O dia passou sem maiores problemas ou discussões. Kevin e Greg optaram por jogar vídeo game, atividade em que os Holmes não se interessavam, mas permaneciam na sala e vez ou outra Mycroft dava sua opinião sobre o jogo enquanto Sherlock não era tão delicado e dizia o quanto patético e surreal aquilo realmente era. Naquela tarde, Greg não ficou muito tempo jogando, sabia que Mycroft precisava se distrair e então os dois saíram deixando Kevin e Sherlock procurando amostras de fungos e plantas no quintal.

O sol que batia nas arvores já estava alaranjado por conta da hora da tarde e a brisa que soprava sobre os corpos dispersos entre o parque era refrescante. Várias pessoas costumavam ir ali para descansar como certas idosas sentadas nos bancos, outros davam suas caminhadas matinais com seus cachorros, algumas crianças e seus pais no fim de seu piquenique e adolescentes descontraídos aproveitando as últimas horas de claridade.

Para Greg e Mycroft aquilo era um refúgio. Onde ambos podiam relaxar e ser eles mesmos, sem ter que se preocupar com outras pessoas, apenas os dois. Era uma regra, Gregory tomou essa decisão após perceber que seu namorado não parava de falar sobre seu irmão mais novo.

“Você sabe que vai dar tudo certo, não é?” Greg cutucou Mycroft com o ombro. “Quer dizer, não é como se isso já não tivesse acontecido...” Os dois caminhavam lado a lado.

“É diferente, dessa vez.” Mycroft disse calmamente, olhando o céu mudar de cor.

“Diferente porque você já está grandinho e não quer sua mãe me falando como foi sua infância?” Greg soltou uma risada ao se lembrar de certas ocasiões. Ao seu lado Mycroft balançava a cabeça mas sorria.

“Aposto que ela já te falou todas as situações embaraçosas.” Seu sorriso desapareceu e ele respirou fundo. “Eles não precisavam voltar.”

“Mas é claro que eles precisam voltar! Estou quebrando a cabeça aqui pensando nos presentes...” Mycroft o respondeu com um sorriso fraco e então Greg segurou seu braço, guiando-os até uma arvore. Apoiou suas costas contra o tronco dando espaço para que o outro fizesse o mesmo ao seu lado. Alguns minutos se passaram sem que nenhum dissesse uma palavra, Greg não iria pressionar e sabia que Mycroft falaria o que estava pensando quando estivesse pronto para isso. Quando suas mãos foram entrelaçadas Mycroft olhava para o horizonte enquanto Greg olhava suas mãos juntas apoiadas sobre a arvore, como um incentivo para que a conversa fluísse, Greg acariciou a mão de Mycroft.

“É mais cansativo quando eles estão por perto.” Quando Mycroft decidiu falar, foi apenas um sussurro. “Fingir que tudo bem, quando certamente não está! Não sei o que é pior, saber que eu deveria ter dito algo antes e não tive coragem ou dizer agora e saber que não irá valer a pena.”

“Vai valer a pena só de tirar tudo isso de dentro de você.” Greg beijou o canto do seu rosto com carinho e não querendo perder o contato, Mycroft pressionou seu rosto contra os lábios de Greg.

“Eles não vão entender. Vai ser uma grande perda de tempo mas, vou tentar.” Seus olhos se encontraram e apenas com aquele tom de voz, Greg sabia que ele iria falar dessa vez.

“Não foram só as coisas embaraçosas que ela me contou...” Quando Mycroft fixou toda sua atenção, Greg continuou... “Fiquei sabendo que quando você e o Sherlock voltavam da escola, pegavam flores para a sua mãe. Nem pense em negar, ela tem a prova! Fiz de tudo pra ela me dar aquela foto e nada. Ainda não desisti, pode dizer isso à ela.” Greg sorria ao se lembrar de um menino com cabelos ruivos bem claros, ainda de uniforme segurando uma margarida e com o sorriso mais doce do mundo.

“Você não precisa da foto.” Mycroft queria entender como ele fazia pra que sua regra fosse cumprida, porque ele não poderia pensar em outra coisa além de Greg mesmo que quisesse. “É só me dizer qual flor você deseja, qualquer uma...”

E antes mesmo que Mycroft pudesse dizer os tipos de flores, suas palavras foram absorvidas pelos lábios de Greg. Como o ato lhe pegou de surpresa Mycroft não correspondeu imediatamente, deixou um sorriso transparecer e quando Greg teve a mesma atitude ele não pode se conter, roubando seus lábios logo em seguida.

–--------------------------------------------------------------

“Posso saber como o espertão quebrou isso?” Kevin estava sentado no canto da cama de Sherlock, comparando algumas plantas.

“Foi um acidente! Ou você acha que quebrei meu microscópio por pura e espontânea vontade?” Sherlock observava alguns cogumelos com uma lupa, sentado em frente a mesinha do quarto.

“Talvez seu irmão tenha quebrado, assim você não ia poder mais ficar vendo esses cogumelos venenosos...”

“E talvez eu te faça uma sopa com eles.” Era difícil identificar os cogumelos apenas com uma lupa, então Sherlock tentava usar seu microscópio quebrado bufando logo em seguida por ver que não servia de nada.

“Não jogue seu estresse em mim. A culpa não é minha se você não o vê a quase um mês!” Kevin tinha terminado de examinar todas as plantas que eles colheram, se aproximou de Sherlock na tentativa de ajuda-lo e só um olhar do seu amigo já foi o bastante para saber que ele não precisava. “Vocês ainda se falam por mensagem?”

“Muito ocupado para me importar com mensagens...” Sherlock prestava tanta atenção em seus cogumelos que nem percebeu Kevin pegar seu celular do bolso de seu casaco.

“Uhum, sei... Por isso você não o responde a uma semana? Jesus, Sherlock! E quando responde é uma mensagem por dia?” Kevin balançava a cabeça ainda mexendo no celular do amigo.

“Está vendo ele implorar por atenção? Talvez seja porque nem todo mundo é como você, que precisava falar 24h por dia!” Rolou os olhos e pousou os cogumelos sobre a mesa, esticou a mão indicando que queria o aparelho de volta.

“Ou porque você não mostra um pingo de interesse.” Kevin pressionou o celular em sua mão e se afastou de Sherlock. Deu a volta em sua cadeira e pegou os cogumelos sobre a mesa indo em direção à porta. “Liga pra ele agora ou eu vou jogar tudo isso fora...” Com o celular em uma mão e os cogumelos na outra, Kevin balançava-os afirmando sua ameaça.

“Você não tem coragem...” Sherlock se levantou e deu um passo à frente o que fez Kevin dar um passo para trás ficando fora do quarto, ele assentia com a cabeça. “... de fazer isso com seu amigo. Melhor amigo!” Pediu o celular com a mão mas a Kevin apenas sorriu e saiu correndo pelo corredor. “Mas que merda!”

No meio da escada, Sherlock quase conseguiu puxa-lo pela camisa mas Kevin agiu mais rápido e pulou alguns degraus chegando ao chão primeiro. Eles se encontravam no balcão agora, cada um de um lado...

“Não pense por um minuto que eu não vou jogar eles fora! É só ligar e você os terá de volta, simples assim.” Kevin tinha a respiração acelerada e se segurava para não rir. “Sabe, nem tudo é sobre ganhar. Vou continuar te amando mesmo se for um perdedor...” Não podendo mais segurar, Kevin começou a rir e Sherlock avançou para cima dele agarrando uma parte da sua camisa, se desviando do ato e dando um impulso pra frente ele conseguiu se soltar da mão de Sherlock e pular sobre o balcão, correndo até a sala.

“Ok, ok, ok! Me dá logo essa porcaria pra eu poder ligar e acabar logo com isso...” Sherlock parou na entrada da sala recuperando o folego.

Kevin deu a volta no sofá e se aproximou de Sherlock mas ele não entregou o celular. Mexeu no aparelho e discou o número desejado ligando o viva voz, seu sorriso não podia ser mais vitorioso. Respirando profundamente, Sherlock estava pronto para arrancar o aparelho de sua mão quando de repente um barulho vindo de fora o prendeu no lugar. Era um toque. De celular. Vindo de fora da casa. Ambos se olharam com surpresa e lentamente Sherlock andou até a porta com Kevin logo atrás de si, a porta foi aberta e nenhum deles esperava por isso...

John.