Pokémon Nuzlocke: Heaven & Hell escrita por Umisachi Misaki


Capítulo 1
Prologue




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A cortina de poeira começava a baixar, tornando possível enxergar os restos de batalha. No ar, porém, ainda era identificável aquele cheiro inexplicável, que carregava consigo tantos sentimentos; agonia, dor, caos, destruição, inveja, orgulho, vitória.

Ah, sim, vitória. Por ela, tudo faríamos; tudo fizemos. O sangue vívido do inimigo derramado era a marca de que havíamos lutado, e vencido. Após tantos anos, tanto dinheiro e tempo investidos na criação da mais bela e poderosa arma já criada pelo homem; lá estava ela, grandiosa, a única que permanecera de pé em meio aos destroços. Mesmo após libertar todo o seu poder, orgulhando a seus criadores, suas turbinas ainda giravam. Faíscas a rodeavam, lembrando a todos de que era a mais poderosa ao redor; não mais eram aquelas criaturas repugnantes, cujos corpos estavam espalhados por todos os lados.

Aquelas, que julgaram ter força e habilidade suficiente para nos derrotar, que durante tanto tempo nos confrontaram e desafiaram. Estavam enganados; e como estavam! Haviam perdido a luta final, como previsto. Podiam possuir poderes variados, eram, de fato, fortes, mas não como nós. A extinção de sua espécie patética era a prova disso. Jamais criatura alguma seria superior a nós. Jamais qualquer ser que fosse superaria a inteligência e bravura humana. Nós fomos os melhores, somos os melhores e sempre seremos.

Não podemos ser parados.

Jamais.

***

— Eu nunca entendi direito a história de como tudo isso começou — resmungou o cavalo, balançando a cabeça em um movimento brusco.

Iluminada pela luz do sol, que estava especialmente intensa e radiante nesta tarde, a crina flamejante de tom azulado do pokémon tornava-se ainda mais vívida. Sem parar de caminhar, bateu as quatro patas contra o chão, uma por vez, para ajeitar os protetores de metal que vestia. Atravessava, junto a sua treinadora, um dos locais mais belos por onde passara desde o dia que saíram em viagem; embora fosse inegável que a pequena fazenda onde crescera em Rainbow Valley era muito mais bela. O dia também estava perfeito; temperatura agradável, nenhuma nuvem no céu — apenas o sol banhando o campo verde com seus raios dourados.

A menina apenas riu de leve. Achava engraçada a maneira que seu companheiro lhe fazia perguntas indiretas; acreditava ser muito mais fácil “ir direto ao ponto”, mas essa não era a única diferença entre os dois. Na verdade, pouco tinham em comum além do gosto por passar a maior parte do tempo sozinhos.

Após alguns segundos elaborando sua resposta, começou a recitar o discurso que lhe fora feito quando era ainda pequena. Por não ter vivido na época em que a guerra ocorreu, Caroline pouco sabia sobre o que a havia causado; baseava-se apenas nas histórias que sua mãe lhe contava e em seu próprio ponto de vista. A ganância e ambição dos humanos os levaram a cometer loucuras para permanecer sempre no topo, carregando o título de "Seres Mais Poderosos", o qual nunca lhes fora tirado, uma vez que sempre que qualquer outra criatura ameaçasse roubar seu lugar, ela era dizimada. Sempre fora assim, e com os pokémons não havia sido diferente.

— Os homens não queriam ser deixados para trás. Tinham inveja dos pokémons, que tanto poder possuíam. Tinham medo de que pudessem ser rebaixados. Construíram essa máquina, e foi assim que conseguiram dizimar a espécie, levando-a a extinção. Bem, salvo por uma pequena parcela, que sofreu algumas mutações. São elas as responsáveis por você conseguir se comunicar comigo, Fire — explicou a menina, fazendo algumas pausas quando julgava necessário e acariciando seu Ponyta.

— Pokémons não falavam antes dessa confusão? Inacreditável. — Balançou a cabeça, incrédulo, espantado com o que acabara de ouvir. — Mas e a relação entre treinadores e pokémons? A confiança? Se não eram capazes de entender uns aos outros, como podiam lutar lado a lado? — indagava o cavalo. Eram tantas as perguntas que atravessavam sua mente, e sua curiosidade sempre fora enorme.

— A confiança não é imposta por palavras; é ganha ao longo do tempo. A amizade entre treinador e pokémon é construída e, a medida que cresce, não pode mais ser destruída. Bom, pelo menos, assim era antes da guerra. — Deu de ombros, um pouco pensativa e perturbada pelos acontecimentos que dividiram um mundo tão equilibrado em duas partes que caíam aos pedaços. — Após seu "fim" — ela fez um gesto ao dizer a última palavra, como se fizesse aspas com as mãos, para indicar que a guerra não havia, de fato, acabado ainda; estava longe de chegar ao fim —, o governo começou a implantar regras rigorosas, com penalidades rígidas para aqueles que as quebrassem, em uma tentativa de impedir qualquer tipo de contato entre as duas espécies. Felizmente, alguns, embora poucos, se comparados a grande maioria que se opunha a sua atitude, estavam dispostos a arriscar tudo o que tinham em defesa dos pokémons. E assim foram criados locais de encontro ilegais, onde ambas as raças pudessem coexistir em harmonia. E é esse o motivo pelo qual minha mãe veio para Unova; ela lutou para manter seus Rapidashes e me trouxe com ela para que eu pudesse crescer em contato com os pokémons. — novamente, fez uma pequena pausa, suspirando. — Ainda assim, gostaria que o mundo voltasse a ser como antes; como ele era antes da guerra. — O fato de ela nem mesmo ter tido a chance de experimentar aquele lugar que o mundo era antes da guerra, aquele sobre o qual ela apenas ouvira histórias, sempre a entristecia.

— Hm... — Ele cessou o interrogatório, agora buscando um modo de trazer alegria à sua treinadora novamente. Às vezes esquecia que certas perguntas podiam atingi-la em seu ponto fraco, mas sempre conseguia distraí-la, revertendo a situação. — Mas e esse local para onde vamos? Já estamos chegando?

A jovem prontamente colocou uma das mãos sobre os olhos, em uma tentativa não muito eficaz de bloquear a luz do sol para que pudesse enxergar melhor, mas nada avistou além das belas flores de tom roxo que estavam salpicadas por todos os lados na grande pradaria que atravessavam.

Era um tanto engraçado, embora não muito surpreendente, que não houvessem encontrado sequer um pokémon vagando pelo caminho desde que haviam partido de casa. Afinal, a viagem já durava alguns dias, e mesmo não tendo grandes expectativas de se deparar com uma daquelas peculiares e atualmente raras criaturinhas, ela certamente tinha esperanças de encontrar ao menos uma.

Lembrando-se da pergunta de seu companheiro, recorreu ao auxílio de um antigo mapa da região de Unova que lhe fora entregue por sua mãe para respondê-lo, rapidamente localizando-se.

— Creio que sim. É um pouco difícil dizer, por estarmos pegando uma rota fora do mapa, longe das estradas e da civilização... — Ela ainda olhava fixamente para o mapa, de vez em quando levantando o olhar para tentar avistar algo a sua frente, mas em vão.

— E o que exatamente vamos fazer ao chegar lá? — perguntou o pokémon, aproximando-se um pouco para poder observar o mapa também.

— Não tenho certeza. — A menina pausou por um breve momento, mas logo continuou, com um sorriso determinado estampado em seu rosto. — Não é por isso que estamos aqui? Pelo desconhecido? A emoção de não saber o que nos aguarda; isso é o que me movimenta.

O Ponyta bufou, balançado a cabeça em um gesto de desaprovação, mas sorria; não podia negar que o espírito de sua companheira também o motivava a permanecer ao seu lado, sempre seguindo em frente.

E trocando palavras e risos, treinadora e pokémon seguiam viagem enquanto o sol se punha; mais um dia se passara, e sabiam que estavam cada vez mais próximos de seu destino, o que os deixava incrivelmente ansiosos.

Embora Firestarter mantivesse uma postura protetora, estava tão animado pelo que viria quanto Caroline. Não sabiam, porém, que sua jornada tornaria-se perigosa; estavam prestes a embarcar em um caminho sem volta, do qual não sairiam ilesos.


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