princípios de baderna em alguns momentos durante a saída das pessoas. Um ou dois demacianos arrumando briga com noxianos. A não ser que os espiões de quem fale sejam uns ótimos atores, não vi nada."

"Talon, Talon, Talon, velho amigo.", Katarina cantarolou, andando em volta do assassino. Seus passos deixavam marcas no piso empoeirado. "Seus olhos não são mais os mesmos. Após o julgamento daquele tal guerreiro invencível, vi uma ave saindo do edifício, sendo que só devia ter gente lá dentro."

"Tá desconfiando de um pássaro?"

"Não era um simples pássaro!" A ruiva se exaltou. "Tinha acessórios e tudo o mais! Não me pergunte como sei disso, era bem óbvio de ver enquanto ele voava. Entende minha linha de raciocínio?"

"Lógico que sim", Talon afirmou em um tom sarcástico enquanto acenava com a cabeça. "Agora vai me dizer que tem um pássaro contando segredos pra... "

Houve silêncio. A compreensão surgiu no rosto do assassino junto com um sorriso incrédulo.

"É, talvez tenha razão." Talon admitiu, e Kat lhe deu um tapa no braço. "Mas que tipo de pessoa treina uma ave para conseguir informações?"

"É exatamente por isso que me espanta a sua falha nas buscas. O indivíduo que buscamos deve ser bem peculiar.", disse Kat, voltando a andar em círculos. Ouviu-se uma coruja.

"Swain?". Talon indagou, pensando imediatamente em algum sujeito estranho que gosta de pássaros. Katarina negou com um riso. Os dois passaram mais alguns minutos divagando. Katarina olhou para o teto - uma abóbada muito alta e ornamentada com pinturas sobre guerras antigas. Estreitou os olhos ao ver a imagem desbotada de uma rosa negra. "Será que Le Blanc tem algo a ver com isso? A Liga tem enfrentado problemas diplomáticos, e a Rosa Negra adora se envolver nessas coisas."

"Se tivesse me dito que seu suspeito era a Rosa Negra desde o início, eu conseguiria informações em um instante.", Talon afirmou, franzindo o cenho. Ele viu o brilho das várias lâminas em suas roupas refletirem nos olhos verdes da ruiva, que o observava com pupilas dilatadas pela noite. O mais puro olhar da insatisfação.

"Você cresceu e ascendeu nas sarjetas. Não tem como eu esperar que você reconheça a nacionalidade de pessoas pela diversidade étnica." A assassina disse, com uma voz branda tão fria quanto a noite lá fora. Sua face era contornada pelas sombras como a lua crescente. "Te chamei aqui não só pelo seu relatório. Preciso de alguém que escute."

Talon engoliu seco. Ergueu novamente o capuz - um sinal particular entre a família Du Couteau, com o significado de que o que dirá será protegido. Katarina sorriu levemente com a prova de confiança.

"Diga, então."

Com um bom suspiro e uma pausa para repensar a decisão, Katarina desabou.

"Não consigo mais. No julgamento, confrontei o homem que me fez isso" Ela tirou uma mecha de cabelo vermelho do olho cicatrizado. "Era uma situação séria, até o Darius estava lá, e você sabe que ele odeia essas coisas. Eu vi aquele oficial demaciano e foi como se todo protocolo a que fui treinada desaparecesse. Meu bom senso foi pro espaço e aí eu fui pra cima do cara, ele e aquela vadiazinha loira que tentava agir como se nada estivesse acontecendo. Não posso continuar assim. Tive sorte de reagir dessa forma no meio de uma cerimônia! Consegue imaginar se eu fizesse isso no meio de uma batalha? Simplesmente ir pra cima de alguém por razões unicamente pessoais? Foi por causa de uma dessas que eu feri o olho, foi por uma dessas que eu perdi a confiança do meu pai, foi por uma..." Katarina parou quanto sentiu os olhos pesarem. Não ia se permitir chorar na frente de um indivíduo tão sincero. "Basta", ela pensou. "Estou perdendo o profissionalismo, Talon. Essa missão que lhe dei foi só para te testar mesmo, caso eu precise..."

"Kat. Você não vai parar." O rapaz comentou, usando as mãos para falar tanto quanto a boca, como sempre fazia. "Não conseguiria parar. Matar já é quase um hobby, pra nós dois. Vai por mim. É questão de superação."

Ela fez que não com a cabeça, sorrindo incrédula. Fechou os olhos. O rapaz das ruas não entenderia tal coisa. Talon não valorizava a honra, algo que Kat queria muito ser capaz de fazer, mas não conseguia. Lembrava-se de seu pai toda vez que recebia uma missão. Se perguntava se ele acharia seus métodos insolentes, como se ela fosse uma afronta ao seu nome.

Lembrou-se então de uma tarde de primavera na mansão Du Couteau. O senhor seu pai, o General, sempre com sua expressão indiferente, a observava em seus treinos diariamente. Era tão injusto, Katarina pensou. Enquanto ela tinha sido sinada a passar a infância e parte da adolescência atirando adagas em bonecos, adquirindo maestria em meia dúzia de artes marciais e sendo constantemente julgada pelo pai, sua bela irmã ficava em seu luxuoso quarto, escrevendo cartas para filhos de lordes e suas colegas feitas na corte. Lembrou-se de como teve que usar roupas adequadas ao treino - calças e coletes - enquanto sua bela irmã usava um vestido diferente por dia.

A diferença de estilo de vida entre Katarina e sua irmã Cassiopeia era grande demais. E como ela nunca foi a pessoa mais paciente do mundo, certa vez resolveu confrontar o patriarca Du Couteau.

"Injustiça!", a jovem Katarina bradou durante um jantar em família. Ela se lembrava detalhadamente da expressão congelada de seu pai, uma repugnância capaz de fazer pessoas chorarem. "Minha irmã come em banquetes, pega doces nas cozinhas todos os dias, veste camisolas e vestidos belíssimos, tem aulas de idiomas antigos e etiqueta! Ela escreve para várias pessoas e é correspondida, enquanto eu fico aqui. Todo dia tenho que levantar com o canto do galo e treinar até que o galo cante novamente. Já cansei disso. É injusto!"

A lembrança da maior surra e humilhação que já sofrera na vida empurrou as lágrimas como uma onda.


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Notas finais do capítulo

O tal treinador de aves misterioso é nossa querida Quinn, que virá a ser inimiga do Talon xD



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