Quando a Chuva Encontra o Mar: Uma Nova Seleção escrita por Laura Machado


Capítulo 12
Capítulo 12: POV Sophie Abramovitch




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Quando ouvi as criadas entrando no meu quarto pela manhã, me sentei na cama e puxei a coberta até o meu pescoço, tentando esconder minha camisola. Não entendia porque eles não deixavam a gente pelo menos dormir com a roupa que gostávamos. Seria um pedacinho de casa no castelo.
Observei enquanto elas me faziam uma reverência e começavam a acordar o quarto, abrindo as cortinas e as portas da varanda, vindo até mim e me perguntando se precisava de ajuda para me vestir.
Não sabia se isso era uma coisa normal aqui, mas não as contrariei. Me levantei e segui até a porta do armário, onde estava pendurado o vestido que elas tinham me costurado para hoje. Era de um azul profundo, como o mar do mediterrâneo. Era digno de uma princesa, com uma saia que caía em cascatas de tecidos e chegava nos pés com só um pouco mais de formalidade do que um vestido para dia precisava. Mas era essa a idéia. Impressionar de primeira. Amanhã eu poderia voltar ao simples.
Enquanto elas me vestiam, me peguei imaginando como seria conhecer o príncipe pela primeira vez. O que ele diria, como olharia para mim. Já tinha pensado nisso um milhão de vezes a minha vida inteira.
Quando tinha onze anos, me imaginei encontrando-o na rua sem querer. Eu ia fingir que não sabia quem ele era e conversaria com ele de um jeito que nenhuma outra pessoa jamais tinha conversado. Ele ficaria encantado com isso e continuaria fingindo que não era o príncipe até se apaixonar por mim e querer me trazer até o castelo.
Com quinze anos o imaginei me vendo na rua e correndo atrás de mim. Eu o rejeitaria, falando que eu não tinha nascido para a vida real (mesmo que, no fundo, isso fosse exatamente o que eu queria). Ele não desistiria, cada vez mais encantado comigo. E eu acabaria por me deixar levar.
Com dezessete anos, a única coisa que eu tinha na cabeça era a seleção. Era entrar de qualquer jeito para essa competição. Ter que assistir de fora enquanto ele se apaixonava por uma de trinta e cinco meninas estava fora de cogitação. Eu precisava pelo menos ter a chance de conhecê-lo. Comecei a fazer de tudo para ter um perfil incrível e não deixar nenhuma margem para eles não me escolherem. Já tinha aprendido todas as línguas que podia - e as colocava em prática com todos os clientes internacionais do restuarante do meu pai. Praticava todos os instrumentos que conhecia e sempre tentava estudar história e geografia mais do que o necessário para a escola.
Quando eles cancelaram no ano passado por causa dos rebeldes, achei que esse dia nunca viria. Mas estava indo tudo tão bem até agora. Eu tinha sido escolhida. Eu estava no castelo. E eu estava me vestindo para encontrar com o príncipe. Em poucas horas eu estaria na frente dele.
"Desculpa, posso ficar um pouco sozinha?" Pedi para as criadas quando percebi que estava respirando um pouco rápido demais.
Elas trocaram um olhar de confusão, mas acabaram saindo do quarto. Assim que percebi que estava sozinha, saí para a varanda, me apoiando na grade para tomar um ar.
Era esquisito. Tinha passado minha vida inteira me preparando para esse momento e não tinha sido o suficiente. Ele ia estar ali, bem na minha frente. Eu poderia tocá-lo. Eu poderia contar tudo que sempre tinha pensado sobre ele. Todas as coisas que tinha imaginado a gente fazendo. Ele estaria tão perto!
Mas também tão longe. Tinha que se lembrar disso, Sophie. Ele não era seu. Você só tinha andado metade do caminho até então. Tinha sido essencial, claro, mas ainda era só metade. E não seria nada sem a próxima parte.
A luta não tinha acabado. Eu ainda precisava me levantar e continuar. Não podia deixar as glórias do começo me distrair do prêmio. Eu tinha que respirar fundo e me preparar para conhecê-lo, para conseguir ver quem era mesmo a homem por baixo do título. Não seria fácil, mas não tinha problema. Eu não ia desistir. Não enquanto não tivesse acabado. Era o mínimo que eu podia fazer por ele.
Quando desci as escadas no meio das outras meninas, senti minha determinação abalar um pouco. Odiava pensar que uma delas poderia ganhar no meu lugar. Elas não se importavam com ele como eu. Mesmo que elas dissessem que sim, que já gostavam dele, mesmo que só da idéia dele, elas ainda não chegaríam perto de como eu me importava com ele. Elas não sonharam com ele como eu tinha sonhado. Elas não conheciam ele como eu conhecia.
Ficamos sentadas, conversando entre nós, por pouco tempo. Logo ele entrou, todo formal e bem arrumado no grande salão. Todas as meninas se endireitaram, cruzaram as pernas, arrumaram o cabelo. Eu incluída.
"Senhoritas," ele falou se virando para nos olhar. Ele parecia quase mais nervoso do que nós e isso me ajudou a acalmar um pouco. "Eu gostaria de conhecê-las um pouco. Uma a uma. Então se puderem vir uma de cada vez até esse sofá conversar um pouco comigo, eu ficaria agradecido."
Ele nos deu um sorriso e eu imediatamente comecei a imaginar como seria. Como eu me sentaria, como ele me olharia...
"A primeira será..." Silvia lia um papel na sua frente, "Abramovitch. Sophie Evangelique Abramovitch."
Senti uma pontada de pânico quando ouvi meu nome. Eu ainda não tinha planejado o que ia falar. Ainda não tinha imaginado como ia olhar para ele, como ia rir. Ainda tinha que checar para ver se minha maquiagem estava intacta, se meu vestido estava bem ajustado.
"Sophie, cadê você?" Silvia parecia tão impaciente, que me levantei sem pensar mais. "Pode ir," ela falou, apontando ao príncipe.
Ele já me olhava. Desde o momento em que eu tinha me levantado, ele me observou andando até ele. Eu estava olhando para ele, mas tentava manter meus olhos longe dos seus. Ainda parecia um sonho tão louco estar ali, não queria ter um choque de uma vez.
"Sophie," o ouvi dizer e meus olhos me traíram, olhando diretamente nos dele.
Abri a boca para falar, mas não saiu nenhum som. Então só concordei com a cabeça.
"Prazer," ele disse, com a mão no ar, esperando pela minha.
Meus olhos estavam presos ao seu, mas senti quando ele levou minha mão aos lábios e os deixou encostados na minha pele só um segundo a mais do que o necessário. Quando soltou minha mão, eu pensei comigo mesma que nunca iria lavá-la pro resto da minha vida.
"Sente-se, por favor," ele disse, me apontando o sofá.
Ele mesmo se sentou e eu acabei cambaleando até o lugar que ele tinha me indicado. Dava para ver sua mão tremendo levemente, o que me deu um pouco até de dó dele. Sem nem pensar no que eu estava fazendo, me estiquei e segurei sua mão.
Ele foi pego de surpresa, mas sua expressão mudou rapidamente para um sorriso.
"Não precisa ficar nervoso," eu sussurrei.
Quando percebi que minha voz tinha saído super falha, levei a mão que segurava a dele à minha boca, tossindo para limpar a garganta.
"Obrigado," ele disse no meio do barulho que eu fazia. "Me conta um pouco de você," ele pediu depois que eu já tinha me recomposto.
"Hãn, meu nome é Sophie," indiquei o button com meu nome preso ao meu vestido. "Tenho dezoito anos e passo meu tempo ensinando música a crianças."
"Sério?" Ele pareceu surpreso.
"An-hãn," olhei para as minhas mãos, pensando no que mais eu poderia falar que ganharia o coração dele. "Meu pai tem um restaurante," expliquei, "mas eu gosto mesmo de trabalhar com crianças."
"Isso é incrível," ele disse, me fazendo olhar de volta para ele. "De verdade, é incrível. Dá para ver nos seus olhos que você é uma pessoa boa."
Sua voz era grossa, mas suas palavras, doces. E me fizeram querer chorar.
Não, não chorei de verdade. Mas era o melhor elogio que eu poderia receber. Ser bonita era uma coisa boa, claro. Ser inteligente também, óbvio. Mas para mim a coisa mais importante em uma pessoa era a bondade do coração. O que era uma das razões para eu trabalhar com crianças. Eu conseguia ver a pureza delas, nos olhos dela. E pensar que isso era o que ele viu em mim!
Senti minhas bochechas ficando vermelhas e levei minha mão ao rosto, tentando escondê-las.
Ele se esticou até mim e segurou minha mão. "Não precisa ficar nervosa," ele disse com um meio sorriso.
Agora me diz se não era para eu me apaixonar?
"Me fala mais de você," ele disse, trazendo minha mão para o meu colo, mas sem soltá-la.
"Por que você não fala de você?" Eu perguntei, apesar de que achava que já sabia tudo sobre ele.
"Está bem," ele disse, meio sem jeito. "Eu gosto de arco e flecha, de ler," eu ouvia concordando com a cabeça, "gosto de música, é claro, todas as pessoas racionais no mundo gostam!" Lhe dei um sorriso para mostrar que concordar. "Também amo cachorros. Tenho um pequeno, um beagle-"
"Ah, sim, o Bradley!" Soltei sem pensar. Pronto, ele já sabia que eu era groupie.
"Sim, Bradley," ele repetiu, seu sorriso crescendo. Não sabia se ele estava rindo dentro da sua cabeça de como eu era fã já ou se era só a lembrança do seu cachorro.
"Eu amo animais," eu disse, tentando usar como desculpa para eu saber o nome do dele. "Sério, cachorros são a minha grande fraqueza!"
"A minha também," ele riu, jogando a cabeça de leve para trás. "Teve até uma vez que fui com meu irmão para um zoológico do outro lado do país. Ele ficou completamente hipnotizado pelo tigre, enquanto eu preferi o cachorro do dono do zoológico. Claro, eu era bem mais novo na época, mas mesmo assim."
Eu ri, simpática e educada, mas eu já sabia daquela história. Ele tinha uns onze anos, eu acho, porque eu tinha dez. Mas não queria contar para ele o nível de fã que eu era.
"Eu acho melhor a gente parar por aqui," ele disse, se levantando. "Não que eu não esteja adorando te conhecer," ele acrescentou quando percebeu minha cara de desapontada. "Mas se eu não continuar, vocês nunca vão tomar o café da manhã."
Me levantei também, meu sorriso de volta ao rosto. "É um prazer estar aqui, Alteza," disse, fazendo uma reverência.
"O prazer é meu de tê-la aqui, Sophie."


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