Pensamento de Maura.

Desde que nos conhecemos através do trabalho, Jane e eu nos conectamos de uma forma inexplicável. Das nossas diferenças surgiu uma forte amizade. Eu sou legista chefe de Massachusetts e perita forense para a polícia de Boston, e a Jane é detetive da Unidade de Homicídios. A cada caso íamos nos aproximando cada vez mais, até nos tornarmos inseparáveis. Juntas poderíamos resolver qualquer caso de assassinato na cidade. Somos as melhores em nossos cargos.

Eu sei tudo sobre ela e ela sabe tudo sobre mim, exceto uma coisa: com o tempo o meu sentimento por ela foi se modificando do amor da amizade fui me apaixonando. Foi aos poucos, não pude evitar.

A Jane nunca desconfiou de nada. Nunca deixei de sair com os homens pelos quais me sentia atraída (também uma forma de tentar me apaixonar por outra pessoa e esquecê-la), e sempre ouvi suas reclamações e confissões sobre o Cassey. Quando ele a pediu em casamento quase desmoronei, deixei escapar que não saberia ficar sem ela. Depois ela não tocou no assunto, mas os acontecimentos posteriores fizeram com que ela não precisasse sair de Boston e do meu lado.

A situação está ficando insuportável. Tomei a decisão de que preciso falar para ela sobre esse sentimento.

Chamei a Jane para passar a noite na minha casa para relaxarmos depois do trabalho, tomar uma cerveja... Assim ficaríamos mais a vontade para conversar. Ela percebeu minha inquietação, ela me conhece muito bem.

– Vamos, Maura, eu sei que você que me contar alguma coisa. Notei que você está estranha demais. É algo grande, e chega de esconder.

Tomei o restante do vinho que estava em minha taça com apenas um gole e respirei fundo.

– Jane... Eu gosto de você.

– Eu sei disso, Maura. Porque esse sentimentalismo agora?

– Você não entendeu... – Tentei continuar

– O que é comum acontecer!

– Jane, é serio. Cala a boca e me deixa falar tudo. – Ela consentiu e eu continuei. – Quando nos conhecemos, foi incrível o modo como nos conectamos. Você é minha melhor amiga, Jane. Eu te amo... Mas eu estou apaixonada por você. Não pude evitar, por muito tempo venho tentando me enganar, tentando fazer com que isso passe, mas não consegui. Falhei. E você sabe que eu não consigo mentir ou esconder os fatos por muito tempo. Precisava deixar isso claro com você. E, Jane, eu sei que você não me vê como um possível interesse amoroso, apenas como uma amiga ou irmã, tudo bem, eu só precisava te contar. E eu não quero que em hipótese alguma você se afaste de mim, mas eu preciso de algum tempo, vou precisar me afastar um pouco para organizar essa bagunça de sentimentos e dá um jeito de amá-la apenas como amiga. Eu sei que vou conseguir.

Nesse momento comecei a chorar e mesmo após algum tempo ela continuou calada.

– Jane, fala alguma coisa, por favor... Me desculpa.

– Não tem o que desculpar, mas também eu não sei o que te dizer, Maura. Preciso de um tempo para processar o que você me falou. Me dá até amanhã. Vou pra minha casa. Nos vemos no trabalho.

Pensamento de Jane.

Saí da casa da Maura sem conseguir pensar em nada, só a voz dela ecoando dentro da minha cabeça, dizendo que estava apaixonada por mim. Tenho certeza de que furei um sinal vermelho e quase bati com o carro no acostamento, mas quando cheguei no meu apartamento abri uma cerveja e me forcei a chegar a uma conclusão sobre o que foi dito.

Há quanto tempo será que ela gosta de mim dessa maneira? Por quanto tempo ela ficou escondendo isso? Como tudo isso começou? Meu Deus, será que eu a magoava quando falava sobre Cassey? Muitas perguntas, mas nenhuma resposta.

Não, eu não consigo me imaginar vivendo longe dela, sua presença é muito importante para mim. Sempre ouvi comentários de pessoas ao nosso redor sobre o nosso tipo de amizade. Isso não me preocupava, achava até engraçado, mas não vou mentir que em algumas vezes cheguei a ficar na dúvida sobre a imagem que passávamos, e sobre qual era o meu real sentimento por ela, mas sempre vinha a mesma resposta: amizade.

Deus, como ela é maravilhosa. Sempre ao meu lado, me fazendo rir quando fico triste, sempre fazendo parte das minhas alegrias, inteligente (até demais), me perturbando com sua boca de Google, aguentando meu mau humor.

Fui dormir, pensando que talvez processasse melhor essa informação pela manhã. No dia seguinte acordei mais confusa ainda, pois tive um sonho com a Maura onde nos beijávamos, e eu gostava. Não posso negar que o que ela falou mexeu comigo e pela nossa amizade eu não posso ficar adiando essa conversa... Mas o que eu vou dizer?

Cheguei cedo na unidade, desci direto para o escritório da Maura para esperá-la. Ainda não sei o que dizer. Não se passa nem quinze minutos e ela chega

– Hey Maura! – Ela não me esperava ali, pois tomou um pequeno susto.

– Oi, bom dia.

– Maura, ainda não sei o que te falar. Pensei, pensei, pensei, mas não consegui formar uma opinião sobre o que você me disse... Há quanto tempo você está apaixonada por mim?

– Não sei, aconteceu aos poucos. Quando me dei conta já era amor. Não foi algo pensado. E, Jane, você não precisa me falar nada. Tudo bem, eu entendo. Apesar de tudo somos amigas. Eu não quero que você fique mal por minha causa. Ontem quando você foi embora recebi uma ligação de Londres, eles pediram minha consultoria em alguns casos sem conclusão. Me deram até o fim de semana para dar uma resposta. Vou aceitar... Talvez seja o tempo que eu esteja precisando para por meus sentimentos em ordem. Acredito que seja coisa de 3 ou 4 meses.

Me desesperei, não queria ficar longe dela, precisava fazer alguma coisa, rápido.

– Maura?

– Sério, Jane, vou ficar bem.

– Não é isso. Eu preciso saber de algumas coisas. Não vou mentir que em alguns momentos da nossa trajetória eu fiquei na dúvida sobre os meus sentimentos em relação a você, mas nunca me aprofundei o bastante para não ficar perturbada, e nunca me ocorreu que você se sentia dessa forma. Eu não quero me afastar de você. Odeio não ter você do meu lado. E eu preciso te pedir uma coisa. – Ela ficou calada, então continuei – Eu quero um beijo seu. Eu não quero que você se sinta forçada, mas se a dúvida que persiste dentro de mim não sanar com um beijo, eu não sei o que fará. Eu não quero que você se sinta ofendida com o meu pedido, mas eu preciso sentir o seu beijo par...

Fui interrompida pelo toque dos lábios dela no meu. Meu coração disparou, minha garganta ficou seca. Abri um pouco a boca e senti a língua dela me invadindo. Um beijo suave, mas com muito sentimento envolvido. Então ele foi ficando mais ritmado, mais forte. Segurei-a pela cintura e a trouxe para mais perto para poder sentir o seu corpo também, ela pôs sua mão por baixo dos meus cabelos e segurou minha nuca, colocando mais pressão no beijo.

Nunca senti um encaixe tão perfeito num beijo quanto o nosso. Se passou algum tempo, não sei quanto, eu desfiz o beijo para tomar fôlego. Ela me olhou nos olhos, como se tivesse esperando alguma resposta.

– Então? Conseguiu esclarecer alguma coisa Jane?

– Uau, que beijo... e sim, Maura, se existia alguma dúvida, ela não existe mais. Eu preciso de você comigo e só a sua amizade não supre a vontade que eu tenho de você. Eu também estou apaixonada por você, você me fez descobrir isso.

– Você não sabe o quanto me fez feliz com essas palavras!

Então nos beijamos novamente, no inicio com suavidade, mas então sentimos a necessidade de aprofundar mais, uma urgência em nos explorarmos, de nos sentir pertencendo uma a outra...

Pensamento de Maura

Quando ela me pediu aquele beijo, não acreditei, pensei que seria impossível isso acontecer algum dia. Eu vi a oportunidade perfeita de mostrar o quanto eu a amava, a amo. Quando percebi que ela me correspondeu com a mesma intensidade foi o momento mais feliz da minha vida.

E assim aconteceu nosso primeiro beijo, depois vieram muitos outros, houve a descoberta do nosso corpo, de como funcionamos em um relacionamento, não só de amizade, mas de namoro. Ainda é segredo. Na frente dos outros agimos como sempre, mas em casa vivemos momentos indescritíveis juntas. E lógico que a Ângela, mãe da Jane, logo percebeu. Ela disse que sabia que isso ia acontecer bem antes da gente. Aconteceu.