Eu não sei o que me acontece agora, sinto que dentro de mim se encontra um imenso vazio, e isso me dói a alma – que eu nem sei se ainda preenche este corpo.

A alegria vem e vai, e a tristeza também. A maior parte do tempo, me sinto como um grãozinho de areia flutuando pelo infinito, e todos os asteroides e cometas tratam de passar longe e não me desviar do caminho que vai de encontro à não sei o que; ou desviam meu caminho de algum planeta no qual eu planejava juntar-me aos outros grãos de areia.

Eu não posso ser a única flutuando por aqui.

Até algum tempo atrás, eu tinha a minha praia, meus colegas que viviam junto a mim, e eu via os visitantes, e os recebia bem.

Amava o Sol de dia, os banhos da maré vez ou outra, e também amava quando a Lua chegava, refletia no mar, e me iluminava.

Mas de repente, num piscar de olhos, me percebi flutuando para longe, e vi que há muito tempo, eu não estava mais na minha praia, nem mesmo no meu planeta.

E lembrei que ninguém fez nada para me segurar naquele lugar; e tudo bem, muitas vezes, lá não era meu lugar favorito, mas era onde meus grãos favoritos estavam. Ninguém me avisou que eu estava me afastando, flutuando para longe. Acho que nem perceberam que eu fui, afinal, na praia, existem milhões de grãozinhos de areia, iguaizinhos a mim.

Sendo assim, tento me sentir livre para poder procurar outra praia, talvez em outra cidade, talvez em um outro planeta, mas não consigo. Me sinto presa no nada, confusa e sozinha.

Só quero poder fechar os meus olhos e nunca mais acordar.