Pokémon Nuzlocke: Heaven & Hell escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 8
Capítulo 7 - Races


Notas iniciais do capítulo

Enfim, tenho um certo estoque de capítulos e, com isso, acho que conseguirei postar com mais frequência. Porém, estou em época de testes, o que significa que terei menos tempo para escrever, então não posso prometer nada. x-x" Mas, aproveitem esse cap aqui, espero que gostem o/



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Seu primeiro dia em Striaton fora corrido, porém, aproveitado ao máximo. Após receberem algumas dicas e ajuda de Draven em seu treinamento, as três jovens sentiam-se mais seguras e conscientes do que deveriam fazer, adaptando o que o loiro havia dito para criar seus próprios e originais métodos de batalha, desenvolvendo técnicas de ataque e defesa da melhor maneira que conseguiam.

Quando o sol dourado escondeu-se atrás dos inúmeros prédios da cidade grande, tendo seu brilho ofuscado pelas construções e conferindo ao enorme manto anteriormente azul uma coloração laranja mesclada com violeta, as garotas decidiram deixar o Dreamyard, recolhendo seus monstros de bolso à suas respectivas pokébolas e guardando-os em segurança dentro de sua mochila. Desde que deixaram Nuvema, não haviam passado tantas horas consecutivas com seus fiéis companheiros, o que lhes dera a falsa sensação de que viviam novamente em um mundo harmônico, onde ambas as raças podiam manter contato e dividir risadas e sorrisos. Não queriam jamais ter que abandonar as ruínas do possível antigo castelo, mas precisariam retornar ao centro urbano para conseguir alguns trocados.

A cidade estava com grande movimentação, possivelmente por ser um domingo. Moradores dirigiam-se à shoppings e mercados, ou mesmo lojas de ruas, para comprar o que necessitariam durante a semana seguinte, ou simplesmente aproveitavam o resto do final de semana com parentes e amigos queridos. Caroline decidira-se por fazer uma pequena visita aos pontos mais importantes de Striaton e explorá-la, em geral; por ter vivido em uma fazenda durante grande parte de sua vida, escondida por colinas e florestas, nunca havia realmente passado muito tempo em cidades, exceto pelas poucas vezes em que concordava em acompanhar sua mãe em suas compras mensais. Agora, porém, teria tempo de sobra para conhecer aquele ambiente tão peculiar para ela.

Amy voluntariou-se para fazer companhia à menina de cabelos negros, pensando em fotografar a cidade de ângulos diferentes para que pudesse vender as imagens posteriormente. Alyss, por outro lado, preferiu estabelecer-se em um banco de madeira próximo a lojas de rua independentes, onde retirara seu bloco de desenhos e lápis da mochila, os quais carregava sempre consigo, oferecendo caricaturas e retratos realistas por um preço justo a moradores que por ali passavam.

Havia muito para se ver na cidade, de modo a superar completamente as expectativas das meninas sobre ela. Esta havia crescido e evoluído muito nas últimas décadas, tornando-se mais urbanizada e tecnológica. A menina de cabelos castanhos conseguira belas fotografias de monumentos, estátuas e fontes, embora as melhores imagens que tenha conseguido fossem aquelas que tirara no Parque L’air Pur, para o qual Caroline insistira em ir após enjoar-se dos tumultos. Este, como o nome sugere, possuía uma grande biodiversidade de flora, que forneciam ar puro àqueles que precisavam distanciar-se das fumaças liberadas por carros e usinas, dispondo também de magníficos lagos de águas cristalinas. A jovem de cabelos negros poderia não aprovar a expansão exagerada por parte dos homens, destruindo espécies naturais da região apenas para afastar pokémons, mas devia reconhecer que era incrível o modo como a cidade era capaz de conciliar o cinza com o verde, oferecendo o melhor dos dois mundos a todos os seus moradores e visitantes.

A noite chegara rápido. Guiadas pelas luzes brilhantes e coloridas do centro comercial de Striaton, as duas garotas retornaram ao local onde sua terceira amiga havia se instalado, deparando-se com uma Alyss sorridente ao ali chegarem. A menina de cabelos azuis informou-lhes, fitando-lhes com os olhos púrpura que haviam adquirido um novo brilho, que havia conseguido cento e cinquenta dólares durante as três horas em que ali ficara. Era muito mais do que esperava e, embora soubesse que não teria tanta sorte nos próximos dias, já que a movimentação diminuiria e, consequentemente, sua clientela, acreditava que a quantia que obteria durante seus dias ali trabalhando acrescida ao dinheiro que conseguiria ao derrotar o líder de ginásio ilegal da cidade seria suficiente para pagar sua alimentação e a estadia no hotel, sobrando-lhe ainda um punhado para que pudesse comprar também medicamentos para seus pokémons.

Após o longo dia, as três, novamente reunidas, decidiram retornar ao hotel para que pudessem conseguir algumas horas de descanso antes de retornar ao Mercado Negro, onde teriam de conseguir algumas informações. Afinal, ainda eram dez horas da noite, e teriam de esperar as pessoas retornarem à suas residências para que as ruas voltassem a ficar desertas, quando poderiam caminhar despercebidas até seu destino, o que só ocorreria em, pelo menos, quatro horas.

Quando as ruas tumultuadas começaram a esvaziar-se, com as pessoas que por ali passeavam retornando à suas casas, a hora perfeita para sair do hotel finalmente chegara. Camuflando-se às sombras, era fácil as três jovens passarem despercebidas. Refizeram o caminho até a grande feira ilegal, como haviam feito no dia anterior, sem muitas dificuldades. Chegando ao local, perguntaram a um vendedor por informações, e este as redirecionou a uma pequena barraca no canto do estabelecimento, na qual estava uma senhora que, apesar de seu cansaço, sorria amigavelmente. A mulher prontamente lhes forneceu os dados que buscavam.

As três meninas alistaram-se para a batalha de ginásio, após descobrirem que a senhora no guichê de informações organizava grande parte dos eventos ilegais da cidade. Caroline seria a primeira a desafiar Benjamin, o famoso líder do ginásio de Striaton, e a batalha das outras duas meninas estava marcada para poucos dias após a sua. Alyss inscreveu-se também no Contest, que aconteceria poucos dias após seu confronto com o líder de ginásio. Enquanto as duas jovens preferiram retirar-se para que pudessem vender seus produtos também no mercado e conseguir um pouco mais de sustento, a menina de cabelos negros preferiu aguardar e perguntar por mais algumas informações. Causou uma certa surpresa na balconista ao perguntar-lhe sobre Corridas de Ponyta que pudessem vir a ocorrer na região, e ficou ainda mais atônita ao descobrir que um desses eventos mensais aconteceria em uma semana. Não hesitou em inscrever-se e, após agradecer pela ajuda da mulher, voltou a procurar suas amigas e, após algum tempo, decidiram retornar ao hotel.

Os dias não demoraram a passar e, embora nada realmente emocionante acontecesse, as jovens e seus pokémons aproveitavam muito bem o tempo que passavam treinando nas ruínas abandonadas, retornando a estas todas as manhãs para preparar-se para os eventos dos quais participariam em breve. Caroline estava ligeiramente insegura quanto à corrida, realizando alguns treinamentos de agilidade com seu Ponyta, mesmo que já houvessem feito tantos em sua fazendo em Rainbow Valley. Aproveitou o tempo livre que conseguia diariamente para ligar para sua mãe, informando-a sobre o que ocorria em sua jornada e apresentando-lhe a Leroy. Em meio a toda a correria desde que saíra de casa, mal havia percebido o quanto sentia falta da mulher que lhe criara com tanto amor e, embora sentisse uma forte vontade de revê-la, não queria abandonar sua viagem agora.

Após diversos treinos, a insegurança da garota se esvaía, sendo substituída por pura ansiedade, e logo o dia tão esperado chegara. A jovem mal podia conter sua animação, assim como Firestarter, que esperara por aquele momento durante toda a sua vida: o dia em que poderia orgulhar seus pais, seguindo seus mesmos passos. Ambos arrumaram-se no quarto do hotel em que estavam hospedados e, na hora certa, dirigiram-se junto à Amy e Alyss ao local onde ocorreria o evento.

A passos lentos, Caroline desceu a escadaria de pedra, que agora lhe era extremamente familiar. Hesitou ao deparar-se com a enorme parede rochosa, fitando a pequena e perfeitamente esférica concavidade que esta possuía. Virou-se para trás uma última vez, como que para assegurar-se de que as outras duas jovens ainda a acompanhavam. Estas lhe lançaram sorrisos reconfortantes, tentando apoiá-la e esperando retirar um pouco de sua tensão. A menina de cabelos negros assentiu para si mesma, retirando a esfera vermelha e branca que guardava Firestarter de dentro de sua mochila, posicionando-a cautelosamente no devido lugar. Imediatamente, uma luz vermelha piscou, acionando o mecanismo que movimentava a porta perfeitamente escondida e, dentro de alguns segundos, uma fenda começou a abrir-se na parede, iluminando o cômodo frio e escuro. Removeu a pokébola, guardando-a novamente e, hesitante, a jovem adentrou o local.

Seus olhos azul marinho se arregalaram em surpresa quando Caroline deparou-se com um espaço completamente diferente do que era o Mercado Negro que visitara tantas vezes. As barracas coloridas haviam desaparecido, cedendo lugar a duas longas arquibancadas, dispostas nas extremidades leste e oeste do local, causando a falsa sensação de que este se tornara mais amplo. No centro, logo à sua frente, faixas brancas pintadas no chão de terra demarcavam o espaço de cada corredor, possuindo ao início números inseridos em quadrados, que provavelmente indicavam o número dos participantes; exatamente dez. Bandeiras triangulares, vermelhas e azuis, corriam pelo alto teto, trazendo mais vida ao estabelecimento. Não mais havia pessoas correndo de um lado para o outro; estas estavam organizadas, sentadas nas arquibancadas e aguardando pacientemente o início da corrida.

A garota de cabelos negros era uma grande bagunça de emoções no momento. Sentia-se animada e ansiosa por sua primeira corrida, embora também receosa e pressionada; precisaria alcançar, ao menos, o terceiro lugar, caso quisesse obter a quantia necessária para manter-se até a próxima oportunidade que tivesse para conseguir mais. Estava insegura, mesmo após realizar diversos treinamentos de agilidade com seu Ponyta, e temia que pudesse não se sair tão bem quanto esperava. Tentou respirar fundo para conter a vontade de gritar e acalmar-se mentalmente, embora não fosse de grande ajuda.

— Sejam bem vindas. — soou uma voz doce e feminina — As três irão competir? — perguntou, tranquilamente.

Caroline piscou algumas vezes, precisando de um momento para assimilar a presença da mulher à sua frente e processar suas palavras. Analisou-a, percebendo tratar-se, provavelmente, de uma das organizadoras do evento. Era de estatura mediana, possuindo cabelos castanhos que caíam na altura de seu ombro e olhos de um tom um pouco mais claro. Em sua camiseta verde havia uma etiqueta, indicando que seu nome era Cassie.

— Apenas eu. — após longos segundos, a jovem balançou a cabeça em negação.

— Então as senhoritas podem seguir com o John, ele os levará até seus lugares na arquibancada. — virando-se para Amy e Alyss, a mulher estendeu a mão de um homem alto e negro, que sorriu para ambas amigavelmente.

Prontamente, a menina de cabelos negros começou a mexer em sua mochila, encontrando a pokébola de Leroy sem muitas dificuldades. Lembrara-se de que o Buizel estava tão animado quanto a própria treinadora e o cavalo de crinas flamejantes, e pedira para assistir à corrida. Sendo assim, Caroline pressionou o botão central do dispositivo, que irradiou um feixe de luz branca, revelando a lontra laranja.

— Leroy, fique com elas. — instruiu-o, colocando uma das mãos sobre o ombro do pokémon antes deste sorrir animadamente e seguir junto às outras duas jovens e o organizador.

— Desejo uma ótima corrida e boa sorte a você e seu pokémon. — Cassie voltou-se para a menina de cabelos negros novamente, retirando do bolso traseiro de sua calça jeans uma espécie de crachá e entregando-o à jovem. — Você é a participante de número sete. Ao ouvir o sinal, por favor direcione-se a faixa correspondente. — e, sem ao menos dar chance da garota fazer a pergunta que estava em sua mente, respondeu-a: — Os outros corredores estão se preparando aos fundos. Lá você encontrará todo tipo de equipamento necessário.

Caroline apenas assentiu em agradecimento, nervosa demais para balbuciar qualquer palavra. Trêmula, pôs-se a caminhar até o local indicado. A cada passo que dava podia sentir sua respiração tornar-se mais pesada, a tensão dominando-a por completo. Parou subitamente, determinada. Fechou os olhos, como que para concentrar-se, respirando fundo. Era sua primeira corrida, mas confiava suficientemente na capacidade de Firestarter e sabia que se sairiam bem. Qualquer tipo de sensação, exceto pela da adrenalina pulsando por suas veias, era desnecessária e prejudicial. Após murmurar algumas palavras de encorajamento mentalmente para si mesma, continuou, agora com uma postura confiante.

Havia cerca de seis outros competidores aos fundos, todos eles acompanhados de Ponytas. Mesmo sendo de mesma espécie, cada um dos pokémons apresentava características únicas e peculiaridades próprias; as cores do fogo que percorria sua cabeça, caudas e costas variavam entre o amarelo alaranjado e o vermelho caqui, a diferença entre altura e físico sendo também perceptível. Caroline não via tantos dos cavalos de fogo juntos em um mesmo espaço desde que saíra de sua fazenda, e achava incrível saber que mais pessoas dedicavam-se à criação deles e às corridas. Esboçando um sorriso, jogou a pokébola de Firestarter ao alto, a qual carregava em sua mão esquerda até então, e em milésimos de segundo esta revelou o pokémon de crina azulada.

O Ponyta shiny fitou animadamente os arredores, com seus olhos verdes mergulhados em entusiasmo. Logo depois, demorou o olhar sobre a menina de cabelos negros, que sorria para ele, aproximando-se da mesma para permitir-lhe tocar seu focinho.

— Você está pronto? — perguntou, o nervosismo visível em sua voz.

— Eu nasci pronto. — o cavalo respondeu, prontamente. — Nós dois nascemos para isso. — ele afirmou, referindo-se ao fato de que seus pais, Rapidashes, passaram sua vida inteira nas pistas, assim como a mãe de sua treinadora.

A jovem assentiu, sentindo-se preparada. Ignorou os olhares alheios, perplexos ao deparar-se com o fogo azul que emanava do Ponyta recém-chegado, ao dirigir-se a um suporte preso à parede que apoiava uma cela marrom, um suadouro azul e arreios de mesma cor. Estava acostumada a colocá-los em Firestarter, então não apresentou dificuldades ao fazê-lo. Ajeitou, também, as caneleiras de metal que eram utilizadas diariamente pelo pokémon, e que exerciam uma função de proteção indispensável durante corridas. Após certificar-se de que o equipamento do Ponyta havia sido perfeitamente colocado, passou a endireitar também as roupas que vestia, desamassando sua calça jeans azul escura e sua blusa de botões branca de manga comprida, refazendo também o nó em sua gravata vinho.

— Nós não precisamos vencer. — afirmou a garota, virando-se para o cavalo. Queria certificar-se de que ele não se sentiria pressionado; o objetivo principal das corridas era fornecer-lhes prazer e diversão, embora precisassem também do prêmio em dinheiro que seria oferecido aos três primeiros colocados.

— Mas nós iremos. — o Ponyta respondeu, confiante. Era difícil contrariar a determinação de Firestarter, porém, seu comportamento preocupava a garota. Embora raramente fosse competitivo, sabia que isso poderia ocorrer, e não seria saudável para o cavalo.

Caroline abriu sua boca, pronta para recitar mais um de seus discursos sobre a real importância das corridas, mas fora interrompida por uma voz que soou através de um microfone, tornando-se audível para todos, e avisando para os participantes que deveriam organizar-se para o início do evento. A garota soltou um longo suspiro antes de montar o Ponyta, ajeitando-se sobre a cela e segurando firmemente as rédeas azuis. Juntamente aos outros competidores, posicionou-se em seu respectivo lugar, em frente à faixa de número sete.

E, somente ao ouvir a contagem regressiva, iniciada em cinco, a menina pôde sentir toda a confiança esvair de seu corpo, cedendo lugar à tensão e o nervosismo. Parecia que o sangue deixava seu corpo, tornando-a mais fria e pálida. Diversos pensamentos invadiram sua mente, pressionando-a.

Fechou os olhos, concentrando-se. Sabia que deveria esvaziar sua mente de quaisquer outros pensamentos alheios à corrida. Se deixasse seu nervosismo transparecer, poderia prejudicar, também, Firestarter. Encarou a linha de chegada a aproximadamente trinta metros de distância, seus olhos azul marinho tornando-se mais escuros. Aos poucos, recuperava sua confiança e determinação. Não se deixaria vencer tão facilmente.

E, quando se dera conta, a contagem havia chegado ao fim. Agarrou as rédeas com força ao sentir seu Ponyta começar a movimentar-se, atingindo os quarenta quilômetros por hora dentro de poucos segundos e, a partir daí, sua velocidade apenas aumentava. Olhou de relance para os lados, percebendo que estava, no momento, em quarto lugar. Precisamos de mais do que isso, pensou. Abaixou-se, dobrando seu corpo, assim como o cavalo, que esticava seu pescoço para frente, em uma tentativa de reduzir a resistência do ar para que pudesse tornar-se mais veloz. Notara dois corredores sendo deixados para trás, assegurando-lhe de que deveria estar em segundo, agora. Mantenha, nossa posição está boa, disse, mentalmente. Firestarter esforçou-se para ultrapassar o Ponyta que ocupava a primeira posição, mas não obteve sucesso. Este fora mais rápido, cruzando a linha de chegada poucos milésimos de segundo antes do cavalo de crinas azuis flamejantes.

— A corrida desta madrugada foi incrível, não estou certo? — cantarolou uma voz masculina ao microfone, convidando a platéia a aplaudir e assoviar, o que fizeram sem pestanejar. — Vamos dar uma olhada em nossos vencedores! — o anunciador aproximou-se do final da pista.

Caroline arfava, embora não tanto quanto o Ponyta shiny. A corrida não havia sido longa, e nem ao menos apresentara obstáculos; era, de fato, para iniciantes. Porém, para chegar aos sessenta quilômetros por hora, os pulmões de Firestarter precisaram de muito ar. Ar que lhe era insuficiente durante a corrida, e que precisava recuperar agora.

— Em primeiro lugar, temos... — o homem ao microfone fitou um papel em suas mãos que, provavelmente, continha os dados dos participantes. Dominada por sua curiosidade, Caroline virou-se para encarar aquele que, por pouco, lhe vencera. E arregalou os olhos ao deparar-se com rosto familiar. — Connor Collins e Blaze!

A platéia gritava em adoração ao rapaz e sua Ponyta, ambos esboçando sorrisos vitoriosos. Caroline, porém, apenas manteve sua expressão surpresa, fitando o loiro incrédula e com certa raiva. Ele não apenas havia derrotado-a em uma batalha, mas agora também em uma corrida. Estava tão ocupada encarando o vencedor com um olhar mortífero que nem ao menos notou o apresentador aproximando-se.

— E, em segundo, Caroline Kavanagh e Firestarter! — o homem abriu um sorriso brilhante, colocando uma fita azul no dorso do pokémon e entregando o prêmio à menina logo após; 700 dólares.

A jovem de cabelos negros agradeceu, forçando um sorriso e colocando o bolo de dinheiro em seu bolso. Poderia guardá-lo em sua mochila assim que retornasse ao local onde a deixara, ao fundo. Depois, sua atenção voltou-se novamente para o loiro e, pela primeira vez naquela noite, olhos azuis de tons diferentes, um brilhante e vívido e o outro escuro e tempestuoso, se encontraram. Rapidamente, Caroline desviou o olhar, bufando. Percebeu que seu Ponyta compartilhava do mesmo desgosto pelo rapaz e sua égua quando este fez o mesmo.

Imersa em pensamentos, a garota nem ao menos ouviu o apresentador anunciar quem chegará em terceiro lugar e, antes que pudesse perceber, o evento já chegava ao fim.

— Com isso, finalizamos o evento de hoje. Agradeço a todos por sua presença, e espero vê-los novamente na próxima corrida, em dois meses! — o homem finalizou, antes de desaparecer tão repentinamente quanto havia aparecido.

Calmamente, Caroline desceu das costas de seu Ponyta e, observando que os outros faziam o mesmo, dirigiu-se ao local onde havia se preparado anteriormente. Removeu cautelosamente o equipamento de Firestarter, devolvendo-o ao mesmo suporte do qual os apanhara. Colocou o dinheiro que recebera em sua bolsa, logo após voltando-se para o cavalo novamente. Utilizou uma escova para remover o excesso de suor dos curtos pelos do Ponyta shiny e, ao acabar, suspirou.

— Você foi ótimo, garoto. — exclamou, com um sorriso orgulhoso em seu rosto. Sua posição havia sido quase excelente, e o Ponyta havia se saído incrivelmente bem para sua primeira corrida oficial. Era inegável, porém, que se sentiria melhor caso não fosse Connor a obter o primeiro lugar. Não via problemas em perder, mas, de todas as pessoas no mundo, por que logo ele?

— Não, não fui. — o cavalo bufou, irritado. Detestava perder, ainda mais para Blaze. E ali estava sua competitividade, subindo à tona novamente. — Eu poderia ter vencido. Se eu tivesse me concentrado mais, podia... — não conseguiu terminar, pois fora interrompido pela menina.

— Fire, você foi incrível. Conseguir segundo lugar em uma primeira corrida, mesmo que para iniciantes, é algo excepcional. E estou muito orgulhosa de você. — sorriu, acariciando o focinho do Ponyta, como sempre fazia para acalmá-lo.

Ao perceber que os outros competidores, bem como os espectadores, já se dissipavam do grande subsolo, Caroline achou melhor fazer o mesmo. Porém, ao virar-se, deparou-se com a figura que menos gostaria de ver no momento.

— Não vai parabenizar o vencedor? — o garoto provocou, um sorriso de canto brincando em seu rosto. Ao seu lado estava a Ponyta, fitando Firestarter com seus olhos escarlates.

— Como sabia que iríamos nos encontrar de novo? — indagou a menina, ignorando completamente a pergunta que o outro fizera. Desde a batalha no Mercado Negro de Accumula, aquela dúvida percorria sua mente. Lembrava-se de, após retirar-se do campo, o rapaz murmurar "Da próxima vez que nos encontrarmos, talvez você tenha mais sorte." Como ele poderia ter tanta certeza de que haveria uma próxima vez?

— Hm? — o loiro arqueou uma das sobrancelhas, primeiramente confuso. Porém, sua expressão brincalhona logo retornou, enquanto ele se recordava de suas próprias palavras. — Eu sabia que você participaria da corrida. — ele afirmou e, antes de deixar a menina lhe fazer mais perguntas, prosseguiu: — A maior parte das pessoas que criam Ponytas participa das corridas. Mas o que realmente confirmou minha hipótese foram as caneleiras de metal que o seu usa. — ele apontou para as patas de Firestarter, onde estavam seus protetores.

Caroline havia se esquecido completamente daquele detalhe. Ainda assim, queria fazer mais perguntas ao loiro. Pela primeira vez, sentia uma certa animação por conhecer outro corredor de Ponytas, e mesmo que ainda estivesse com um pouco de raiva por perder duas vezes para o garoto, havia tanto que gostaria de discutir com ele. Porém, antes mesmo que pudesse dar continuidade à conversa, fora interrompida por uma voz familiar.

— Foi incrível! — exclamou o Buizel, correndo em direção à menina, extremamente agitado e animado, como sempre. — Quando vocês passaram a frente de todo mundo, e aí eles comeram poeira, e vocês... — a lontrinha falava tão rápido que era até mesmo difícil compreender o que ele queria dizer.

— Calma! — a menina riu. — Obrigada, Leroy. — agradeceu os elogios, por fim, observando o Buizel sorrir.

Logo atrás da lontra laranja, estavam as outras duas meninas. Acompanhadas delas, estavam o Espurr no ombro direito de Alyss e Donner no colo de Amy. Elas sorriam, parabenizando a garota e seu pokémon pela boa classificação. Logo após, notaram a presença do loiro, reconhecendo-o facilmente, mas preferiram não dizer nada.

— É melhor irmos. — sugeriu Caroline. Precisariam retornar logo ao hotel, para que pudessem dormir e seguir até o Dreamyard cedo, onde poderiam dar continuidade a seus treinos como vinham fazendo diariamente. Porém, assim que se virou para retirar-se, sentiu a mão do loiro agarrar seu pulso.

— Espere! — ele pediu, fitando os olhos da garota e abrindo um sorriso de canto. Estendeu-lhe sua mão livre, na qual a menina de cabelos negros notou que segurava um pequeno pedaço de papel. — É o meu número de celular. Se precisar de alguma coisa, é só ligar. Vou estar na cidade por mais um tempo. — deu de ombros, soltando o pulso da jovem, que possuía uma das sobrancelhas arqueadas, confusa.

Relutantemente, após longos segundos, a menina apanhou o papel que lhe havia sido oferecido pelo rapaz. Não entendia muito bem por que ele lhe entregara seu número, e pouco menos conseguia pensar em um motivo para o loiro guardá-lo em seu bolso. Porém, apenas assentiu, sem sorrir ou fitá-lo com qualquer outra expressão senão uma surpresa, antes de chamar Firestarter e Leroy e pôr-se a caminhar, deixando Connor e sua Ponyta para trás.

— Essas corridas são bem interessantes. — exclamou Amy ao retornar Donner para sua pokébola, assim como as outras duas garotas faziam com seus pokémons.

— Sim. — concordou Alyss, logo mudando de assunto. — Aquele Connor... Não é o garoto com o qual você batalhou em Accumula? — indagou, arqueando uma das sobrancelhas. Sabia que o rapaz lhe era familiar.

— É ele sim. — afirmou a menina de cabelos negros, bufando, enquanto pressionava o botão vermelho embutido na parede rochosa do Mercado Negro, que abriria a porta uma vez mais, permitindo que saíssem. O gesto foi o suficiente para que as outras duas percebessem que Caroline não estava disposta a comentar o assunto no momento.

As três refizeram o caminho que agora lhes tornara tão familiar, camuflando-se às sombras, atentas para que não fossem vistas. Despediram-se ao chegar ao elevador, onde se separariam, seguindo para seus respectivos andares, marcando de se encontrar na recepção às nove para que pudessem degustar o café da manhã que era oferecido pelo hotel e então retornar ao local adotado por elas como centro de treinamento.

Ao entrar em seu quarto, a primeira coisa que Caroline fez após trancar a porta fora lançar-se à cama. Estava exausta, porém, ao fechar os olhos e parar para refletir por um momento, deixou que um sorriso vitorioso se iluminasse em seu rosto. Podia não ter alcançado o primeiro lugar, mas obtivera dinheiro o suficiente para manter-se, e a sensação de conseguir seu próprio sustento era incrível; afinal, quem lhe bancava até então era sua mãe. Sentia-se independente, como se pudesse conquistar o mundo.

Além disso, desde que saíra de casa, tudo corria excepcionalmente bem. Havia sido alertada dos perigos do mundo em que vivia ainda jovem, porém, embora soubesse que deveria ser cuidadosa, parecia que tudo o que lhe haviam contado não se passava de uma grande mentira. Já passara mais de duas semanas por sua própria conta e risco, e não havia tido de enfrentar muitos obstáculos até então. Era como se vivesse naquele mundo que não conhecera, o lugar que era a Terra antes da guerra que dividiu as duas raças.

Com o doce pensamento em sua mente, rapidamente adormeceu, sonhando em um dia poder, de fato, livrar todos das fúteis regras impostas pelo governo e reunir os dois mundos uma vez mais.

****

— E aqui estamos nós, de novo. — murmurou Leroy, sem ao menos tentar esconder a falta de interesse em seu tom de voz. Fitava as ruínas com desprezo; o mesmo local que, cerca de uma semana atrás, havia lhe encantando, tornara-se apenas um outro canto comum, para onde retornava diariamente. Não havia nada de novo para se ver ou fazer, apenas as mesmas colunas derrubadas, paredes de tijolos de pedra arruinadas e os mesmos treinamentos de sempre.

— Entendo que possa estar cansado daqui. — Caroline riu diante do comportamento do Buizel. — Mas logo batalharemos contra o líder de ginásio da cidade, e precisaremos estar prontos para ganhar a insígnia. — explicou, com um novo brilho em seus olhos. Ao sair de casa, seu objetivo estava longe de ser cruzar o continente à procura de pedaços de plásticos que ganharia com batalhas, as quais julgava serem fúteis e desnecessárias, mas que logo aprendera a amar, assim que compreendeu seu verdadeiro significado. Suspirou de leve, antes de continuar. — E, também, precisamos estar preparados para nos defender, caso necessário. Tanto de pokémons, quanto de agentes do governo.

— Sim. Ao aceitar a proposta de Juniper, concordamos que teríamos de nos tornar mais fortes. — relembrou a jovem de cabelos azuis, acariciando os pelos roxos do Espurr calado em seu colo.

— Vamos começar logo isso, então. — a lontra alaranjada bufou. No fundo, porém, gostava de treinar; apenas cansava-se facilmente caso tivesse de fazê-lo repetitivamente.

Calmamente, as jovens dirigiram-se aos respectivos lugares que ocupavam diariamente; havia espaço suficiente para todas, e cada uma já se acostumara ao ‘seu’. Não demoraram muito para iniciar seus treinos, uma vez que pensavam em estratégias durante o dia e, ao retornar ao Dreamyard, apenas precisavam colocá-las em prática, o que não era muito difícil.

Alyss concentrava-se em criar belos efeitos com os golpes de seus pokémons, algo que teria de saber fazer bem caso quisesse alcançar uma boa colocação no Contest, que ocorreria em breve. Já havia desenvolvido alguns movimentos com Maiko, após decidir que se apresentaria com ela, uma vez que Damen não parecia animado com a idéia. Portanto, enquanto a jovem de cabelos azuis praticava combinações e seus efeitos, o Espurr concentrava-se em suas habilidades psíquicas.

Amy parecia ter desenvolvido um estilo de treinamento próprio, pedindo para que Donner e Kairi se confrontassem, de modo a treinar agilidade e ataque como em uma batalha de verdade, apenas intervindo quando percebia que a rivalidade entre ambos começava surgir, embora isso não ocorresse com freqüência. Vez ou outra também os auxiliava na escolha de ataques, instruindo-os a usar combinações antes treinadas quando necessário, mas preferia deixá-los aprender a pensar rápido em um combate sem que precisassem da ajuda da menina.

Caroline, agora que já participara da corrida, podia concentrar-se mais em ataque e defesa do que agilidade. Havia lido diversas vezes os movimentos conhecidos por seus pokémons, os quais podia checar em sua PokéDex, e pensara em algumas combinações, que gostaria de experimentar e ver se realmente seriam úteis.

— Leroy, que tal começarmos com você? — a menina de cabelos negros indagou, fitando a lontinha com seus olhos azul marinho, que brilhavam em ansiedade.

— Tudo bem. — o Buizel deu de ombros. Havia animado-se um pouco ao ouvir algumas das idéias da menina e, talvez, realmente pudesse ser algo interessante. Posicionou-se de costas para a treinadora, encarando uma das pilastras caídas como se esta fosse seu futuro alvo.

— Ótimo. — a garota sorriu, não hesitando antes de continuar: — Não sei bem se dará certo, mas talvez você consiga combinar Aqua Tail e Sonic Boom. Tente utilizá-los nessa ordem, concentrando o poder de Aqua Tail e logo depois trocando para o outro golpe. — explicou, tentando ser o mais clara possível. Afinal, a combinação apenas funcionaria caso Leroy estivesse completamente ciente de como realizá-la. — Vamos tentar? — perguntou, por fim.

Concentrado, o Buizel assentiu, com seu olhar ainda fixo em seu alvo. Respirou fundo e, ao julgar-se pronto, agitou suas caudas, que logo começaram a ser envoltas por finos anéis de água. Em seguida, esforçou-se para trocar de golpe rapidamente, de modo a conseguir manter resquícios do movimento anterior. Desse modo, suas caudas adquiriram um tom esbranquiçado, ainda circuladas pela camada de água e, um pouco hesitante, Leroy rodopiou velozmente, criando ondas de energia branca envoltas por água, que seguiram até a pilastra, atingindo-a e abrindo nesta algumas rachaduras.

— Muito bom, rapaz! — comemorou a garota, animada por Leroy ter sido capaz de executar a combinação que imaginara. — Vamos treinar um pouco mais isso, talvez possamos tornar o golpe ainda mais poderoso. Preciso que você se concentre ao máximo. — pediu, observando um novo sorriso iluminar o rosto do Buizel, que agora finalmente se divertia.

Firestarter assistia o treino, impressionado com o que o companheiro conseguira fazer, aguardando pacientemente sua vez. Gostaria de saber o que a menina havia planejado para ele e, até então, estava se divertindo com os treinos. Enquanto esperava, aproveitava para observar tambpem os outros pokémons, como que para tentar aprender algo com seus treinos.

Porém, de súbito, seu sorriso se desmanchou, enquanto suas orelhas se levantaram rapidamente. Ele captava algum som diferente daqueles como os de alguém se aproximando. Virou-se bruscamente, deparando-se com uma figura já conhecida: à sua frente, estava o mesmo gato de longos pelos cor de creme e orelhas pontudas, o qual vira na primeira vez em que visitara o Dreamyard. O cavalo franziu o cenho ao perceber o Pokémon aproximar-se da mochila de Caroline, que jazia sobre uma pequena pedra.

— Care. — o Ponyta shiny chamou, sabendo que a menina desaprovaria suas ações caso corresse em direção ao ladrãozinho como fizera da última vez.

— Sim, Fire? — a jovem deixou Leroy sozinho por um momento, para que pudesse atender ao cavalo. Arqueou uma das sobrancelhas ao deparar-se com este encarando fixamente um outro ponto, e apenas entendeu a situação ao notar o gatinho perto de sua mochila. Calmamente, seguiu em sua direção, tentando não assustá-lo. Este, porém, parecia bem atento aos arredores e, com o primeiro passo da menina, arregalou os olhos. Agarrou a mochila com seus dentes afiados, tentando puxá-la, mas sem obter sucesso; era pesada demais para ele carregar sozinho. Com medo de o pequenino sair correndo como fizera da última vez, Caroline decidiu se pronunciar: — Ei, não precisa ter medo. — afirmou, aproximando-se com cautela. — Você está com fome?

Notando que seu tempo logo se esgotaria, o felino mergulhou sua cabeça na mochila semi-aberta da garota, procurando por algo que fosse de seu interesse. Encontrou algo brilhante, que logo chamou sua atenção; um celular. Apanhou-o com a boca sem hesitar, correndo o mais rápido que podia logo em seguida.

E, naquele momento, a menina de cabelos negros percebeu que o Pokémon não estava atrás de comida.

— Ei! Volte aqui com isso! — gritou, observando o gatinho afastar-se velozmente. O barulho assustou as outras duas jovens presentes, bem como seus pokémons, que se viraram rapidamente para descobrir do que se tratava.

De repente, porém, o felino fora atingido por uma espécie de lâmina de água esbranquiçada, sendo obrigado a parar ao cair para trás, largando o aparelho eletrônico ao abrir a boca para soltar um gemido de surpresa. O celular, felizmente, não fora danificado pela água, e acabou por cair sobre a grama macia a alguns metros do Pokémon.

Virando-se para a direção de onde o ataque viera, Caroline deparou-se com a lontra laranja sorrindo orgulhosamente. E, no segundo em que se distraíra, pôde ver o ladrão apossar-se do aparelho novamente; ele parecia disposto a sair com ele. Ou não sair. Sem ao menos receber o comando de sua treinadora, Firestarter correu na direção do gato, parando à sua frente e bloqueando, assim, sua saída. Não muito satisfeito com o gesto, o Pokémon franziu o cenho, mas agiu rapidamente. Utilizou suas patas traseiras para conseguir impulso e lançou-se ao ar, pulando por cima do cavalo, que ficou sem reação.

— Pare-o! — comandou, impulsivamente, a menina. Não queria ferir o outro, mas não podia perder seu celular daquela maneira. Tranquilizou-se ao observar o Ponyta assentir e seguir o ladrão.

Felizmente, após tanto treino, Firestarter realmente aparentava estar mais rápido. Facilmente alcançou o bichano, disparando uma brasa azulada contra o chão em sua direção. Com o susto, o gatinho virou-se novamente, encarando o cavalo furiosamente.

— Você não vai a lugar algum. — bufou o Ponyta shiny.

— Ninguém consegue me pegar. — afirmou o ladrãozinho, e embora fosse possível identificar o humor em sua voz, sua expressão estava séria. Em poucos segundos, os olhos do gato adquiriram uma coloração azulada enquanto ele continuava a fitar o robusto cavalo com seu olhar penetrante. Dentro de alguns segundos apenas, o Ponyta começou a sentir-se sonolento, cambaleando até que finalmente se deitasse no chão.

— Fire? — a jovem de cabelos negros chegou a tempo de ver a cena. Parecia surpresa e apreensiva, por desconhecer o que o gato havia feito a seu companheiro. Impulsivamente, correu em sua direção, percebendo que Firestarter havia adormecido.

Aproveitando o que seria, provavelmente, sua última chance, o felino tornou a correr, tentando fugir do local com o objeto roubado antes de ter de lidar com outros problemas. Normalmente, não enfrentava grandes dificuldades ao furtar outras pessoas, porém, arriscaria dizer que aquele estava sendo o mais trabalhoso de toda a sua vida de crimes. Saltou sobre o muro das enormes ruínas, tentando retornar à floresta. Mas, quando achou que havia obtido sucesso, sentiu algo atingir com força as suas costas, e logo depois um brilho vermelho o envolveu.

— Agora você não foge mais. — disse, sorridente, o Buizel, após lançar uma das esferas vermelha e branca que apanhara da mochila de sua treinadora contra o gatinho. — O que achou da minha primeira captura, Care? — perguntou, seguindo em direção à esfera que, após remexer-se três vezes, finalmente se acalmara, tendo a luz em seu botão central apagada.

Por longos segundos, a menina apenas encarou a cena com uma expressão vazia, incapaz de compreender o que havia acabado de ocorrer. Abriu sua boca, como se para dizer algo, mas rapidamente a fechou. O que ela acabara de ver... Havia realmente acontecido? Pois parecia estranho demais para ser realidade.

— ... O que aconteceu aqui? — indagou Alyss, aproximando-se da menina e seu Ponyta adormecido, arqueando uma sobrancelha. Assim como Amy, havia deixado de treinar logo ao início da estranha situação e, confusa, procurava entender o que ocorria.

— O Leroy... Capturou um Pokémon... Eu acho. — respondeu a jovem de cabelos negros, pausadamente, deixando as outras duas ainda mais confusas e perplexas. Ainda fitava a parede, processando os acontecimentos dos últimos minutos.

— Você está brava? — o Buizel aproximou-se da treinadora, com a cabeça baixa. Queria apenas ajudá-la a recuperar seu celular, não chateá-la.

— Não. — afirmou a garota, prontamente. — Eu só estou... Confusa. — disse, por fim. Sacudiu a cabeça, tentando raciocinar claramente. Levantou-se do chão, olhando para o cavalo uma última vez antes de virar-se para Leroy, que lhe entregava a pokébola em suas mãos.

A menina analisou o dispositivo. Se a captura havia sido realizada, significava que havia um novo membro em seu time. Sentia-se, de certa forma, feliz, embora também receosa. Nem ao menos conhecia o Pokémon, e mesmo que não guardasse ressentimentos por este ter tentado lhe roubar, não sabia se seria uma boa idéia tê-lo no time. Afinal, aparentemente, ele havia sido capturado contra a sua vontade. Resolveu que o melhor a fazer no momento seria tentar conversar com o pequeno, então rapidamente pressionou o botão central da pokébola, libertando-o novamente.

— O que? O que houve? — o gatinho de pelos creme olhava ao redor, confuso. Apenas lembrava-se de ter sido atingido por um objeto estranho, e então levado à uma outra dimensão que, apesar de confortável, não lhe agradava. Seus olhos verdes pairaram sobre a menina à sua frente, e ele recuou.

— Não precisa ter medo. — exclamou a menina, agachando-se para que pudesse ficar da altura do Pokémon. — Bem, você... Foi capturado. Será parte do time agora, caso queira nos acompanhar.

— Como assim? — o gato parecia confuso e assustado. Por que uma humana estaria convidando-o a ficar com ela? Por que não tentavam matá-lo, como faziam aos outros de sua mesma raça?

— Qual é o seu nome? — perguntou a garota, percebendo que teria muito o que explicar.

— ... Augustus. — respondeu o pequeno, hesitante.

— Eu me chamo Caroline. — disse, com um sorriso amigável em seu rosto. — E aqueles dois são os outros membros do time... — apontou para a lontrinha laranja e, em seguida, para o Ponyta. — Se chamam Leroy e Firestarter.

— Um time? Que tipo de time? — embora o gatinho começasse a permitir parte de sua desconfiança se esvair, visto que a garota não parecia querer lhe fazer qualquer mal, ainda possuía diversas perguntas em sua mente. Estava confuso, e queria ao menos entender o que estava acontecendo e quem eram aqueles estranhos tão gentis.

— Ora, o nosso time Pokémon. — o Buizel colocou-se na conversa, respondendo à pergunta do felino. — E você faz parte dele agora, garoto. — exclamou, alegre, aproximando-se do pequenino.

Enquanto os três se conheciam, Firestarter começou a recuperar seus sentidos novamente. Ouvia a conversa e, curioso, forçou seus olhos a se abrirem, apenas para deparar-se com uma cena que não conseguia compreender, chegando até mesmo a cogitar a idéia de que talvez ainda estivesse sonhando. Com calma, levantou-se, indo de encontro à sua treinadora.

— O que aconteceu? — indagou, com uma expressão sonolenta e confusa estampada em seu rosto.

— Parece que temos muito o que conversar. — a menina suspirou, antes de desatar a falar, relatando brevemente o ocorrido para seu Ponyta, logo em seguida dedicando-se a responder às milhares de perguntas na cabeça do mais novo membro do time.

A conversa durou cerca de uma hora, e até mesmo as outras duas garotas e seus pokémons haviam se juntado à roda. Com as explicações da menina, aparentemente sua nova treinadora, o gatinho finalmente começava a compreender o que ocorria, sentindo-se feliz por fazer parte de um time, embora estivesse ainda um pouco receoso. Caroline descobrira que o ladrãozinho era um Meowth que, após separar-se de seu grupo em Castelia, migrara para Striaton, continuando a roubar para sobreviver, ou simplesmente pela adrenalina de fazê-lo.

Ao ter certeza de que Augustus estava de acordo com a situação, a garota retomou o treinamento com seus outros dois pokémons. Decidira dar um tempo para o Meowth acostumar-se com sua nova vida, deixando-o apenas observar e conversar com as outras meninas e seus pokémons, até que se sentisse realmente à vontade com todos à sua volta. O gatinho nunca pensara em acompanhar uma humana antes, mas, no caso, não parecia ser má idéia; apenas gostaria de conhecer melhor sua nova treinadora e companheiros de time.

Com o cair da tarde, as três jovens decidiram que seria melhor retornar à cidade. Afinal, Amy e Alyss precisavam trabalhar, e Caroline não achava que ficar sozinha no local à noite seria uma boa idéia. A menina de cabelos negros explicou a Augustus que teria de retorná-lo para sua própria segurança, mas prometeu libertá-lo novamente assim que chegasse ao hotel.

De volta às ruas tumultuadas de Striaton, as três se despediram. A jovem de cabelos castanhos caminhava sem rumo, oferecendo às pessoas as belas fotos que tirara a um preço baixo, apenas para que conseguisse o suficiente para sobreviver, enquanto a menina de cabelos azuis preferia sentar-se em um dos milhares bancos de madeira da cidade, onde o comércio de rua era mais ativo, para conseguir clientes interessados em comprar seus desenhos. Caroline, por não ter muito mais o que fazer, preferiu retornar ao hotel, dirigindo-se imediatamente a seu quarto, para que pudesse conversar um pouco mais com o novo membro de seu time. Embora a jovem já houvesse perdido grande parte da incerteza sobre abrigar um terceiro Pokémon, este parecia ainda receoso e confuso. Afinal, passara sua vida toda em florestas, apenas invadindo cidades durante a noite para roubar o que lhe fosse necessário para sobreviver.

Augustus ainda era dominado por uma certa desconfiança. Havia sido ensinado a não confiar em ninguém, principalmente em humanos, e tivera de fugir de sua antiga casa por causa do medo de ser encontrado. E, agora, havia sido capturado por uma menina que, apesar de aparentemente gentil, pouco sabia sobre suas reais intenções. O fato de que esta possuía outros pokémons a seu lado o acalmava, porém, somente o tempo realmente diria se ficar com a garota seria a escolha certa.

Por outro lado, sentia-se seguro. Mesmo que não conhecesse direito seus novos companheiros, estes haviam lhe assegurado de que o protegeriam. Além do mais, agora recebia comida, dormia em uma cama e possuía sempre alguém com quem pudesse conversar. A sensação de não estar mais sozinho, entregue às mãos do destino, era algo realmente maravilhoso, que o gato não gostaria de perder tão cedo.

Após mais algumas horas de conversa, risadas e brincadeiras por parte de Leroy, Caroline sentiu o cansaço invadi-la. Percebera que com sua nova rotina, acordando cedo e passando grande parte do dia treinando com seus companheiros, sua energia esgotava-se mais rápido. Deixou os três pokémons trocarem palavras por mais alguns minutos antes de finalmente apagar as luzes e deitar-se. Firestarter acomodou-se sobre o tapete azul, como havia se acostumado a fazer, enquanto o Buizel se aconchegava entre os lençóis, na beira da cama. Augustus parecia um pouco confuso e hesitante, sem saber direito o que fazer, mas logo fora convidado por sua nova treinadora a deitar-se a seu lado, o que este rapidamente fez. Adormeceu com um cafuné que recebia da mesma e, naquela noite, teve bons sonhos, retratando a nova vida que teria agora e, pela primeira vez, esquecendo-se de qualquer insegurança que antes pudesse te

Os dias seguintes passaram-se depressa. As três meninas mantinham sua rotina de dirigir-se ao Dreamyard ao nascer do sol para que pudessem preparar-se para o Ginásio e, após muito esforço e árduos treinos, pareciam estar preparadas. Haviam, de fato, tornado-se mais fortes e até mesmo desenvolvido seu estilo próprio de batalha. Caroline achara melhor não cansar muito Augustus nos primeiros dias, até que ele se acostumasse de fato com o resto do grupo. Por isso, havia decidido que o melhor a fazer seria enfrentar o líder com a ajuda de Fire e Leroy apenas.

O líder. A batalha. Finalmente o dia chegara.

Após ligar para Juniper, esta as informou que o Ginásio escondia-se no subsolo de um hotel famoso da cidade, de nome Tunnel Resort, o que as surpreendeu de imediato. Como poderia um estabelecimento ilegal, que deveria permanecer longe dos olhos de outros, estar tão próximo de um local tão movimentado? Porém, acabaram por descobrir que o dono do hotel era, na verdade, o líder, e sua secretária, a recepcionista do hotel, autorizava que entrassem no campo apenas aqueles que soubessem a frase secreta, a qual lhes parecia muito estranha, mas resolveram não se preocupar com aquele detalhe no momento. A emoção de poder finalmente enfrentar um treinador de potencial em uma batalha oficial era enorme, fazendo-as esquecer de quaisquer outros detalhes de mínima importância.

As ruas estavam tumultuadas, como o usual. Havia uma grande quantidade de carros presos em congestionamentos e pessoas correndo para shoppings e outros centros de lazer, ou apenas aproveitando o tempo livre para conversar com amigos e fazer um passeio. Todo aquele movimento certamente não seria visto como algo bom pelas meninas, não fosse pelo fato de que não precisavam preocupar-se em ser vistas no momento; um dos pontos positivos do Ginásio estar localizado em um hotel era que a sua entrada no local, junto à de outros milhares de hóspedes, passaria despercebida.

As três, quase em conjunto, pararam subitamente ao fitar a entrada do hotel, surpresas. Um grande túnel dourado, dentro do qual corria um tapete vermelho, levava à porta giratória de entrada. O local era, de fato, incrivelmente belo e, sua arquitetura, muito bem preparada. Ficaram ainda mais impressionadas após adentrar o estabelecimento; correndo por cima de suas cabeças, estavam os infinitos andares do prédio, com seus corredores todos feitos de vidro com detalhes pintados em cor de ouro. Estes passavam um por cima do outro, estando também interligados por uma espécie de túnel central, que se estendia verticalmente até o último andar, onde estava localizado o elevador. Sua perplexidade com o design do hotel de luxo era tanta que demoraram a perceber seus outros detalhes, como o belo chão de mármore xadrez, preto e branco, e os sofás vermelhos e largos que estavam posicionados nos cantos do amplo saguão. Havia também pinturas magníficas, em quadros de molduras douradas, pendurados nas paredes feitas de mesmo material que o chão. Alguns vasos escarlate contendo girassóis estavam colocados sobre mesinhas de madeira escura.

— Eu queria ter dinheiro para ficar em um lugar desses. — murmurou Amy, ainda fitando a rede de túneis, incrédula. As outras duas jovens, sem palavras, apenas concordaram.

Gostariam de admirar os arredores por mais um momento, porém, Caroline estava ansiosa demais para sua batalha, e insistira que se dirigissem logo à mesa da recepção. Checara seu X-Transceiver, que lhe informava estar no horário. Apesar do tamanho do local, não tiveram dificuldades em encontrar o grande balcão de mármore, atrás do qual estava a recepcionista. Uma mulher jovem, de cabelos castanhos presos em um coque alto, exceto por uma mecha fina que caía pela lateral de seu rosto. Seus olhos cor de mel eram ofuscados pelas lentes de seus óculos de grau de armação preta, conferindo destaque aos brincos de pérola em suas orelhas. Utilizava um batom de tom rosado, combinando com sua pele clara, e suas unhas estavam pintadas de vermelho, da cor de parte da decoração do hotel. Vestia um uniforme dourado e branco, no qual estava bordado seu nome: Lydia. A mulher abriu um sorriso amigável ao deparar-se com as três jovens que se aproximavam.

— Olá, queridas. À procura de um quarto? — indagou, gentilmente.

— Na verdade, queríamos apenas fazer-lhe uma pergunta. — respondeu Caroline, observando a recepcionista assentir, em sinal para que prosseguisse. — Como Benjamin é capaz de criar eletricidade sem uma pipa e uma chave? — hesitou um pouco, incerta sobre o que acabara de falar. Qualquer pessoa que estivesse por perto e a houvesse escutado certamente a acharia maluca, mas aquela era a frase que Juniper havia lhe contado, que funcionaria como uma senha para entrar no ginásio. Percebeu que não era algum tipo de brincadeira quando a mulher respondeu à sua pergunta com grande naturalidade, quase como se fosse algo comum.

— Pois bem, permitam-me mostrar-lhes. — disse Lydia, retirando-se de trás do balcão e colocando sobre este uma plaqueta com as palavras “Volto em breve. Desculpe pelo transtorno”. Com um gesto de mão, pediu para que as três meninas a seguissem, e estas o fizeram sem questionar.

As jovens, lideradas pela recepcionista, caminharam para longe das pessoas que conversavam no saguão, atravessando diversos corredores e mesmo descendo uma escada, que levava à uma porta de madeira. Virando-se para trás, para confirmar que nenhum funcionário ou mesmo hóspede curioso havia lhe seguido, Lydia sacou um molho de chaves de seu bolso, selecionando uma delas prontamente e colocando-a na fechadura. Com um movimento rápido, girou a maçaneta e segurou a porta para que as outras pudessem passar e, ao fazerem-no, perceberam a mulher trancando novamente a sala.

Estavam agora em um corredor estreito e escuro, desprovido de qualquer tipo de iluminação. Tomando a frente novamente, a recepcionista colocando a chave na fechadura de uma segunda porta, a qual as jovens nem ao menos haviam percebido, devido à escuridão. Porém, quando esta fora aberta, o local em que estavam iluminou-se e, assim que se recuperaram da cegueira momentânea devido a mudança de luminosidade repentina, arregalaram os olhos.

À sua frente, estendia-se uma rede de túneis ainda mais complexa do que a projetada no hotel, esta sendo realmente feita de pedra e terra, como se houvesse sido completamente esculpida no subsolo. Havia poucas pessoas uniformizadas trabalhando na manutenção do local, acompanhadas por pokémons que as auxiliavam como podiam. Havia também algumas salas, similares a buracos nas paredes, embora mais bem retocadas. Direcionando seu olhar para baixo, puderam ver o campo de batalha, de linhas bem pintadas e posições perfeitamente demarcadas, possuindo uma cadeira onde parecia estar sentado um garoto bem jovem.

Após descer alguns degraus, as meninas estavam de frente para o campo, ainda impressionadas com a arquitetura complexa e bem projetada do local. Era incrível como um local tão amplo pudesse esconder-se abaixo de um hotel famoso sem que fosse descoberto.

De súbito, as luzes se apagaram, trazendo novamente o breu ao local, como se um interruptor houvesse sido desligado. Porém, antes que pudessem questionar-se o que estava acontecendo, ouviram um resmungo, seguido de uma voz firme.

— Eddison, Thunderbolt! — comandou a voz masculina e, repentinamente, um clarão tomou conta da grande rede de túneis subterrâneos, seguida por uma corrente de eletricidade que acendeu novamente os diversos bulbos pendurados ao teto.

— E é assim, queridas, que Benjamin é capaz de gerar eletricidade sem o auxílio de uma pipa e uma chave. — respondeu a mulher, sorridente.


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Notas finais do capítulo

Hehe, no próximo capítulo teremos a batalha de Caroline contra Benjamin. Espero que tenham gostado, vejo vocês no próximo~