Pensamentos no tempo

1h30min

Era o tempo que faltava para a sua libertação. Uma hora para esperar enquanto sentia sono, trinta minutos de pensamentos jogados ao vento.

O que pensava?

O quanto seria bom comer agora. Talvez dormir. Ou observar o mover das canetas nas mãos de seus concorrentes. Porém, também pensava nele.

1h15min

Era o tempo que faltava para sua libertação. Uma hora para viver o mais pleno tédio, quinze minutos de pensamentos avulso.

O que pensava?

Nele!

Os olhos castanhos claro que continham certo brilho. Não saberia dizer. Talvez fosse por seu sorriso os alcançar. Talvez fosse pela lágrima presa no canto direito do olho esquerdo, próxima ao nariz. Sempre naquele canto. Aquela lágrima nunca mudava de lugar. Nunca! Sequer escorria... jamais a viu escorrer...

1 h

Era o tempo que faltava para sua libertação. Uma hora exata de, talvez, pensamentos desnecessários à humanidade.

O que pensava?

Oh sim... nele!

Além dos belíssimos olhos castanhos claros, havia o sorriso belo a lhe atrair. Um sorriso que sempre fora sincero, seja aquele de canto de lábio ou aquele que mostrava os dentes – sendo alguns até tortinhos. Um belo sorriso para enfeitar os lábios arroxeados e carnudos. Sempre presente! Jamais falso!

45 min

Era o tempo que faltava para sua libertação. Quarenta e cinco minutos para poder divagar livremente por suas lembranças.

Do que lembrava?

Dele!

Além dos belíssimos olhos castanhos claros e encantador sorriso sincero, havia o delicioso corpo! Um corpo negro, sem grande musculatura – perfeito! Bom de marcar, lamber e beijar. Bom de tocar! Uma pele macia que gostava de sentir entre os dedos. Os corpos roçando ao se mover. Era impossível deixar de desejá-lo.

30 min

Era o tempo que faltava para a sua libertação. Trinta minutos para ficar jogado à cadeira relaxadamente.

O que fazia?

Remexia-se tentando tirar da mente a cena dele nu na cama. Ele nu com os olhos fechados e os lábios entreabertos. Tentava não pensar no cheiro que ele exalava, nem nos gemidos que soltaria quando o tocava. Cruzou as pernas. Era irritante a ideia de se excitar apenas pensando... lembrando-se dele. Aliás, era inevitável a excitação ao pensar naquele qual amava.

15 min

Era o tempo que faltava para sua libertação. Quinze minutos que o fazia delirar de saudades.

Saudades de quem?

Dele!

Dos olhos... do sorriso... do corpo... do cheiro... dos gemidos... tudo que o fazia esquecer-se das fórmulas de física, das estruturas químicas e das ações biológicas. Apenas para pensar nele! Nele e em ninguém mais! Além de excitação... saudades de quem ele é! Saudades do quanto aquela mera presença já trazia calmaria. Saudades de amá-lo...

5 min

Era o tempo que faltava para sua libertação. Cinco minutos que passaram num piscar de olhos até ouvir os fiscais da prova anunciando que recolheriam o gabarito. Cinco minutos nos quais se esqueceu dele.

Dele quem?

Daquele que tinha a certeza de ser o amor de sua vida e do qual se lembraria assim que saísse daquele lugar.