Primavera escrita por Dunie


Capítulo 1
Capítulo 1




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Aconteceu no começo da primavera.

Estava quente e a chuva vinha sempre sem avisar. Em um país subtropical ou temperado poderiam achar o clima estranho, mas no Brasil se pode esperar de tudo, nunca se sabe.

Ela estava caminhando no gramado da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. Chovia quando saiu de casa, mas não se importou. A chuva pararia hora ou outra, e ela amava dias nublados.

Usava jeans novos, tênis velhos e nenhum casaco para se proteger do frio, afinal, o vento era gélido, mas o clima era quente - nunca faz sentido.

Andou até avistar um vendedor de sorvetes. Chuva e sorvete - perfeito!

Ao chegar próximo ao sorveteiro, teve de se segurar para não rir. O pobre do ambulante não entendia uma palavra do que o homem à sua frente tentava lhe dizer. Ficaram nesse impasse por cerca de 10 minutos até que a moça, entendedora mediana de inglês, compreendeu que o rapaz apenas queria encontrar a saída, pois havia se perdido naquele lugar enorme e verde por todos os lados.

Ela tentou então conversar com o turista para que pudesse ajudar, morrendo de medo de errar a pronúncia das palavras e não conseguir fazer nada por ele.

Acabou que a conversa fluiu como se os dois tivessem vindo do mesmo lugar, ela se dispôs a levá-lo até a saída e ele a pagar-lhe um sorvete pela ajuda. Conversaram enquanto caminhavam e ela descobriu que ele era canadense e estava ali de passagem por férias de trabalho.

A maioria das moças pensaria "opa! um gringo solteiro!", mas ela não. Por mais que ele lhe parecesse bonito, jovem e charmoso, apenas se preocupou com o rapaz, que sozinho e sem grande entendimento da língua portuguesa, acabaria por se perder facilmente, podendo vir a ser alvo de pessoas maldosas.

Sabia que era uma oferta um tanto intrusiva, mas não podia deixá-lo como estava - sozinho e sem orientação - então lhe pediu que o acompanhasse em seu turismo.

E ele aceitou.

Ela mostrou vários pontos da cidade maravilhosa ao canadense, seus passeios duraram toda uma primavera, ela feliz por companhia para sair, ele gentil e apreciativo - tanto das pelas paisagens como da cultura e, da mesma forma, de sua guia.

Ele tinha sido arrebatado pela simpatia e beleza da jovem. Poucas vezes na vida se deparou com esse sentimento repentino. Mas tinha de ir embora...

A primavera chegou a seu fim. Chovia menos, fazia mais calor, mas aquele dia, por algum raio de motivo, estava frio.

Ela foi com ele até o aeroporto aproveitando as últimas risadas.

O vôo estava agendado para dali a uma hora, mas eles já se despediam.

"Então... Boa viagem... Espero não ter te incomodado muito..."

Ele apenas sorriu, a envolveu num abraço e em seguida a beijou. Um beijo longo, profundo, o primeiro e último beijo.

Ela não se surpreendeu. Não ficou nervosa ou acanhada. Apenas respondeu da mesma maneira.

Quando era hora de embarcar, ele deixou com ela seu suéter que havia usado em todos os dias frios. Um sueter vermelho com listras amarelas no peito.

"Para que você leve meu abraço aonde você for"

E se foi, rápido e suave como uma brisa primaveril, com um adeus perdido no ar.

A saudade já batia, mas ela sorria. Havia encontrado o amor. Tão perto e tão irremediavelmente longe... Ela amava primaveras.


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