[Ally]

Abri os olhos e uma luz forte tomou conta da minha visão. Pisquei uma,duas,três vezes,até meus olhos se acostumarem. Meu olhar varreu o ambiente. Onde eu estava? O que estava fazendo ali?

Senti alguém segurar minha mão, e respectivamente olhei para o lado. Um garoto loiro que estava sentado em uma poltrona perto de onde eu estava olhava para a minha mão. Parecia distante. Então ele olhou para mim,suas órbitas castanhas cansadas,e sorriu.

–Ally! Você acordou!-Ele comemorou. Quem é Ally?

–Ahn... Está falando comigo?

–É claro! Existe alguma outra Ally aqui?

–Eu não sei... Eu sou a Ally?-Seu sorriso desapareceu.

–Você não sabe?-Neguei com a cabeça-Ally,você... Você sabe quem eu sou?-Ele perguntou com a voz trêmula.

–Você é...-Pensei um pouco. Ele baixou a cabeça,acho que vai chorar. Não quero que ele chore!-Você é meu irmão? Meu médico? Colega?-Saí disparando palavras,não queria magoá-lo,e isso é estranho, eu nem o conheço!

–Não.-Ele disse em um fio de voz-Eu sou seu namorado.

Levei uma mão a boca,surpresa. Porque eu não consigo lembrar de nada que aconteceu na minha vida?

–Eu tenho um namorado?-Falei sem pensar, e me repreendi mentalmente por isso. Ele vai ficar mais triste.

–Á quatro anos.

–Tudo isso?-Merda! Não consigo controlar minhas próprias palavras!

–Pois é...-Ele abriu um sorriso triste. Ouvi passos-Eu já volto.

O garoto loiro foi até a porta e saiu dali, e pude ouvir uma conversa.

–O que aconteceu com ela?-Reconheci a voz como a do garoto.

–Senhor, a sua namorada levou uma pancada forte na cabeça,no local onde a maioria de suas memórias a longo prazo estão guardadas.

–Então ela não se lembra de nada?

–Bem, não. Mas existem alguns casos de amnésia em que a memória volta em alguns dias. Vamos torcer para que seja o caso de sua dama. - E então um homem aparentando ter 40 e alguns anos de jaleco branco adentrou o local, e atrás dele estava o loiro.

–Olá! Como está se sentindo?

–Confusa. Onde eu estou?

–Em um hospital. Você sofreu um grave acidente de carro. O carro do seu namorado bateu em um caminhão, e a força do impacto fez com que ele rodasse na pista e parou quando bateu em um poste, atingindo o lado do carona. Onde a senhorita estava. Você bateu com a cabeça, e a pancada atingiu o lugar onde suas memórias estão guardadas. Você praticamente perdeu a memória. -Ele disse sorrindo, como se fosse algo bom.-Você vai ficar em observação por 24 horas e,se tudo correr bem, você volta para casa amanhã. Com licença. -E saiu.

O loiro voltou a sentar-se na poltrona e encarava as mãos.

–Qual é o seu nome?-Eu disse calculando as palavras.

–Austin.

–Quantos anos eu tenho?

–19. Fez faz duas semanas. -Ele suspirou pesadamente - Você não consegue lembrar de nada?-Perguntou, um tantinho de esperança em sua voz.

Fechei meus olhos. Eu queria lembrar. Eu precisava lembrar.

Apertei mais meus olhos. Um clarão apareceu.

–Um... Um clarão. Uma luz forte em meio a uma escuridão. Parece... Parece a luz de um para-lama à noite.

–Deve estar se lembrando da noite do acidente. Tente se lembrar de mais alguma coisa. Por favor!-Tentei me lembrar. Mas nada mais vinha em minha mente. Abri meus olhos.

–Eu não consigo. Desculpe. -Pedi,um tom de decepção em minha voz.

–Tudo bem. -Ele disse e voltou a encarar suas mãos, sua voz denunciando que ele também estava decepcionado comigo.

–Austin?-Ele olhou para mim novamente-Eu vou tentar lembrar. Eu juro.

Ele deu um sorriso de canto de boca.

–Eu sei.

–Será que pode falar um pouco sobre mim?-Perguntei meio hesitante.

–Claro.

–Bem... Qual é a coisa que eu mais gosto de fazer?

–Tocar piano. E você também adora compôr músicas, escreve-as em seu diário.

–Você já o leu? Isso é invasão de privacidade!

–Eu tentei várias vezes. Mas você sempre me pegava. -Ele riu - Você não sabe quantas encrencas nós passamos por esse diário.- Seu semblante voltou a ser triste.

E em horas como essas, eu só desejava que eu nunca tivesse perdido a memória.