Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 124
Capítulo 124: POV Abigail Neumann




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Ver Sky e o tal guarda real se entregarem completamente à cena me deixou um pouco desanimada. Eu tinha passado a manhã toda curtindo a minha raiva pelo Duck, pronta para descarregar tudo em cima dele quando ele viesse fazer seu teste. Eu queria uma vingança de verdade, queria poder mostrar para ele que eu não me importava, ao mesmo tempo que provasse que tinha mais química com outro ator.
Mas aquela interação da Sky e do Jasper nos deixou todos um pouco surpresos. E eu não estava só sem palavras pelo fato deles terem largado o roteiro para se pegarem na nossa frente assim. O que me incomodava era um nó na minha garganta, era um frio na minha barriga, era uma voz na minha cabeça que me fazia imaginar que aquela poderia ser eu. E que aquele poderia ser ele.
Eu queria muito que a minha raiva continuasse em mim. Eu tentava me lembrar de como tudo aquilo era errado. Ele tinha se achado no direito de tirar uma foto minha e colocar em um outdoor, para todo mundo ver. E ele ainda tinha escrito que só olhava para mim. Por mais que esse pensamento me fizesse sentir de certo modo bastante lisonjeada, por mais que eu ganhasse um sorriso idiota toda vez que pensava nisso, eu sabia que estava errado. Estava tudo errado. Já haviam mil fotos e comentários na internet sobre nós dois, sobre ele e eu sermos um casal. Sobre ele estar tentando me conquistar. E sim, já tinha muita gente que torcia para que nós dois ficássemos juntos.
E isso me irritava! Me irritava, porque ele não tinha pensado em mim! Na MINHA carreira, no que aquilo significaria para mim, com o que eu teria que lidar! Ele só tinha pensado nele! E nem de longe aquilo provava que ele não queria ser só famoso! Nem de longe aquilo provava que ele realmente só olhava para mim!
E ao mesmo tempo, eu sentia essa parte dura de mim, essa raiva derretendo. Era como se cada vez que eu pensasse naquilo, eu me convencia um pouco mais. Ou melhor, ele me convencia. E eu não queria deixá-lo me convencer, eu ainda não sabia se aquilo seria uma boa ideia. Eu tinha quase certeza absoluta de que não era. Ele ainda era ele, ele ainda vivia a vida dele. Ele ainda tinha todas as meninas atrás dele. E eu não conseguia entender porque ele iria querer ficar comigo, não quando o que ele queria não era fama. Fama era tudo que eu tinha para oferecer. E se não era isso que ele queria de mim, o que poderia ser? E se eu não conseguisse oferecer o suficiente, enquanto eu tirasse tudo dele? E se eu me apegasse a ele, só para ele descobrir que é bom demais para mim? E se o problema nem fosse meu ciúmes, mas a minha incapacidade de estar no nível dele? Seria tão fácil para ele olhar para os lados e encontra mil garotas melhores do que eu. Mesmo se ele gostasse da fama, mesmo se toda essa atenção em cima dele fosse algo que não o incomodasse, essa vida envelhece rápido. Fica cansativo, fica velha. Fica chata muito, mas muito rápido mesmo. E se ele se cansasse de mim?
O diretor começou a dar a louca na mesa, inconformado com o quão incrível a cena entre o guarda e Sky tinha sido, e eu aproveitei para me recompor. Eu não era ela, aquilo não tinha acontecido comigo. Era difícil me distanciar, não pensar que em alguns minutos eu estaria no lugar dela. Mas eu precisava me lembrar que eu não queria aquilo, que eu não podia deixar Duck vencer assim. Não na frente de todo mundo, nem de jeito nenhum.
Mas meu coração tomava conta da minha cabeça e eu não conseguia evitar de imaginar nós dois juntos. Não eram nem imagens claras, era mais o sentimento inteiro preso a uma ideia pouco concreta. E esse sentimento pesava em meu peito, como se estivesse me puxando para baixo. Eu não podia esperar, eu estava com o estômago embrulhado. Eu precisava sair dali! Eu não queria assistir os segundos do relógio passarem conforme eu esperava meu futuro. Eu não queria tomar uma decisão, não queria deixar que ele a tomasse, não queria nem ser eu por um tempo. Eu só queria correr e sair dali.
Logo depois que Sky saiu pela porta e que Vanessa disse que nós tínhamos vinte minutos de intervalo até os próximos testes, eu corri para a porta. Vi que Sky estava à direita do corredor, então andei para o outro lado. Eu não sabia o que estava acontecendo entre eles, mas eu não queria atrapalhar. E queria muito menos que ela me perguntasse o que eu estava fazendo.
Porque eu não sabia o que estava fazendo. Eu só fiz. Eu fui até o elevador, minhas botas se afundando no carpete. Quando entrei, apertei o botão da cobertura e esperei ansiosamente para chegar até lá. Mas parecia que o elevador não ia rápido o suficiente. Eu precisava pensar em outra coisa, eu precisava fugir da minha própria pele, queria não ter que me preocupar, queria conseguir sentir alguma coisa além daquele frio na minha barriga que me deixava enjoada.
Quando as portas abriram, eu já estava agachada no chão, tentando fazer meu nervosismo me incomodar menos. Eu praticamente voei para fora do elevador, mas só de olhar para o meu novo apartamento, eu senti um arrepio me descendo pelas costas. Eu não podia ficar ali, não queria ter que me lembrar dele assim, com imagens claras na minha cabeça. Eu era uma idiota, que achava que sofrer um pouco com essas lembranças me manteria longe dele. Mas naquela hora não estava funcionando. Naquela hora, lembrar só me doía.
Eu não fiquei na sala nem por dois segundos, fui direto para a escada que levava à varanda no andar de cima. Eu subi com pressa, quase perdendo o equilíbrio dos meus saltos. E quando cheguei lá em cima, o ar frio cortando meu rosto como lâmina, eu não parei de andar até estar grudada na grade, olhando para longe.
Angeles era a minha cidade preferida no mundo inteiro. Eu não me lembrava muito bem de onde eu tinha morado quando pequena, só mais da casa dos meus pais e da minha avó. Mas ali era onde eu tinha me encontrado, ainda nova e facilmente encantada pelas luzes dos teatros antigos. Só de olhar para seus prédios e o mar contornando o horizonte, eu já me sentia melhor. Já podia respirar. Me agarrando à grade com toda a minha força, eu tentei esquecer meu nervosismo, gritá-lo para fora de mim. E depois de alguns segundos completamente loucos, eu baixei meus olhos, meus dedos se soltando do metal gelado.
E lá estava ele, o outdoor com a nossa foto. Era como se o encanto daquela cidade que me acolhia tanto estivesse se quebrando. Por alguns segundos, eu era só eu. E logo eu já estava volta àquela menina que morria de medo do que podia acontecer com ela.
Eu balancei a cabeça com esse pensamento, me odiando pelo medo, mas mais ainda por não parecer ter forças de continuar. Cheguei até a encostar minha cabeça na grade, meus braços soltos ao meu lado. Eu já tinha passado por tanta coisa! Eu já tinha superado momentos tão impossíveis! Por que é que eu não conseguia enfrentar esse? Por que é que ele parecia roubar todas as minhas forças? Eu sentia, eu SABIA que se eu caísse, que se eu me entregasse e tudo desse errado, essa seria a maior das quedas. Eu não conseguiria me imaginar superando algo assim. Eu não conseguia imaginar um mundo em que eu conseguisse me levantar depois de ele me deixar. Não tinha como eu vencer, não tinha como eu ganhar. Eu já sabia desde o começo que não tinha jeito de aquilo dar certo. Mesmo que ele continuasse só olhando para mim.
Droga, por que que ele tinha que falar que só olhava para mim? Ele me fazia sorrir, ele me fazia sorrir que nem idiota, apesar de eu saber que não devia. E aquele meu sorriso me doía, foi se transformando em lágrima. Eu queria tanto ser mais forte! Eu queria tanto saber que aquilo daria certo! Ou pelo menos conseguir arriscar. Mas eu estaria arriscando tudo. E eu não conseguia. Eu não conseguiria.
Eu desencostei da grade e me virei, já escorregando até estar sentada no chão. Eu me sentia derrotada, minúscula. Eu era uma garotinha que não sabia o que fazia, que morria de medo do mundo. Sempre tinha me considerado tão independente, tão forte. E lá estava eu, praticamente me deitando no chão, desolada porque eu queria tanto algo que eu não deveria querer!
Meus olhos começaram a se encher mesmo de lágrima, enquanto eu dobrava minhas mãos em cima da minha barriga, tentando fazer meu enjoo passar. Só que eu não consegui. Quanto mais eu tentava, mais meu coração tomava conta de mim. E eu quase me deixei imaginar como seria se eu simplesmente o deixasse entrar na minha vida. Como seria se eu acreditasse nele, se eu conseguisse confiar nele, me entregar de verdade. E isso só fez meu estômago embrulhar ainda mais.
Só que isso não estava me acalmando, não me deixava ficar desanimada como eu devia ficar. Pelo contrário, me deixava elétrica. Eu pensei mil vezes que precisava correr, que precisava gastar essa energia. Pensei em talvez subir mais um andar na cobertura, chegar aonde as antenas do hotel ficam. Não seria fácil, mas talvez o medo de cair fosse me ajudar a super todo o meu nervosismo.
Eu me levantei e fiz menção de subir por um dos tubos enormes de ventilação que ficavam no canto da cobertura. Mas na hora em que me perguntei onde me segurar, eu me senti tão idiota, que desisti. Não tinha nada que eu pudesse fazer. Nada iria me livrar daqueles pensamentos, nada ia me fazer voltar atrás.
E era isso que eu queria. Eu queria voltar atrás, queria poder voltar a ser quem eu era antes de conhecê-lo. Eu tinha que admitir que minha vida seria muito mais fácil se eu não o conhecesse. Mas na hora em que eu pensei nessa possibilidade, eu senti um arrepio descendo da minha nuca até meus pés. Quão insignificante a vida seria se eu voltasse a ser aquela menina. Como eu conseguiria viver normalmente, como eu conseguiria me contentar com a minha vida sem ele?
Meu celular em meu bolso começou a vibrar. Eu não me mexi, continuei olhando para o tubo de ventilação, mesmo sentindo que alguém insistia em falar comigo. Quem quer que fosse, desistiu. Mas logo depois tentou outra vez. Acabei cedendo e tirando-o do bolso. Era Andre. E foi quando eu lembrei de onde estava e do que tinha que fazer. Eu não atendi o celular, cancelei a chamada e o coloquei de volta no bolso. Eu sabia que tinha que descer para os testes. E eu iria. Eu só precisava de mais um tempo sozinha.
Andei de volta devagar até a grade e olhei para o horizonte outra vez. O mar parecia tão azul para estarmos em Novembro. Eu queria poder estar lá, mergulhando e me esquecendo do que acontecia no continente. E mesmo quando sonhava em curtir as ondas quebrando em cima de mim, eu acabei me pegando imaginando Duck do meu lado. Como ele nadaria até mim, sorrindo de lado, talvez um pouco sério demais. Eu tentaria me afastar, mas ele não desistiria. Ele viria até mim, até estar na minha frente, até as ondas à nossa volta não importarem mais. E ele colocaria seus braços em volta de mim, me segurando forte e segura, para acabar com qualquer medo que eu tivesse.
E meu coração começou a bater mais forte com a imagem que se formou na minha cabeça. Eu arrepiei só de pensar, só imaginar ele me tocando daquele jeito. Eu ainda sabia, no fundo, que tinha mais que eu queria que ele fizesse. Tinha mais que eu queria incorporar àquele sonho. Mas eu me parei antes de ser tarde demais. Eu já estava tendo problemas para respirar só de o imaginar na minha frente, eu não saberia o que fazer se eu me deixasse levar.
Com meu celular ainda vibrando freneticamente no meu bolso, eu decidi ir para os testes. Eu não tinha como fugir, eu tinha que deixar acontecer. E quem sabe me guardar, me afastar. Quem sabe conseguir passar por tudo sem que ele me afetasse tanto.
Assim que fechei a porta da varanda atrás de mim e me virei com tudo em direção às escadas, eu senti meu corpo todo sendo jogado contra outro, um muito mais forte e muito mais alto que o meu. Eu reconheci o perfume de Duck me intoxicando, enquanto ele me segurava pelos ombros para me ajudar a me recompor depois do encontro. No milésimo de segundo em que meus olhos encontraram os seus, eu senti todo o peso do meu medo, todo nervosismo que ele me causava florecer dentro de novo. Mas dessa vez eu não fugi. Nem pensei em nada. Era como se eu estivesse sendo atraída por ele, sem conseguir me controlar. Meus braços se enrolaram em seu pescoço como por vontade própria. Ele nem se importou em me questionar, me retornando o beijo no instante em que meus lábios encontraram os seus. E eu senti o quanto eu queria, o quanto eu precisava daquele medo, daquele toque dele em mim! Eu já sentia como se estivesse arriscando tudo, já sabia que estava perdida. Mas eu tinha estado perdida já havia muito tempo. Eu só não queria admitir. Eu não não queria admitir o quanto eu precisava dele.
Ele me levantou, não deixando nosso beijo parar por um segundo. Eu enrolei minhas pernas na sua cintura, enquanto ele me apoiava na porta, me sustentando quase da mesma altura que ele. Eu não precisava de mais nada. Só do jeito em que ele me fazia me sentir segura e em pânico ao mesmo. Só de como ele segurava meu rosto perto dele, só de como ele me beijava como se não conseguisse viver sem mim.
E eu não conseguia viver sem ele. Eu sentia isso, eu sabia disso, toda vez em que eu tentava me afastar, como eu sentia uma falta de ar só de estar longe dele. Tinha uma força que me puxava para ele, uma tensão palpável e enlouquecedora que não me deixava ficar longe dele por mais de um segundo. Eu precisava dele. Eu queria ele. Eu queria ele comigo, em volta de mim, comigo em volta dele. Eu precisava dele.


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