Sombras do Passado escrita por BastetAzazis


Capítulo 2
No Beco Diagonal


Notas iniciais do capítulo

Severo finalmente conhece o Beco Diagonal, e acaba fazendo novas amizades...



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Capítulo 2: O Beco Diagonal

Sombras do Passado

escrito por BastetAzazis

 

 

DISCLAIMER: Os personagens, lugares e muitos dos fatos desta história pertencem à J. K. Rowling, abaixo são apenas especulações do que pode ter acontecido com alguns de nossos personagens favoritos!

 

BETA-READERS: Ferporcel e Suviana – muito, muito, muitíssimo obrigada!

 

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Capítulo 2: No Beco Diagonal

 

 

Na manhã seguinte, Severo acordou determinado. Não importava o que sua mãe dissesse, ele iria aproveitar o tempo que passaria em Hogwarts para aproximar-se de sua família bruxa. Não era justo ela prender-lhe ali, longe da família que também era sua. Nem mesmo a vista esfumaçada da janela conseguiu desanimá-lo; em pouco tempo ele partiria dali, de preferência para não voltar nunca mais.

 

Desceu para a cozinha, onde encontrou sua mãe sentada à mesa, já tomando seu café da manhã. Cumprimentou-a com um simples Bom dia e serviu-se de uma torrada.

 

— Bom dia, Severo – sua mãe respondeu ao cumprimento mal humorado. – Pelo visto você ainda continua bravo comigo.

 

Severo não respondeu e abaixou ainda mais a cabeça, fingindo estar prestando atenção no piso do chão. Sua mãe continuou:

 

— É uma pena – lamentou. – Eu tinha separado algumas recordações de Hogwarts para você. Achei que ia gostar de ver algumas fotos. – E depois de uma pausa, acrescentou: – Mas parece que o chão está mais interessante.

 

Severo levantou os olhos, encabulado. Ele odiava quando sua mãe fazia isso. Ela sempre sabia exatamente o que fazer para dobrá-lo. Era claro que ele estava louco de curiosidade para ver essas fotos. Mas para isso, teria que fazer as pazes com sua mãe.

 

Como se soubesse o que estava se passando na cabeça do filho, Eileen sorriu e disse:

 

— Estão em cima do sofá.

 

Severo não ia dar o braço a torcer. Tomando um gole de leite, respondeu fingindo desinteresse:

 

— Depois eu vejo.

 

— Claro – sua mãe respondeu, com um riso falso. – Eu vou estar no porão, se precisar de mim. – E levantou-se, saindo da cozinha.

 

Assim que percebeu que sua mãe não estava mais por perto, Severo levantou correndo da cadeira e foi em direção à sala. Viu um livro grande com uma capa vermelha desbotada em cima do sofá. Acomodando-se na sala, pegou o livro e abriu, descobrindo que era, na verdade, um álbum de fotografias.

 

Olhando-as uma a uma, achou engraçado o fato de todos estarem se mexendo. Viu o homem que estivera em sua casa ontem em algumas delas, ao lado de uma mulher que, assim como ele, estava sempre de nariz empinado. Provavelmente era a sua avó. Não viu fotos de mais nenhuma criança, a não ser sua mãe, e concluiu que ele devia ser o único neto dos Prince, o que tornaria ainda mais fácil a sua aceitação na família. Folheando o álbum mais para frente, sentiu um recorte de jornal cair no chão. Olhou para ele. Era de um jornal chamado Profeta Diário, e bem no centro da página viu a foto da sua mãe, muitos anos mais nova, vestida com o uniforme de capitã do Time de Bexigas de Hogwarts. Ela não parecia muito contente. Na verdade, estava com uma cara muito mal-humorada. Mas era difícil ver sua mãe feliz mesmo. Isso não era novidade.

 

Chegando ao fim do álbum, Severo estranhou as fotos imóveis, até que percebeu que eram fotos trouxas. Reconheceu seus avós paternos nelas, junto com um garoto muito parecido com ele, com o mesmo nariz em forma de gancho e cabelos pretos e lisos, que só podia ser o seu pai. Começou a olhar as várias fotos soltas no álbum, todas de trouxas, e viu sua mãe em algumas delas. Como ela está bonita! Severo nunca vira sua mãe com o olhar tão radiante como naquelas fotos. Lembrava apenas das brigas entre ela e o seu pai, quando ele saía de casa tarde da noite e ela ia para o quarto chorar. Talvez se ele fosse um pouco mais velho e já tivesse se apaixonado por alguém antes, Severo seria capaz de entender que as razões da sua mãe em abandonar o mundo bruxo estavam relacionados com aquela alegria no olhar, capturada pelas máquinas fotográficas trouxas. Infelizmente, sua cabecinha estava preocupada demais em se tornar um verdadeiro bruxo e esquecer sua infância trouxa. Abandonou as fotos trouxas para examinar novamente as fotos dos seus avós maternos.

 

**********************

 

No mesmo dia, exatamente às duas horas da tarde, Edward Prince retornara à casa da Rua da Fiação para levar seu neto até o Beco Diagonal, em Londres.

 

— Nós vamos para Londres? – Severo perguntou com um sorriso nos lábios. – Mas não é muito longe?

 

— Não para um bruxo – seu avô respondeu. E dizendo isso, aproximou-se do neto para abraçá-lo e aparatar até Londres. Eileen só teve tempo de murmurar um Boa viagem! para o filho.

 

Severo não entendeu exatamente o que estava acontecendo. Lembrava-se apenas de ver seu avô agarrando-o e sentiu uma leve tontura. Quando abriu os olhos novamente, estava dentro de um bar quase vazio, não fosse por dois bruxos sentados na mesa mais ao fundo. Quando conseguiu recuperar o equilíbrio, seu avô o soltou e começou a falar:

 

— Este aqui é o Caldeirão Furado. É magicamente encantado para que nenhum trouxa o perceba pelo lado de fora.

 

Severo olhou para a porta do bar. Do lado de fora, trouxas andavam de um lado para o outro na rua, sem perceber os dois bruxos próximos à entrada.

 

— Nos bons tempos, você podia ter a certeza que aqui dentro estava na companhia de bruxos somente – seu avô continuou. – E ali – disse apontado para o outro lado –, é o caminho para o Beco Diagonal.

 

— Onde? – Severo perguntou. – Só tem uma parede de tijolos ali na frente.

 

O Sr. Prince suspirou, agradecendo que os dois bruxos no fundo bar já pareciam ter tomado cervejas amanteigadas o suficiente para não prestarem muita atenção na sua conversa. Felizmente ainda não encontrara nenhum de seus amigos sangue puro.

 

— Acompanhe-me, garoto – foi o que disse simplesmente.

 

Aproximando-se da parede de tijolos, sacou a varinha e começou a contá-los. Encontrando o tijolo encantado, deu uma batitinha nele com sua varinha e a passagem se abriu. Severo olhou admirado para seu avô e depois para o beco que se abrira à sua frente. O Sr. Prince, por sua vez, observava o neto com um olhar reprovador.

 

— Vamos – disse apenas. – Já está na hora de você se habituar ao mundo a que realmente pertence.

 

Severo entrou no Beco Diagonal de boca aberta. As lojas, as pessoas andando na rua com suas compras, tudo lhe chamava a atenção; era tão diferente da sua vidinha em Sheffield que ele pensou que não conseguiria mais voltar para casa. Foi despertado do seu deslumbramento pela voz rouca e forte do avô:

 

— Vamos até o fim da rua. Eu ordenei que meu elfo doméstico ficasse nos esperando lá.

 

— Seu o quê? – Severo perguntou.

 

— Meu elfo doméstico – o avô repetiu. – Quem você acha que vai carregar as compras? – O Sr. Prince já estava ficando irritado com o comportamento trouxa do neto.

 

Chegando ao local marcado, Severo observou Giggles, o elfo doméstico da família Prince, inclinar-se para seu senhor, e desejou que ele mesmo tivesse o seu próprio elfo para realizar suas tarefas.

 

— Muito bem, Giggles – o Sr. Prince dirigiu-se mal-humorado ao elfo. – Vejo que conseguiu chegar na hora marcada. Vamos até a loja da Madame Malkin. O garoto precisa tirar as medidas para suas novas vestes. Você ficará lá, aguardando que fiquem prontas, enquanto nós iremos até a Olivaras escolher uma varinha apropriada para ele.

 

— Sim, meu amo.

 

O elfo seguiu avô e neto obedientemente, a apenas alguns passos de distância. O grupo seguiu direto para a “Madame Malkin – Roupas para todas as Ocasiões”. Severo deixou-se ser medido, enquanto se perguntava se conseguiria se acostumar a usar aquelas vestes de bruxo. De qualquer maneira, roupas novas eram sempre melhores que as roupas de segunda mão que sua mãe vivia comprando.

 

Seguiram para a Olivaras, enquanto Giggles esperava até que as vestes ficassem prontas. Depois disso, continuaram pela lista de materiais, providenciando um caldeirão e diversos ingredientes para as aulas de Poções, uma luneta para Astrologia, ferramentas para Herbologia, penas e pergaminhos. Agora faltava apenas irem à Floreios e Borrões para comprarem os livros exigidos para cada matéria.

 

Severo entrou na loja com uma expressão ainda mais admirada que quando entrou no Beco Diagonal. Não podia acreditar na quantidade de livros que estavam a sua frente. Ele sempre gostara muito de livros, já que eram a maneira mais fácil de escapar da sua vida miserável. Agora, com todos aqueles títulos a sua frente, não via a hora de examiná-los um a um. Que tipos de livros os bruxos lêem? Será que posso encontrar alguns feitiços legais neles?

 

Seu avô seguiu direto para o balcão, entregando para a vendedora a lista enviada por Hogwarts. Enquanto esperavam que a bruxa providenciasse tudo, um homem alto, louro e de olhos cinzentos aproximou-se do seu avô.

 

— Edward? – o homem cumprimentou. – Aventurando-se no Beco Diagonal em plena época de volta às aulas?

 

— Olá Abraxas – seu avô respondeu ao cumprimento. – Devo perguntar o mesmo para você. Achei que não gostasse dessa correria, e Lucius já está bem crescido para providenciar seu próprio material.

 

— E realmente não gosto, Edward – ele respondeu, lamentando-se. – Mas minha filha vai entrar em Hogwarts este ano. Geralmente era minha mulher quem providenciava estas coisas, mas...

 

— Eu entendo. – O Sr. Prince dirigiu um olhar compreensivo ao amigo. – Mas e onde estão eles? Imagino que o jovem Lucius já esteja terminando seus estudos.

 

— Sim, está no último ano agora. Vai ser Monitor-Chefe! É um rapaz brilhante, se me permite. – O Sr. Abraxas Malfoy nunca poupava elogios quando falava dos filhos. – Ele e Isabelle acabaram de sair em direção à Madame Malkin para pegarem suas vestes novas. – E após um silêncio incômodo, perguntou: – Mas você ainda não me disse o que faz aqui, meu caro?

 

O Sr. Prince não sabia como entrar num assunto que, para ele, era tão complicado.

 

— Nada demais – foi o que conseguiu responder momentos depois. – Meu neto também ingressará em Hogwarts em setembro e vim ajudá-lo com o material.

 

— Neto? – O Sr. Malfoy olhou para o amigo, surpreso. – Desde quando... quero dizer... – E após mais alguns segundos embaraçosos: – Que maravilha! O tempo passa, não?

 

— Parece que meu neto e sua filha serão colegas – o Sr. Prince respondeu, apenas porque não sabia mais o que dizer.

 

— É verdade, Edward. – O Sr. Malfoy aproximou-se do amigo, e sério, acrescentou em voz baixa. – Você está sabendo da reunião na casa dos Black esta noite, não está? É importante que você vá, Edward. – E lançando um olhar para Severo. – A sua família foi a mais atingida com essa invasão de...

 

— Severo! – o Sr. Prince cortou o amigo, dirigindo-se ao neto. – Sua mãe me disse que você gosta muito de livros. Por que não vai dar uma olhada nos títulos? Se achar alguma coisa realmente interessante, talvez eu possa acrescentar à sua lista.

 

Severo não via a hora de ser dispensado. Estava morrendo de curiosidade para ver os livros expostos na livraria, e seu avô não parecia estar de bom-humor. Deixou os dois amigos conversarem e seguiu em direção às prateleiras atoladas de livros. Viu que eles estavam dispostos em diversos assuntos diferentes: Estudos dos Trouxas, Poções, Magia Medicinal, Herbologia, etc. Mas a seção que mais chamou sua atenção estava logo ao lado de História da Magia, junto com Feitiços, em letras bem menores, lia-se logo abaixo: Artes das Trevas, defesa. Severo lembrou do incidente no rio no dia anterior e ficou imaginando se o nome “Artes das Trevas” era realmente o que ele estava pensando. Se ele estivesse certo, isso não devia ser proibido? Ou pelo menos, censurado? Estava prestes a entrar no corredor da seção quando uma voz, vinda do corredor ao lado, chamou a sua atenção.

 

— Ei, você também vai estudar em Hogwarts? – a voz perguntou.

 

Severo virou-se e viu uma menina ruiva, que parecia ter a mesma idade dele, com olhos verdes tão lindos, que era impossível que estivesse falando com ele. Não, meninas como ela nunca lhe dirigiam a palavra, muito menos sorrindo daquele jeito.

 

— Ei, você é surdo? Estou falando com você – a menina insistiu.

 

Severo não sabia o que dizer.

 

— Estou perguntando porque você está usando roupas normais, como eu. Você também é um bruxo nascido-trouxa?

 

— O quê? – Severo não tinha idéia do que ela estava falando.

 

— Você sabe – ela continuou, explicando –, pessoas que nascem bruxas, mas que têm pais normais.

 

Severo já estava ficando irritado com a insistência da menina. Não estava acostumado a fazer amigos tão facilmente.

 

— Minha mãe é uma bruxa – respondeu secamente. – E ela é perfeitamente normal.

 

O sorriso do rosto dela desapareceu.

 

— Desculpe-me – ela disse. – Não quis ofendê-lo. É que ainda não estou muito acostumada com a idéia de ser uma bruxa também. Meus pais adoraram quando viram a carta de Hogwarts. Mas depois disso, minha irmã começou a me tratar como se eu fosse uma alienígena.

 

— Eu sei como é – Severo tentou consolá-la. – Os trouxas morrem de medo de tudo que não conhecem e nos tratam como se fossem melhores que a gente. Na verdade, mal sabem eles que nós somos muito melhores...

 

A menina olhou para ele com uma cara estranha, franzindo a testa.

 

— Não sei se é bem assim... Eu não me acho melhor que a minha irmã. Somos apenas diferentes.

 

Severo deu de ombros, estava prestes a voltar para a seção de Artes das Trevas, quando a menina o chamou de novo:

 

— Meu nome é Lílian Evans, e o seu?

 

— Snape – ele respondeu mal-humorado. – Severo Snape.

 

— Estou pensando em levar esse livro, junto com os outros exigidos na lista. Para poder me adaptar mais fácil a tudo isso, sabe? – E, mostrando a capa para ele, perguntou: – O que você acha?

 

Severo olhou para o livro, lia-se: “Hogwarts: uma história”.

 

— Parece uma chatice – respondeu virando-se para os livros que realmente o interessavam.

 

— Você podia ser um pouco mais educado, sabia? – Lílian estava indignada com a falta de educação do menino. Esperava que os demais bruxos que encontrasse em Hogwarts fossem mais educados. – Tomara que a gente não fique na mesma casa! – E saiu bufando em direção ao caixa.

 

Severo simplesmente deu de ombros, sem virar-se para se despedir da menina. Não sabia que havia bruxos nascidos no meio de famílias trouxas. Se houvesse muitos desses em Hogwards, precisaria ter o cuidado de não se misturar com eles. Já tinha trouxas demais importunando a sua vida para ser obrigado a conviver com bruxos que gostavam de trouxas.

 

Voltando novamente sua atenção para o que realmente lhe interessava, viu um livro deixado sobre uma mesinha para ser posteriormente catalogado em seu devido lugar. Leu o título; parecia ser exatamente o que queria: “Pragas e Contrapragas.” Abriu na primeira página e leu:

 

“Pragas e Contrapragas (encante seus amigos e confunda seus inimigos com as últimas vinganças: perda de cabelos, pernas bambas, língua presa e muitas, muitas mais) é o último lançamento do Prof. Vindicto Viridiano, famoso escritor do clássico ‘A Arte da Vingança, antes tarde do que nunca’, editado logo após sua recuperação de um ataque de diabretes enlouquecidos... ”

 

Foi interrompido pela voz do seu avô, logo atrás dele.

 

— Não é uma boa idéia perder tempo com sangue-ruins.

 

Severo assustou-se e deixou o livro cair no chão.

 

— Com o quê? – perguntou. Estava aprendendo muitas coisas novas para assimilar tudo de uma só vez.

 

— Sangue-ruins, como aquela menina que acabou de sair – seu avô respondeu, apontando para a porta. – Filhos de trouxas não são bem-vindos aqui. Espero que você faça amizades melhores quando estiver em Hogwarts.

 

— Ela não é minha amiga – Severo respondeu, bravo.

 

Convencido, o Sr. Prince olhou em volta.

 

— Seção interessante.

 

Abaixou-se para pegar o livro que o neto estava lendo e, olhando o título, comentou:

 

 – Ah, meu caro amigo Vindicto. Não sabia que ele tinha lançando um livro novo. Entretanto, os livros dele não são recomendados para bruxos menores de idade. – Observando o desapontamento do menino, acrescentou: – Mas é um título interessante. Um Prince não terá dificuldades em acompanhá-lo, mesmo sendo ainda tão jovem.

 

Dizendo isso, deu uma piscadela para o neto, com um sorriso maroto. Foi a única vez naquele dia que alguém poderia dizer que a dupla era formada realmente por avô e neto. Entretanto, se o Sr. Prince estava realmente orgulhoso pela escolha do neto ou se já tinha algum plano para o futuro de Severo, isso ninguém era capaz de saber.

 

 

Pouco tempo depois, aparataram perto da margem escura do rio que serpeava as redondezas da Rua da Fiação. Severo, mais acostumado com a experiência, trazia consigo um malão onde guardara todo seu material novo.

 

— Você consegue chegar em casa com esse malão? – o Sr. Prince perguntou.

 

— Sim – Severo respondeu. – Não é tão pesado quanto parece.

 

— Muito bem – o avô retrucou. – Vou deixá-lo aqui, então. Ainda tenho um compromisso esta noite.

 

Severo assentiu com a cabeça. Lembrou-se da conversa que ouviu entre o seu avô e aquele senhor, na Floreios e Borrões. Parecia que seu avô fazia parte de um grupo importante, não ia deixá-lo se atrasar para a tal reunião.

 

— Adeus – seu avô disse simplesmente, e desapareceu da sua frente.

 

Severo estava tão empolgado com os acontecimentos da tarde, que em poucos minutos já tinha subido o barranco à beira do rio e seguido para casa. A emoção de encontrar um mundo totalmente diferente do seu, e saber que era aquele o seu verdadeiro lugar, não deixou que ele estranhasse o tratamento frio e indiferente do avô. O Sr. Prince já tinha tomado o lugar dos seus heróis das revistas em quadrinhos e, heróis não falham, nem nos desapontam. Nunca.

 

Chegando em casa, sua mãe estava curiosa para ouvir do filho tudo o que fizera naquela tarde. Foram dormir bem mais tarde que o de costume, pois ficaram horas e horas conversando sobre os acontecimentos do dia e as demais eventualidades do mundo bruxo. Sabiamente, Severo não mostrara para a mãe o presente que ganhara do avô, pois já imaginava que ela não iria gostar. Da mesma forma, Eileen não tentou alertar o filho sobre a ideologia preconceituosa do avô ou sobre o fato de mestiços nem sempre serem bem aceitos entre os bruxos mais conservadores. Ela percebera a veneração de Severo pelo avô. Entrar nesse assunto agora só faria com que seu filho a odiasse ainda mais.

 

Enfim, quando o relógio anunciou que já passava da meia-noite, Eileen levantou-se do sofá e foi em direção ao filho.

 

— Acho que já passou da nossa hora de ir para a cama. – E, dando um abraço no filho, acrescentou: – Severo, não importa o que aconteça, nunca abaixe a cabeça se alguém ousar falar de você, ou do seu pai. Você é um bruxo, como qualquer outro aluno de Hogwarts, não se esqueça disso.

 

Severo olhou confuso para a mãe, que apenas sorriu e disse:

 

— Você vai entender quando chegar lá. – Passando a mão pelo cabelo escuro do filho, mudou de assunto. – Agora você precisa é de um banho, depois desse dia agitado. – Deu um sorriso malicioso para o filho, e disse: – Amanhã o dia vai ser cheio. Você tem um monte de ingredientes para cortar e picar. É bom ir se acostumando, se quiser se dar bem em Poções.

 

Mais tarde, naquela noite, Severo estava deitado em sua cama, mas não conseguia dormir. Ficava passando e repassando os acontecimentos do dia na sua cabeça, como se fossem um filme. De repente, se viu pensando naquela menina ruiva que encontrara na livraria. Não estava acostumado a fazer amizade com meninas. Na verdade, não estava acostumado a fazer amizades com ninguém, mas o jeito espontâneo dela, puxando conversa, o cativou. Sentiu-se envergonhado por tê-la tratado tão mal. Assim que a encontrasse novamente, ia pedir desculpas. Então lembrou-se do seu avô, e do que ele disse sobre filhos de trouxas, ou melhor, sangue-ruins. Talvez fosse melhor deixar as coisas como estão. Provavelmente faria amigos melhores assim que chegasse em Hogwarts. Não sabia como conseguiria agüentar a ansiedade de esperar mais um mês para ir para lá. Deveria ter um feitiço para fazer o tempo passar mais rápido — pensou. E assim, imaginando as coisas novas e fantásticas que aprenderia no próximo mês, Severo finalmente adormeceu, com um sorriso estampado no rosto.

 

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N.A.: Pragas e Contrapragas (encante seus amigos e confunda seus inimigos com as últimas vinganças: perda de cabelos, pernas bambas, língua presa e muitas, muitas mais) do Prof. Vindicto Viridiano aparece em Harry Potter e A Pedra Filosofal, quando Harry vai à Floreios e Borrões para comprar os seus livros. A Arte da Vingança, antes tarde do que nunca é apenas uma invenção atribuída a ele ; ) !

 


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Notas finais do capítulo

Severo finalmente embarca para Hogwarts, e já começa fazendo algumas inimizades...



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