Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 141
Capítulo 141: POV America Schreave




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Foi muito estranho assistir aquela cena de fora e de dentro ao mesmo tempo. Eu sentia como se eu fosse quem seria pai, que era o meu filho que nós buscávamos no ultrassom. Mas assim que finalmente tivemos a resposta, eu entendi que mesmo que eu tomasse as suas dores e as suas alegrias, eu nunca conseguiria saber exatamente o que Sebastian sentia.
Foi como se ele sentisse mil coisas ao mesmo tempo, mil sensações e emoções que ele não conseguisse suportar. Na hora em que o médico disse que não tinha nada no útero de Amélie, ele se soltou e ajoelhou até estar com a testa no chão. Meu instinto era ir até ele, abraçá-lo, mas eu não o fiz. Só o observei tentar se recompor, em uma mistura de gratidão, alívio e euforia. Levou um tempo até que ele se levantasse com energia renovada. E enquanto ele parecia o primeiro corredor na última volta da competição, Amélie segurava sua barriga com as duas, como se ainda tentasse se agarrar ao que ela acreditava que estava ali.
E em seus olhos, eu vi a mim mesma. Na minha primeira gravidez, no que eu senti quando ouvi meu médico me dizendo que eu tinha perdido a minha filha. Naquela hora, eu me senti muito mais ligada a ela do que a Sebastian, que praticamente pulava em volta de nós.
Mas quando ele correu até a porta, eu tive que segui-lo
"Aonde você vai?" Eu perguntei, me sentindo envergonhada do meu filho não estar nem tentando esconder o quanto aquilo o deixava feliz.
"Tem uma coisa que eu preciso fazer," ele me respondeu, se virando para me olhar sem parar de andar. E andando de costas, ele me sorriu, abrindo os braços. "Tem uma pessoa que eu preciso buscar."
"Você tem que resolver as coisas aqui primeiro, Sebastian," eu disse, colocando minhas duas mãos na cintura. "Você tem um casamento para cancelar. Você tem que cuidar de tudo aqui primeiro."
Ele parou de andar como se aquela fosse a primeira vez em que percebesse aquilo. Seus olhos miraram a parede ao seu lado, pensativos, depois se viraram para mim com energia renovada. "Eu não vou sair do castelo. Pode deixar que eu vou tomar conta de tudo!"
Ele se virou de novo, como se o assunto estivesse encerrado.
"Sebastian!" Eu o chamei, um pouco mais alto e bem mais dura.
"Só receba os convidados por mim," ele disse, sem se virar para me olhar. "Pode deixar que eu falo com todos. Só não fale nada ainda para ninguém!"
Sua voz desapareceu depois de ele passar pelas portas da ala hospitalar. Eu fiquei inconformada com o seu jeito, com essa falta de preocupação dele. Estava nas pontas dos pés, quase começando a marchar em sua direção, quando eu ouvi a voz de Daphne vindo de dentro do quarto.
"Vamos, chérie, você precisa terminar de se arrumar para o seu casamento," ela disse.
Não, America. Você não vai se irritar com ela.
"Que casamento?" Eu perguntei, voltando a entrar no quarto. "Não vai ter nenhum casamento."
"Claro que vai," ela disse, levando as mãos à cintura e me mirando como se quisesse me queimar só com o olhar.
Eu só levantei o meu queixo, respirando fundo. Não se irrite, America, eu repeti para mim mesma.Ela não vale a pena.
"Não vai ter casamento," eu falei. "Só ia ter por causa desse filho. Agora que nós sabemos que sua filha não está grávida, não vai ter casamento."
"Não era só por Amélie estar grávida!" A voz aguda de Daphne me fez fechar minhas mãos em punhos. "Seu filho ainda se deitou com a minha filha. É da responsabilidade dele se casar com ela."
"Não é da responsabilidade dele," eu balancei minha cabeça, quase sem acreditar no que ela dizia.
"É sim," ela deu um passo à frente, como se quisesse me desafiar. "Ele prometeu coisas para ela. Ele a enganou. Ele prometeu que ia se casar com ela e agora é tarde demais para dar para trás."
"Eu tenho certeza absoluta que meu filho nunca prometeu nada para ela em sã consciência," eu disse. "Ele não a pediu em casamento. Ele nunca falou nada que chegasse perto de uma promessa."
"Como você sabe disso?" Ela estava praticamente gritando e eu não consegui me controlar.
"Ele ama outra menina," eu respondi mais alto ainda. "Ele está completamente apaixonado por outra menina. Será que você é tão cega que não vê o quanto ele está feliz de saber que não vai ser pai de um filho dela?" Sem querer, apontei com a minha mão inteira para Amélie.
Diferente de Daphne, eu mesma segui minha mão e olhei para ela, que mirava o chão e parecia não escutar. Eu senti como se ela fosse a minha filha ainda e estivesse me ouvindo brigar com o pai dela. Ela não precisava ouvir aquilo, ela não precisava de mais razões para ficar triste. E eu não queria ser a pessoa que a fizesse se sentir pior.
"Desculpa," eu disse tão baixo que ela nem parecia ouvir. Ainda mais com a mãe dela gritando por cima.
"Não me importa se ele quer outra," ela disse. "Ou ele se casa com ela, ou eu declaro aqui e agora guerra contra Illéa."
Por um segundo, eu me esqueci de Amélie e do médico que ainda estava ali e me virei para olhá-la. Um segundo, foi esse o tempo que eu demorei para me certificar de que Daphne estava mesmo louca e tinha mesmo dito aquilo. E depois desse segundo, eu só pude rir.
O que só a deixou ainda mais furiosa. Mas eu não conseguia evitar. Ela estava delirando. Simplesmente delirando. Declarar guerra porque meu filho não estava apaixonado pela filha dela? Louca.
"Eu não estou brincando," ela disse, tão ofendida que rangia os dentes.
"Eu acredito," eu falei. "Essa é a pior parte. Você realmente acha que Olivier, o REI da França, vai aceitar entrar em guerra contra um país como o nosso porque a mulher dele não consegue suportar a ideia de estar longe de outro rei?" Ela recuou o corpo inteiro assim que eu falei de Maxon. "Ele aguentar ver você apaixonada por Maxon é uma coisa. Mas mover tropas para satisfazer essa sua necessidade doentia de se infiltrar na nossa vida vai ser demais.
"Se você quer declarar guerra, vá em frente," eu continuei, depois de perceber que ela não conseguia encontrar uma resposta para aquilo. "Mas saiba que é só você que vai lutar. Ele nunca vai te apoiar. Você está sozinha nessa. E saiba também que não existe nada, eu repito, NADA no mundo que vai te fazer ganhar de nós. Porque Maxon e eu temos algo que você nunca vai conseguir entender. Nós temos amor. Amor de verdade, incondicional. Nós nos amamos e isso você nunca vai conseguir quebrar. Mas se você quer tentar, vá em frente. Você vai gastar a sua vida nisso e nunca vai chegar a lugar nenhum. Mas a escolha é sua.
"Eu só te peço uma coisa," foi a minha vez de dar um passo à frente e praticamente apontar meu dedo para ela, "não leve a sua filha nisso." Ela franziu as sobrancelhas e eu continuei. "Se você quer ficar nessa batalha pro resto da vida, a escolha é sua. Mas a sua filha não merece viver na sua sombra. Ela não merece que você descarregue nela todos os seus sonhos frustrados. Ela tem que viver por ela. Sofrer quando tiver que sofrer, ser feliz quando puder e aprender com os erros DELA. Ela tem que ter uma vida dela e não lutar por coisas que você coloca na cabeça dela."
"Quem é você para me falar sobre como eu devo criar a MINHA filha?" Daphne gritou de volta para mim, finalmente retomando a sua raiva.
"Eu sou alguém que claramente a vê muito melhor do que você," eu disse, sem tirar os olhos dela. Eu queria muito olhar para Amélie, mas eu não podia quebrar aquele olhar com Daphne. Eu não podia ser a primeira a desviar meus olhos. "Pegue as suas coisas e saia desse castelo. Você tem dez minutos. Dez minutos. Se depois desse tempo você ainda estiver no terreno do castelo, eu vou mandar te prenderem."
"Você não pode nos expulsar assim-" ela bufou uma risada sem humor, apesar de que eu via em seus olhos que ela acreditava na minha ordem.
"Não, você não entendeu," eu falei, balançando a minha cabeça de leve. "Eu estou expulsando você. Só você. Amélie fica."
"Você tá louca!" Daphne repetiu.
"Mãe-" Amélie chamou, tentando alcançá-la para pegar em seu braço.
Nessa hora, eu não aguentei, eu olhei para ela. Mas o seu olhar de desolada só me partiu ainda mais o coração.
"Você acha que eu vou deixar a minha filha aqui? Com você? Com o cara que você diz estar apaixonado por outra?"
"Amélie," eu me virei para ela, tentando ignorar Daphne que ainda continuava falando que eu era louca. "A escolha é sua. Você pode ir embora com a sua mãe. Ou você pode me dar uma chance de te mostrar que você está melhor sem ela. Eu não vou te deixar sofrer com o que for que aconteça com Sebastian. Eu não vou te deixar ser humilhada ou ignorada aqui. Eu prometo que vou te ajudar como eu puder."
Assim que falei isso, vi em seus olhos um mínimo de esperança que me fez ter medo de ela me pedir para trazer Sebastian para ela. Aquela seria a única coisa que eu não faria.
"E mesmo que você não acredite em mim," eu continuei, "talvez um tempo longe de tudo,"principalmente da sua mãe, eu acrescentei na minha cabeça, "seja realmente do que você precisa."
Nós ficamos em silêncio por alguns segundos, enquanto esperávamos Amélie responder. Até que ela mordeu o lábio, como se já soubesse o que queria, só tinha medo de falar. E quando seus olhos encontraram os meus, foi a vez de sua mãe voltar a gritar.
"Você só pode estar de brincadeira!" Sua voz aguda voltou a encher o quarto.
Eu me virei para mirá-la de novo e levantei meu queixo outra vez. "Oito minutos," eu falei.


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