Domingo foi um dia rápido. Literalmente. Sachi teve que ir no shopping comprar umas coisas que não conseguiu trazer na mala de viagem enquanto eu e minha família fomos ao parque. Não gostava tanto de lugares ao ar livre mas nenhum de nós escapamos. Os únicos que pareceram se divertir foram meus pais e o Yoko, meu irmão mais novo. Acabamos indo dormir cedo, nada de anormal.

[Segunda, 21 de Novembro de 2025]

Acordei sentindo que estava atrasada. Me sentei na cama e esfreguei os olhos, tentando me situar. Aquele momento típico de cada dia "Quem sou eu?", "Onde estou?".
–AAAAAAAAAAAAAH!!!

Esse foi meu grito após me situar. Ao lado da minha cama, Sachiya ESTAVA dormindo. Ao meu grito, ele acordou desesperado e tapou minha boca com sua mão, para eu parar de gritar.

–Caralho Yuki! Porra! Não grita! _Ele dizia irritado e nervoso por talvez meu grito ter sido alto demais e alguém da família vir ver o que houve. Por sorte (ou azar), não foi alto o suficiente.

Quando ele finalmente tirou a mão da minha boca, possibilitando que eu falasse, consigo demonstrar o quanto estava irritada.

–MAS QUE PORRA É ESSA SACHIYA?! Por que diabos você tá na minha cama?!

–Calma... Calma... Apenas estava solitário ali em baixo... Além do mais, estava com saudade de ficar próximo à você... _Ele dizia com um sorriso vitorioso.

–DESCE AGORA! _Disse irritada enquanto o empurrava da cama.

–Para de fazer barulho! _Ele me pediu preocupado com alguém entrar no quarto.

–Eu tenho aula agora! _Disse preocupada com o horário.

Ele me puxou da cama me fazendo cair no chão, e me prendeu contra o chão, segurando meus pulsos.

–Me larga! _Dizia repetidamente, irritada.

Com um sorriso, Sachiya se aproximou, e roubou um selinho meu, sem que eu pudesse impedir.

–Bom dia _Ele disse com um sorriso nos lábios e me soltou.

Irritada, levantei do chão e me tranquei no banheiro. Que saco! Porra! Por que tudo que ele queria ele conseguia? Não era justo! Eu não gostava dele! Eu queria o Haya aqui comigo, e não ele!

Tirei minha blusa e por precaução, amarrei na maçaneta da porta, tapando o buraco da chave. Conferi se a porta já estava trancada e terminei de tirar minha roupa. Entrei no banho e fiquei apenas em baixo do chuveiro, com a água caindo sobre meu rosto, enquanto pensava.

–Eu não gosto mais dele! _Murmurava baixinho -Não quero que ele me beije, não quero corar que nem idiota com simples ações, como está acontecendo com o Haya! Não quero voltar a ter uma queda pelo meu primo, e fazer com que ele consiga mais uma vez o que queria. Mas ao longo do meu banho, ecoava-se na minha cabeça "Será que já não é tarde demais? Será que essa droga de beijo não despertou meus antigos sentimentos por ele?". Eu simplesmente não queria! Queria ter uma opção de controlar meus sentimentos! Por fim, me sequei e vesti o roupão. Problemas.

1º: Por ter entrado no banheiro com pressa e irritada, havia esquecido de pegar meu uniforme (que por sinal, só era obrigatório a blusa).
2º: Sachiya estava entre eu e meu armário, onde estavam minhas roupas.
3º: Eu não confiava mais tanto naquele pervertido manipulador e aproveitador.

–Aaaaaaaaarg! _Murmurei com ódio

–Esqueceu alguma coisa, Yuki? _Ele dizia com uma voz de quem já havia entendido meu problema, e que não havia achado ruim minha única opção.

–Tsc _Resmunguei irritada e derrotada. Ajeitei bem meu roupão, e tirei a blusa da maçaneta da porta, descobrindo o buraco da fechadura. Destranquei a porta. Respirei fundo e fui em direção ao armário.

–Se você se aproximar, fazer algum comentário, ou pegar o celular, eu juro que vou gritar _Disse pausadamente em frente ao armário, enquanto procurava minha roupa.

Ele ficou calado. Peguei a roupa e voltei para o banheiro. Tranquei a porta e respirei fundo. Pronto. Vesti minha blusa obrigatória e uma calça jeans qualquer. Coloquei um casaco de moletom da GAP por cima da blusa do uniforme e sai do banheiro com o cabelo despenteado.

Penteei, terminei de me arrumar, e, sem trocar nenhuma palavra com meu primo, peguei minha mochila e sai do quarto.

Desci as escadas com pressa. Sachi havia me atrasado. Não daria tempo para tomar meu café-da-manhã. Muito obrigada!

Sai de casa e caminhei até o colégio.

(...)

Mesma coisa de sempre. Para variar. Cheguei na sala, coloquei minha mochila em uma carteira qualquer e sentei. Enquanto esperava as pessoas chegarem, abri minha mochila sobre a mesa e...

–CADÊ O MEU CELULAR? _Disse desesperada por não estar o encontrando. Eu não poderia ter esquecido em casa.

Hayato P.O.V.

Algo havia acontecido. Estava preocupado, talvez por uma coisa idiota, ela poderia simplesmente estar ocupada. Ou poderia ter se machucado gravemente. De qualquer modo, a essa hora, ao acordar, geralmente tinha uma mensagem da Yuki dizendo bom dia no meu celular. Mas hoje, não havia. E ontem, mesmo eu estando offline, ela não deu boa noite como sempre. O que teria acontecido?

Peguei o celular de novo e dei mais uma conferida. Nada. Por fim, resolvi então mandar uma mensagem. Entrei no chat novamente e mandei um "bom dia", como se nada tivesse acontecido.

Esperei um tempo, para ver se ela respondia, mas após eu ter tomado banho e comido meu café da manhã, ao voltar e conferir, não tinha nenhuma nova mensagem. Estava ficando realmente preocupado, e acabei mandando mais uma mensagem.

Está tudo bem?

Esperei novamente, mas nada.

–Que estranho, ela nunca demora muito para responder _Disse para mim mesmo, pensando o que poderia ter acontecido.

Após um tempo, fui conferir de novo. Nada. Nem um "visualizado". Preocupado, apelei para a ligação. Peguei seu número salvo nos contatos, e fiz uma coisa que raramente fazia. Envergonhado (ou talvez desesperado), telefonei para ela.

–Quem é? _A voz masculina do outro lado perguntou.

–Ha-Haya _Respondi meio nervoso. Quem era? -Poderia falar com a Yuki?

–Não _A voz do outro lado disse, e ficou calada por uns segundos -Ela não está.

–Está tudo bem com ela? _Perguntei de vez.

–Acho que sim. Por que quer saber sobre a Yuki? Quem é você? _A voz perguntou desconfiada.

–Meu nome é Hayato. Sou amigo dela.

–Yuki não tem amigos. Quem é você e o que quer? _Ele disse sendo direto e seguro.

–Como assim não tem amigos? _Perguntei meio chocado. Aquilo era sério?

Então quem era do outro lado da linha? O pai dela que não era... Ela já havia comentado sobre ter dois irmãos, mas disse que o mais velho não saía ou deixava ninguém entrar em seu quarto. Não teria como o celular dela ir parar no quarto dele. E o outro era mais novo, ainda era uma criancinha, sem dúvidas não era ele. Segundo ela, não morava mais ninguém naquela casa. E se segundo ele ela não tinha amigos... A YUKI TEM NAMORADO?

Senti meu coração acelerar, e tentei não parecer nervoso ao telefone. O cara não me conhecia. Eu não conhecia ele. Aquilo era apenas uma possibilidade. Poderia ser qualquer um.

–Por que ela não pode atender? _Perguntei meio nervoso.

–Porque ela não está aqui, já falei porra! _Ele disse irritado ao telefone.

–Ah... Okay, obrigado. Quem é você?

–Sachiya. Pois não?

Nunca tinha ouvido ou lido em nenhum momento falar se em alguém com esse nome.

–Sachiya, poderia então, por favor, pedir para a Yuki entrar hoje 6:15pm? _Pedi de forma educada.

–Ela não vai poder.

–Por quê? _Perguntei estranhando. Ela havia confirmado comigo!

–Porque ela vai sair comigo.
Aquelas palavras fizeram um pequeno ciúme despertar dentro de mim. Como assim sair? Aonde eles iriam? Por que ela iria a algum lugar com esse cara em vez de jogar comigo? O que eles iriam fazer? Perguntas ecoavam em minha cabeça.

Nunca tinha falado meus sentimentos para ela. Será que ela não gostava de mim do mesmo modo que eu gostava dela? Eu nunca tive coragem para contar, e agora, fiquei para trás.

Desliguei o telefone sem dar tchau. Preferia não ter telefonado. Eu e minha curiosidade, minha preocupação. Me joguei de costas sobre minha cama. Minhas férias estavam acabando. Aquele cara era sortudo por ter a companhia da Yuki. Um dia, sou eu que vou ter. Eu serei o sortudo.