Por bem ou por mal.

As palavras ecoaram na minha cabeça e eu me senti tonta. Pus a mão no coração e voltei silenciosamente para o quarto. Entrei e tranquei a porta. O que eu deveria fazer naquele momento era estar chorando de nervoso e desespero, mas ao invés disso estava arrumando minhas coisas. Eu não iria deixar minha família sacrificar suas vidas por mim. Eu não podia. Lágrimas desciam como água pelo meus rosto e eu as sequei rapidamente.

Joguei a mochila embaixo da cama e tentei me acalmar. Fui para o banheiro e tomei um banho rápido. Voltei para o quarto de toalha e me troquei. Fui para a cozinha calmamente e ninguém estava lá. Tomei café tentando acalmar minhas mãos trêmulas. Voltei para o quarto e me surpreendi ao ver Pedro lá. Ele tinha algo brilhante nas mãos e o girava lentamente. Ergueu o olhar assim que me viu.

–Precisamos conversar.

–Tudo bem.

Sentei-me ao seu lado e ele pegou minha mão.

–Eu sei que você ouviu a conversa que tivemos na cozinha.-Fiz menção de falar mas ele me silenciou com um gesto.-E sei que quer fazer alguma coisa para ajudar. E mesmo que eu saiba o que você vai querer fazer e provavelmente já deve estar fazendo, devo te avisar. Os anjos vingadores não são como aqueles que você conheceu. Eles são brutos, arrogantes e muito inteligentes. Eu sei disso porque já fui um anjo vingador. Peço então que não faça nada imprudente, pelo seu bem e do nosso. Você não faz ideia do que querem com você, e nem nós sabemos. Nós queremos te esconder e fazê-los acreditar que você foi sequestrada pelos demônios.

–E fazer o que depois Pedro?-Consegui finalmente perguntar.-Não entendem a minha existência, não tem nem noção do que sou capaz. O que é verdade pois nem eu mesma sei.

–Boneca, isso nada diz. Não vou permitir que você guerreie para poder se "encontrar".

Levantei de súbito.

–Não irei permitir sacrifícios desnecessários. Eu sei que o que querem é me proteger mas tá mais que na hora de eu aprender a me defender sozinha. Eu não preciso fazer uma escolha? Pois então. Seja aqui, lá em cima ou lá embaixo, eu vou escolher e todos terão de saber da minha escolha.

–Você não entende. Não se trata da sua escolha, mas da sua vida. Você indo com os anjos vingadores não é garantia de continuar viva.

–Se eles não fizerem os demônios farão. Tenho certeza de tentarão me sequestrar de novo, assim como tentaram naquele dia.

Pedro arregalou os olhos. Ele não tinha pensado nos demônios. Cruzei os braços e abri a boca para argumentar de novo. Mas nesse exato momento a voz de Julieta irrompeu do lado de fora e ela completou a frase entrando no meu quarto.

–...que eles estão chegando. Você não perde tempo hein!

Pedro levantou e se posicionou ao meu lado. Passou o braço em volta de mim e me puxou para perto.

–Não posso esconder nada dela.

–Pois então, já que falou tudo o que tinham de falar, vamos logo escondê-la.

Me levaram para os fundos da casa e me cercaram. Papai estava lá, mas evitou me olhar e não falou comigo. Achei a atitude estranha, e quando pensei em falar algo, senti me acertarem e nos braços de alguém eu cai.

Vai passar, logo logo vai passar.