Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 10
Mente Perturbada - Última Tragada.


Notas iniciais do capítulo

"Seus olhos esverdeados se perdiam ao horizonte, seus cabelos curtos e negros balançavam ao ritmo do vento, e um Marlboro Gold Advance queimava pendido em seus lábios rosados.
Lentamente, a linda figura se volta para meus olhos cor-de-nada, percebo que ainda há alguns vestígios de suas lágrimas.
Aconchego-lhe em meus braços, e sussurro em seu ouvido 'Eu sinto muito por isso.'
Então, ela se afastou e deixou escorrer uma lágrima com sua última tragada."



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Mais uma manhã de sol, e o som do telefone tocando ecoava pela casa inteira.

Desde que tudo começou, não tive mais nenhum contato com Leonardo ou com Keila, não me sentia mal por isso, não tinha pensado neles até o meu telefone começar a tocar hoje às 07h30. Encarei o antigo aparelho vermelho, e apenas esperei até ele parar de tocar. Mas após 2 minutos, ele voltou a tocar, e decidi atender:

–Alô? –disse.

–ANTÔNIO!? –reconheci a voz de Leonardo.

–Oi Leo...

–Você está bem?

–Pergunta onde ele está. –consegui ouvir Keila dizer no fundo da chamada.

–Eu estou muito bem, e estou na minha antiga casa da praia, em Ubatuba. –menti.

–Ah sim, você está sabendo que será demitido por isso, certo? –a voz doce era de Keila.

–Preciso disso. –consegui responder.

–Será que eu e a Keila não podemos ir te encontr...

–Não, não podem. Adeus. –desliguei o telefone, e fui para o banheiro.

Ouvi o telefone tocar novamente, porém ignorei as 17 vezes que ele voltou a tocar.

As coisas estavam ficando complicadas, então, estava na hora de aproveitar um pouco mais o sótão de casa.

Caminhei até o quarto onde se encontrava o senhor Figueiredo já acordado, encarando a prateleira com meus “troféus”.

O que você está ganhando em troca da vida dessas pessoas? –disse o velho ainda encarando a prateleira.

–Você sabe muito bem o que estou ganhando. – respondi. -A partir de hoje, você ficará no sótão. O jogo fica mais divertido com as próximas mortes.

Ele me lançou um olhar assustado e ao mesmo tempo senti raiva em sua expressão.

[...]

O velho acordou após o efeito da droga injetada em sua veia passar. Abriu lentamente seus pequenos olhos, os quais se incomodaram com a forte luz vinda da televisão.

–Ela era uma garota muito atraente, foi uma grande colega durante o último ano do colegial. Uma ótima companhia durante o verão, e talvez sua a melhor amante, senhor Figueiredo.

“A garota bonita se encontrava presa em uma cadeira, porém o local agora era diferente. A posição da câmera já não mostrava o resto do quarto, mas dava para perceber o quanto as paredes, em tom verde, estavam desgastadas.

Recordo-me de quando viajei aos 3 anos com o Papai para aquela casa. Era de frente ao mar, com a vista mais bela de toda a região.

A garota vestia apenas um top branco, o qual deixava seus seios mais salientes, e um pequeno shorts de lycra preto. Sua pequena barriga tinha diversos cortes, seus braços também, porém mais profundos. Sua cabeça estava jogada para o lado direito, como se tivesse dormido, e com isso, podia se avistar um único corte em seu rosto, o qual se iniciava em sua bochecha esquerda e atravessava seus finos lábios em direção ao queixo.

Após alguns minutos naquela mesma cena, ela despertou como se tivesse tido um pesadelo, porém, o seu pesadelo estava em sua frente, inclinado em sua direção, com um sorriso malicioso, o qual eu chamo de “EU”

[...]

A cena de agora, mostrava a garota com outros cortes em seu peitoral, lágrimas inundavam seu rosto, e ela já não estava mais com a fita que tampava sua boca.

–Oi Thalles. –começou a garota. –Eu queria lhe dizer que, apesar de meus pecados, apesar de ter me prostituído, eu não me arrependo de nada.- continuou. –Apesar de meus erros, me pergunto como...- sua voz falhou. –como você pôde trair sua esposa comigo, uma simples irmã da sua igreja. –um silêncio pendurou. –Eu até dei motiv...

Algo por trás da câmera lhe interrompeu, lembrando a garota de que seu tempo estava acabando.

–Eu não te amei –sua voz falhou novamente. -como ela, Thalles. E agora, espero que esteja pagando pelos teus pecados, pois eu estou aqui POR SUA CUL...-sua fala foi interrompida com uma faca enfiada em sua garganta.

–Você está dramatizando demais. Seu tempo acabou. –disse minha voz ao fundo do vídeo.

Retirei a faca de sua garganta, e pude ver o sangue saindo rapidamente por aquele corte.

Os movimentos agonizantes de Magru diziam que seus últimos suspiros foram como deveriam ser: De muita dor e angústia.”

Por mais que aquela garota tivesse sido uma das melhores pessoas que conheci, a morte dela era importante para o decorrer do 'jogo', e uma certeza que tinha era de que eu iria fazer o possível para conseguir a única coisa coisa que me fez iniciar esse jogo.

[...]

O velho não expressava nada além de dor e talvez medo. Caminhei em sua direção e sussurrei:

–Fique tranquilo, teu passado e futuro são muito mais agonizantes que a morte dela.

Ele recuou como quem negasse aquelas palavras, fechou os olhos e tentou orar. Mas lhe interrompi quebrando seu dedo mindinho com um quebra-nozes.

Me afastei para pegar o estilete que se encontrava em uma pequena estante vazia, abri sua camiseta e fiz um 4º traço reto, marcando agora a morte de Maria Luiza, ou como chamávamos: Magru.

Ele urrou de dor, e tampei sua boca com uma fita.

–Dessa vez, você não irá dormir até acabar, ao menos que se comporte direitinho. –disse. –Enquanto isso, vamos ver agora a morte do meu casal favorito, Lucas e Julia, ou melhor dizendo, Lyubs. –lhe estendi um sorriso, e dei início ao 5º vídeo.


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Notas finais do capítulo

Sei que Papai vai me perdoar quando isso terminar.

Ele me ama, assim como eu o amo.

Papai vai me perdoar.

Ele vai...



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