Beautiful and Dangerous escrita por Rory Gilmore


Capítulo 27
26. Dourado


Notas iniciais do capítulo

Os fantasmas da família do Macon parecem nunca terminar com suas aparições...



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A semana passou como um flash aos olhos de Lila. No fim de semana ela ainda não havia falado com Macon ou sequer o visto.

Ele não frequentara as aulas no dia seguinte ao ocorrido e nem aparecera no dormitório dela, não atendia suas ligações e depois de um tempo, pareceu ter desligado o fio do telefone. Quando Lila apareceu em seu apartamento no sábado de manhã não havia ninguém e até mesmo Boo estava quieto.

– Não se preocupe. – Marian havia dito depois que ela voltara desanimadamente do apartamento vazio dele – Macon já sumiu uma vez, não se lembra? No fim das contas ele só estava na casa da mãe, pode ser onde esteja neste fim de semana. Talvez ele queira refrescar um pouco a cabeça, dê-lhe um tempo, ele vai voltar. Você vai ver.

– Mas e se dessa vez ele tiver ido mesmo embora? – perguntara ela com um toque de medo pairando em sua voz.

– Acredite em mim, ele não foi, pelo menos não ainda. Macon jamais iria embora sem te dizer adeus.

Apesar das palavras da amiga ela ainda tinha suas dúvidas, pois sabia que o rapaz era esperto o suficiente para saber que ela não queria aceitar um adeus e que provavelmente não aceitaria um tão fácil.

No domingo a tarde após ouvir mais uma de suas ligações ir parar direto na caixa postal Lila se sentou em sua cama e abriu o livro que estava lendo atualmente. Não lia havia dias, provavelmente não conseguira ler mais que duas linhas por dia desde a morte de sua mãe.

A edição de Crime e Castigo que segurava só estava surrada porque era da biblioteca, pois ela mal a tinha tocado desde que a pegara emprestada na semana anterior. No entanto ela sabia que naquele dia não haveria escapatória para si que não fosse dentro de uma boa história.

Ela leu por cerca de duas horas seguidas até que Marian a chamou para almoçar em um restaurante chinês que ficava perto do campus (aparentemente elas andavam comendo muita comida chinesa porque o garçom até adivinhou o que pediriam, Lila se lembrou de não fazer a burrada de almoçar lá pela décima quinta vez). Depois de comerem as duas caminharam com um silêncio amigável pairando entre si até a entrada da universidade.

– Tenho que ir a biblioteca para pegar uns livros, você quer ir? – perguntou Marian em uma tentativa mais do que forçada de tentar animá-la.

– Não, obrigada. – respondeu ela – Vou voltar para o quarto e terminar de ler meu próprio livro enquanto ainda tenho animo para fazer isso.

– Ah, vamos lá, Lila Jane. Odeio te ver assim, sei que as coisas não estão correndo nada bem para você, mas não se deixe sucumbir assim, viva sua vida. Faça alguma coisa divertida para variar.

Lila balançou a cabeça negativamente.

– Não estou afim. – disse ela.

– Poderíamos ir a uma boate. – sugeriu May, insistindo com afinco – Seria legal, aposto que você nunca foi à uma.

Não mesmo, pensou ela, nunca botei um único pé para dentro desses lugares nojentos.

– Não quero. – foi o que ela respondeu – Olhe vá até a biblioteca fique lá bom um bom tempo e relaxe a mente enquanto procura um livro. Prometo que vou ficar bem, aliás, eu estou bem, ninguém disse que eu não estava.

– Sei. – disse Marian revirando os olhos, porém desistindo – Eu vejo você mais tarde então.

Marian seguiu seu caminho em direção ao prédio de tijolos aparentes e Lila se dirigiu sem animação ao dormitório das duas. Sua mente vagava para Macon, de alguma forma ela estava sempre indo e voltando para ele em seus pensamentos, nunca conseguia ficar muito tempo sem pensar naquele rapaz. Devia ser assim estar apaixonada.

Conforme se aproximava da entrada do prédio ela pôde ver uma menina se pendurando nas janelas, uma por uma e espiando dentro delas. Ou ela é uma ladra ou algum tipo de pervertida, penso Lila.

A garota deu um impulso para trás e se voltou do último peitoril que havia na parte da frente do dormitório, foi então que ela a viu. Seus olhos imediatamente a reconheceram assim como Lila puxava da memória aquele rosto.

– Lila Jane! – gritou ela – Estava procurando por você!

Isabel Duchannes usava um óculos escuro extremamente grosso e tinha o cabelo negro como a noite preso em um rabo-de-cavalo, usava um vestido amarelo canário de saia rodada, meia calça preta e tênis brancos.

Ela franziu o cenho por um segundo tentando entender o porquê de a meia-irmã de Macon estar a sua procura, ainda mais contando com o fato da inimizade que a menina mostrara a ela durante sua visita a casa de Arelia. A não ser... A não ser que alguma coisa tivesse acontecido com Macon.

O sangue de Lila pareceu se transformar em gelo nas veias, ela agarrou com força a alça da bolsa transversal que carregava e caminho a passos lentos até a menina.

– Isabel... O que... – tentou ela, mas sua voz falhou, traindo-a – O que você está fazendo aqui?

Isabel se aproximou até estarem de frente uma para a outra, Lila pôde perceber (ainda que os óculos interferissem em sua completa percepção) que a expressão no rosto dela não era das melhores. O medo voltou a preencher-lhe.

– Será que nós podemos conversar um pouquinho? – perguntou a garota – Estou com um problema e ninguém da minha família quer falar comigo. O único que tenho agora é John.

– Aconteceu alguma coisa? Quer dizer... – ela não queria parecer insensível, mas suas palavras seguintes foram incontroláveis – Macon está bem?

Ela simplesmente franziu a testa para Lila.

– É claro que está. Por que diabos não estaria? Aliás, é você quem tem que me responder isso, ninguém o vê desde as férias!

Lila baixou os olhos e deixou que suas mãos apertassem a alça da bolsa até os dedos formarem nós brancos por conta da força com a qual ela os apertava. Ele não estava com a família e não estava em casa. As possibilidades que podiam-se relacionar com seu sumiço não eram nada boas.

– Eu não tenho o visto. – respondeu ela finalmente – Achei que tinha ido visitar a mãe... Deixa pra lá. Então... O que mesmo você veio fazer aqui?

As mãos de Isabel pareceram tremulas enquanto ela as levantava para que pudesse subir os óculos escuros ao topo da cabeça. Tirou-os do caminho, mas manteve os olhos cerrados por um segundo antes de abri-los e mostrar-lhe suas irís incandescentemente douradas.

Não havia mais um único sinal de verde naqueles olhos.

Não havia mais um único sinal de Luz naquela menina. Por que ela agora era Trevas.

Por que Lila agora devia temê-la.

– Por favor. – disse Isabel num lamento choroso – Não corra, não me deixe a mercê de mim mesma. Eu não sou das Trevas, eu juro Lila Jane, não senti mudança nenhuma ocorrer comigo em meu décimo sexto aniversário só esses malditos olhos...

Então ela irrompeu um choro doloroso e se jogou nos braços da moça a sua frente e Lila não pôde fazer nada além de deixar que ela chorasse.

– Isabel. Você tem que procurar sua mãe ou sua madrasta elas vão te ajudar, já eu... Eu não posso fazer nada por você.

Isabel desencostou o rosto encharcado de lágrimas de seus ombros e o levantou para fitá-la. Parecia-lhe apenas uma criança amedrontada, não uma criatura das Trevas.

– Minha mãe me expulsou de casa. – disse ela ainda em prantos – Minha madrasta não vai me querer e somente John quis ficar do meu lado. Ele está lá fora esperando por mim no carro. Eu tinha esperanças de que se falasse com você, você talvez pudesse convencer Macon a me ajudar a falar com alguém da minha família, dizer a eles que eu não mudei.

– Ah, Isabel eu não...

– Você é minha única esperança. Achei que como aceita Macon e sua condição... Como o ama tanto mesmo com o destino que ele têm você pudesse me ajudar também.

Lila balançou a cabeça querendo fazê-la compreender o porquê não podia ajudá-la.

– Isabel... Eu não tenho conseguido nem mesmo ajudar o seu irmão, tem sido difícil eu só não desisti dele por que o amo, mas agora ele desapareceu e eu não sei... Não sei se o verei de novo ou se verei algum de vocês de novo.

A menina enxugou os olhos com as costas da mão, coisa que foi inútil, pois as lágrimas não paravam de cair e manchar todo o seu rosto com o rímel preto que ela havia passado. Se a blusa de Lila também não fosse preta ela aposta que já haveria se formado uma mancha horrível e impossível de sair onde a garota havia encostado os olhos.

– John quer fugir. Está me esperando para ir o mais longe que conseguirmos, mas minha nossa não vamos conseguir. Só temos dinheiro para gasolina e salgadinhos... Ele disse que poderia roubar, mas não quero que se torne um criminoso por minha culpa. Eu não quero ser má.

Lila soltou um suspiro e abriu a bolsa, vasculhou a carteira e encontrou lá dentro o dinheiro que sobrara do almoço com Marian. Ela o pegou e estendeu para Isabel. Adeus, últimas vinte pratas!

– Não posso aceitar! – disse ela.

– Pode sim. Não é muito, mas se precisarem de mais gasolina ou se acontecer qualquer coisa vocês tem uma graninha reserva até conseguirem se ajeitar.

Ela enviou a nota de vinte nas mãos de Isabel ainda que esta a tenha pego relutantemente, acabou aceitando. Lila não podia fazer muito pela irmã de Macon, e não acreditava que estava mesmo ajudando alguém a fugir de casa, mas era o máximo que podia fazer, dadas as circunstancias. Não importa que Isabel tenha sido arrogante com ela no passado, ela havia aprendido a ser melhor do que as pessoas eram com ela.

Se pudesse ajudar ela ajudaria. Sempre.

– Eu não quero ser das Trevas. – murmurou Isabel.

– Então não seja. Nada é preto no branco, faça escolhas, manipule seu destino. Lute consigo e vença a si mesma.

Ela não pareceu acreditar em nada daquilo, mas de toda forma forçou um sorriso para Lila.

– Como posso te agradecer?

– Não agradeça. – disse Lila simplesmente – Apenas... Se você falar com Macon, diga que estou esperando por ele, que não desisti.

Isabel assentiu.

– Eu direi. Obrigada, Lila Jane.

Dando-lhe as costas Isabel Duchannes limpou as mãos sujas de rímel na barra do vestido amarelo e seguiu pela entrada da universidade onde desapareceu de encontro com o garoto que amava, seguindo em direção à seus medos. Seguindo em direção a um futuro mergulhado na escuridão.

Lila observou-a partir durante um minuto e depois se voltou para a entrada do dormitório e subiu correndo as escadas em direção a seu quarto, de volta a sua espera que parecia ser eterna.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pelas visualizações e pelos comentários!
Esse capítulo está um pouco maior e pretendo deixar os próximos mais ou menos com esse tamanho mediano para que não fique nem curto e nem cansativo. Não consegui revisar então se na hora de ler vocês encontrarem algum erro por favor avisem e eu arrumo.
Comentários são hiper bem-vindos.