Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 92
Capítulo 92: POV Charles Regen




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Eu andava de um lado para o outro no pequeno metro quadrado que tinha à minha volta, enquanto a sala se enchia de pessoas. Pessoas em pânico, pessoas aliviadas, mas, a grande maioria, pessoas que não tinham a menor ideia do que estava acontecendo.
Eu odiava ter que ficar ali, preso ali, enquanto guardas se arriscavam para nos proteger. Eu era amigo de vários deles, eu os conhecia desde que nasci. Eu não queria ser um peso que precisava ser cuidado. Eu queria estar lá, do lado deles, ajudando do jeito que eu podia.
Ao invés disso, eu estava andando de um lado para o outro, tentando me cansar o suficiente para eu parar de me preocupar com o que estava acontecendo. Mas as pessoas iam entrando e, no meio delas, eu buscava por um par de olhos conhecidos. E nada, eles não chegavam. Algumas meninas me assustaram, me fazendo pensar que era finalmente ela. Mas aí eu me inclinava para vê-la melhor, só para perceber que não era quem eu queria.
Meus pais estavam no fundo da sala, logo atrás de mim. Eles estavam quietos, concentrados. Minha mãe estava abraçada com a sua irmã, mas meu pai estava sozinho, de pé, assistindo enquanto as pessoas se juntavam a nós. E a sala foi enchendo e nada da Gabrielle. Eu evitava mirar alguém nos olhos para que não viessem conversar comigo, nem pensassem que eu estava disposto a falar sobre a vida quando eu ainda não sabia se ela estava bem.
Já fazia algum tempo que nós estávamos ali e a sala já estava praticamente lotada, quando ouvi alguém me chamar pelo nome, quase suplicando pela minha atenção.
Meu coração acelerou e eu me virei para o lado de onde vinha a voz, minhas pernas já começando a me levar até ela. Desviei das pessoas que estavam no meu caminho, louco para chegar até o pé da escada, onde eu sabia que alguém me esperava.
Mas quando cheguei até lá, percebi que não era quem eu queria. Parei por um segundo, hesitei só aquele pouco, quando percebi que era Beatriz que chorava e me chamava. A decepção de não ser Gabrielle ameaçou tomar conta de mim, mas eu também estava aliviado de ver Beatriz. E seu choro me deu pena, me fazendo finalmente acabar com a distância entre nós e a tomar em meus braços, abraçando-a forte, tentando consolá-la.
"Foi horrível," ela dizia baixinho no meu ombro.
"Está tudo bem agora," eu falei, apesar de estar bem curioso para saber pelo que ela tinha passado que tinha sido horrível.
A verdade era que nós da família real quase nunca víamos a ação acontecendo em tempo real. Não, nós sempre tínhamos que ser trazidos ali para baixo antes de todos, nossa vida sempre era mais importante.
Eu a levei até o banco onde minha mãe estava e nós dois tentamos acalmá-la com a ajuda da minha tia. Logo ela já respirava melhor, parando de soluçar e suas lágrimas secaram. Mas o meu coração ainda batia acelerado, só conseguindo pensar no pior.
Eu olhei por cima do meu ombro, buscando as outras selecionadas. Até então, eu nem tinha me perguntado se elas todas estavam ali. Eu estava distraído demais para aquilo. Eu procurei o melhor que pude de onde estava, ainda sentado, mas eu não consegui achar nenhuma além de Beatriz. Onde estava Enny? E Sophie? E Nina?
Onde estava meu irmão? E Gabrielle? Onde poderia estar Gabrielle?
Um tumulto começou no meio da multidão que estava na sala e eu me levantei para ver três guardas andando em minha direção. Ridley e Johnson vinham atrás de Renaldi, o maior de todos. Ele carregava sua arma balançando no cinto e ofegava, sua expressão séria. Eu senti meus joelhos fraquejarem quando o imaginei me dando a pior notícia de todas. E não me controlei.
"O que aconteceu?" Eu perguntei, marchando até eles. "Me diz, O QUE ACONTECEU?"
Ele parou quando nós nos encontramos e olhou para baixo. Não me importava se ele estava mal com a notícia que tinha que me dar, não estava nem aí para o seu pesar. Eu só precisava saber.
"ME FALA, NICO!" Gritei com ele, pegando sua camisa pelo colarinho com as duas mãos e o trazendo para perto de mim. "CADÊ ELA?"
Renaldi engoliu em seco, tão assustado que aquela expressão nem combinava com seu rosto forte e largo. Eu estava pronto para arrancar uma resposta dele, custe o que custasse. Ele podia ser maior do que eu, mil vezes mais forte. Mas não tinha músculo no mundo que ganhasse do meu desespero naquela hora.
"Quem?" Ele perguntou, tentando se livrar das minhas garras.
Mas o fato de ele nem saber de quem eu estava falando só me irritou ainda mais.
"GABRIELLE!" Eu gritei, esquecendo completamente de todas as pessoas que estavam à minha volta.
Renaldi olhou para baixo por um segundo, logo voltando a me mirar. "Não sabemos," ele admitiu. "Só sabemos que ela não está no castelo."
Meus dedos perderam toda a força que tinham, se soltando da sua camisa, e eu cambeleei para trás.
"Como assim, ela não está no castelo?" Meu pai perguntou, vindo até o meu lado.
Aquilo era a última coisa que eu esperava que ele falasse. Achei que ela fosse estar machucada, ou coisa pior. Eu só não conseguia entender e nem saber se aquilo era melhor.
Não fazia sentido! Onde ela estaria? Por que ela não estaria no castelo? Onde ela poderia estar?
"Vocês procuraram em todos os esconderijos?" Minha mãe perguntou, também se juntando até nós e colocando uma mão no meu ombro, seu braço em volta de mim.
"Não houve necessidade," Johnson disse e eu só reconheci pela voz.
Meus olhos miravam o chão, apesar de eu já nem ter certeza se enxergava alguma coisa.
"Como, não houve necessidade?" Meu pai parecia quase tão nervoso quanto eu tinha estado antes.
"Ela foi vista sendo carregada para fora do castelo com os rebeldes," Renaldi disse, trazendo meus olhos de volta para ele.
"Não," eu falei, balançando a cabeça.
"Alteza, nós fizemos tudo-"
"NÃO!" Eu gritei com ele, minhas mãos fechadas em punhos firmes. "Não, vocês estão errados. Não pode ser!" Eu dei alguns passos à minha volta, sem saber direito para onde eu estava indo, mas não querendo ficar parado. "Você tem que procurar direito, PROCUREM DIREITO!" Eu gritei tão perto da cara de Renaldi, que ele se inclinou minimamente para trás.
"Charles, acho melhor você se sentar," May falou atrás de mim.
"Eu não vou me sentar enquanto Gabrielle pode estar por ai, perdida, e vocês nem se importam em procurar!" Eu comecei a andar no meio das pessoas, que me olhavam assustadas. "Se vocês não vão fazer nada, EU VOU!"
"Charles-" Ouvi minha mãe falando, mas eu já estava começando a subir as escadas para sair do esconderijo.
Os guardas vieram atrás de mim, é claro, enquanto eu subia degrau por degrau, betando os pés tão forte cada vez, que eu achei que iria chegar lá em cima já sem conseguir andar. Passei pelo Grande Salão ouvindo os passos dos guardas que me seguiam, enquanto eu desviava de cada copo quebrado, de cada tecido jogado ao chão. Aquela festa tinha durado vinte minutos e parecia ter se estendido por uma madrugada louca.
Quando cheguei no corredor principal, outros guardas corriam para todos os lados, enquantos criados tentavam limpar o vidro das janelas que estavam estilhaçados pelo corredor inteiro. Eu olhei para os lados sem saber por onde começar a minha busca. Eu só sabia mesmo era que eu precisava encontrá-la! Que não existia circunstância no mundo onde eu simplesmente aceitaria que ela tinha sido levada.
Não, ela estava ali, em algum lugar. Tinha que estar. Eu não conseguiria suportar a ideia dela presa em algum lugar, levada por rebeldes. Ela não podia estar nesse perigo, eu não podia perdê-la assim. Eu não conseguiria suportar!
Eu dei alguns passos para trás até minhas costas encostarem na parede. Eu não tinha desistido de procurá-la, eu só precisava retomar minhas energias. Eu precisava me acalmar e pensar direito, pensar claro.
Mas o barulho do vidro se arrastando pelo chão embaixo das vassouras não estava ajudando. Parecia que ele arranhava a minha cabeça, minhas entranhas, roubando de mim toda a força que eu ainda tinha. Me deixei escorregar na parede até estar sentado no chão.
Ela não podia ter sido levada. Ela tinha que estar ali, comigo. Eu precisava dela. E se eu nunca mais a visse? E se alguma coisa acontecesse com ela? Ela precisava de mim e eu tinha falhado com ela, corrido como um covarde para dentro do esconderijo na primeira oportunidade que tive! Ela estava assustada, perdida, e eu seguro. Tudo por causa dessa minha droga de vida sagrada ao Estado. Quem era eu para merecer aquela segurança quando ela estava à mercê de quem nos atacava? Eu tinha falhado com ela.
Me levantei de novo e fui até a janela que estava na minha frente, olhando para o jardim na frente do castelo.
"Quem a viu?" Perguntei, me virando para Renaldi, que tinha estado ali de pé, em silêncio.
"Loric," ele disse, olhando para baixo.
"Cadê ele?" Falei, já começando a andar em direção às escadas.
"No escritório do rei," Renaldi começou a me seguir.
"Estou bem sozinho," falei, parando e me virando para ele.
Ele pareceu hesitar, mas quando eu comecei a subir as escadas, já não ouvia seus passos atrás de mim.


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