Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 97
Capítulo 97: POV Nina Marshall




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Eu passei a noite toda tentando ler "Orgulho e Preconceito" de novo, tentando passar pela parte em que Elizabeth odeia Darcy e depois vai se apaixonando por ele. Mas não dava! Mesmo que eu ainda soubesse que aquela era a história perfeita, eu ainda preferia viver a minha. Toda vez que eu lia alguma frase, eu parava, apoiava o livro em cima de mim e ficava relembrando o que tinha acontecido no esconderijo.
Eu finalmente estava no final da história, na parte em que os dois ficavam juntos e viviam felizes para sempre. Eu queria ter alguma dúvida, eu queria mesmo. Minha cabeça ficava me falando para não ficar achando que ele realmente gostava de mim, que eu ainda não tinha tido nenhuma prova daquilo. Talvez tudo que a minha cabeça queria era ouvir as palavras saindo da boca dele. Mas meu coração não tinha dúvidas. Eu sabia que ele gostava de mim, eu sabia de verdade o que ele sentia por mim.
E eu tentava não sorrir, mas a tentativa só me fazia querer sorrir ainda mais. Eu tentava me controlar, mas não dava. Eu estava realmente feliz! Acabei largando o livro uma hora e começando a dançar pelo quarto, tentando gastar a energia que ainda estava em mim, mas não dava. Porque meus pensamentos eram tão rápidos quanto meus pés e eles criavam lembranças, repassavam momentos e palavras, e aquilo tudo só me deixava ainda mais elétrica, ainda mais feliz.
Eu achava que essa felicidade iria durar, que estava em toda parte. Mas quando acordei na manhã da quarta-feira, encontrei minhas criadas bastante abatidas. Elas faziam o que tinham que fazer, elas ajudavam a me vestir, arrumavam a minha cama, tudo sem trocar nenhuma palavra. Eu perguntei o que estava acontecendo, mas elas deram de ombros, mentindo para mim que não tinha nada de errado.
Eu só precisava ir para o Grande Salão antes do café da manhã. Essa era a ordem. E eu, no meu egoísmo e egocentrismo, fiquei com medo de que o que tinha acontecido entre Sebastian e eu tivesse causado algum problema. Eu realmente estava preocupada com o meu próprio futuro! Mal sabia eu o que eu ia encontrar quando chegasse lá embaixo.
Ou o que eu não ia encontrar. Quando entrei pelas portas, Sophie, Enny e Beatriz já estavam lá, sentadas na frente da família real. Rei Maxon, Rainha America, Sebastian e outros da realeza na sua frente. Todos, menos Charles. Nenhum deles sorria, nenhum deles falava alguma coisa, e quando falava, era sempre em cochichos. Ninguém ali parecia querer se mexer muito, sempre com medo de fazer um movimento muito brusco, que pudesse quebrar o chão de vidro onde todos andavam.
A atmosfera daquilo me consumiu assim que eu entrei lá, ainda achando que era tudo direcionado a mim. Pensei que pelo menos teria algum tempo antes que eles começassem a falar, já que ainda faltavam duas selecionadas. Mas assim que eu terminei a minha reverência, a rainha se levantou, fazendo todos ali a imitarem.
"Como todos aqui sabem, ontem à noite nós fomos atacados," ela disse, calma, apesar de suas palavras. "O ataque foi rápido, mas trouxe consequências muito graves."
"Ai, meu deus," Sophie soltou, provavelmente já imaginando o pior.
A rainha engoliu em seco uma vez, e eu a imaginei tentando bloquear qualquer reação emotiva que o que ela estava prestes a contar provavelmente traria.
"É com muito pesar que eu informo que Lady Gabrielle foi levada durante o ataque," ela continuou, baixinho. Enny soltou um grito, logo levando uma mão à boca, e Sophie se deixou sentar, sentindo as pernas moles como eu, certeza. "Nós ainda não sabemos os responsáveis, mas estavam fazendo de tudo para encontrá-los e trazê-la de volta em segurança para o castelo."
Eu só me apoiei no sofá onde as meninas tinham estado sentadas e procurei os olhos de Sebastian, que estavam perdidos em algum lugar do chão. Ele não parecia tão afetado e eu pensei que aquilo não devia ser novidade para ele. E então me perguntei pelo que ele tinha passado durante a noite, enquanto eu tinha estado dançando pelo meu quarto, toda feliz.
E meu egoísmo de ter pensado que todo aquele clima era por minha causa se juntou a uma culpa de ter estado tão feliz enquanto todos tinham problemas enormes com os quais se preocupar. Eu era a idiota, que nem merecia tanta felicidade.
Beatriz se sentou do lado de Sophie e tentou consolá-la, passando a mão nas suas costas e segurando a outra, enquanto Enny ainda estava completamente assustada. E então eu percebi uma coisa.
"E a Arya?" Perguntei, sem me importar com meus modos. "O que aconteceu com ela? Ela está bem?"
Eu estava imaginando o pior. Se eles tinham começado com a notícia de que uma de nós tinha sido sequestrada, a outra notícia só podia ser muito mais trágica.
"Ela está bem," o cara ruivo sentado do lado de Sebastian disse, fazendo Sophie levantar o rosto para olhá-lo. Eu o reconheci como o irmão da rainha, Gerad Singer, jogador de futebol. Meu pai ficaria louco quando soubesse que eu o tinha conhecido. "Antes de festa, nós tivemos um acidente-"
"Um acidente?" Sophie perguntou, o cortando.
"Ela bateu a cabeça, nada grave," a rainha explicou, mas Sophie e Gerad continuaram se encarando. "Ela foi levada para um hospital da cidade antes da festa e do ataque começarem. Já enviamos outros guardas para fazer a segurança dela. Está tudo bem, não se preocupem."
Todos no salão pareceram soltar o ar que tinham estado guardando, mas a atmosfera não melhorou.
"E Melissa?" Enny perguntou, se sentando também e eu fiz o mesmo do seu lado. "Ela e o rei da Alemanha conseguiram voltar a tempo?"
"Sim," o rei respondeu, buscando a mão da rainha e a segurando. "Eles estavam ainda no avião quando o ataque aconteceu. Ainda não conseguimos avisá-los, não queremos deixá-los preocupados."
"Mas a Melissa precisa saber!" Sophie disse, um pouco inconformada demais.
O rei só concordou com a cabeça, apesar de que eu pensaria que ele não se importava tanto com a opinião dela, que ele faria o que achava melhor. E eu concordava.
Um silêncio esquisito se instalou sobre nós e eu finalmente consegui com que Sebastian olhasse para mim. Ele parecia estar tentando muito ficar só ali, sem participar daquele clima, sem ser afetado pelo que estava acontecendo, pelo que nós estávamos falando. Mas quando seus olhos encontraram os meus, ele deu uma relaxada, o nervosismo desaparecendo de seus ombros.
Eu lhe sorri, fraco e quase imperceptivelmente. Não queria que alguém ali pensasse que eu não entendia a gravidade da situação, mas também queria que ele soubesse que eu estava ali para ele, para o que quer que ele precisasse. Ele me sorriu de volta, acalmando e eletrizando os meus nervos ao mesmo tempo. Mas aquilo me confortou um pouco. Era como se nós estivéssemos de mãos dadas, mesmo a tantos metros de distância.
E então nosso belo momento foi estragado pela visita de uma criada, que veio nos avisar que o café da manhã estava servido.
Assim que nós nos sentamos na mesa, a rainha nos disse que nesse momento, eles estariam abertos a quaisquer perguntas, que estariam ali, caso nós precisássemos conversar com alguém. Mas que era para nós confiarmos que eles iam tomar conta de tudo, que eles iam trazê-la de volta, sã e salva. Nós todas só concordamos com a cabeça, ainda tentando digerir aquilo. Eu mesma não queria nem pensar que talvez esse sã e salva não fosse completamente possível.
E então Sebastian nos pediu para darmos um tempo a Charles, que estava muito abalado com aquilo, e todas nós assentimos de novo. Menos Beatriz. Na hora em que ele falou isso, eu já me virei para olhar para ela, que parecia ter levado um tapa na cara. Eu sabia que ela realmente gostava dele, que ela estava apostando toda a sua felicidade nele.
Mas ela não falou nada, provavelmente ainda confusa entre odiar que ele estava preocupado com outra e a culpa de estar se importando só com ela mesma.
O café da manhã estava indo bem, apesar do silêncio, de alguns cochichos e do clima que estava entre nós. Às vezes eu olhava para Sebastian e ele olhava para mim, nós sorríamos e continuávamos comendo. Naquele momento, era tudo que eu queria, era tudo que eu podia pedir.
Mas até aquela felicidade frágil que eu tinha desapareceu, quando as portas se abriram e três pessoas se juntaram a nós. Eram eles Rainha Daphne da França, sua filha mais velha, Princesa Amélie da França e o Príncipe Jackson da Irlanda. Nenhum deles parecia muito feliz, o que me fez pensar que eles já sabiam do que tinha acontecido. Mas mesmo que Amélie soubesse do peso do ataque, ela não saberia do peso que ela trazia consigo, fazendo a minha pequena vitória parecer tosca.
Ela sim era uma princesa. E não uma filha de joalheiro. Ela tinha poder de verdade, ela tinha um país às suas costas. Como eu ia competir com isso? Por que em um milhão de anos Sebastian me escolheria? Ela andou até seu lugar, na mesa onde a família da realeza se encontrava, e se sentou. Ela não parecia preocupada com nada, só formal demais para sorrir. E eu fiquei me perguntando se tinha alguma coisa entre ela e Sebastian.
Porque, até onde eu sabia, tinha. Ele tinha praticamente me falado que ia pedir para casar com ela. E, apesar de que eu não tinha ouvido falar mais nada sobre o assunto, nada me provava o contrário. Ela ainda estava ali, sem precisar. Quase todos os convidados que tinham vindo para o aniversário de Sebastian tinham ido embora, um tinha até levado uma das selecionadas com ele. Então o que elas tanto faziam ali? Porque elas não estavam já em um avião, ou sentadas na frente da torre Eiffel? O que mais elas queriam de Illéa?
Depois do café da manhã, nós fomos instruídas a irmos direto para o nosso quarto. Eu andei devagar, logo atrás das outras meninas, enquanto elas ficavam falando uma para outra que tudo ia ficar bem, que Gabrielle estaria bem. Beatriz só ouvia, mas concordava com a cabeça de vez em quando, talvez só para não preocupar as amigas ainda mais.
Nós fomos todas para o quarto de Sophie, onde ficamos conversando durante horas sobre o quanto a Gabrielle era especial, como nós gostávamos dela. Até Beatriz disse algumas coisas simpáticas, para a minha surpresa. Mas aquela conversa toda estava me deixando deprimida demais! Parecia que nós conversávamos sobre uma pessoa que já não estava entre nós. E eu não queria aquele tipo de pensamento, pelo contrário. Eu queria acreditar com todas as minhas forças que ela estava bem e que era só uma questão de tempo até que ela voltasse ao castelo.
Então eu as deixei lá e comecei a andar até meu quarto, pensando em como eu gostaria de falar com Charles, como eu queria poder mostrar para ele que ele poderia confiar em mim e contar comigo.
Assim que virei o corredor, eu notei que tinha alguma coisa na frente da minha porta. Acelerei meu passo para chegar lá mais rápido.
E foi quando eu encontrei um bilhete no chão, com três tulipas vermelhas em cima dele, presas juntas por um laço cor de rosa. Naquele momento, eu esqueci completamente de todos os problemas do resto do mundo. Eu os peguei, animada e entre no meu quarto, louca para ver o que estaria escrito ali. Eu estava esperando que fosse uma carta de amor incrível, mas não era. Eram poucas palavras que só me deixaram ainda mais nervosa.

Me encontre na cozinha, 1h00. S.


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