Reason To Win escrita por Brenda


Capítulo 1
He felt Lori.




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Seus olhos não focavam mais nada a sua frente, os passos vacilantes o levaram até ao lado do filho; mas ele não tinha real consciência do que estava fazendo. A única palavra que saía por entre seus lábios era não...

Não, Lori não poderia estar morta.

Não, ele não era um bom líder, havia falhado.

E não, agora nada mais adiantava.

Rick sentia sua garganta fechando-se, impedindo-o de continuar a falar, sua respiração descompassada, os batimentos acelerados, tudo o fazia sentir-se pior.

O xerife já não sabia o que estava fazendo; lá no fundo uma voz dizia que ele devia confortar o filho, pegar a mais nova Grimes no colo e seguir em frente, ser forte e continuar, mas ele não conseguia. Ele não podia mais aguentar.

Estava suportando o peso do mundo nos ombros á muito tempo, não suportaria mais nem um minuto fingir ser forte. Rick só queria desabar, deixar esvair-se em lágrimas. Era o que ele faria.

O xerife estava completamente confuso, era como se uma grossa camada de névoa tomasse conta de sua mente, entorpecendo seus sentidos. As lágrimas desfocavam sua visão e ele só conseguia sentir a forte dor que irradiava de seu coração para o resto do corpo.

Não tinha ideia de para onde estava indo ou o que estava fazendo, só sabia que afastava-se rapidamente do restante do grupo. Ouvia algumas vozes atrás de si, pedindo para que voltasse; mas ele já não compreendia nada do que diziam.

Tudo ficou escuro á sua volta, com a pouca visão que lhe restava, continuou. Esbarrava nas paredes, mas não incomodava-se. Apenas prosseguia sem muito pensar.

Lori estava morta.

Era isso que passava por sua mente, aumentando periodicamente a dor que sentia. Rick só queria mais uma chance; queria fazer tudo dar certo. Lori havia errado, oh, ele sabia muito bem disso. Mas agora percebia que deveria ter a perdoado. Tantos anos jogados fora por aquele erro.

Não era um erro qualquer, mas poderia ser pequeno se o xerife quisesse. Ele não quis. Preferiu fechar-se em seu próprio mundo de dor e raiva, para agora explodir pelos corredores da prisão, sabendo que sua mulher morrera sem saber que ele ainda a amava.

Tentou pensar na criança recém-nascida que estava aos cuidados de seu grupo; ele deveria voltar e restabelecer-se. Mas não o faria. Queria gritar a plenos pulmões o quanto se odiava. O quanto a amava. E que queria Lori de volta, mas não fez isso, todas as palavras ficaram presas em sua garganta.

Parecia que todo o ar que respirava não era suficiente para preencher seus pulmões, ele estava começando a assustar-se com o estado deplorável no qual se encontrava no momento; disso ele tinha consciência.

Rick deixara para trás sua filha recém-nascida, seu filho, que deveria estar tão desolado quanto ele e um grupo sem rumo, aquilo deveria fazer diferença, mas não fazia, não agora.

Parou de andar, sentindo-se fraco demais para prosseguir. Olhou em volta, sem nada enxergar. Estava sozinho. Completamente sozinho. Não só ali dentro, naquele corredor escuro e sujo, mas de todas as maneiras.

Sua alma se fora juntamente com Lori.

Seu amor morrera com ela.

Seu coração despedaçara-se com a morte de sua esposa.

Piscou, deixando mais lágrimas escorrerem por sua face. Tateou o ar até encontrar uma parede, aproximou-se mais dela, recostando-se na mesma. O concreto frio e úmido fez um arrepio percorrer sua espinha; arrepiou-o completamente. Não fez diferença. Escorregou ás costas até que estivesse sentado no chão.

Sua cabeça parecia tão pesada que deixou-a pender para a frente, fechando os olhos para a mais completa escuridão que era ele mesmo. O xerife já não sentia a dor, ele era a dor. Seu corpo dolorido estava tenso, todos os músculos flexionados, prontos para o combate. Mas a luta era interna; tudo acontecia dentro de si.

Lembrava-se claramente das feições de Lori, do modo como ela sorria para ele, de como abraçava-o com ternura. Ainda podia sentir os toques quentes e prazerosos que ela lhe proporcionara tantas vezes. Lembrava-se daquela Lori Grimes tão radiante ao descobrir sua primeira gravidez. O olhar feliz e orgulhoso que ela lhe lançara quando segurou Carl em seus braços pela primeira vez.

Seu corpo sacudia-se com os pequenos espasmos causados pelo soluço, mas ele sentia-se tão fora de si que acreditava estar imóvel. As lembranças tão repentinas fizeram tudo tornar-se ainda mais impossível de suportar.

Era como se a dor que sentia fosse capaz de dilacerar seu coração. Se é que isso não estava realmente acontecendo; Rick não duvidava. Ele não tinha ideia de onde se encontrava, sua mente estava tomada de momentos antigos. De sua vida antes do apocalipse.

Cada momento feliz passava como um filme em sua mente; as cenas demorando-se cada vez mais em seus pensamentos.

Quando estamos diante da morte, nossa vida passa diante de nossos olhos

Rick queria rir daquela frase, vendo que não era tão verdadeira assim. Ele não estava morrendo. Queria estar, não sentia que havia um motivo para viver naquele momento, mas não estava. Havia uma nova criança no mundo, um bebê seu, além de Carl. Mas o xerife simplesmente não conseguia imaginar-se vivendo sem Lori.

Mesmo que estivessem afastados durante todos aqueles meses, ele nunca deixou de observa-la. De cuida-la, mesmo de longe. Sempre garantia sua segurança em primeiro lugar. Sofria, mas não deixou de ama-la e quere-la por perto em nenhum momento.

Ele só precisava de mais um tempo.

Rick sabia que mais cedo ou mais tarde as coisas se resolveriam, ele iria voltar para os braços reconfortantes de sua esposa, porém, a vida não lhe deu mais tempo. Ela retirou Lori de Rick da forma mais cruel possível. Agora só restava culpar a si mesmo.




#




Rick não sabia á quanto tempo estava ali, não fazia ideia do que poderia estar acontecendo com o restante de seu grupo. Mas ele não queria voltar agora, tinha consciência que sua reação fora nada bem vista, mas não podiam culpa-lo.

Continuava no mesmo lugar, sentado ali, sentia esvaziar-se de tudo. Rick remexeu nas mãos a arma que havia retirado do coldre. Ela lhe parecia tão atraente, mesmo que não estivesse enxergando-a realmente. Ele não tiraria a própria vida, mas não negava a si mesmo que era uma solução confortável para seu sofrimento.

Seus músculos retesaram-se mais ainda quando passos ecoaram pelo corredor escuro. Levantou-se num rompante, pronto para qualquer coisa que ousasse atravessar seu caminho. Os passos aproximavam-se rapidamente. Em pouquíssimo tempo, eles cessaram. Rick podia sentir a presença de alguém ali.

– Rick? – O xerife reconheceu a voz de Glenn, mesmo desfigurada de preocupação e tristeza. – Você está aí?

Por um momento, o homem não respondeu, parecia impossível encontrar sua voz naquele turbilhão de emoções que tomavam conta dele. Além disso, Rick não queria responder, desejava avidamente que o coreano desistisse e fosse embora, deixando-o sozinho novamente.

– Rick? – Glenn chamou novamente, mais alto dessa vez. Recebeu um grunhido de volta. – Ah, te encontrei! – Parecia aliviado.

O silêncio instalou-se por pouco tempo entre eles, logo o coreano voltou a quebra-lo com suas palavras.

– Rick – Começou, não parecendo saber o que dizer. – Eu vim te levar de volta. Sabemos que isso tudo é difícil pra você, mais do que pra qualquer um de nós, mas estamos preocupados.

– Vá embora! – Rick ordenou.

– Olha, vamos voltar. – Glenn insistiu. – Poderemos conversar e lidar com essa situação toda, Rick. Queremos apenas o seu bem.

Mesmo sem ter completamente noção de onde estava, ou onde Glenn estava, Rick lançou-se contra o escuro, acertando em cheio o corpo do coreano. Empurrou-o até a parede mais próxima, prensando-o contra o concreto frio.

– Eu ficarei aqui! – Esbravejou contra o rosto do mais novo.

Glenn ficou sem reação por um instante, sentindo a aproximação inesperada de Rick. A respiração forte dele batia contra seu rosto, em lufadas fortes de ar.

– T-tudo bem. – Gaguejou. – Eu vou te deixar sozinho. – Glenn garantiu.

Rick hesitou por um instante, mas então soltou o coreano. Ouviu o baque fraco dos pés dele contra o chão, antes de passos apressados ecoarem pelo local tomado pela escuridão.

Respirou fundo, arrependendo-se imediatamente por sua atitude. Não conseguira se controlar, havia agido por impulso; sabia que o amigo queria apenas ajudar. Rick deveria entender que já fazia tempo que haviam deixado de ser um grupo para virar uma família.

E Glenn tinha razão: ele deveria voltar. Precisava certificar-se sobre a segurança dos outros, além de sua responsabilidade para com Carl e a nova integrante da família. Não só uma nova Grimes, mas também a mais nova da família do apocalipse.

Rick passou as mãos pelo rosto molhado de lágrimas, tentando organizar sua mente. Ainda sentia a pontada de vontade de acabar com aquela situação pairando nos cantos de sua mente, tentando chegar ao centro. Mas ele iria impedir aquilo.

Rick Grimes não desistiria. Continuaria não só por todos do grupo, continuaria por Lori.




#




Seus olhos percorreram rapidamente o refeitório da prisão, observando todos que ali estavam antes de entrar no campo de visão deles. Passou os dedos repentinamente sobre a Colt Phyton que voltara para seu lugar, no coldre. Ela estava lhe trazendo coragem para encarar as pessoas.

Passou pelo portão de ferro, atraindo todos os olhares para si. Agradeceu-se mentalmente por ter trocado de roupa e retirado todo aquele sangue de si antes de procura-los. Com certeza se fosse do modo como estava minutos atrás, pareceria mais louco do que se sentia.

Sim, ele sentia a loucura tomando conta de si lenta e calmamente. Mas ele não iria deixa-la tomar conta. Ao menos lutaria.

Caminhou até Carl, que estava sentado ao lado de Hershel e Beth em uma das mesas que o local possuía.

– Carl – Chamou com a voz baixa. O garoto não desviou os olhos do rosto do pai, parecendo preocupado. – Tudo bem? – Pousou uma das mãos sobre o ombro do filho, sentindo-o tenso.

– Tudo bem. – Carl confirmou. Rick assentiu rapidamente. – Como você está? – Indagou lançando um discreto olhar a Glenn, mas que não passou despercebido do xerife.

– Estou bem. – Limitou-se a dizer aquelas palavras. Mas elas definiam bem o modo como ele não se estava agora. Rick estava sentindo-se de todas as maneiras, menos bem.

Virou-se, percebendo pela primeira vez o pequeno ser que estava nos braços de Daryl. O caipira mantinha o olhar focado no bebê em seu colo, deixando Rick de lado. O xerife se aproximou, temendo que Daryl não permitisse, alegando que ele não estava bem.

Mas quando estava perto o suficiente para poder ter a visão completa do bebê, Daryl olhou para ele, lhe lançando um breve e pequeno sorriso. Estendeu a criança para o xerife, sem dizer se quer uma palavra.

Quando puxou-a para si, aninhando-a contra seu peito, Rick sentiu o que faltava em si desde que soubera da morte de sua esposa.

Ele sentiu Lori.

A pequena em seu colo tinha os traços da esposa, deixando-o completamente sem palavras. Ousou deixar as lágrimas escorrerem por seu rosto mais uma vez quando a criança contemplou-o com seus pequenos olhos azuis.

Seu corpo foi preenchido com a luz que ele precisava; a luz que estava sendo depositada em si por aquele pequeno ser que ele segurava. Ele olhou em volta, recebendo sorrisos de todos, e voltou a olhar para sua filha.

Sua filha.

Ela era sua e de Lori, não havia ninguém que o faria mudar de ideia. Sorriu contemplando aquele ser pequeno que lhe trouxera um motivo para continuar.

A paz restaurou-se dentro de si por um momento, mesmo que Rick sentisse que a loucura não o deixara completamente. Ele ainda tinha uma batalha interna para lutar, mas agora haviamais um pequeno motivo pelo qualvencer.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Comentem e me deixem saber o que acharam *u*



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