Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 57
Capítulo 57: POV Gabrielle DeChamps




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Quando eram oito horas da noite, eu estava sentada na minha cama, esperando pacientemente. Estava com um vestido vinho justo de malha que tinha uma fenda na perna esquerda. Era um pouco confortável demais, apesar de ser tão sexy. Era diferente da maioria dos vestidos que tinha que usar todos os dias. Mas se eu tinha que ir em um encontro com Charles, preferia me vestir como eu queria.
Meu cabelo, agora cobre, combinava muito bem com a cor do vestido. E, por segurança, eu tinha passado um batom vinho também. Tão forte assim, seria como uma armadura contra qualquer tentativa da parte dele.
Não que eu não quisesse beijá-lo. Bem pelo contrário. Eu só tinha decidido que ele precisava fazer muito mais para me provar que ele merecia. Porque até então, a única coisa que eu via era ele saindo com mil meninas e ficando com todas que ele podia. E não seria assim comigo. Ele tinha mesmo que merecer antes.
Sem contar que eu tinha a leve impressão que se a gente se beijasse, eu acabaria me apaixonando de vez por ele. E não queria que isso acontecesse assim, antes de eu saber que eu era pelo menos umas das cinco que ele preferia.
O resto do mundo não estava ajudando. Apesar de terem classificado Beatriz em último lugar na enquete, as primeiras eram meninas com quem ele andava saindo. Dava para ver que ele se importava com elas. Todas voltaram contando sobre como incrível tinha sido o encontro deles, enquanto eu ficava imaginando jeitos em que eu poderia estourar meus tímpanos.
Até me peguei imaginando como seria ser surda. Quem sabe meu próximo livro poderia ter uma menina surda como protagonista e eu falaria de como o preconceito contra pessoas surdas é um absurdo, como os obstáculos de não ouvir eram pequenos demais para serem tratados como uma grande deficiência.
Mas eu resolvi deixar para pensar nisso depois.
De qualquer jeito, a Beatriz era o meu maior problema. Ela falava dele o dia inteiro, de como eles tinham uma conexão incrível, de como achava que ia ganhar. E depois ainda dava detalhes sobre como ele beijava. Tipo, pra quê, né? Eu imaginei um piano de calda caindo em sua cabeça umas mil vezes. E ninguém estava aguentando isso mais. A única pessoa que continuava do lado dela era a Nina, que não parecia se importar tanto. Na verdade, ela parecia estar sempre viajando, sonhando acordada. Não sei se era um mecanismo de defesa dela para sobreviver à chatice de Beatriz ou o quê, só sei que ela não parecia se incomodar com tudo que sua amiga falava.
No meio de isso tudo, eu estava tentando me manter o mais longe possível de Charles, só para ter certeza de que eu não estava tropeçando por ele só para ele escolher uma das outras. Então quando ele me chamou para sair na segunda-feira, disse que estava indisposta. Não estava é preparada emocionalmente para ficar sozinha com ele de novo. Ainda mais depois de ter passado três dias felizes com a minha irmã, me lembrando de como a vida era mais simples antes de eu ter vindo pra cá.
Mas agora eu estava ali, esperando ele para me buscar para um jantar, segundo a Silvia. Não seria tão mal, eu gostava de comer. Ainda mais ali no castelo. E eu não iria de jeito nenhum recusá-lo duas vezes. Não queria me apaixonar por ele, mas tão pouco queria ficar longe dele por muito tempo.
Quando ele bateu na porta, já estava enjoada do frio na minha barriga. Era como se nós estivéssemos para nos conhecer. Parecia que eu tinha voltado no tempo e não sabia lidar com ele.
Uma das minhas criadas foi até a porta e abriu para mim, deixando-o entrar. Eu esperava que ele fosse me trazer algum tipo de flor, mas não carregava nada. Fiquei um pouco desanimada, lembrando que a Beatriz tinha praticamente esfregado na nossa cara que ele tinha lhe dado uma rosa.
Tive que presumir que ele não se importava o suficiente comigo para fazer o mesmo.
Mas ele estava bonito, isso eu tinha que admitir. Usava uma camisa branca com um sweater preto por baixo de um blazer cinza mesclado, com jeans escuros. A primeira coisa que pensei foi que ele combinaria bem comigo. Estava com medo de ele vir super formal enquanto eu usava um vestido mais simples. Mas ficaríamos bem um do lado do outro.
Com seu cabelo bem penteado, ele me sorriu.
"Boa noite," disse, com os braços atrás das costas.
"Boa noite," eu repeti, me levantando.
Ele me ofereceu o braço e nós começamos a andar pelo corredor.
"O que você preparou para nós?" Perguntei antes que um silêncio constrangedor se instalasse entre nós.
"Pensei em trazer um pouco da cultura da França para o castelo," ele disse, sorrindo para si mesmo.
Eu mesma pensei que trocaria a culinária francesa pela italiana sempre que pudesse. Claro que eu não podia negar que a França ainda era conhecida pela sua comida e que tinha merecido tal título. Mas eu era mais chegada em massas e manjericão. Na minha cabeça, já marquei como uma razão para não me deixar me apaionar por ele, já que ele não me conhecia tão bem. Mesmo que tentasse.
Quando chegamos na escada, eu estava esperando que fôssemos descer, mas ele me guiou para o lado contrário, subindo para o terceiro andar, onde eu sabia que ficava o seu quarto.
Comecei a ficar muito nervosa pensando em conhecer onde ele dormia, mas não precisava ter ficado. Nós passamos direto pelo terceiro andar, indo até o quarto. Era esquisito, porque eu tinha ouvido falar que lá era onde ficavam os aposentos do rei e da rainha.
O quarto andar rapidamente virou o meu favorito. Toda a decoração dos outros não chegava até ali. As paredes eram todas cobertas com fotos diferentes. Pude reconhecer o rei e a rainha bem mais novos, provavelmente na época em que a seleção dele tinha escolhi a America. Tinha também fotos de paisagens, de animais, dos príncipes mais novos.
Charles percebeu que eu estava hipnotizada por aquilo e me deixou observar cada uma como cuidado sem falar nada. Depois me virei para encontrá-lo de pé do lado de uma porta muito simples.
"Pronta?" Ele perguntou, levantando a sobrancelha.
"Para quê?" Andei até ele e ele abriu a porta.
Entrei na frente, subindo a escada em caracol que me levou até uma segunda porta. Dessa vez, ele foi na frente, passando por mim e abrindo-a.
Eu tive que me segurar em seu braço para não cair quando eu vi o que ele tinha preparado. Pequenas luzinhas de natal guiavam o caminho da porta até uma tenda, subindo pelas suas colunas, iluminando a mesa embaixo dela. E não eram poucas, eram muitas. Era mais do que encantador. Eu não sabia se estava andando até lá ou se estava flutuando. Mas cambaleei até chegar na mesa, ainda olhando ao redor para absorver tudo. Ele não tinha me levado uma rosa, mas tinha espalhado o que parecia ser um milhão de pétalas vermelhas em volta da tenda e das luzes, com algumas pequenas lanternas perdidas no meio delas, o suficiente para iluminá-las sem clarear o ambiente.
Charles veio andando atrás de mim, devagar. Só observando eu ficar sem ar. Quando cheguei até a minha cadeira, percebi que ele tinha deixado uma manta para mim, que eu peguei para me cobrir do frio do final de Outubro. Ele puxou a cadeira para mim, me ajudando a sentar direito. Enquanto dava a volta na mesa, eu continuei observando tudo ao meu redor.
Do nosso lado, tinha uma pequena lareira móvel que queimava devagar. Ele tinha se preocupado de verdade com o meu frio. E depois dela, olhando pela berada do castelo, eu podia ver as luzes de Angeles acesas. Toda a cidade ali, para eu pegar para mim, brilhando como estrelas.
Ele me percebeu observando-a hipotizada.
"Quer ir lá ver?" Perguntou, me fazendo me virar para ele.
Foi estranho mesmo, quando olhei para ele e percebi que nada ali era mais bonito do que o jeito que ele olhava para mim.
"Depois," falei, sorrindo.
"Espero que você goste do jantar," disse, um pouco desconfortável.
"Eu já gosto," admiti. "Mesmo se não comermos nada, já é tudo que eu poderia pedir."
Ele sorriu tímido e olhou para baixo, pensativo. Foi a primeira vez que eu percebi o quanto minha distância poderia estar confundindo-o.
"Charles," comecei, mas um garçon apareceu do nosso lado, me fazendo ficar quieta.
O que quer que seja que eu tinha para lhe falar, eu preferia guardar na minha cabeça do que ter um garçon qualquer me ouvindo e espalhando para o castelo depois.
Ele colocou alguns tipos de pão, croissant e queijos à nossa frente. Depois fez uma reverência e se distanciou.
"Espero que você goste," Charles disse de novo, me fazendo me sentir ainda mais culpada de ter deixado-o tão inseguro.
"Eu gosto, não se preocupe," falei e ataquei o rochefort o mais educadamente que eu podia.
"Sua irmã está gostando do castelo?" Ele perguntou, enquanto um segundo garçon trazia um vinho e nos servia.
"Tem como não gostar?" Eu disse, lembrando das mil coisas que ela já tinha me contado. "Ela passa o dia inteiro dançando balé e fingindo que é uma princesa. Acho que ela finalmente encontrou a sua vocação."
"Ser princesa, você diz?"
"Sim," sorri, lembrando do dia em que nós ficamos provando vestidos no meu quarto. "Acho que ela tem mais jeito para esse tipo de coisa do que eu," falei, sem pensar no que aquilo poderia significar.
Charles olhou para baixo um segundo, pensando naquilo. Mas logo voltou seus olhos para mim, me encarando sério, mas gentilmente.
"Você tem mais jeito para esse tipo de coisa do que imagina," disse, me fazendo sorrir que nem tonta.
Pronto, pensei. Já era aquela ideia de tentar se manter distante emocionalmente.
"Você é próxima dos seus pais?" Ele perguntou depois.
"Muito," eu disse. "Principalmente da minha mãe. Eu tive os melhores pais que poderia ter, de verdade. Eles sempre me apoiaram, sempre me deram uma voz, sabe? Nunca me podaram em nada, sempre me deixaram escolher o que queria fazer. E acho que foi bem isso mesmo que me manteve tão responsável."
"Eles são escritores também?"
"Meu pai é professor de uma universidade e a minha mãe é cientista, pesquisadora," expliquei. "E mesmo a minha irmã não querendo trabalhar com nada desse tipo, eles nunca a impediram de se dedicar mais ao balé do que a qualquer outra coisa restrita à nossa casta."
Ele concordou com a cabeça, pensativo.
"E você?" Perguntei, para a sua surpresa. "É próximo de seus pais?"
"Muito," disse como eu tinha dito e sorriu. "Meu pai, até mais do que a minha mãe. Sebastian sempre foi mais grudado com a minha mãe."
"É?"
"Sim. Mas ele mesmo é o meu melhor amigo. Não conseguiria me imaginar sendo filho único. Mesmo que às vezes ele goste de roubar algumas coisas de mim," ele disse, rindo para ele mesmo depois.
Não sabia se tinha alguma piada interna que eu não tinha entendido.
"Por que você diz isso?" Perguntei, confusa.
Ele pareceu considerar um pouco as consequências de me contar, mas acabou decidindo que valiam a pena.
"Promete não contar para ninguém?" Perguntou e eu concordei com a cabeça, animada com o segredo. "Promete mesmo? Porque tem que ser segredo, senão tudo pode dar errado."
Eu comecei a entrar em pânico na minha cabeça, imaginando que o Sebastian estava planejando roubar o trono ou alguma coisa do tipo.
"Prometo que não vou nem pensar no que quer que seja depois de você me contar," eu disse, me inclinando para frente e ele fez o mesmo.
"Sebastian está apaixonado pela Lady Nina," ele sussurou e eu dei um grito.
"NÃO!" Falei, cobrindo a boca com as duas mãos. "AI, MEU DEUS, me diga que você tá brincando!"
Ele riu, se divertindo com a minha reação. "Não estou brincando, é verdade."
"Que babado!" Soltei, ainda completamente inconformada.
Então era por isso que ela não se importava com Charles? Ela tava saindo com o irmão dele!
"E eles estão juntos, então?" Falei, quase que só para mim mesma.
"Não," Charles me corrigiu, "eles não estão juntos. Ele só está apaixonado por ela. Diz que ela odeia ele."
Pensei naquilo por um segundo. "Não sei, não," falei.
"Por que diz isso?" Ele estava bem interessado, parecia gostar tanto de fofoca quanto eu.
Tá, isso não seria possível.
Dei de ombros. "Ela parece estar sempre viajando na própria cabeça," falei. "E não parece se importar muito com a Beatriz se exibindo por ter ficado com você."
Eu estava com medo do que eu falei deixar ele sem graça, mas ele fez uma mímica como se estivesse fincando uma faca no estômago pelo meu comentário.
"Obrigado pela parte que me toca," falou, enquanto fingia tirar a faca imaginária da sua barriga.
Eu ri alto daquilo. Era engraçado ver alguém que parecia sempre estar tão alinhado, fingindo se esfaquear. E depois eu lembrei da cena e ri mais um pouco.
Ele ficou me observando até eu me recompor.
"É bom mesmo saber que tem selecionadas que não estão nem aí para mim," ele disse, fingindo um certo incômodo.
"Não se preocupe, tem várias que se importam e muito com você," falei, sorrindo.
"Você é uma delas?"
"Talvez," disse e dei de ombros, mas estava claro que era.
O prato principal do jantar foi uma quiche lorraine. Eu quase me levantei para abraçá-lo quando o garçon a colocou na minha frente. De toda a culinária francesa, ele tinha escolhido minha comida preferida. Eu via cair por terra todas as minhas teorias de que talvez fosse melhor eu não me deixar apaixonar. Já não tinha jeito de negar que seria uma ótima ideia me deixar levar.
Toda a tensão que tinha no começo estava desaparecendo devagar e logo eu esqueci de todo o mundo que nos esperava dentro do castelo.
Quando terminamos de comer a quiche, chegou a hora da sobremesa. Eu bebi o resto de vinho da minha taça e coloquei um pouco mais. Já tinha bebido mais do que uma dama deveria, vou admitir. Mas eu quase nunca bebia um vinho tão bom, então tinha que aproveitar. Ele tinha um gostinho suave de casa.
Só que ele perdeu toda a sua importância quando o garçon colocou uma vasilha grande de macarons na minha frente. Eu não pude me controlar, tive que me esticar até segurar a mão de Charles e lhe dar uma apertada agradecida.
Ele ficou surpreso com a minha reação.
"Obrigada," eu disse, explicando porque tinha feito aquilo.
Ele virou sua mão, segurando a minha de volta. "Eu que agradeço," disse, sorrindo.
Acho que ficamos alguns bons minutos só nos olhando, sem desviar os olhos para mais nada. Mas depois nos focamos nos macarons.
A cada mordida, eu sentia um novo impulso de abraçá-lo. Do de pistache até o de morango, cada um deles conquistou meu coração inteiro. Eu não conseguia imaginar qualquer outro momento em que eu estivesse tão feliz. Eu não conseguia pensar em mais nada que eu precisasse.
Quando a gente terminou e se levantou, a primeira coisa que eu fiz foi colocar meus braços em volta dele, abraçando-o do jeito mais desajeitado possível.
"Obrigada mesmo," falei, e ele colocou o braço em cima do meu ombro.
"De nada," ele disse dessa vez, olhando para mim.
Levantei meus olhos até encontrar os dele, o que me deixou um pouco constrangida. Soltei-me devagar dele e fui até a berada da varanda para olhar para a cidade.
"Uau," soltei assim que percebi que dava para ver praticamente Angeles inteira.
"É legal, né?" Ele disse atrás de mim.
Senti que ele estava logo ali, bem logo ali mesmo, quase me tocando. Mas tentei não me distrair.
"Aqui é meu lugar preferido do castelo inteiro," ele disse e eu pude quase sentir suas palavras na minha nuca.
Droga, Gabrielle, você bem que podia ser menos fácil, pensei comigo mesma.
"Eu amo o escuro," falei, me virando para ele. "Sabia? Amo a noite."
Ele inclinou um pouco a cabeça, pensando naquilo. "É?" Perguntou.
Meus olhos passaram dele para as luzes por cima do ombro dele.
"A minha parte preferida do escuro são as luzes," disse, fazendo-o se virar para ver o que eu olhava.
Tive que lutar contra mim mesma para não me distrair com as costas dele na minha frente. Pensei mil vezes que seria esquisito demais eu simplesmente tocá-las, mesmo que eu quisesse muito.
"Sem o escuro, luzes como essas perderiam a sua magia," continuei.
"Você acha que elas tem mágica?" Ele se virou de volta para mim e eu vi que ele achava aquilo tudo muito divertido.
"Acho, tá?" Falei, cruzando os braços. "Tudo tem mágica. Tudo que vale a pena, até as coisas mais pequenas."
Ele me olhou, sorrindo de leve. Até que eu percebi seus olhos mirando minha boca e meu coração começou a bater que nem louco. Era como se ele soubesse antes de mim o que estava prestes a acontecer.
Charles começou a se inclinar para mim e meu rosto foi atraído por ele sem eu nem pensar no que estava fazendo. Eu fechei meus olhos e antes mesmo que pudesse chegar até ele, senti um pingo d'água cair no meu nariz. Fiquei desconsertada com aquilo, abrindo os olhos de volta e esfregando para ver o que era. Juro que a primeira coisa que pensei era que ele tinha chorado em mim.
Mas quando o olhei, ele estava tão confuso quanto eu e os pingos foram aumentando, respondendo rapidamente a nossa pergunta sobre o que estava acontecendo. E por sorte do destino, a tenda que ele tinha escolhido pro nosso jantar não era completamente coberta. Pelo contrário, era toda furada, o que ajudava bem com as luzinhas, pois elas estavam entrelaçadas em cada uma de suas vigas. Mas na chuva, aquilo não era a melhor das vantagens.
Eu olhei à nossa volta, completamente perdida, mas ele pegou na minha mão e me puxou até chegarmos perto da parede. Tivemos que andar por cima das pétalas das rosas, me fazendo sentir uma agonia de dor por cada uma em que eu pisei.
"Perfeito," ele disse, balançando a cabeça, quando nós já estávamos tentando nos esconder nos dois centímetros de telhado que tinha em cima de nós.
Ele parecia tão frustrado, que foi engraçado. E o fato de que a chuva tinha me deixado louca para beijá-lo junto com ele estando tão desanimado me deu vontade de rir. Não sei porque eu tenho essas vontades loucas de rir de coisas inadequadas.
Mas não me controlei, logo estava soltando risada atrás de risada, uma mais alta que a outra. Ele nem me achou tão louca, riu comigo, seu cabelo molhado balançando toda vez que ele jogava a cabeça para trás.
E eu me peguei pensando que nunca tinha visto nada tão graça na minha vida.
"Vem cá," falei, sentindo um impulso enorme de dar a louca.
Peguei na sua mão e o puxei de volta para a chuva. Ele me seguiu, mesmo parecendo apreensivo com o que eu estava planejando fazer. Comecei a dançar em volta dele, como dava, pensando em uma música na minha cabeça. Ele estranhou, riu até de mim no começo. Mas logo se juntou a mim, em um ritmo quase completamente diferente, o que fazia aquilo ainda mais engraçado.
Eu nem me importava com a água fria escorrendo pelas minhas costas, ou a fenda do meu vestido grudando na parte interna da minha coxa. Eu não me importava se minha maquiagem estava escorrendo pelas minhas bochechas ou se aquilo era exatamente a única coisa que não poderia ter acontecido durante o jantar. Porque era também a melhor parte dele.
Charles me pegou pela mão, me fazendo girar umas duas vezes, enquanto eu sentia quase falta de ar de rir e tentava ao máximo não escorregar. Na segunda vez que ele fez isso, meus sapatos me traíram, me fazendo deslizar só o suficiente para ele entrar em pânico e ficar preocupado comigo. Ele me salvou, me segurando antes que todo aquele momento fosse estragado por um joelho ralado.
Senti seu braço forte nas minhas costas e as gotas do seu cabelo caindo na minha cara. Ele poderia ter me levantado, mas parecia que tudo aquilo tinha acontecido exatamente como tinha que ser. Ele me mirou por alguns poucos segundos, até que seu sorriso desapareceu. Ele se abaixou ao mesmo tempo que trouxe meu rosto com a outra mão até ele, dessa vez fazendo sua boca encostar na minha.
Eu estava em uma posição tão vulnerável, ele poderia me soltar a qualquer momento. Mas eu acho que essa foi uma das coisas que fizeram aquele beijo tão perfeito. Eu estava morrendo de medo de tanta coisa, mas ao mesmo tempo, me sentia tão segura em seus braços, não sabia direito se estava sonhando.
Ele acabou me levantando, sem se afastar de mim, me trazendo ainda mais perto dele. E me abraçava como se ele quisesse aquilo tanto que mal conseguia acreditar que tinha conseguido. Eu o abracei de volta o máximo que pude, me colocando nas pontas dos pés, meus braços em volta de seu pescoço. Eu não queria me distanciar dele nem um centímetro a mais do que precisava.
E eu não queria nem imaginar o mundo lá fora, menos ainda voltar para ele. Tudo que precisava naquele momento estava ali comigo.


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